Educação Internacional - um ponto de vista de Artur Victoria



Numa entrevista concedida à revista Time, Peter Drucker, considerado um dos "management gurus" nos Estados Unidos, fez as seguintes afirmações: Quando lhe foi perguntado: "Em que espécie de século estamos nós?", a resposta foi a seguinte: "Neste mundo já do século XXI, caracterizado pelo dinamismo da mudança política, o aspecto mais significativo é o de que nos encontramos numa sociedade pós-comercial. O mundo do negócio é ainda muito importante, e a prossecução do lucro é tão universal como sempre, mas os valores das pessoas não são mais valores comerciais, mas valores profissionais. A sua maior parte já não faz parte da sociedade comercial, mas da sociedade do saber. ( ... ) As grandes mudanças na nossa sociedade vão ser efectuadas no campo educacional."

 Quando o jornalista mais adiante sugeriu se o mundo do século XXI se caracterizaria por uma competição entre três grandes blocos comerciais , a saber a Europa, a América do Norte, e a Asia, Drucker respondeu: "Sim, e as actividades destes três grandes blocos vão ter consequências políticas. Eu penso que nós já nos encontramos no meio desta situação, e o padrão não vai ser "fair trade" ou protecionismo, mas reciprocidade."

Estas afirmações dum homem endurecido no mundo do negócio revelam-nos uma realidade presente caracterizada pela mudança dinâmica em todas as frentes, pelo poder que a posse de informação e de saber podem conferir, pela primazia da educação nesse contexto de alterações profundas, por relações entre pessoas, instituições e povos baseadas no conceito da reciprocidade.

E se não vejamos: A Europa busca com determinação o atenuamento de divisõs de séculos; as nações do Pacifico lideradas pelo Japão procuram encontrar um entendimento que lhes faculte um lugar mais condigno no plenário internacional; os sultanados do Islão tentam desesperadamente uma expressão mais coesa e que melhor corresponda à sua nova influência no mundo.

O progresso efectuado na área das comunicações transformou o regime de fronteiras numa quase irrelevância. A busca de novos mercados deu origem a colossos económicos apátridas capazes de exercerem uma influência profunda na vida de povos e nações. O rasgamento da cortina de ferro parece ter roubado a última barreira visível e palpável a um mundo forçado a aceitar cada vez mais, compreendendo cada vez menos.

Esta vertigem de mudanças pOlíticas e tecnológicas tem promovido um movimento constante não só de pessoas, mas sobretudo de idéias e de informação. O conhecimento das coisas é agora instantâneo, o volume de informação sufocante, a capacidade de absorpção testada até ao limite. Povos e culturas, que há escassas dezenas de anos só eram conhecidas através do poder imaginativo, visitam-nos diariamente nas nossas salas de estar, e assim, aquilo que era estranho, exótico, aventura, se torna cada vez mais num lugar comum.

A civilização dos nossos dias difere profundamente daquela que a antecedeu. A civilização do século XIX, que se prolongou pela primeira demicentúria do corrente, era essencialmente uma civilização urbana, fundamentada nas características da cidade. A revolução industrial e a aparição de grandes empresas comerciais, quando equacionadas com a tecnologia disponível, exigiram o desenvolvimento de grandes centros urbanos capazes de movimentarem pessoas de casa para o trabalho com grande eficiência.

A situação hoje é completamente diferente. A capacidade de comunicação instantânea possibilita, pela primeira vez, uma concepção de empresa em que os seus objectivos possam ser, em grande parte, realizados independemente da presença fisica da mão de obra no lugar de trabalho. Por sua vez, o conhecimento sempre maior das mais variadas gentes, a proliferação dos serviços informativos, e a quase que abolição da distância como barreira, reduziram significativamente as proporções da nossa realidade.

O mundo é assim cada vez mais como uma aldeia: uma aldeia global, onde as pessoas funcionam como vizinhas que se conhecem bem, onde as portas estão geralmente franqueadas, e a sobrevivência depende da entre-ajuda. Estas circunstâncias forçam os membros da comunidade a aceitarem-se uns aos outros. Não há muita fuga possível.

Mas se há aceitação, não há frequentemente compreensão. Aceitamo-nos uns outros quantas vezes porque não há outro remédio, e se o ódio e a  discriminação óbvia e patente não  . " no nosso  quotidiano sempre tão óbvias e tão patentes, a passividade e a indiferença são cada vez mais frequentemente o refúgio da nossa resignação.

E assim, vemos os nossos bairros e as nossa ruas, as nossas lojas e as nossas fábricas, as nossas escolas e as nossas estruturas sociais invadidas por gente estranha, que parece diferente, que come outras coisas, que não entendemos bem, que conspurca a nossa língua, e que ainda por cima, quantas vezes não paga  o nosso salário, directa ou indirectamente. sentimonos assim lentamente ser cada vez menos nós.

Há quem veja nessa invasão uma nova forma de colonialismo. Há outros que caracterizam esse fenómeno como um processo irreversível de comunicação avançada, fruto da revolução tecnológica das últimas décadas. Certo é, no entanto, que países ou regiões mais pequenas, e com menos recursos, vêem - se culturalmente avassalados pelos movimentos culturais dos grandes centros. E nesse sortilégio inexorável e temido, diluem-se estruturas milenárias e muitas das qualidades mais distintas da genética social.

Nesta conjuntura há aqueles que reagem com um certo realismo resignado, buscando para os seus filhos  o ser cada vez mais como o estranho, mandando-os para escolas onde o currículo, o professor, e a língua franca sejam a do suposto invasor. Pois como dizem os americanos com toda a sua franqueza e pragmatismo: if you cannot fight them, join them! A reacção típica, e até natural, é, todavia, a de correr para as barricadas,decretar a pureza da língua e da cultura, e punir severamente qualquer atentado aos padrões estabelecidos. Esses mecanismos de auto-defesa têm expressão quase diária, e reflectem a grande ansiedade provocada pelo ritmo vertiginoso da evolução socio-política nos nossos dias.


Autor: Artur Victoria


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