Ocupação E Evolução Urbana:



1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do Tema

O presente trabalho apresenta um estudo sobre a ocupação e evolução urbana do Bairro de Boa Viagem, localizado na zona sul da cidade de Recife, em Pernambuco. A partir de uma abordagem histórica sobre a ocupação da área analisada temos um diagnóstico dos efeitos causados pela urbanização e conseqüente evolução deste processo, evidenciando a capacidade social, política e econômica que este Bairro desempenha na Cidade do Recife.
O Objetivo geral desta pesquisa é compreender o processo evolutivo do espaço urbano a partir da análise espacial do bairro de Boa Viagem. O espaço urbano é definido como:

(...) fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campos de lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela emergem. (CORRÊA, 1989).


Os objetivos específicos desta pesquisa são: entender a influência do comércio e serviços como fator do processo de urbanização do Bairro; destacar a evolução das funções adquiridas pelo Bairro; identificar os atores da produção do espaço urbano de Boa Viagem e ressaltar o processo e as formas espaciais do referido bairro.
A metodologia utilizada para atingir os objetivos propostos foi pesquisa bibliográfica em livros, artigos, dissertações e banco de dados disponíveis na Internet.
Utilizaremos as categorias analíticas sugeridas por Milton Santos que permitem entender a evolução da totalidade social espacializada, forma, função, estrutura e processo.


Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade. (SANTOS, 1985, p. 52.)

Através do método dedutivo, tentaremos mostrar as diferentes importâncias atribuídas ao bairro de Boa Viagem, no transcurso histórico, bem como a posição e situação dos atores sociais diante da evolução da paisagem do bairro, desencadeada por um processo que reúne fatores de ordem econômica e cultural. Acreditamos que as mudanças e as contradições ocorridas no Bairro, como as mudanças locais, seguem uma lógica global, a do capitalismo globalizado, que transforma tudo em mercadoria, inclusive o espaço.
O bairro de Boa Viagem é sem dúvida um dos principais símbolos de evolução urbana na cidade do Recife, sendo este o motivo de sua escolha como objeto deste estudo.
Acreditamos que o entendimento da complexidade histórica que veio a formar este bairro nos fornecerá base necessária para a compreensão do processo de formação do espaço urbano.
A metodologia deste trabalho consiste em um estudo de caso que se subdivide em três fases. Na primeira fase abordaremos a ocupação e formação do bairro de Boa Viagem, fazendo um levantamento histórico da área citando documentos escritos e iconográficos.
Na segunda parte iremos discorrer sobre os principais agentes produtores do espaço, locais e não-locais e indicaremos através de exemplos os métodos e mecanismos utilizados por esta classe para a reprodução do espaço.
A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade. É preciso considerar, entretanto que, a cada transformação do espaço urbano, este se mantém simultaneamente fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, ainda que as formas espaciais e suas funções tenham mudado. A desigualdade sócio-espacial também não desaparece: o equilíbrio social e da organização espacial não passa de um discurso tecnocrático, impregnado de ideologia.
Quais são esses agentes sociais que fazem e refazem a cidade? Que estratégias e ações concretas desempenham no processo de fazer e refazer a cidade? Estes agentes são os seguintes: a) proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; b) os proprietários fundiários; c) os promotores imobiliários; d) o Estado; e os grupos sociais excluídos.
Na terceira parte da pesquisa frizaremos a dinâmica sócio-espacial contemporânea, a qual se explica pelos usos inseridos no bairro de Boa Viagem.
O bairro de Boa Viagem é observado como uma das áreas mais dinâmicas e importantes da cidade do Recife, ele absorve uma grande quantidade de investimentos, sobretudo privados, seja na área da exploração imobiliária, no comércio e mesmo no meio acadêmico o bairro de Boa Viagem vem ganhado bastante importância, comprovado pelos inúmeros trabalhos realizados por arquitetos, planejadores, geógrafos, historiadores e engenheiros. Boa Viagem figura como um dos principais subcentros comerciais do Recife, atendendo não apenas aos moradores locais, mas também aos de toda a região metropolitana, mas a importância maior parece residir na consciência simbólica de quem mora e de quem pretende morar em Boa Viagem:

Porém, decorrente da presença das elites que habitava, e habitam o lugar, desde os seus primeiros momentos de expansão, houve uma associação constante do bairro ao status, ao prestígio, ao poder, ao progresso e á modernidade.(MONTEIRO, 1995)

Depois de fazer toda a abordagem necessária para o entendimento da dinâmica espacial do bairro, definiremos nossa conclusão pautada nas questões citadas no decorrer do trabalho.

