O OLHAR DO HISTORIADOR NO ENSINO IMAGÉTICO NA SALA DE AULA.



O que é uma imagem fotográfica? Onde emerge a fonte iconográfica? Percebemos que a fotografia como qualquer outra fonte de registro, por si só não constitui uma fonte de informação precisa e completa, isoladamente é como um ínfimo fragmento da história, precisando interagir com outros complementos ou fontes, quer sejam escrita, quer sejam visual ou de outras naturezas para uma verdadeira apreciação de seus registros. É sabido que "uma imagem vale por mil palavras", mas esta frase só faz sentido se de fato o intérprete conseguir extrair a maior quantidade de palavras ocultadas na fotografia, não apenas as ligadas ao primeiro contato visual. A fotografia memorizou com fidelidade uma parcela da realidade que se situava no campo da objetiva. Quando observamos uma fotografia, devemos ter a consciência de que a interpretação do real será forçosamente influenciada por várias interpretações anteriores. Apesar da ampla potência de informações contidas em uma imagem, ela apenas traz informações visuais de um fragmento do real selecionado. Palavras - Chave: Imagens fotográficas - história - fontes iconográficas.

Segundo Eduardo França Paiva em seu capítulo "A iconografia na História – indagações preliminares" do Livro "História & Imagens", coloca que o uso de ilustrações, imagens e desenhos no estudo da história, recentemente vem ganhando uma perspectiva positiva, diferente do que ocorria outrora, em que a iconografia somente era vista como "gravuras", "figuras" e "desenhos" com função meramente ilustrativa. No livro integra a série "História e Reflexões", uma coleção, publicada pela Editora Autêntica, que pretende oferecer ao leitor instrumentos que o guiem introdutoriamente nos temas lacunares da História, principalmente nos teóricos-conceituais e metodológicos do campo da História Cultural. O autor de História & Imagens esclarece que, se antes a iconografia era usada apenas como ilustração e gravura que temperava o texto histórico, hoje ela é fonte privilegiada para a disciplina. Segundo o autor diz o seguinte:

A iconografia é tomada agora como registro histórico realizado por meio de ícones, de imagens pintadas, desenhadas, impressas ou imaginadas (...). São registros com os quais os historiadores e os professores de História devem estabelecer um diálogo contínuo. É preciso saber indagá-los e deles escutar as respostas. (PAIVA, 2006, p. 17)

Neste fragmento acima, em seu texto, "A iconografia na História - indagações preliminares", refere-se à capacidade profissional que o historiador atual tem demonstrado em relação à iconografia, que deixa de ser vista como simples "ilustrações" que serviam para distrair o leitor e passaram a ser utilizadas como fonte importante de pesquisa. Dessa forma a iconografia ganha novo significado, sendo caracterizada como fonte histórica. Nessa nova perspectiva é necessário que os historiadores e professores de história saibam dialogar e investigar esses símbolos que dão sustentação ao passado e o presente.

Porém, o autor aponta também os riscos de uma má utilização da iconografia. Ora, a iconografia, como fonte histórica, proporciona diversas informações, nas quais estão embutidos os pontos de vista de quem a produziu, por isso tomá-la como verdade é um grave erro que transforma a história em algo pré-concebido conforme interesses, quando se sabe que a História, embora passada, é dinâmica. As mais diversas formas de iconografia históricas foram criadas no sentido de impressionar o leigo, passando uma imagem para provocar impacto ao longo do tempo.

Por tal motivo é que se devem observar os limites da iconografia para interpretar a História, pois, senão, corre-se o risco de inventar realidades históricas. Harmonizar outros elementos históricos, como as mais diversas espécies de documentos, com a iconografia seria o fundamental para se criar uma interpretação mais real dos fatos históricos, bem como os valores que vieram a contribuir para a sua formação. Paiva deixa claro que, embora útil, apenas a iconografia, para delinear um fato histórico, não basta. O argumento de autoridade do autor, transportado para a realidade concreta da escola demonstra que, realmente, entre os próprios professores é crescente a conscientização de que as imagens, ou em outros termos, a iconografia, podem auxiliar bastante, não apenas como fonte histórica para o historiador, mas também como fonte de conhecimento e de apreensão do conhecimento pelos alunos. Sem esquecer, entretanto, dos limites que devem existir a essa utilização.

