Por Que Investir Na Formação Continuada Do Professor



“Por que investir na formação continuada
do professor on-line”
Autora: Wanderlucy A.A.C. Czeszak
1. Apresentação
Com o crescimento do número de disciplinas de graduação on-line oferecidas pelas universidades, houve também o aumento do número de professores envolvidos nessa recente e promissora modalidade de ensino.
No caso da Universidade Anhembi Morumbi, nosso objeto de estudo, se no princípio (2001) apenas uma meia dúzia de professores davam conta de tutoriar as primeiras turmas on-line existentes na graduação, que se restringiam apenas a turmas de dependência e adaptação nas disciplinas de Fundamentação Geral – Psicologia, Filosofia, Ciências Sociais, Metodologia de Ensino e Comunicação e Expressão – hoje, depois de cinco anos, são mais de 40 professores tutoriando turmas de diversas disciplinas oferecidas na graduação.
Na Universidade Anhembi Morumbi, o treinamento oferecido aos professores envolvidos na implementação das primeiras turmas on-line ocorria por meio de material apostilado e atividades on-line. O objetivo desse treinamento era, sobretudo, a apresentação das ferramentas disponíveis na plataforma utilizada para as disciplinas e de conceitos gerais da Educação a Distância. Muitos procedimentos iam sendo adotados pelos professores, principalmente em decorrência das experiências do dia-a-dia com as turmas, e das situações que se apresentavam, num verdadeiro processo de erros e acertos.
Na época, muito já havia sido feito em outros países no que diz respeito à formação de professores para o ensino on-line, mas no Brasil o EaD por meio do computador conectado à internet dava seus primeiros com a Anhembi Morumbi, e percebia-se que era preciso ir além do que a bibliografia disponível oferecia, para buscarmos soluções a problemas referentes à nossa realidade. Portanto, como apontam Valente e Almeida (1997), a “peculiaridade do projeto brasileiro aliado aos avanços tecnológicos e a ampliação da gama de possibilidades pedagógicas que os novos computadores e os diferentes software disponíveis oferecem, demandam uma nova abordagem para os cursos de formação de professores e novas políticas para os projetos na área”.
A sala de aula virtual não difere tanto da sala de aula presencial, como afirma Simonson (2000), na medida em que o professor faz uso da literatura já existente para ministrar suas aulas. A mediatização feita pelos recursos cada vez mais modernos da informática assusta, mas o ensino a distância apenas requer mais disciplina, atitudes mais bem delimitadas, previstas, organizadas. Em ambas as modalidades de ensino, a atuação de um educador experiente, conhecedor do conteúdo, é imprescindível. Dessa forma, a problemática envolvida nesta questão é a falta de critérios bem definidos que possibilitem maior auto-confiança ao professor, para que ele desempenhe sua função virtualmente calcado em princípios básicos do ensino presencial com os quais ele lida tão bem.
Este projeto tem, portanto, como objeto de estudo, o processo de adaptação do professor presencial ao virtual, bem como a definição de parâmetros para o bom desempenho do seu papel fundamental na relação professor-aluno, no processo de ensino e aprendizagem, de acordo com a caracterização do ensino superior privado brasileiro, tomando como base de sustentação os diversos elementos didáticos, psicológicos e epistemológicos envolvidos.
Muito tem-se discutido a respeito do papel do professor no Ensino a Distância mas, em decorrência do aspecto recente desta modalidade, todo tempo há mudanças. Com o advento do ensino on-line no universo da Educação a Distância, o professor passou a ser focalizado de forma mais atuante, já que a Internet possibilita uma interação maior entre os elementos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Dessa forma, pesquisas que contribuam para um estudo aprofundado a respeito desse papel novo que o professor está assumindo neste novo milênio, a fim de que ele não se veja fatalmente descartado e substituído por um novo profissional, além de subsídios para que ele assuma de forma competente sua nova função, poderão trazer benefícios para a sistematização de normas que assegurem ao docente a possibilidade de adaptação a essa nova modalidade de ensino. O passo adiante, no que concerne as questões aqui apresentadas, que este trabalho pretende dar, é o preparo do docente para o Ensino a Distância, não apenas no que diz respeito aos recursos tecnológicos, mas também, e sobretudo, no âmbito psicológico e interacional.