2. OCUPAÇÃO E FORMAÇÃO DO ESPAÇO LOCAL DE BOA VIAGEM

A povoação de Boa Viagem teve início no século XVII quando comerciantes instalaram, naquela área, algumas vendas que serviam de pontos de parada aos viajantes que percorriam a parte sul da capitania de Pernambuco. No início do século XVIII, a movimentação por aqueles caminhos aumentou e o padre Leandro de Carvalho, que morava em Prazeres, resolveu construir ali uma capela, para rezar missas e encaminhar todos a uma boa viagem.
Barthel (1988) faz um estudo detalhado do processo de construção da Capela de Boa Viagem, que foi propiciada pelas doações de terras das principais famílias da sociedade recifense, como de Baltazar da Costa Passos (através de escritura lavrada a 06/01/1707) e a igreja, sob invocação de Maria santíssima, foi inaugurada em 1730. Tal igreja passou a exercer papel social de destaque nessa área (principalmente por situar-se distante do centro do Recife), favorecendo o surgimento de casas à sua volta, construídas pelos padres, que objetivavam abrigar os romeiros. Esse período é relativo ao principio do século XVIII, em torno de 1707.

Tendo sido a área uma passagem obrigatória para quem queria atingir os Montes Guararapes, sua utilização se prestava à oferta de pastagem bovina. Vindo-se do Recife em destino ao bairro de Boa Viagem passava-se pelo bairro do Pina, até então uma ilha quase desabitada, conhecida como “Cheira-dinheiro” (nome derivado do apelido do seu dono, Antônio Nogueira Figueiredo), passando depois a ser conhecida por Ilha do Nogueira, local habitado por pessoas humildes, que viviam da pesca e moravam às margens do mangue. Os chamados “Caminhos para o Sul”, atualmente Avenida Boa Viagem e Barão de Souza Leão, eram utilizados pelos viajantes, que se abasteciam nas “vendas e leiterias” do povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem. Ao se construir em Afogados a Ponte de Motocolombó, o acesso para os Montes Guararapes passa a ser feito pela trilha que corresponde à atual Avenida Mascarenhas de Moraes.
O século XIX será marcado pela moda dos “banhos salgados”. A praia de Boa viagem passa a ser procurada para veraneio por volta de 1858. Em temporada de veraneio, as famílias ricas eram acostumadas a procurar “casas de hidroterapia”, que se situavam nos subúrbios e arrabaldes do Rio Capibaribe. Por volta de 1906, o Bairro possuía cerca de 60 casas. Ao final do século XIX a ocupação da Faixa de Praia de Boa Viagem restringia-se a alguns pescadores. A cidade do Recife possuía então 80.000 habitantes. A partir da inauguração da Estrada de Ferro de São Francisco, ligando o Recife ao Cabo (a segunda ferrovia construída no Brasil), a povoação de Boa Viagem ganhou um novo impulso. Mas, ainda assim, o bairro permanecia praticamente desabitado na extensa faixa de terra que ia da praia até a Imbiribeira. Há, inclusive, relatos de que, nessa época, Boa Viagem era um dos pontos ideais para a caça de raposas e outros animais silvestres.
A década de 20 terá como marco importante na expansão urbana do bairro de Boa Viagem, o governo de Sérgio Loreto (1922-1926) que irá desenvolver vultuosas obras de infra-estrutura urbana, propiciando a interligação do bairro com o centro da cidade. Entre as mais importantes obras construídas pelo referido governador, encontram-se a “Avenida de Ligação” (atual Av. Engenheiro Antonio Góis), em 1924, a “Avenida Beira Mar e a Ponte do Saneamento” (assim chamada por estar ao lado da Estação de Tratamento de Esgotos), atualmente conhecidas por Avenida Boa Viagem e a antiga Ponte do Pina, respectivamente. Nesse período se dá a primeira desobstrução e retificação do leito do rio Jordão, alvo, desde então, de preocupações dos dirigentes da época que remotam até os dias atuais.
Com a Segunda Guerra Mundial ocorreu a ampliação dos transportes aéreos no Estado e, devido à proximidade de Boa Viagem com o Aeroporto dos Guararapes, o bairro teve novo pique de desenvolvimento. Em 1945, Boa Viagem ganha o seu primeiro estabelecimento hoteleiro de padrão internacional, o Hotel Boa Viagem. A partir de então, Boa Viagem não deixa de crescer, até tornar-se, em 2001, o bairro mais populoso do Recife.
Entre os casarões do bairro destaca-se a Casa Navio, construída pelo Empresário Adelmar da Costa Carvalho no ano de 1940. Segundo Napoleão Barroso o citado “empresário não queria construir apenas uma casa navio e sim um transatlântico”. A casa era perfeitamente equipada, sala de reuniões, suítes, quartos, cinema, salão de jogos, restaurante e até uma cabine de comando, com todos equipamentos de um navio. A casa navio hospedou desde governadores e ministros até o presidente J. K., sendo demolida em 1981, para dar lugar a um moderno edifício.

Na década de 50, o bairro de Boa Viagem receberia seus primeiros edifícios, destacando-se entre eles o “ACAIACA” e o “CALIFORNIA”, vindo depois alguns outros como o “HOLIDAY”. Já nos anos 60, o Bairro ainda era misto de residencial e boemia nos movimentados “TIO PEPE”, em frente ao Hotel Boa Viagem, inaugurado em 1954 ou em boates como o “SAMBURÁ”, entre outras.
O grande impulso de desenvolvimento do bairro, no entanto, começou na década de 70 aumentando cada vez mais com o surgimento de outros hotéis como o RECIFE PALACE, MAR HOTEL, o HOTEL SAVARONI, o INTERNACIONAL LUCSSIM HOTEL, o JPM TURISMO HOTEL, o VILA RICA e o IDEALY HOTEL todos de quatro estrelas além de muitos outros de dois e três estrelas espalhados pelo bairro, assim como restaurantes de frutos do mar que é o caso do BARGAÇO, COSTA BRAVA, AQUARIUS, CASA MARINA, entre outros.