Ainda discorrendo sobre isto, o historiador inglês Peter Burke, mostra em seu livro "Testemunha Ocular – história e imagem", que a imagem é uma fonte rica para investigar os acontecimentos. Porém o autor faz uma ressalva e alerta para como os fatos históricos e seus personagens construíram essas documentações, procurando ressaltar os aspectos que não necessariamente eram os fatos reais. Exemplificando Burke mostra como pintores consagrados da história da arte como Ticiano, que modifica a aparência de determinado rei, papa ou príncipe no intuito de disfarçar possíveis deformidades daqueles que haviam encomendado o retrato. Desta forma as imagens contribuíram para criar uma outra imagem do real. Na perspectiva de Burke, deveríamos voltar a ver as imagens, já que antes da utilização da escrita como forma de comunicação para todos, essa era a única maneira de difundir idéias e leis. A sociedade atual preocupa-se em produzir imagens e não em lê-las e descobrir o que seus enunciados simbólicos estão afirmando.

É interessante observar que Peter Burke reflete sobre o desafio na utilização de imagens para compreender outras épocas. É neste sentido que ele argumenta nas páginas de "Testemunha ocular", que as imagens não devem ser consideradas simples reflexões de suas épocas e lugares, mas sim extensões dos contextos sociais em que elas foram produzidas. O autor ainda retoma os historiadores da arte e seus métodos utilizados na análise das imagens procurando demonstrar que muitas vezes eles são insuficientes para descrever as complexidades da linguagem visual. Nesse ponto, ressaltamos a definição de Paviani para a função da teoria que a vê como auxiliar nos atos de descrever ou de explicar.

Outro ponto importante,entendemos que a literatura de viagem, as aquarelas e a historiografia compõem um mosaico para a compreensão de um período da história do Rio Grande do Sul. O pressuposto teórico do qual nos utilizaremos para a análise das aquarelas de Hermann já foi enunciado por Burke e não é novo, ele parte da concepção de que os documentos, os testemunhos orais e as imagens se constituem indícios que "lidos em conjunto", nesse caso, diário de viagem e aquarelas, tornam-se evidências históricas permitindo a compreensão de aspectos culturais do cotidiano de uma sociedade, a província de São Pedro do Rio Grande do Sul. De acordo com as colocações de Peter Burke, pode-se afirmar que as:

Imagens nos permitem 'imaginar' o passado de forma mais vivida. Como sugerido pelo crítico Stepaen Bann, nossa posição face a face com uma imagem nos coloca 'face a face com a história'. O uso de imagens em diferentes períodos, como objetos de devoção ou meios de persuasão, de transmitir informação ou de oferecer prazer,permite-lhes testemunhar antigas formas de religião, de conhecimento, crença, deleite, etc. Embora os textos também ofereçam indícios valiosos, imagens constituem-se no melhor guia para o poder de representações visuais nas vidas religiosa e política de culturas passadas (BURKE, 2004, p. 17).

A partir daí podemos entender que os historiadores buscando o entendimento do processo histórico das sociedades incorporaram, como objetos de pesquisa, novas fontes. Assim, a literatura, a cartografia, o vestuário e as imagens dialogam com as fontes "tradicionais" utilizadas pela história. Considerando que a relação entre o historiador e o objeto de pesquisa ou sua fonte se estabelece via problematização no uso das imagens também isso pode ser observado. Essa problematização se dá em dois níveis. Primeiramente o natural no processo de pesquisa, pois é através da elaboração das hipóteses e perguntas norteadoras que o conhecimento sobre a fonte se constrói. Dentre os autores que estudam trabalham teoricamente a questão das imagens, Burke defende e reafirma que "as imagens, assim como textos e testemunhos orais, constituem-se numa forma importante de evidência histórica. Elas registram atos de testemunho ocular" (BURKE, 2004, p. 17). Adverte que, ao tratar as imagens como evidência, devemos estar alertas para a questão de que muitas delas não foram elaboradas com esse propósito, mas para cumprir uma função estética, religiosa, política, e assim sucessivamente. Mas fiquemos na análise de Testemunha ocular, história e imagem. Podemos perceber ainda que o uso crescente de fotografias como fontes históricas pode enriquecer o conhecimento do passado desde que desenvolvamos técnicas de "crítica da fonte" semelhantes às usadas para avaliar depoimentos escritos.

