Resultado do Balanço de Pagamentos em maio



O balanço de pagamentos (onde estão registradas todas as operações do país com o exterior) continua salvo pelo apetite dos investidores estrangeiros pela economia do Brasil. Em maio, as transações correntes (fluxo de bens e serviços) registraram déficit de US$1,738 bilhão - o dobro do saldo negativo visto um ano antes, de US$786 milhões, e o pior número desde os US$2,5 bilhões de janeiro. No mesmo período, porém, os investimentos estrangeiros diretos (IED) alcançaram US$2,483 bilhões, o maior desde 1947 para o mês.

A solidez da economia brasileira foi apontada pelo Banco Central (BC), que divulgou ontem os dados, como responsável pela atração de capital produtivo. Este integra a conta financeira do balanço de pagamento. Se esta ficar suficientemente positiva para cobrir o déficit corrente, as contas externas brasileiras ficam no azul, afastando riscos de vulnerabilidade.

O Brasil registrou em maio déficit em transações correntes de US$ 1,738 bilhão, resultado pior que o esperado pelo mercado e o maior saldo negativo desde janeiro. Em contrapartida, os investimentos estrangeiros diretos foram recordes para o mês, com US$ 2,483 bilhões – melhor resultado do país para o mês de maio desde 1947 – e as aplicações em ações e renda fixa superaram o volume registrado há um ano, alcançando US$ 3,330 bilhões.

Analistas de mercado projetavam déficit de US$ 1,35 bilhão em maio, de acordo com a mediana das estimativas ouvidas pela agência Reuters.

Em igual período do ano passado, a conta corrente havia sido deficitária em US$ 786 milhões. A elevação do déficit na comparação anual reflete, principalmente, a redução do superávit comercial no período.

Com o resultado de maio, o déficit em transações correntes acumulado em 12 meses passou a 1,51% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 1,41% do PIB em 12 meses até abril.

Novas projeções
No acumulado do ano, no entanto, o déficit em conta corrente, de US$ 6,612 bilhões, permanece bem abaixo do registrado no mesmo período de 2008, de US$ 14,090 bilhões. Além disso, o Banco Central reduziu sua projeção de saldo negativo no ano.

O novo prognóstico aponta déficit de US$ 15 bilhões, ante estimativa anterior de US$ 16 bilhões. A alteração refletiu, principalmente, uma redução da projeção de importações no ano, para US$ 138 bilhões, frente ao patamar anterior de US$ 141 bilhões.

O BC também melhorou expressivamente o prognóstico para os investimentos externos em papéis domésticos de longo prazo e ações em 2009, que passou a um fluxo positivo de US$ 3 bilhões. A estimativa anterior era de saída de US$ 10 bilhões.

Mas, se confirmado, o fluxo estimado para 2009 ainda representaria menos da metade dos US$ 6,252 bilhões que ingressaram no país por meio desses investimentos no ano passado.

Já a estimativa do BC para as remessas de lucros e dividendos piorou, passando para US$ 17 bilhões, de um patamar anterior de US$ 15 bilhões. A variação, segundo o BC, acompanha apenas a valorização prevista para o real – que eleva o volume das remessas em dólares.

O volume previsto equivale a menos da metade dos US$ 33,875 bilhões remetidos em 2008, quando esse fluxo de saída foi impulsionado pela atividade aquecida e o real valorizado.

Remessa de recursos ao exterior  
Em consequência da crise, que provocou redução das vendas e diminuição dos lucros, as empresas estrangeiras cortaram pela metade a remessa de lucros e dividendos para as sedes no exterior este ano. Dados do Banco Central revelam que o volume de transferências feitas por essas companhias caiu 49,8% no acumulado de janeiro a maio na comparação com igual período de 2008, passando de US$ 15,6 bilhões para US$ 7,83 bilhões.

Em maio, segundo o BC, as remessas somaram US$ 2,56 bilhões. Embora tenham ficado acima do volume de março (US$ 1,1 bilhão), foram inferiores ao registrado em maio de 2008 (US$ 3,24 bilhões).

A queda das remessas explica praticamente toda a melhora das contas externas brasileiras em 2009. De janeiro a maio, a conta de transações correntes - indicador que registra as operações do comércio, serviços e rendas com o exterior - teve déficit US$ 6,61 bilhões. No mesmo período do ano passado, o saldo negativo foi de US$ 14,09 bilhões - redução de 53%, ou US$ 7,47 bilhões. Só em maio, a conta corrente foi deficitária em US$ 1,74 bilhão.

Quase toda essa queda foi causada pela redução das remessas das multinacionais, que deixaram de enviar US$ 7,76 bilhões a suas matrizes. "Sozinhas, as remessas explicam o ajuste do resultado", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.  
Câmbio
A queda das remessas de lucros já era esperada. Além da menor lucratividade, que reduz o valor em reais a ser enviado, o câmbio atual diminui a vantagem da transação. No ano passado, com o dólar próximo de R$ 1,50, por exemplo, o lucro de uma empresa que somava R$ 1 milhão representava transferência de US$ 660 mil para o exterior. Hoje, se essa companhia enviar o mesmo valor em reais, a operação em dólares será 25% menor, de US$ 500 mil, porque a moeda americana está ao redor de R$ 2.