2.1 Principais artérias do bairro de Boa Viagem

AV. BOA VIAGEM
Mesmo sem a totalidade de suas obras concluídas, foi inaugurada em 20 de outubro de 1924. Para concretizar essa importante iniciativa urbanística, muitos mocambos foram demolidos e terras demarcadas. O ato da inauguração aconteceu, justamente, na data do encerramento das comemorações do segundo aniversário da gestão do Governador Sérgio Loreto, que compareceu à solenidade acompanhado de numerosa comitiva e visitou o vasto canteiro de obras dessa avenida, sendo ali recebido, festivamente, pelos raros moradores daquele bairro praieiro.
Passados 78 anos desses acontecimentos de aparência tão "brejeira", vemos a grandiosa Avenida Boa Viagem, como o povo passou a chamá-la oficialmente, cercada no seu lado oeste, por grandes espigões, naqueles terrenos onde outrora existiram belas mansões como a Casa Navio n.º 4.000. No seu lado leste, no entanto, felizmente, a paisagem é a mesma, pois se vislumbra a mesma praia de beleza tropical, com suas águas tépidas e límpidas do Atlântico, com suas piscinas naturais, e o seu belíssimo arrecife.

RUA DOS NAVEGANTES
Essa, cronologicamente, foi a primeira das principais artérias do bairro Seu nome também está ligado à religião católica e às viagens de pescadores ao mar, uma vez que reverencia "Nossa Senhora dos Navegantes". Se estende da antiga Praça da Igrejinha, até o 3º Jardim, nome popular das pequenas praças arborizadas na Av. Boa Viagem no sentido Cidade/Subúrbio. Cada um deles, servindo, então, como ponto de referência para encontros na praia. Um detalhe interessante demonstra a origem remota dessa rua, sua numeração, que segue o sentido sul/norte e não norte/sul, como ocorre com as Avenidas: Boa Viagem, Conselheiro Aguiar e Domingos Ferreira.

AVENIDA CONSELHEIRO AGUIAR
João José Ferreira de Aguiar; o Barão de Catuama foi escolhido pela municipalidade para homenagear essa importante artéria urbana. Diferentemente da Av. Boa Viagem e da Rua dos Navegantes, essa artéria, que inicia ainda no Bairro do Pina e vai até a Praça da Igrejinha, é também comercial, ou seja, enquanto as duas primeiras vias citadas são quase que exclusivamente residências, essa 3ª paralela possuiu nos pavimentos térreos de seus edifícios mais modernos, agências bancárias, e de turismo, locadoras, bares, sapatarias, restaurantes, galerias, entre outros estabelecimentos ligados à atividade terciária. O Conselheiro Aguiar nasceu em Goiana em 1810 e faleceu no Recife em 1888. Era abolicionista, magistrado e Professor da Faculdade de Direito do Recife.

AVENIDA ENGENHEIRO DOMINGOS FERREIRA
Embora seja a quarta paralela, é uma das avenidas mais movimentadas do bairro. Sua origem remonta aos anos 60 do século passado, quando o local onde ela está instalada, era um grande manguezal. Foi nessa área que nasceu uma pequena favela que ficou conhecida como Rua do ABC, com muitos casebres, cajueiros e um vasto matagal. Posteriormente, o local passou a ser conhecido como Rua Amazonas, já que dava acesso a essa rua ainda hoje existente na localidade. Somente há pouco mais de 25 anos é que essa via foi ampliada, tendo recebido o nome do grande engenheiro e urbanista Domingos Ferreira.

RUA BARÃO DE SOUZA LEÃO
Inácio Joaquim de Souza Leão proprietário de terras na área por onde hoje se estende a rua que tem seu nome. Possuiu, durante vários anos, um casarão onde veraneava, na esquina da Rua dos Navegantes com a Praça Boa Viagem. O traçado deste logradouro é bastante remoto, corresponde ao da antiga "Estrada da Boa Viagem". Nela ficava a Estação da Via Férrea de São Francisco, inaugurada em meados do século XIX, sendo, então, o único ponto de contato entre o atual bairro e o Recife.

RUA PADRE CARAPUCEIRO
Miguel do Sacramento Lopes Gama, o "Padre Carapuceiro", como era conhecido esse religioso e intelectual pernambucano, proprietário do Jornal O Carapuceiro, de quem herdou o pseudônimo, uma vez que em uma coluna desse periódico, costumava criticar pessoas da política e da sociedade local sem dizer, no entanto, de quem se tratava, caindo a "carapuça" na cabeça de quem se identificasse com o assunto abordado no jornal. A Rua Padre Carapuceiro passou a ter maior importância com o surgimento, na sua vizinhança, do Shopping Center Recife, uma vez que interliga as principais avenidas do bairro a esse centro comercial.