Costumava-se dizer que "as câmeras nunca mente". De fato, um dos motivos do entusiasmo pela fotografia na época de sua invenção foi exatamente a sua objetividade. Por volta do século XIX a fotografia era considerada o produto do "lápis da natureza", pois os próprios objetos deixam traços na chapa fotográfica quando ela é exposta à luz, sem outras intervenções da parte do fotógrafo. Desde aquela época, a objetividade da fotografia tem sido muito criticada. Lewis Hine, um norte-americano famoso por sua "fotografia social" de trabalhadores, imigrantes e cortiços, disse que, " as fotografias não mentem, mas mentirosos podem fotografar"(BURKE, 2004, p. 25). Mas a ilusão de ver o mundo diretamente quando se olha para fotografias o "efeito realidade" , como o chamou Roland Barthes (1915-1980), continua difícil de evitar. Esse efeito, parte do que Barthes chamou de "retórica da imagem", é explorado nas imagens de fatos recentes que aparecem nos jornais e na televisão e é particularmente vívido no caso de antigas fotos de ruas das cidades. Quando essas fotos são ampliadas, como no caso de algumas fotografias de São Paulo exibidas numa mostra na avenida Paulista alguns anos atrás ou como as fotos da cidade feitas por Claude Lévi-Strauss nos anos 30 e expostas há alguns meses, é difícil resistir à sensação de que estamos realmente parados no lugar onde o fotógrafo esteve e que podemos entrar na fotografia e caminhar pela rua no passado. Um dos motivos para a dificuldade de nos afastarmos desse efeito de realidade é sem dúvida a "cultura do instantâneo": nossa prática cotidiana de tirar fotografias da vida, registrando a história de nossa família e de amigos e também, é claro, moldando nossas lembranças dessa história.

Então por que não devemos confiar nos fotógrafos? Afinal, os tribunais consideram as fotos e os vídeos provas cabais de furto, assassinato ou violência policial (como no notório caso em Los Angeles alguns anos atrás).

O escritor francês Paul Valéry (1871-1945) sugeriu que nossos próprios critérios de veracidade histórica passaram a incluir a pergunta: "Poderia tal fato, assim como é narrado, ter sido fotografado?". Ele não teria ficado surpreso ao saber que os historiadores estão cada vez mais conscientes de que as fotografias, pinturas, filmes e outras imagens podem ajudá-los em suas tentativas de reconstrução do passado.Por exemplo, um historiador norte-americano do Brasil, Robert Levine, publicou vários livros de fotografias com comentários sobre sua possível utilidade para escrever história social. Outros, como Robert Rosenstone, defendem a "escrita" da história por meio da realização de filmes, o que foi chamado de "historiofotia", substituindo ou se aliando à "historiografia". Alguns estudiosos, intelectuais, defendem com entusiasmo essa tendência, enquanto outros a rejeitam, alegando que a câmera não é confiável. Nesse debate, minha opinião é que o uso crescente de fotografias e outras imagens como fontes históricas pode enriquecer muito nosso conhecimento e nossa compreensão do passado, desde que possamos desenvolver técnicas de "crítica da fonte" semelhantes às que foram desenvolvidas há muito tempo para avaliar depoimentos escritos.Como já notou o crítico inglês John Ruskin no século XIX, o depoimento de fotografias, assim como o de testemunhas no tribunal, "é muito útil se soubermos fazer um exame cruzado". Enquanto aguardamos a elaboração de uma crítica sistemática das evidências fotográficas e cinemáticas, vale a pena lembrar cinco pontos, não apenas aos historiadores, mas a qualquer pessoa tentada a ver nas fotografias registros precisos do passado. Gostaria de destacar, ainda, que Eduardo França Paiva, afirma que a iconografia traz embutidas as escolhas do produtor e todo o contexto no qual foi concebida, mas que constitui um acervo de possibilidades e por isso tem que ser explorada com muito cuidado.