Assim, com o crescente aumento do número de professores envolvidos com turmas on-line na Anhembi Morumbi, logo detectamos a necessidade de trabalharmos questões mais complexas, como aquelas referentes à interação no ambiente on-line, e não apenas questões referentes ao uso das ferramentas do ambiente. Essa constatação deu-se, sobretudo, em decorrência de problemas que vimos observando nas turmas, como dificuldade de comunicação entre professor e aluno, ausência de interação entre os participantes das turmas, evasão, pouca ou nenhuma participação nas discussões propostas. A proposta das Oficinas, como um projeto de formação continuada dos professores para EaD, surgiu, há dois anos, da necessidade de um espaço no qual pudéssemos proporcionar a interação entre os professores ligados a EaD, promovendo a troca de experiências, bem como a construção de conhecimento, por meio da disponibilização de textos para discussão e atividades relacionadas ao dia-a-dia do professor em turmas on-line, abordando a relação professor-aluno e o importante e decisivo papel a ser desempenhado pelo professor a distância, enquanto mediador no processo cognitivo. A formação continuada do professor on-line em forma de oficinas vem sendo oferecida aos professores da Instituição semestralmente há dois anos e, desde então, vem sofrendo constante transformação, buscando o aprimoramento que é resultado das pesquisas que vimos fazendo sobre este tema, conscientes de que, a fim de que se atinja um padrão de qualidade do ensino a distância, é fundamental que tomemos como ponto de partida a formação adequada do professor on-line, pois é ele quem tem contato direto, decisivo e constante com o aluno.
A hipotése deste projeto, portanto, é que a boa atuação do educador como professor a distância está atrelada a uma formação adequada e continuada, que tenha como base, sobretudo, questões de ordem interacional e psicopedagógica, resultando na formulação de orientações, além do treinamento de pessoal especializado que subsidie o docente em sua atuação como professor a distância, enfatizando estratégias comunicacionais que focalizem a relação professor-aluno.
A formação continuada do professor on-line é desenvolvida da seguinte forma:
• Participação do docente em oficinas, anteriormente ao início de suas atividades com turmas a distância, com discussão e enumeração de ítens fundamentais para o bom desempenho do professor a distância, tomando como base elementos interacionais e psicológicos que caracterizam e determinam o desempenho dos papéis dos personagens envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
• Continuidade desse trabalho por meio de fóruns de discussões permanentes em comunidades on-line, criadas especialmente para este fim, assegurando entre os docentes o contato contínuo e as trocas de experiências.

Dentre os principais focos das Oficinas de Formação do Professor on-line está a preocupação em oferecer subsídios para que o professor enfrente com mais facilidade problemáticas do cotidiano da atividade on-line, como a solidão em frente ao computador, um dos fantasmas da educação a distância que atinge tanto o professor quanto o aluno. Gonçalves (1996) lembra que “o termo ‘a distância’, que indica a separação física do professor e do aluno, não exclui o contato direto dos alunos entre si ou do aluno com alguém que possa apoiá-lo no processo de aprendizagem. A esse tipo de contato direto os teóricos do ensino a distância chamam de presencialidade”. Essa presencialidade constrói-se por meio da adoção de práticas interacionais efetivas, a serem desenvolvidas na formação do professor on-line. O professor bem preparado poderá orientar o aluno de forma que ele seja capaz de interagir com o ambiente on-line e com os demais participantes da disciplina, construindo assim, seu próprio conhecimento.
A educação a distância apresenta peculiaridades, como bem aponta Moran (1999), porque se trata de uma situação na qual a participacão do aluno se dá por meio de envio de textos escritos, em substuição à participação em sala, que se dá oralmente, podendo ele, nesse caso, fazer uso de outros tipos de linguagem, como os gestos, as expressões faciais, a entonação de voz, descritos por Marcushi (1986). Em sala de aula presencial, ele tem resultados instantâneos da avaliação daquilo que ele diz, por meio da expressão facial do professor e dos colegas, bem como das possíveis inferências e refutações destes e daquele.
Na educação on-line, desprovido da interação tradicional, o aluno se vê sozinho diante da tela do computador, dependendo apenas do poder da sua palavra escrita, sem o constante acompanhamento de aprovação ou reprovação dos olhares dos colegas e professor, sem saber ao certo quando sua abordagem está em concordância com o contexto, ou se é preciso mudar de direção.
Daí a sensação de solidão, já citada anteriormente, que os educadores virtuais tentam contornar por meio dos recursos tecnológicos apontados por Harasim (1995), como animação das imagens, sons, promoção de chats, fóruns e tantos outros canais que buscam fazer com que o aluno interaja com a turma, pesquise sites, ampliando seu repertório. “O aluno deve assumir (...) uma postura ativa; para que isto ocorra, não basta que apenas sua competência lingüística seja trabalhada, mas sua competência comunicativa” (Fávero, 1999), colocando-se a sua disposição outros tipos de linguagem oferecidos pelo espaço cibernético.