RUA BRUNO VELOSO
Importante artéria urbana do Bairro de Boa Viagem liga a Av. Praieira ao Shopping Center e ao Sítio Venda Grande. Entre as ruas perpendiculares da localidade esta é uma das mais extensas e transitadas. Homenageia o Dr. Bruno Veloso, grande proprietário de terras da região, que incluía a concorrida área do "Corta Jaca".

RUA DONA BENVINDA DE FARIAS
Outro caso típico de homenagem a moradores e beneficentes da área. Dona Benvinda de Farias deu parte de suas terras para a municipalidade recifense, além de ser pessoa benquista na localidade. Essa artéria urbana segue no sentido leste oeste e foi uma das primeiras a ligar a beira mar à Domingos Ferreira.


RUA ANTÔNIO FALCÃO
Ao que tudo indica a municipalidade recifense cometeu um engano ao denominar essa rua de Antônio Falcão. Embora alguns assim o chamassem, seu nome era Antonino José de Miranda Falcão, O fundador do Teatro Apolo e do Diário de Pernambuco. Essa artéria urbana é a continuação da Av. General Marc Arthur, que inicia na Imbiribeira e, com o nome de Antônio Falcão, se estende até à praia de Boa Viagem.

3. OS PRINCIPAIS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO

A década de 20 foi um marco importante na expansão urbana do bairro de Boa Viagem, o governo de Sérgio Lorêto (1922-1926) que irá desenvolver vultuosas obras de infra-estrutura urbana, propiciando a interligação do bairro com o centro da cidade. O período se caracterizou pela polêmica em torno da viabilidade dos investimentos públicos em obras que serviriam uma área habitada por poucas pessoas e de origem humilde. Neste período, o bairro de Boa Viagem possuía um pequeno povoamento na praça do atual terminal de ônibus.
A cidade do Recife dirigiu-se para o sul, concomitantemente ao processo de ocupação da orla marítima. Entretanto, Barthel (1988) destaca o processo de apropriação dos terrenos do Bairro de Boa Viagem por parte da elite dominante, referindo-se à aquisição dos terrenos por pessoas, que se beneficiaram ainda de material de construção e trabalhadores do governo na edificação de suas residências, correlacionando este fato, por fim, à sutil coincidência de serem parentes e amigos do Governador Sérgio Lorêto. Entretanto, a especulação imobiliária da Faixa de Praia começa a ser percebida a partir da implantação dos bondes elétricos que tinham a função de ligar a praia ao centro do Recife, essa obra foi desenvolvida por um convênio entre o Governo do Estado e a Pernambuco Tramways & Power Company Limited (inaugurada no Recife em 1914).
O surgimento da grande favela denominada de Mata-Sete, remonta a esse período. Sua formação se inicia em torno de 1928, às margens dos braços do rio Jordão, espalhando-se aos limites da Avenida Conselheiro Aguiar, ao leste. Com o processo de expansão e recuo, a favela dirigiu-se para o sul, e ficou restrita às ruas Bruno Veloso e Ribeiro de Brito, nos anos 60.
A década de 30 registraria o crescimento considerável do número de loteamento na Faixa de Praia do bairro de Boa Viagem, observando-se inclusive, o início de um processo de interiorização de sua ocupação, representado pelo Loteamento Setúbal. O contexto político, caracterizado pela forte presença do Estado na economia nacional, vem influenciar na organização do espaço urbano recifense, através da ação pública estatal na compra de terrenos a herdeiros de grandes famílias recifenses.
A década de 40 se caracterizará pelo crescente processo de abertura de lotes nos terrenos de Boa Viagem, verificado, em sua maior parte na Faixa de Praia do bairro de Boa Viagem. Contraditoriamente, foi em 1943 que se iniciou a formação da favela do Bode nas margens do rio Pina, atualmente a maior favela em área plana do Recife.
Teve início na década de 50 o processo de metropolização da cidade do Recife, quando a maior parte do território municipal se encontra ocupado. O bairro de Boa Viagem se consagraria, a partir desse período, como área elitizada, destinando sua função residencial e comercial, preponderantemente, a um grupo de pessoas pertencente a elevados extratos de renda, ao mesmo tempo em que se consolidava autônomo em relação ao restante da cidade.
Dentre as principais obras desenvolvidas nesse período, pó ser citada a construção da Ponte Agamenon Magalhães, em 1953. Essa obra vem dotar a área de uma artéria de fluxos de veículos que ligaria a Faixa de Praia ao centro da cidade. A impossibilidade de fluxo dos veículos pela Ponte do Pina (tendo em vista sua estreita largura) alongava o percurso, obrigando os proprietários de veículos a passar pelo bairro de Afogados até chegar a Boa Viagem.
Em 1960, foi registrado um total de 797.200 pessoas na cidade do recife. O bairro de Boa Viagem, absorvendo cerca de 10% do total da população, sendo classificado como área suburbana, apresentava-se ainda como distrito mais dinâmico da cidade, “o que mais crescia e onde mais se construía, elevando-se, a partir de 1965, o número de construções, bem como o preço dos imóveis”.
Santos (1993, 1996) define o conceito de sítio social “especulação imobiliária deriva, em última análise, da conjunção de dois movimentos convergentes: A superposição de um sítio social ao sítio natural e a disputa entre atividades e pessoas por dada localização”.
Segundo Barthel (1988), concomitantemente ao crescimento e dinamismo do bairro de Boa Viagem em 1960, seus problemas urbanos e ambientais são agravados. A rede de esgoto e as galerias pluviais que serviam ao bairro passam a não suportar as descargas provenientes do crescente número de edifícios implantados, que se interligarão aos canais de Setúbal e ao rio Jordão par suprir essa carência.
Ao final dos anos 60, o crescente processo de especulação imobiliária na Faixa de praia, associado ao crescente número de invasões no conjunto de terrenos do bairro de Boa Viagem, marca o forte contraste resultante do seu processo de ocupação. Em 1965 registra-se a invasão de uma área próxima à Mata Sete, cujo assentamento localizava-se à beira do canal do Setúbal, no final da Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, por cinco famílias. Inicia-se, portanto, um período de crescentes conflitos pela posse da terra. A criação das ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) do Entra-Apulso ocorreu através da Lei nº 15.159/88, o que representou um “mecanismo de proteção” necessário para a favela, frente ao processo de valorização espacial em curso, tendo como principal função impedir que os terrenos da favela sejam inseridos em um mercado imobiliário cada vez maior e mais elitizado.
Segundo Villaça (1998), o conceito de sítio social “é útil tanto para análise dos bairros residenciais produzidos pelas e para as burguesias, como também das áreas comerciais que elas igualmente produzem, também para si”.
A partir de então a cidade do Recife apresentaria, notadamente, uma das paisagens urbanas de maior contraste social, fato agravado ao longo do tempo. Em 1989, a URB (Empresa de Urbanização do Recife) promoveria, com a ajuda da Polícia Militar, a retirada de vários barracos da favela mata Sete que se situava no local, reerguidos em pouco tempo e novamente demolidos pela URB. Outros vários barracos seriam removidos como parte do programa de modificação e revitalização do Canal do Setúbal. Tal programa se insere no Projeto Cura-Boa Viagem, quando vem ser implantada a Avenida Fernando Simões Barbosa, removendo os antigos moradores da área para outro local, dentro do próprio bairro de Boa Viagem.