A imagem não se esgota em si mesma. Isto é, há sempre muito mais a ser apreendido além daquilo que é, nela, dado a ler ou a ver. Para o pesquisador da imagem é necessário ir além da dimensão mais visível ou explícita dela. Há, como já disse antes, lacunas, silêncios e códigos que precisam ser decifrados, identificados e compreendidos. (PAIVA, 2004, p.19)

Faz-se necessário afirmar, que não são raros os casos em que as fotografias são tomadas como verdade, pois estariam retratando fielmente uma época. Os historiadores não devem se deixar levar por essa armadilha. De acordo com o autor, é importante lembrar que, quanto mais colorida, mais bem traçada, mais pretensamente próxima da realidade, mais perigosa a imagem se torna. O documento iconográfico se apresenta como fragmento do real, cheio de intenções explícitas ou ocultas, voluntárias ou involuntárias de seus produtores. Cabe ao pesquisador interpretar os sentidos que os atores sociais quiseram atribuir a seus atos. A história se desloca do fato para versões sobre o fato.Também, quando lidas a posteriori, as imagens são reconstruídas. A cada época, aplicam-se à leitura valores do presente, fazendo com que ela possa significar uma coisa diferente. Às imagens, são agregados novos significados e valores.A história, portanto, não é definitiva. É, sim, resultado das escolhas e dos olhares que os produtores, atores sociais e pesquisadores lançam sobre a fonte. A história é sempre a construção do presente e não do passado. Um exemplo de como as fotografias podem ser utilizadas como fontes de pesquisa para observação do passado são as imagens do início da colonização das cidades. Os municípios de Apucarana e Arapongas surgiram em meados da década de 1930, no norte do Paraná. A análise de fotografias pertencentes a historiadores e pioneiros destas cidades revela detalhes que se confirmam pelos depoimentos das pessoas que viveram naquela época, mas que nem sempre são lembrados ou descritos em outros tipos de documentos do período.

Em sua produção fotográfica entram as concepções técnicas, políticas, sociais, culturais e estéticas do fotógrafo e da sociedade à qual ele pertence. A fotografia é uma imagem ambígua e polissêmica, passível de múltiplas interpretações de acordo com o meio que a veicula, seu intérprete, os contextos e os tempos de sua produção e recepção. Observando a história da fotografia é possível perceber que as câmeras ficaram cada vez menores, mais automáticas, simples e baratas, o que torna as pessoas potências fotográficas, desde o mais solene evento ao mais banal, instante tudo passa a ser fotografado. A fotografia propiciou, assim como outros meios de comunicação, um grande processo de globalização. Monumentos, pessoas, costumes, mitos, cerimônias religiosas, fatos sociais e políticos foram documentados pelas máquinas fotográficas de todo o mundo. Os retratos se tornaram a maior febre do século XIX, dividindo-se em vários formatos e processos. O homem então pôde trocar figurinhas, isto é, conhecer outras realidades que não lhe eram comuns, até então transmitidas por quadros, livros e imprensa escrita. Logo uma gama infindável de detalhes passaram a ser conhecidos através da apresentação fotográfica. Com o advento das tecnologias digitais no tratamento da imagem, essa manipulação torna-se mais evidente, os meios de comunicação social, não são exceção a essa adoção de novas tecnologias, onde pode-se enviar fotos de um ponto ao outro sem perda de qualidade e de tempo, e eliminam o processo de revelação química do filme convencional.

Nem tudo são flores, as tecnologias digitais arrastam consigo um perigo, o aumento considerável da capacidade de modificação e deturpação da imagem. Na verdade, a possibilidade técnica de modificar elementos visuais presente na imagem fotográfica existe praticamente desde que a mesma foi criada no século XIX, através de processos químicos feitos em laboratórios, mas com o advento das técnicas digitais configura-se uma maior capacidade de manipulação, através de diversos programas informáticos, que permitem alterações de todas as espécies. Programas cada vez mais poderosos permitem falsificar qualquer imagem aparentemente real. Com as atuais tecnologias, a modificação das imagens deixam de ser um privilegio dos fotógrafos experientes, e tornam-se acessíveis ao público leigo. Os resultados obtidos são por vezes tão eficazes que se tornam identectáveis mesmo ao olhar de profissionais da fotografia.

Algumas dessas fotografias são feitas com puro objetivo de brincadeira, outras delas são no entanto mais perigosas são feitas com objetivos militares ou políticos. Há outras no entanto que são construídas com o objetivo de conseguir uma imagem espetacular e de grande impacto de algo que não existiu dessa forma. Algumas dessas imagens chegaram mesmo a ser publicadas na imprensa, levando mesmo ao despedimento de alguns repórteres fotográficos, com a justificação de manipulação de imagens. O problema que se coloca é que a imagem fotográfica pode ser modificada de forma a transformar a realidade inicialmente registrada. A fotografia é considerada uma falsificação quando se descobre que engana quem a vê quanto à cena que afirma representar. Esta deturpação pode ocorrer em momentos distintos, antes do registro da imagem, no momento do registro, e após a imagem ser sido registrada. Nos últimos anos, têm chegado ao conhecimento público diversos casos em que as imagens foram de alguma forma modificadas

