O Grande Opositor
Uma voz que surgia do ocidente governava, e tudo se fazia tal como era dito. Era um comando inquestionável e invariável, pois a natureza correspondia de imediato ao que a voz ordenava.
Seres alados eram instrumentos de suma obediência, exceto por um que havia provado do mel da vespa enlevada. A substância era doce e deleitosa ao paladar; porém amarga à consciência.
Quem quer que ousasse desafiar a voz que surgia, enfrentaria uma tormenta que partiria do oriente ao ocidente, leste a oeste; quiçá, uma nuvem que feriria o céu e dilaceraria a audição.
O Querubim vazou o oceano, pairando acima como uma vespa. Sentiu a brisa que declinava em direções diversas.
O comando adveio, contudo não pôde ouvi-lo, porque estava encantado com o Paraíso Exterior, tal como se sentia satisfeito com os seus próprios feitos. Estava inteirado de si e condenava qualquer interferência do Ser que vociferava com mil trovões ao seu comando.
Sobre a Terra cessou, deitando-se acima da relva.
Abruptamente a voz ordenou que retornasse aos céus; todavia o Anjo deu de ombros e adormeceu sobre a relva, ainda aquecida.
Sequencialmente uma tempestade começou a ceder e o ser alado levantou-se resignado, porque temia o Comandante; contudo sentiu-se tão liberto daqueles afazeres que tornou aos céus para ter com a voz que lhe aconselhava regressar aos anjos divinos.
Foi assim que o Querubim enfrentou o comando da voz, dizendo querer viver livre e fazer o que bem quisesse. Uma luz apareceu-lhe, era o dono da voz que comandava, e frente a si cessou, pronunciando:
— És a minha criatura e te dou toda a liberdade. Estás seguro em minha autoridade. Jazes em teu lar, que te perdôo.
O anjo, querendo desafiar o Ser que ordenava, retrucou-lhe sem pestanejar:
— És um peso à minha consciência. Não posso adorá-lo, porque estou decidido a esparzir-me pelo mundo.
O Ser então determinou:
— Estás por detrás, e não à minha direita ou esquerda. Por isso declaro que deste tempo em diante representarás a calamidade das criaturas. Delas, as que provierem em teu nome, serão julgadas ao fogo, pois estarão negando os deleites dos céus.
O Querubim, com demasiada cólera, retirou-se, seguindo até o seu refúgio.
Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos
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