A valorização imobiliária gerará, provavelmente, maiores conflitos ao longo do canal Jordão pela enorme pressão imobiliária ali presente, eis que trata-se do bairro mais valorizado do Recife. Inexistindo intervenção pública os moradores atuais poderão simplesmente desaparecer pela retomada ou compra dos imóveis, podendo haver prejuízos a população de baixa renda, ali presente. (Prefeitura da Cidade do Recife. Recife: URB, 1991).


A ocupação planejada se restringiu, quase que exclusivamente, à Faixa de Praia próximo ao mar, refletindo-se na implantação de altos e luxuosos edifícios entre a Avenida Boa Viagem, Av. N. S. dos Navegantes, Av. Conselheiro Aguiar e Av. Engenheiro Domingos Ferreira. Entretanto, veremos que a área de ocupação planejada extrapolará esses limites com o planejamento de ocupação da área do Shopping Center Recife, datado de 1978, que direcionaria a malha urbana do bairro de Boa Viagem para oeste. Essa área vinha sendo ocupada espontaneamente por famílias de renda muito baixa que residiam nos trechos próximos aos manguezais e rios e ofertavam seus serviços à população de classes média e alta de Boa Viagem.
Ao longo do período analisado soma-se a esse fato, o registro da maior taxa de invasões de terrenos no bairro de Boa Viagem. Em 1970 de um total de 59 invasões no Recife, distribuíram-se 15 em Boa Viagem. Por outro lado, também consta dessa data, a intensificação do crescimento vertical ao longo da orla marítima, propiciado pelo aumento dos preços dos terrenos.

A segregação é um processo segundo qual, diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole. (...) Referindo-se a concentração de uma classe no espaço urbano, a segregação não impede a presença nem o crescimento de outras classes no mesmo espaço. (VILLAÇA, p. 142, 1998).