O poder que uma imagem possui, em muitos casos passa despercebido por nós. O historiador inglês Peter Burke, em seu livro "Testemunha Ocular", mostra que a imagem é uma fonte rica para investigar os acontecimentos. Porém o autor faz uma ressalva e alerta para como os fatos históricos e seus personagens construíram essas documentações, procurando ressaltar os aspectos que não necessariamente eram os fatos reais. Exemplificando Burke mostra como pintores consagrados da história da arte como Ticiano, que modifica a aparência de determinado rei, papa ou príncipe no intuito de disfarçar possíveis deformidades daqueles que haviam encomendado o retrato. Desta forma as imagem contribuíram para criar uma outra imagem do real. Na perspectiva de Burke, deveríamos voltar a ver as imagens, já que antes da utilização da escrita como forma de comunicação para todos, essa era a única maneira de difundir idéias e leis. A sociedade atual preocupa-se em produzir imagens e não em lê-las e descobrir o que seus enunciados simbólicos estão afirmando.

Portanto, os autores falam da dependência da sociedade contemporânea em relação às imagens, que são usadas a todo tempo, sendo imprescindíveis no cotidiano das pessoas que as consomem, na maioria das vezes sem se preocuparem em refletir de forma crítica para compreendê-las. É interessante notar que as imagens são importantes quando bem utilizadas para se conhecer melhor a história e a realidade do tempo presente. Os textos retomam e sistematizam algumas teses já desenvolvidas antes por Burke. Uma delas é a de que a história sempre privilegiou a documentação escrita, deixando de lado as fontes visuais. Os historiadores são céticos quanto ao uso de imagens como evidência histórica, afirmando que elas freqüentemente são ambíguas e podem ser "lidas" de muitas maneiras. Os historiadores argumentam que a ambigüidade presente está praticamente inserida em todos os textos. A proposta destes historiadores é justamente encorajar o uso da evidência da imagem, essa "testemunha ocular da história", retomam as questões da subjetividade, abordadas no capítulo 1, ao mencionar autores contemporâneos como Foucault, que buscou noções mais dinâmicas e menos fronteiriças sobre o sujeito. Santaella concebe as diferentes maneiras de subjetivação, como ensaio, como processo ético e estético, que buscam produzir modos de existência inéditos. Aliás, esta passagem desse texto parece-nos trazer um diagrama semiótico, já que sabemos que a semiótica é antecedida primeiro pela estética e depois pela ética. A cada capítulo vão engrossando as diversas manifestações do corpo que encarnam diferentes sintomas até chegar ao corpo volátil, exorbitante, flagelado, amputado, siliconizado, enxuto, erotizado, firme, longilíneo, proposto e sustentado pela sociedade do espetáculo. A moda, que explodiu nos meados do século XX junto com a cultura de massa, é vista como fantasia e frivolidade sedutora, como no evento de moda Fashion Week, que apresentou um desfile no qual aos modelos vestiam roupas de papel rasgadas em plena passarela.

Percebemos que a fotografia como qualquer outra fonte de registro, por si só não constitui uma fonte de informação precisa e completa, isoladamente é como um ínfimo fragmento da história, precisando interagir com outros complementos ou fontes, quer sejam escrita, quer sejam visual ou de outras naturezas para uma verdadeira apreciação de seus registros. É sabido que "uma imagem vale por mil palavras", mas esta frase só faz sentido se de fato o intérprete conseguir extrair a maior quantidade de palavras ocultadas na fotografia, não apenas as ligadas ao primeiro contato visual. A fotografia memorizou com fidelidade uma parcela da realidade que se situava no campo da objetiva. Quando observamos uma fotografia, devemos ter a consciência de que a interpretação do real será forçosamente influenciada por várias interpretações anteriores. Apesar da ampla potência de informações contidas em uma imagem, ela apenas traz informações visuais de um fragmento do real selecionado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

  • BURKE, Peter. Testemunha Ocular: História e Imagem. Bauru, Edusc, 2004. (p. 11 – 56)
  • PAIVA, Eduardo França. História & imagens – 2 ed., 1. reimp. – Belo Horizonte: Autentica, 2006. (p. 11 – 34)

Autor: Luciano Agra


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