Moran (2000) remete-nos a importantes reflexões no campo do ensino virtual e às novas modalidades de relação professor-aluno que se estabelecem:
“Ensinar com novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantém distantes professores e alunos. Caso contrário, conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial. A Internet é um novo meio de comunicação, ainda incipiente, mas que pode nos ajudar a rever, a ampliar e a modificar muitas das formas atuais de ensinar e de aprender.” O essencial já está mudado, bem como a natureza da distância entre professor e aluno. Novos aspectos vão sendo detectados. Temos, agora, de buscar formas de trabalhar com essas mudanças, tornando-as positivas para o processo de ensino e aprendizagem.
A teoria de nova visão de mundo apontada por Johnson (2000) nos alerta para o surgimento de novos paradigmas na relação entre o ser humano e o objeto que se fundamenta na inserção do computador no dia-a-dia da nossa sociedade, mudando, inclusive, os conceitos de educação.
Como bem aponta Fiorin (1998), “a linguagem é, ao mesmo tempo, autônoma em relação às formações sociais e determinada por fatores ideológicos. Por isso, o lingüista deve distinguir níveis e dimensões em que existe relativa autonomia e níveis e dimensões que sofrem coerções ideológicas. Em nosso ponto de vista, a determinação ideológica revela-se, em toda sua plenitude, no componente semântico do discurso. As formações ideológicas presentes numa dada formação social determinam formações discursivas. Estas materializam aquelas. Estabelecem-se conjuntos de temas e de figuras com que o ‘indivíduo´ fala do mundo exterior e interior.”
Dessa forma, o aluno do curso virtual se revela isoladamente, sem sofrer influência do grupo, deixando à mostra seu repertório sedimentado, excluída a possibilidade imediata de manifestação enquanto grupo. Na classificação proposta das diversas soluções epistemológicas referentes aos papéis respectivos do sujeito e do objeto no conhecimento, Piaget (1967) distingue as teorias que enfatizam, de um lado, o papel do sujeito, que projeta quadros a priori sobre a realidade, a qual não seria nunca inteiramente exterior à atividade subjetiva, e de outro lado, o papel do objeto no conhecimento, objeto que o sujeito apreenderia do exterior. Como o objeto existe mas só pode ser conhecido por aproximações do sujeito, o contato com o conteúdo virtual, na situação solitária na qual o aluno se encontra diante do computador, é um pouco frustante e pode gerar um aproveitamento inconsistente, caso não haja um acompanhamento sistemático por parte do tutor, tomando como base o “sócio-interacionismo” de Vygotsky (1991).
Diante dessa situação nova e confusa que se nos apresenta, a língua escrita acaba desempenhando papel fundamental. É ela que, principalmente, nos possibilitará travar contato com o aluno que se encontra na outra ponta da rede, como analisa Moran (1999). Assim, o contato com todo tipo de texto possibilitará que uma função interpsicológica se torne intrapsicológica, que uma atividade social externa se torne uma atividade individual interna, com base na internalização descrita por Vygotsky (1991).
Pouco habituado a expressar-se exclusivamente por meio da escrita, o aluno do curso virtual tem dificuldade para se expressar. Muitas vezes, seu texto é confuso, impedindo-o de expor suas idéias de forma ordenada.
Como o ensino a distância nos direciona à comunicação por meio de produção de textos escritos na maior parte do tempo, como forma de avaliação, há uma demanda maior da capacidade de compreensão e interpretação de textos escritos por parte do aluno. E nosso aluno, carente de leitura da escrita, se vê um pouco perdido. Há o receio - com fundamento - de não conseguir se comunicar de forma adequada, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo, ou seja, tanto quanto à adequação do nível de linguagem utilizado, como à correspondência entre o que se pretende dizer e o que se diz efetivamente. Ele não se sente capaz de expressar-se corretamente e, muitas vezes, ele de fato não o é.
É preciso que se desenvolvam atividades de leitura e análise de textos, descritas por Chiappini (1997) em seus estudos, que podem ser adaptadas do presencial para o virtual. Importante ressaltar que a palavra texto aqui utilizada, abrange todo e qualquer tipo de texto, seja ele verbal ou não-verbal: cinema, teatro, publicidade, artes plásticas, música etc. Por meio de recursos da Internet, pode-se rapidamente acessar um vasto acervo de sites com conteúdo bastante variado. Na medida em que o aluno entrar em contato com todo tipo de texto por meio do ambiente virtual, por meio das tantas ferramentas que ele oferece, ele vai tomando conhecimento das muitas possibilidades de expressão. A produção de textos por parte do aluno acaba se dando como uma conseqüência desse processo. Ele produzirá textos como forma de expressar suas opiniões e seus pontos de vista frente a novas linguagens com as quais ele vai entrando em contato. É importante que o aluno tome consciência de que os textos que ele vê são possibilidades de expressão do mundo que nos cerca e que o texto produzido por ele poderá ser mais uma dessas tantas possibilidades de expressão, como bem descreve Geraldi (1997): "(…) Trata-se de um sujeito pronto que, apropriando-se da língua, atualiza-a no seu dizer, organizando seus pensamentos (suas mensagens) e transmitindo-os a outros sujeitos".