Em 1970, também são intensificadas as atividades de comércio e serviço na faixa de Praia, principalmente em Boa Viagem. Há o início de um processo de renovação urbana. Alguns edifícios de uso residencial passam à função comercial, levando para o bairro de Boa Viagem as filiais de grandes lojas do centro da cidade. Cada vez mais o bairro se consolida como local de moradia de classe média e alta. Ao longo do processo de expansão do centro comercial de Boa Viagem vão surgindo no bairro, filiais do Supermercado Bompreço, cujo abastecimento era feito, até então, apenas por um supermercado da rede Pão de Açúcar - Comprebem e alguns mercados populares. O ano de 1977 registra o surgimento de butiques, lojas de tecidos, de decoração, várias agências de banco e de turismo e vários restaurantes.
Deriva desse processo, a autonomia relativa de Boa Viagem em relação ao comércio do centro do Recife. Parcela significativa da população residente do bairro passa a não mais se deslocar para outros centros comerciais em busca da satisfação de suas necessidades de mercado. Fortalecendo essa tendência à especialização comercial, anos mais tarde se abrigará no bairro de Boa Viagem, o Shopping Center Recife, com vastas dimensões e funcionalidade, absorvendo consumidores de diversas ares da cidade.
A opção de investimentos na Faixa de Praia do Recife, tanto por parte dos órgãos públicos de planejamento municipais e estaduais como pelo setor da capital privado, propiciou a construção das bases necessárias ao processo de valorização do seu espaço, tendo sido a implantação de infra-estrutura e equipamentos urbanos públicos, desencadeador da construção de luxuosos e especializados meios de lazer, comércio e residência.