Montadoras e bancos estão entre os setores que mais deixaram de enviar lucros. Até maio, a indústria automobilística diminuiu as transferências em 71%, para US$ 659 milhões. A redução dos bancos, por sua vez, foi de 45%, para US$ 1,06 bilhão. Juntas, montadoras e bancos deixaram de enviar US$ 2,68 bilhões até maio na comparação com 2008.

Metade dos dólares que fugiram com crise já voltou
A bolsa brasileira e o mercado de renda fixa já receberam de volta metade dos dólares que deixaram o País no período mais agudo da crise financeira internacional. Desde março, quando foi estancada a fuga de capital externo, os estrangeiros investiram novamente US$ 7,2 bilhões em ações e títulos oferecidos no mercado de capitais brasileiro. No auge da crise, de setembro de 2008 a fevereiro deste ano, os estrangeiros se desfizeram de US$ 14,1 bilhões dessas aplicações em meio a um movimento de pânico diante do cenário de incertezas que a crise trouxe para a economia mundial.

A partir de março, o movimento de fuga se inverteu, o fluxo passou a operar no azul e, agora, retorna aos patamares pré-crise. Em maio, a Bolsa sozinha recebeu US$ 2,52 bilhões, o maior volume desde abril de 2008. O apetite dos estrangeiros pelas aplicações de renda fixa também começou a voltar com a entrada de US$ 968 milhões para esse tipo de aplicação, seguindo a reação do mercado acionário.

A volta dos estrangeiros para o mercado acionário está animando agora os planos das empresas de fazer ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). O apetite dos investidores estrangeiros pelo mercado de capitais está tão em alta que o ingresso de capital externo em maio para aplicações em ações e renda fixa superou em US$ 1 bilhão o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED), que tradicionalmente é um capital de mais longo prazo e voltado para o setor produtivo. Enquanto os estrangeiros aplicaram no mês US$ 3,49 bilhões no mercado de capitais, o ingresso de IED chegou a US$ 2,48 bilhões.

IED
- A despeito da redução da liquidez internacional, o Brasil deve continuar recebendo recursos mais de longo prazo, como IED. Isso mostra que a nossa economia está bem - afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Ele acrescentou que os investimentos diretos, que até ontem somavam US$1,2 bilhão, devem fechar junho em US$1,5 bilhão.

No ano, somam US$11,234 bilhões desde janeiro. No déficit corrente, pesaram os números negativos das remessas de lucros e dividendos (US$2,559 bilhões), do pagamento de juros (US$378 milhões) e das viagens internacionais (US$426 milhões). No ano, o saldo corrente tem déficit de US$6,612 bilhões.

Outro indicador financeiro importante, e que também está dando sinais de melhora é a taxa de rolagem das dívidas. Enquanto em maio ela ficou em 35%, até ontem (dia 24 d e junho) ela já havia subido para 99%. Ou seja, praticamente toda a dívida que estava vencendo neste período foi refinanciada. O número de junho exclui a captação de US$1 bilhão feita pelo BNDES. Com ela, a taxa de rolagem chegaria a 340%.

Os estrangeiros que investem no mercado financeiro e no setor produtivo brasileiros aceleraram o ritmo de saques na terceira semana de junho, contribuindo para uma redução do fluxo cambial - entrada e saída de moeda do país. Os ingressos líquidos, considerando a balança comercial, somavam US$380 milhões entre os dias 1º e 19, contra US$661 milhões na primeira quinzena do mês, informou o BC. No ano, o superávit cambial é de US$1,970 bilhão.

Até o dia 19, a conta financeira, por onde passam os investimentos estrangeiros diretos, em ações e em títulos, estava negativa em US$627 milhões, o triplo do valor até o dia 12 (US$205 milhões). Pela conta comercial, segundo o BC, o saldo ficou positivo em US$1,007 bilhão. No ano, o superávit chega a US$66,724 bilhões.

Investimento em renda fixa volta a se recuperar
Os ingressos de investimentos estrangeiros dirigidos à renda fixa voltam a se recuperar, depois de terem chegado próximo de zero em virtude da crise financeira internacional. Em junho, até o dia 24, já entrou US$ 1,311 bilhão em aplicações de renda fixa, sobretudo títulos públicos, que oferecem rendimento relativamente alto em um contexto de queda das taxas de juros nas principais economias mundiais.

Em maio, os ingressos de investimentos em renda fixa somaram US$ 968 milhões, segundo as estatísticas do BC. Houve uma clara recuperação em relação aos US$ 66 milhões observados um mês antes. Mas o fluxo permanece menor do que volumes entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões verificados no início de 2008.

