Grupo Operativo e Consulta de Enfermagem



Glória Maria Silva

Resumo:Este trabalho relata a implantação da consulta de enfermagem em mastologia e o atendimento de grupos operativos na Unidade de Ginecologia do HUPE/UERJ.

Unitermos: Consulta de Enfermagem e Grupo Operativo

Summary: That work describe implantation the nurse consult and mastology and the operation groups in the Gynaecology nursing the HUPE/UERJ between 1980 and Summary 1981.

Uniterms: nursing consult and operation groups

Enfermeira

I - INTRODUÇÃO

Ao iniciar minhas atividades profissionais, após conclusão do curso de Graduação e Habilitação em enfermagem Obstétrica, deparei-me num relance com uma situação da enfermagem, onde a maioria dos enfermeiros encontravam-se exercendo atividades administrativas, tanto em hospitais como em saúde pública, e o cuidado ao paciente encontrava-sedelegado aoutros elementos da equipe.

Naquele momento já entendia que se fazia necessário o desenvolvimento técnico e científico para que não perdêssemos as conquistas legais e o "status" já até então conquistados. A profissão deveria encontrar o seu próprio caminho, apesar do número reduzido de profissionais e dos entraves legais existentes.

Acreditava que na medida em que fossemos ampliando a nossa vivência de enfermagem, seja no campo profissional, seja no campo de ensino, sentiriamos capazes de desenvolver um novo conceito, revistoe melhorado dia após dia, nos levando a elaboração dos procedimentos realizados.

Quando assumi a chefia da Unidade de Ginecologia, em 1079, implantei a consulta de enfermageme orientação em grupos a pacientes mastectomizados.

A consulta de enfermagem, é uma assistência ao paciente não hospitalizado e atende ao sujeito nos níveis de prevenção primária, secundária e terciária.Visa a promoção, proteção, recuperação e ou reabilitação das pessoas enfermas. É considerada uma atividade final, passível de mensurarão, dado este que programa as ações de saúde e avaliação dos mesmos.

Como retrospectiva histórica,a consulta de enfermagem data desde 1918, com a epidemia da gripe espanhola, os sanitaristas da época tomaram consciência da necessidade destaatividade, criando em 1920, o Departamento Nacional de saúde Pública do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Seu Diretor Dr: Carlos Chagas, com o auxílio da fundação Rockefeller, implantou a enfermagem em saúde pública no brasil, formando assim, em 1925 a primeira turma de enfermeiros da Escola Ana Neri, para esta finalidade.

A consulta de enfermagem é uma atividade sistemática, contínua e independente de encaminhamento, sua aplicação envolve o sujeito sadio ou em tratamento ambulatorial.

É uma tarefa indelegável e encontra-se amparada pela Lei 7498 de 25 de junho de 1986, artigo 11, item I, letra f.

Inclui normas e procedimentos que orientam e controlam a realização das ações destinadas a obtenção, análise e interpretação de informações, sobre as condições de saúde da clientela e as decisões quanto a orientação e outras medidas que possam influir na adoção de práticas favoráveis a saúde.

Várias etapas evolutivas consideradas marcantes vem apresentando a consulta de enfermagem no Brasil.

Algumas instituições incluem em seus serviços o processo, em manuais normas e rotinas de trabalho com ênfase na anamnese, exame físico e orientação. Devendo a mesma proporcionar mudanças favoráveis na saúde do indivíduo; estabelecer comunicação terapêutica entre enfermeiro e paciente; ser realizada em ambiente físico favorável,observando estado físico e emocional do paciente; capacitação profissional( o enfermeiro deverá aprofundar conhecimentos na área de atuação ).

Para introdução deste método na unidade de ginecologia, contei com a colaboração da chefia do Serviço deEnfermageme de professores e alunos da graduação da Faculdade de EnfermagemdaUERJ, que cumpriam carga horário de estágio na especialidade.