4. ANÁLISE DA DINÂMICA SÓCIO-ESPACIAL CONTEMPORÂNEA

O bairro de Boa Viagem caracteriza-se por áreas de concentração e áreas de expansão urbana. Assim, verifica-se de acordo com fotos e imagens de satélites, que essas áreas de concentração estão localizadas na Orla e em suas proximidades tanto pelo fato histórico do seu surgimento a partir da praia quanto a uma posterior instalação de artérias importantes nas proximidades da orla. Já as áreas de expansão estão ligadas a alta valorização do setor imobiliário no bairro (especulação imobiliária), justamente uma região de recentes edificações e ocupações localizadas nas proximidades do Shopping Center Recife e na direção da área de Setúbal.
Segundo Costa (1995), as transformações espaciais da circunvizinhança imediata do SCR (Shopping Center Recife) ocorreram a partir de sua ocupação planejada, que serviu de mecanismo de valorização acelerada e dirigida do espaço. Como resultado, formou-se um centro de negócios indutor de valor e segregação, cujo efeito amplia-se por todo seu entorno.
Na área de concentração verifica-se a presença de muitos domicílios, primordialmente verticais, e diversos empreendimentos comerciais, os quais atendem a população do próprio bairro e como também de outros bairros do grande Recife. A expansão do bairro atinge as regiões limítrofes deste com os vizinhos, a exemplo do bairro da Imbiribeira e do Pina.
O bairro em estudo possui uma grande dinâmica de empreendimentos, desde comércio a serviços, e estes estão, em grande maioria, nas áreas de concentração acima definidas. Nas áreas de expansão está presente também essa dinâmica em crescimento, verificado principalmente nas proximidades do Shopping Center Recife. No geral, observa-se um comercio e prestação de serviços bastante variados: vestuários, eletro-eletrônicos, veículos, alimentação, bancos, rede hoteleira, educação, saúde, entre outros. Uma parte destes que trabalham no bairro é registrada (em centros comerciais, lojas e empresariais, bancos etc) e outra trabalha informalmente (na praia ou em sinais e principais vias).
Na área de Setúbal os quarteirões compõem-se de diversos lotes, de extensões variadas enquanto que em Boa Viagem os quarteirões são formados por uma quantidade menor de lotes, o que obriga as imobiliárias a agregar vários lotes para construções de edifícios, como exemplo pode-se citar o empresarial Excelsior, na Avenida Conselheiro Aguiar onde se tinha uma casa e uma loja comercial. Esses terrenos foram adquiridos pela construtora e os antigos prédios foram demolidos, ocorrendo uma agregação de ambos os lotes e posteriormente a construção do empresarial.
Na faixa da orla e suas proximidades, em geral, encontra-se uma população de alto e médio poder aquisitivo atraindo os diversos ramos de comercio e serviços. Já a população de baixa renda, encontra-se em diversas áreas do bairro algumas classificadas como ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social), principalmente na faixa do canal de Setúbal e do Jordão.
A expressão segregação é empregada, num sentido mais geral, pela separação forçada e institucionalizada de uma discriminação, ou seja, de um tratamento desigual de grupos, sejam por motivos religiosos, raciais, econômicos, sexuais, culturais, espaciais, etc. Através da segregação, a elite domina o espaço urbano não só produzindo suas residências, seus locais de trabalho e de lazer nas áreas que consideram mais agradáveis, mas também atuando sobre toda a estrutura urbana segundo seus interesses.
Atualmente é marcante a presença de mendigos que são do bairro ou de outras localidades que para lá se dirigem, e meninos de rua que se concentram em sinais e cruzamentos das principais vias, estes marginalizados e ociosos. A prostituição, inclusive infantil, ocupa as calçadas das principais avenidas do bairro, influenciada pela procura de habitantes locais e de turistas (as principais avenidas nas quais se concentra a prostituição são a avenida Boa Viagem, Conselheiro Aguiar e a Praça de Boa Viagem).
Os espaços verdes do bairro foram com o tempo sendo reduzidos, isto é percebido nitidamente pela escassez de praças e avenidas e ruas pouco arborizadas. Entretanto, e em Boa Viagem que se localiza uma das maiores reservas urbanas de mangue do país, a qual e alvo de grande interesse por parte das construtoras que tem a noção exata do valor que a área possui.
Sobre o lazer em Boa Viagem há vários exemplos, mas o que mais se destaca é o Shopping Center. Este enclave é normado e vigiado, porém apresentando uma característica muito mais forte que é à busca do consumidor, ou seja, os donos dos estabelecimentos deste local visam pessoas que apresentam um poder aquisitivo e que as possibilite comprar seus produtos. E hoje estes locais possuem alta heterogeneidade de serviços para que os consumidores venham mais e que consumam até outras coisas que não iriam. Exemplos disso são a presença de danceterias, pistas de jogos etc. Vale ressaltar que também nos condomínios há esta heterogeneidade de serviços como escolas, mercados entre outros.
O consumidor segundo Santos (1987) alimenta-se de parcialidades, contenta-se com respostas setoriais e não participa ou não tem o direito de debater sobre suas ações publicas ou privadas. Um exemplo disto é confundir o direito de morar com o direito de posse.
Neste estudo foi realizada uma análise da dinâmica sócio-espacial contemporânea, a partir da inter-relação de Atores e Principais Objetos que compõem o bairro de Boa Viagem, que será mostrada através da formulação da tabela 2 (anexo).
Na tabela 2, os principais Atores do bairro levado em consideração foram: os Empresários (de comércio e serviços), o Poder Púbico, os Moradores Pobres e Outros Moradores. Já os Principais Objetos que compõem Boa Viagem foram divididos da seguinte maneira: Orla e Praças, Empreendimentos Comerciais e de Serviços (Edifícios Verticais e Não-verticais), Empreendimentos Residenciais (Edifícios Verticais e Não-verticais), Rede de Drenagem e Transporte Viário.
A primeira relação que podemos fazer é entre a Orla e Praças e os diversos atores. Com os Empresários (tanto de comercio quanto de serviços), o que se pode verificar é que estes acabam muitas vezes adotando os espaços públicos tomando para si uma responsabilidade que seria do Poder Público e em troca aproveitam as áreas para realizarem propagandas dos seus empreendimentos, a exemplo disso na orla os lixeiros sempre estão com propagandas, e alguns jardins adotados, como o em frente ao restaurante Shangai na Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, uma adoção na qual não deu muito certo, pois a manutenção esta sendo mal feita. Já o Poder Público fica responsável pela criação e, em alguns casos, com a manutenção e recuperação desses locais.
Em relação aos moradores de baixa renda, esses utilizam pouco as áreas públicas e nas áreas mais pobres do bairro não se encontram espaços de lazer, estes quando se dirigem para essas áreas muitas vezes é para se trabalhar num mercado informal. Os moradores de média e alta renda por sua vez são os que utilizam principalmente a orla como espaço de lazer e muitos ficam inibidos devido a grande violência que ocorre geralmente nesses locais. Um exemplo é a praça de Boa Viagem que atrai muitos turistas e a população local com sua feira de artesanato.