Há cerca de um mês, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse em depoimento no Senado que a taxação com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é uma alternativa teórica para reduzir esses fluxos. De fato, o governo chegou a discutir internamente a possibilidade de taxar os investimentos com alíquota de 1,5%. Mas primeiro irá acompanhar os fluxos para, caso haja uma expansão mais forte, decidir sobre uma eventual taxação com IOF.

Em junho, os investimentos dirigidos à compra de ações perderam o fôlego. Nos dados até o dia 24, somam apenas US$ 116 milhões, ante US$ 2,527 bilhões observados em maio. "Aparentemente, houve um movimento de realização de lucros em junho", avalia o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Apesar do recuo nos ingressos, os investimentos em ações se mantêm positivos neste ano, com fluxo acumulado de US$ 3,266 bilhões de janeiro a junho, até o dia 24. Somando com as aplicações em renda fixa, os ingressos líquidos dos chamados investimentos em carteira sobrem para US$ 3,986 bilhões. Esses ingressos, relativamente fortes, fizeram com que o BC revisse suas projeções oficiais para o fluxo de investimentos em carteira em 2009, de um déficit de US$ 10 bilhões para um superávit de US$ 3 bilhões.

Graças sobretudo a esse fluxo de recursos, o BC também projeta uma maior sobra de dólares no mercado de câmbio. Agora, a projeção oficial é que os dólares ofertados no mercado superem os dólares demandados em US$ 6,9 bilhões. Antes, o BC estimava uma demanda maior que a oferta em US$ 6,3 bilhões.

As estimativas para o ingresso de investimentos diretos foram mantidas em US$ 25 bilhões. Em maio, o fluxo líquido desse tipo de capital foi de US$ 2,483 bilhões e, em junho, até o dia 24, os ingressos chegam a US$ 1,2 bilhões (a projeção do BC é que encerre o mês em US$ 1,5 bilhão).

Menos investimentos brasileiros no exterior
Enquanto o volume de IED dá sinais de recuperação, os números referentes ao Investimento Direto Brasileiro amarga tombo de 87% de janeiro a maio deste ano, na comparação com 2008. Pelos dados do BC, os investimentos brasileiros no exterior somaram US$1,641 bilhão no período, enquanto o IED somou US$11,2 bilhões, ainda 19,7% inferior ao de 2008. Mas mercado espera novo recorde no IED nos próximos meses.

- Houve uma percepção negativa exagerada por parte do mercado, mas o entendimento é que o estrago da crise no país não será tão grande - afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, que analisou os dados do BC.
 
Revisão dos números pelo BC
O BC reviu suas projeções para o balanço de pagamentos, incluindo o resultado em conta corrente. O déficit em conta corrente agora é projetado em US$ 15 bilhões, ante US$ 16 bilhões da projeção anterior, divulgada pelo BC em março. O principal fator que contribui para o déficit menor é o recuo no volume de importações. Agora, o BC projeta um total de US$ 138 bilhões em importações em 2009, abaixo dos US$ 141 bilhões antes projetados.

Pesou na revisão o fato de, de janeiro a maio, o volume de importações ter ficado 27% menor que o mesmo período de 2008. As estimativas do BC tomam como premissa recuo de 20% nas importações este ano, em relação ao volume do ano passado. A projeção do BC para as exportações foi mantida em US$ 158 bilhões. Outro item de despesa que teve recuo importante foram os gastos com fretes internacionais, agora estimados em US$ 2,7 bilhões, ante US$ 4,5 bilhões da estimativa anterior. A baixa do volume de importações e o recuo nos preços dos fretes contribuem para queda nessa despesa.

Do lado negativo, o BC aumentou o déficit previsto em viagens internacionais, de US$ 2,5 bilhões para US$ 3 bilhões. De qualquer forma, haverá um recuo em relação aos US$ 5,177 bilhões ocorridos em 2008. Nos cinco primeiros meses deste ano, o déficit em viagens foi de US$ 1,303 bilhão, recuo de 35,3% em relação a período semelhante de 2008. As despesas com viagens estão caindo devido à desvalorização do real e ao menor crescimento da renda doméstica. O BC reviu a estimativa um pouco para cima porque, nos ultimos meses, a moeda nacional recuperou parte de seu valor ante o dólar.

O BC também elevou o déficit previsto para remessas de lucros e dividendos, agora estimado em US$ 17 bilhões, ante US$ 15 bilhões estimados em março. A revisão também se explica pelo fortalecimento do real. O valor ainda é bem menor do que os US$ 33,875 bilhões em 2008. Nos primeiros cinco meses deste ano, as remessas somam US$ 7,832 bilhões, queda de 49,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
 
Bibliografia
Jornal do Brasil - 25/06/2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 25 de junho de 2009
Jornal O Globo de 25 de junho de 2009
Jornal Valor Econômico de 25 de junho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 25 de junho de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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