Formamos assim uma equipe na tentativa de melhor integração entre o próprio grupo, com a finalidade de minimizar os conflitos no trabalho.

Todos encontravam-se empenhados na execução das atividadese obtenção de resultados positivos.

No entanto deparamos com dificuldades já esperadas, tais como: enfermeiros em número insuficiente e pouco preparo para enfrentar a realidade do serviço e pessoal auxiliar que mesmo suficiente na quantidade, insuficiente no seu preparo específico sobre a especialidade.

Apesar de todas as dificuldades por nós sentidas, e no trabalho apresentado, consideramos o método válido. Se em alguns momentos não pudemos agir sob certos aspectos do paciente, por fugir a nossa competência, o levantamento de informações nos serviu para o conhecimento do paciente como um todo, suas dificuldades, carências e aspirações.

II - A CONSULTA DE ENFERMAGEM

No presente trabalho pretendemos enfocar a experiência da consulta de enfermagem emmastologia no ambulatóriocentraldo HospitalUniversitário Pedro Ernesto, como uma análise teórica, baseada na vivência do trabalho desenvolvido.

A consulta de enfermagem, deve proporcionar mudanças favoráveis na saúde do indivíduo estabelecendo umacomunicação terapêutica, enfermeiro-paciente.

Parao desenvolvimento deste trabalho, contamos com uma sala apropriadano ambulatório central, onde podia ser preservado a privacidade das pacientes. As mesmas eram agendadas previamente e atendíamos uma média de seis pacientes por dia, onde inicialmente ensinávamos, oauto-exame, educaçãosanitária e procedíamos a triagem.

Ao enfermeiro considerávamosimprescindível segurança profissional, habilidade técnica, embasamento teórico científico, para que fossem criadas condições de acrescentar algo de resolução para oproblema do paciente.

Considerávamos imprescindível a presença de um enfermeiro fixo na unidade de internação e outro no ambulatório, fato este queera revesado entre o enfermeiro chefe de unidade e o professor da Faculdade de Enfermagem.

Entendíamos naquele momento que do ponto de vista psicológicoefísico,as glândulas mamárias representavam um atributo físico muito valorizado e que amutilaçãointerferiria diretamente nas questões de sua feminilidade, ocasionando estados depressivos e diminuição da auto-estima na mulher.

Apesar dos avanços científicos no diagnóstico do carcinoma e outras afecções mamárias, a propedêutica clínica ainda detém importantíssimo papel em mastologia, a sua utilização de formacorretaa anamnese, inspeçào, palpaçào e expressão, detecta-se precocemente os processos benignos e malignos das mamas evitando assim muitas vezes um procedimento mais agressivo.

O exame minucioso das mamas servia ainda para detectarmos anomalias congênitas, distúrbios do desenvolvimento processos inflamatórios, displasias e neoplasia.

No entanto contamos com algumas dificuldades inicias já esperadas, que foram sendo resolvidas no decurso do trabalho.

As pacientes de primeira vez nos eram encaminhadas pelo S.P.A . ( Serviço de Pronto Atendimento ), através de pareceres da equipe médica da triagem. A resposta destes pareceres criaram um nível de expectativa por parte de algunsmédicos e resistência por parte de outros. Tendo em vista a consulta de enfermagem em uma especialidade ser uma inovação na época.

Algumas vezes deparávamoscompatologias pertencentes a outras especialidadese na maioria das vezes necessitando de atendimentoimediato devido a gravidade do caso que se apresentava diante de nós.Encaminhávamos através de pareceres emuitas vezes esbarrávamoscom os problemas anteriormente citados.

Outras vezes, tanto o enfermeiro da unidade, quanto o professor de enfermagem encontravam-se impedidos de comparecer ao ambulatório, devido a coincidência de atividades, o que gerava transtorno nofuncionamento do ambulatório.