Os Empreendimentos de Comércio e Serviços (tanto os verticais como os não-verticais) também foram considerados nessa analise. Os Empresários (comércio e serviços) são os principais agentes que realizam a manutenção e a administração destes, transformando alguns locais em verdadeiros centros comercias e de serviços, em quanto que o Poder Público, cria uma estrutura necessária para atrair esses empreendimentos, visto que isso gera um aumento para a arrecadação de impostos.
Estes Empreendimentos são pouco utilizados pela população de baixa renda que muitas vezes desloca-se para outros bairros para fazer compras, e os que conseguem trabalhar nesses empreendimentos ocupam verdadeiros subempregos. Já os moradores do bairro e de outros bairros que possuem um maior poder aquisitivo movimentam esses Empreendimentos e que geram para o bairro uma grande circulação do capital.
No que concerne aos Empreendimentos Residenciais (verticais e não-verticais) os Empresários (comércio e serviço) são os responsáveis pela especulação imobiliária, mas interessados na fixação de moradias no bairro, para que seu público consumidor esteja próximo de seus empreendimentos e que também gere cada vez mais uma maior valorização do espaço local. O Poder Público tem como função regular e fiscalizar a construção dos empreendimentos em questão, criando também projetos de construção de habitações populares. Como exemplo pode-se citar as construções populares próximas da Zeis Entra-apulso, localizada nas proximidades do Shopping Center Recife.
Observa-se a predominância dos Empreendimentos verticais, em detrimento dos não-veriticais, por conta da escassez de terrenos e da especulação imobiliária. A população de classe média e alta é a que tem acesso a grande maioria desses empreendimentos, enquanto que a população de baixa renda limita-se a aquisição de moradias populares e de projetos governamentais.
Sobre a Rede de Drenagem, os empreendimentos do bairro são bem servidos, pois interessa ao Poder Público ofertar uma estrutura adequada com vistas a atrair mais investimentos e conseqüentemente ampliar a receita pública. São de competência do Poder Público a implementação e manutenção da rede de saneamento.
A população de baixa renda tem um acesso mais restrito, visto que não é priorizada pelo Poder Público. A população de média e alta renda tem o acesso a essa rede de drenagem, pois suas residências encontram-se em áreas privilegiadas.
Com relação ao transporte Viário do bairro os empresários são responsáveis pela criação e administração das empresas de transportes públicos. A defasagem desses transportes causa diversos transtornos ao transito. Já o Poder Público é responsável pela elaboração de planos, criação e manutenção da estrutura viária, bem como pela regulamentação e fiscalização do Sistema de Transporte Publico de Passageiros, um exemplo é a tentativa por parte da prefeitura, de modificação recente do sentido do fluxo de algumas Avenidas e Ruas do bairro como Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, Avenida Conselheiro Aguiar, Rua dos Navegantes.
Os moradores de baixa renda utilizam primordialmente o Sistema Publico de Transporte, sofrendo com a deficiência do mesmo e do Sistema Viário Saturado, exemplo o surgimento de transportes alternativos que era muito marcante no bairro. E os moradores das classes média e alta são os principais responsáveis pela saturação do sistema viário do bairro em virtude da pouca utilização do Sistema de Transporte Público de Passageiros e excessivo uso de veículos particulares, congestionando as vias.
Assim conclui-se que a relação e interação desses atores com os diversos Objetos do bairro mostram uma grande dinâmica no sentido Sócio-espacial Contemporâneo. Suas diversas características são os resultados do desempenho marcante por parte das diversas classes de Moradores, do Poder Público e dos Empresários, pois todos compõem esse espaço que se localiza na área sul da cidade do Recife, exercendo um grande poder de transformação nesse bairro.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho possibilita entender o processo de ocupação e evolução urbana do bairro de Boa Viagem.
O bairro de Boa Viagem enfrenta muitas dificuldades com a administração dos processos de ocupação e crescimento urbano, desde problemas ambientais decorrentes de ocupação indevida, crises em torno do solo urbano envolvendo diferentes classes sociais, conflitos relativos à convivência de usos, até a proliferação de ocupações irregulares. A regulação urbana e seus instrumentos, isto é, a Lei de Uso e Ocupação do Solo, muitas vezes são omissos, apresentam problemas de interpretação ou são inviáveis em relação a novos usos que vão surgindo com o passar do tempo. Outro fato negativo é a questão da verticalização, que produz impactos significativos na estrutura social e econômica do Bairro, como mudanças na distribuição das classes sociais, influenciadas pelas alterações dos valores e dos usos do solo urbano.
Observamos que no bairro de Boa Viagem existe um controle da classe dominante, principalmente na produção e consumo do espaço, através do mercado imobiliário, que produz os espaços dessa classe, como também do próprio Estado que controla a localização da infraestrutura urbana.
As transformações recentes do bairro de Boa Viagem estão gerando espaços nos quais os diferentes grupos sociais encontram-se muitas vezes próximos, mas estão separados pelo poder das posses. Os segregados do espaço urbano deste bairro constituem os periferizados sócio-espaciais e se tornam visíveis sob forma de favelas e habitações de baixo valor construtivo.
Dessa forma, fica evidente na pesquisa, a partir de informações, que esse bairro detém o metro quadrado mais caro da cidade e hoje é auto-suficiente na prestação de serviços aos habitantes nele residente, que ele exerce grande força de atração do capital e dos seus aparelhos de reprodução, destacando-se nesse cenário os promotores imobiliários e o Estado. Estes agentes, atuantes no espaço urbano, interferem significativamente nas formas e funções do espaço, estabelecendo ou permitindo padrões arquitetônicos e contribuindo com o aparecimento ou injetando equipamentos de comércio e serviços, necessários à reprodução das classes mais ricas da área estudada, mas sem colaborar com as precisões mais urgentes das populações mais pobres ali também residentes.
Diante destas questões analisa-se que o bairro de Boa Viagem transgride seu status de bairro e passa a apontar como uma verdadeira cidade capitalista dentro de uma outra cidade, alocando todas as complexidades e contradições de uma região urbanizada.


REFERÊNCIAS


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CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, p. 111-113, 1998.


CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1989. (Série Princípios)


CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Ática, 7ª Ed. 2002. (Série Princípios)


COSTA, Kátia Cristina Ribeiro. Shopping Center Recife: conflitos e valorização do espaço. Dissertação de Mestrado em Geografia/UFPE, p. 76-86/ 89-154, 1995.


VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 1998.


SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo: HUCITEC, 1988.


Gestão do uso do Solo e Disfunções do Crescimento Urbano: Instrumento de Planejamento e Gestão Urbana: Belém, Natal e Recife / IPEA, USP, UFPA, UFPE. Brasília: IPEA, p. 142-143, 2001.


Prefeitura da Cidade do Recife. Aspectos Econômicos, Sociais e de Meio Ambiente dos Bairros do Recife. 1994.

SITE
Associação dos moradores de Boa Viagem. Disponível em: http://www.amaboaviagem.hpg.ig.com.br/index.html. Acesso em: 20 de janeiro de 2005.


Autor: JANIALY ALVES ARAUJO TRES


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