O fundamento da Realidade
É simplesmente impossível olhar o sol de forma
direta. A luz pura do astro pode cegar o melhor olho. Mas, se deixarmos que os
raios dele alumiem os objetos que conformam o nosso ambiente, tudo se torna
brilhante e visível. A escuridão não pode olhar em direção à luz, porém não
existem trevas que não possam ser vencidas pela menor faísca luminosa.
De igual maneira poderíamos argumentar que resulta
impossível descobrir a unidade substancial de todas as coisas quando o nosso
ponto de vista parte da variedade dos objetos que formam a nossa realidade. Se,
pelo contrário, permitimos que a luz do Uno ilumine cada coisa, será possível
perceber a unidade na diversidade.
Na etimologia da palavra realidade já vem implícita a idéia da impossibilidade de um
conhecimento pleno a partir dela. No latim a palavra “res” significa coisa. Por
sua parte, ela deriva do grego “rei” que significa mudança ou aquilo que passa.
Ou seja, se a realidade é aquilo que muda e não permanece, é impossível
obtermos um conhecimento totalizador com base nela. Quando fazemos à realidade
equivalente da verdade, essa verdade está condenada a mudar sem pausa.
O ser humano anela conhecer, ter certeza. Pode estar
perdido nas trevas dos dados fragmentados que a realidade oferece, mas deseja,
com todas as suas forças, ter acesso à luz da verdade. No íntimo do coração
humano existe a intuição que há uma verdade absoluta, eterna e imutável. Uma
verdade que pode ser alcançada, mesmo quando não saibamos como.
Podemos continuar pelo trilhado caminho de tentar chegar
ao conhecimento da verdade pela síntese dos dados obtidos mediante a análise da
realidade. A tarefa hercúlea de montar o quebra-cabeça até agora não deu
resultados satisfatórios, e nunca dará. O triste não é quando aparece o
ceticismo, quando se declara que o caminho de somar partes é um beco sem saída.
A verdadeira tragédia do pensamento humano é o pragmatismo, é cair vítima da
acomodação.
O ópio dos resultados tecnológicos fez com que a
procura pela verdade unificada fosse deixada de lado e estimada como fantasiosa
ou até inútil. O ser humano está num ponto próximo ao suicídio como espécie. A
alienação, o consumismo, a devastação do planeta, são produtos da percepção de
uma verdade totalizadora e unificadora.
O tempo é propício para propor um ponto de vista
diametralmente oposto. Um ponto de vista que parta da luz inacessível do Uno.
Precisamos, para isso, abandonar o pensamento fragmentário. Devemos partir da
unidade como categoria fundamental. E dela derivar a multiplicidade dos seres.
Conseguiríamos, assim, perceber a responsabilidade de
todos por tudo. A unicidade de todas as coisas, com fundamento no Uno,
impediria a atomização irresponsável que exalta o indivíduo, o fragmento, por
sobre a totalidade. Poderíamos iniciar o processo que, talvez, abriria a
possibilidade de restaurar a integridade do ser humano e a natureza.
Autor: Andrés Ayala
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