Deparávamos também com mamas enódulos com aspectos e características de malignidade e nos víamos impedidos de adiantar a investigação diagnostica e o tratamento, já que na ocasião encontrávamos impedidos de pedirmos exames laboratoriais e radiológicos oque nos gerava ansiedade já que a paciente teria de aguardar a consulta médica, que por vezes demorava demais devido a grande demanda no ambulatório.

Estasdificuldades foram sendo resolvidas da seguinte forma: A medida que a consulta de enfermagem em mastologia, passou a ser mais conhecida as equipes médicas das outras especialidades foram diminuindo as suasresistências,quanto as respostas as respostas aos pedidos de pareceres, acredito que devido a consistência do embasamento teórico-científico por nós apresentados

Quanto as pacientes com suspeitas de malignidade, abriu-se vaga no ambulatório de mastologia para o agendamento imediato de tais casos, no sentido de agilizar os procedimentos necessários.

Colhíamos material preventivo para exame Papanicolau e encaminhávamos ao laboratório de Anatomia Patológica,assim a paciente chegava a consulta médica já com o resultado do exame.

Para a coleta de dados com fins estatísticos utilizávamos um impresso próprio que compunha dos seguintes dados:

1 - Sumário de anamnese

2 - Dados clínicos de relevante interesse

3 - Queixas no momento

4 - Preocupações no momento

5 - Informações acerca do estado patológico atual

6 - Experiências anteriores relacionadas a hospitalização

7 -Expectativas em relação a hospitalização

8 - Expectativas quanto ao atendimento de enfermagem

9 - Impressões do entrevistador

10 - Diagnóstico de enfermagem

11 - Orientações fornecidas

A seguir será apresentado um quadro demonstrativo de 120 casos atendidos durante o primeiro ano de implantação da consulta de enfermagem em mastologia.

QUADRO DEMONSTRATIVODOS CASOS ATENDIDOS

Nos casos de descarga mamilar coletávamos material para exame citológico e agendávamos consulta no ambulatório de mastologia.

As displasias e mastalgias eram encaminhadas ao médico chefe do setor de mastologia e a paciente iniciada o tratamento na semana seguinte. Os demais casos eram agendados no ambulatório médico de acordo com a avaliação do enfermeiro quanto a necessidade de urgência ou não.

III - TABELA E GRÁFICO

DISTRIBUIÇÃO DAS PATOLOGIAS POR NÚMERO DE CASOS

IV - RESULTADOS

As displasias mamárias e as mastalgias encontravam-se predominantemente na raça branca e em pacientes cuja faixa etária compreendia entre 20 a 40 anos.

As fístulas mamárias apareceram na faixa de 40 anos tanto na raça branca como na negra.

Os casos de descarga mamilar foram encontrados em pacientes dos 20 aos 50 anos tanto na raça branca como na preta.

Os casos sugestivos de carcinoma ocorreram entre 50 e 80 anos e predominaram na raça negra.

Os nódulos e gânglios variavam em relação a faixa etária e cor

Os demais casos eram relativos a outras especialidades e tanto a cor como a faixa etária eram variáveis.

A partir deste trabalho pudemos constatar na prática a teoria, que a consulta de enfermagem é uma atividade prestada pelo enfermeiro ao cliente, através da qual são identificados problemas de saúde-doença e prescrito e implementadas medidas de enfermagem que contribuam a promoção, proteção e recuperação ou reabilitação do cliente.

Desenvolve-se a partir do levantamento dos problemas:

- Informações obtidas de registros pré-existentes, do próprio cliente ou responsável.

- Observações sistematizadas detectando sinais e sintomas durante a realização do examefísico geral e ou especializado.

- Diagnóstico da situação a partir da identificação dos problemas e da avaliação das necessidades de saúde possíveis de serem atendidas pelo enfermeiro.

- Prescrição das ações e medidas de enfermagem a serem prestadas diretamente ou que devam ser seguidas pelo próprio cliente ou responsável no seu ambiente.

- Registro que consiste em anotações objetivas que expressem a situação identificada e seus condicionamentos.