A tecnologia oferece subsídios que nos auxiliam em produções bem elaboradas, sem que sejamos geniais. Mas é claro que para isso é necessário dedicação, pesquisa, percepção, orientação que podem ser desenvolvidas por meio do trabalho de professor e aluno. De qualquer forma, as ferramentas do universo da informática diminuem a distância entre o homem e a capacidade de criação. E é importante conscientizar o aluno a esse respeito.
Conceitos de oralidade e escrita merecem nova análise, agora sob o prisma da era da comunicação por meio da internet. É sabido que elas apresentam diferenças entre si, e que “as regras de sua efetivação, bem como os meios empregados, são diversos e específicos, o que acaba por evidenciar produtos diferenciados” (Marcuschi, 1986:62). Dessa forma, a língua utilizada na Internet pode ser classificada como uma terceira modalidade – a língua digitalizada, que apresenta as marcas do discurso oral, ainda que também seja escrita, levando-se sempre em conta as características do usuário em questão.
Mercer & Estepa (2000) ressaltam que “as pessoas que alcançaram profundos níveis de compreensão disciplinar em uma área acadêmica desenvolvem e constroem formas de uso especializadas do discurso disciplinar”, o que vem se somar à sensação de isolamento do aluno descrita acima. É preciso que se desenvolva um perfil do aluno e que o educador não perca de vista qual o nível do aluno que ele está tutoriando.
A educação a distância requer uma relação professor-aluno em formato diferenciado daquele tradicional, sobretudo porque a interação se dá de maneira diferenciada. Dessa forma, torna-se necessária uma formação específica do professor para o ensino on-line, pois ele não pode simplesmente repetir o que ele conhece de sua experiência como aluno universitário em cursos totalmente presenciais. Pois, como aponta Cunha (1997), “a maioria dos professores não faz uma reflexão rigorosa sobre suas práticas e, como produto acabado dos processos que os formaram, repete os mesmos rituais pedagógicos que viveu, (...) e esta tem sido uma das maiores dificuldades para reconstruir a prática pedagógica do professor universitário. As pesquisas sobre formação de professores mostraram que a principal influência no comportamento do professores é sua própria história como aluno e que, para além das teorias pedagógicas que ele aprende, o que marca seu comportamento são as práticas de seus antigos professores. Isso significa dizer que os atuais professores se inspiram nas práticas vividas quando decidem ensinar”. Em se tratando do ensino presencial, tal prática funciona, ainda que cada vez de forma mais precária, como temos visto, dados os novos paradigmas da educação que vêm se delineando, mas no ensino on-line ela torna-se um tanto inviável, já que este apresenta características diferentes daquele.
O ensino on-line supõe uma relação mais bilateral, na qual o aluno desempenha um papel mais ativo, mais participativo, enquanto ao professor cabe o papel de mediador, estimulando o aluno à pesquisa e à busca do conhecimento. Na verdade, seja presencial, ou seja a distância, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, lembra Paulo Freire (2004).
Valente e Almeida (1997) apontam mudanças nos papéis de professor e aluno, que podem ser observadas tanto na educação presencial quanto na educação a distância: “O papel do professor deixa de ser o de "entregador" de informação para ser o de facilitador do processo de aprendizagem. O aluno deixa de ser passivo, de ser o receptáculo das informações para ser ativo aprendiz, construtor do seu conhecimento. Portanto, a ênfase da educação deixa de ser a memorização da informação transmitida pelo professor e passa a ser a construção do conhecimento realizada pelo aluno de maneira significativa sendo o professor o facilitador desse processo de construção.” Tais paradigmas do processo ensino-aprendizagem, que já vinham há muito tempo se esboçando no ensino presencial, apresentam-se de maneira mais enfática e urgente no ensino on-line, e cabe ao professor, bem orientado, conscientizar o aluno sobre as características desses novos papéis assumidos por ambos, conduzindo suas atividades e possibilitando, assim, que os objetivos da disciplina sejam melhor atingidos.