- Prescrição e orientação das medidas implementadas.

A nível institucional a consulta de enfermagem pode encontrar condições favoráveis desde que esteja formalizada como atividade integrante das ações produzidas pelo sistema de prestação de serviço de saúde, e seja adequada normas de atendimento de modo a possibilitar a opção do cliente para esta atividade. Para isto se faz necessário, ambiente físico, recursos materiais e humanos em condições básicas. Capacitação profissional, conhecimento por parte do enfermeiro da metodologia proposta, com ênfase no campo clínico especifico da área de atuação e conhecimento psico-terapêutico concomitante.

Sugerimos que os serviços de enfermagem de ambulatório e postos de saúde procurem implantar e/ou incentivar a realização da consulta de enfermagem em pacientes que necessitam de uma atenção individualizada.

Que sejam lotados nesses serviços enfermeiros em número suficiente e habilitados para o desenvolvimento desta atividade.

Que os serviços dessa natureza desenvolvidos em Instituições sejam divulgado a fim de possibilitar intercâmbio de experiências, com vistas a certos e cada vez mais propiciar o posicionamento do enfermeiro na equipe de saúde.

V - O GRUPO OPERATIVO

Ainda fazia parte das atividades do enfermeiro na Unidade de Ginecologia o atendimento em grupo, com pacientes portadoras de patologias ginecológicas e pacientes mastectomizadas. Percebemos que as mesmas necessitavam algo mais que uma assistência técnica-administrativa. Com isso criamos um espaço para atendimento em grupo, onde cada grupo se reunia uma vez por semana.

Nestes grupos as pacientes verbalizavam as suas ansiedades e trocavam informações sobre suas expectativas e experiências relacionadas a patologia e a cirurgia.

A atuação da enfermeira era no sentido de que as pacientes esclarecessem suas próprias dúvidas, umas com as outras, sendo que a mesma só interferia pontuando quando alguma questão nãoficava clara ou nas distorções da realidade.

Os assuntos que apareciam mais comumente no grupo das pacientes portadoras das diversas patologias ginecológicas eram sobre a ansiedade gerada pela espera da cirurgia, medo da morte pelo ato anestésico e deixar os filhos desamparados preocupações quanto ao período de perman6encia na sala de operações e recuperação pós-anestésica e hospitalização. Quando poderiam se alimentar e locomover e período de abstinência sexual. Nestas sessões apareciam fantasias quanto a frigidez pós cirúrgica e medo de serem rejeitadas pelo companheiro.

As pacientes mastectomizadas comentavam sobre os efeitos colaterais dos quimiterápicos,medo de rejeição, expectativas quanto a reação de amigos e familiares.Trocavam experiências no sentido de como conseguir soutien de alpiste, uso de tiara de elástico para evitar queda do cabelo, exercícios para evitar o linfoedema. Nestes grupos a ansiedade e o medo da morte apareciam mais intensos e mais constantes.

Percebíamos que estas pacientes muitas vezes encontravam-se presas a sentimentos de desamparo, desesperança, raiva, depressão, tristeza e solidão, sentimentos estes que geravam angústia e pesar seguidos da perda de algo, no caso a mutilação que compromete a estética e a feminilidade.

VI - CONCLUSÃO

Apesar das dificuldades sentidas e apontadas neste trabalho, consideramos o método válido. Uma vez que a propedêutica clínica serve de grande valia para detectar processos benignos e malignos nas glândulas mamárias.

Através da orientação sobre o auto-exame possibilitamos a mulher a própria descoberta de nódulos diminuindo assim o número de casos de carcinomas avançados que chegam as mãos dos mastologistas.

Outro fato que pudemos perceber que com a realização do grupo de pacientes internadas na enfermaria portadoras de patologias ginecológicas, o número de infecções e permanência nos leitos diminuíram consideravelmente. Com isso pudemos entender que este foi um trabalho preventivo à nível de saúde física e mental.


Autor: Glória Maria


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