A formação do professor on-line deve ser continuada e objetivar seu desenvolvimento enquanto educador em qualquer modalidade de ensino, e não apenas na educação a distância, pois ela deve constituir-se como uma oportunidade que o professor dispõe para interagir e discutir com seus pares sobre as constantes mudanças no campo da educação de forma construtiva e flexível, por meio de um ambiente on-line que lhe possibilite participar, sem comprometer sobremaneira suas demais atividades. Valente e Almeida (1997) ressaltam que “a formação do professor deve prover condições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais, entenda por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica e seja capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica. Essa prática possibilita a transição de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno. Finalmente, deve-se criar condições para que o professor saiba recontextualizar o aprendizado e a experiência vividas durante a sua formação para a sua realidade de sala de aula compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se dispõe a atingir”.
Devido à sua natureza voltada para uma maior necessidade de planejamento e organização, a educação a distância pode funcionar como um facilitador que possibilita que sejam de fato colocados em prática alguns importantes novos paradigmas da educação, como os novos papéis do professor e do aluno, discutidos anteriormente aqui neste texto, uma relação mais coerente e consistente entre a teoria e a prática, além do efetivo incentivo dos alunos à pesquisa. Como aponta Cunha (1997), “o ensino está todo construído sobre uma concepção de conhecimento como produto, em que as certezas são estimulantes e até são o fiel da balança da aprendizagem. O professor quer ser ‘seguro’, e isto para ele significa ter todas as respostas prontas, organizadas sem surpresas e descaminhos. Seu arcabouço intelectual está construído (ou reproduzido?) e aceita como seu papel principal melhor ‘transmitir’seu conhecimento aos alunos. Suas práticas de avaliar – punem a dúvida, o erro, o pensamento divergente. Suas relações com os estudantes podem ser até afetivas, mas são pouco emancipatórias. De suas pesquisas (quando existem) traz para o ensino só os resultados, suas ‘mais novas certezas’”.
O professor on-line bem preparado poderá oferecer aos seus alunos a orientação adequada para que sejam colocadas em prática atividades colaborativas, envolvendo pesquisa e o contato entre a teoria vista em sala de aula com problemas reais da nossa sociedade. Cunha ressalta que “há uma crítica generalizada, especialmente feita pelos alunos, segundo a qual, nos cursos universitários há um distanciamento muito grande entre a teoria e a prática. (...) a teoria e a prática são duas faces inseparáveis do mesmo ato de conhecer. É dos desafios da prática que nasce o conhecimento teórico, pois é da observação e da experimentação que se desenvolvem a reflexão e a análise”. Cabe ao professor instigar e provocar o aluno, levando-o a buscar instrumentos que possibilitem que ele pesquise, questione. O papel da formação continuada do professor on-line é possibilitar a reflexão crítica, a troca de experiências entre os participantes, a discussão de textos, estudos de casos, além de apontar ao professor caminhos para o desenvolvimento de alternativas interativas e comunicacionais que estimulem os alunos. Como afirma Paulo Freire (2004), “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blablablá e a prática, ativismo”.
A educação universitária, seja on-line ou presencial, precisa caracterizar-se pelo desenvolvimento de atividades que tornem o aluno cada vez mais independente, crítico e capaz de buscar seu próprio crescimento intelectual e pessoal, por meio da aplicação, em seu cotidiano, do conhecimento adquirido no ambiente universitário. A educação a distância, desenvolvida de forma planejada, organizada e bem orientada, pode oferecer condições para a aplicação de novos paradigmas da educação universitária, voltados para papel do professor mediador, que estimula o aluno à pesquisa e à busca do conhecimento.
A atividade do educador é geralmente solitária, faltando-lhe tempo e espaço para discussões que lhe possibilitem compartilhar algumas angústias decorrentes da profissão, como por exemplo, dificuldades com os alunos e desejo de inovar. As rápidas conversas no corredor ou na sala dos professores com os colegas não são suficientemente favoráveis à reflexão de idéias, que possibilitem um amadurecimento de discussões e um efetivo acréscimo na busca de soluções para problemas da rotina do professor.

Nosso trabalho pretende oferecer subsídios para as discussões, sempre procurando partir da prática do professor, sem apresentar receitas prontas, mas sim, fomentando a discussão e a troca de experiências.
Dessa forma, o espaço aberto para a formação do professor on-line caracteriza-se não somente como um instrumento de aprimoramento das capacidades do professor enquanto educador em uma nova modalidade de ensino, como também uma oportunidade de crescimento profissional como um todo, frente aos novos paradigmas, além do convívio e interação entre os professores, fundamental para o seu desenvolvimento e bem-estar.

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Autor: Wanderlucy Czeszak


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