NOVO PADRÃO DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E SEUS IMPACTOS NOS MOVIMENTOS SINDICAIS



NOVO PADRÃO DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E SEUS IMPACTOS NOS MOVIMENTOS SINDICAIS

Soráya Silva¹

 

  1. RESUMO: Karl Max foi um Judeu, nascido em Trier em 1818, tornando-se um importante crítico do sistema capitalista. O capitalista visa apenas à acumulação do capital, e para isto aumenta a produtividade, o que costuma acarretar uma descida na quantidade de trabalho procurado, e, portanto na formação de um Exército Industrial de Reserva. Este artigo visa uma análise sobre o novo padrão de produção capitalista e seus impactos nos Movimentos Sindicais, destacando a perda das forças sindicais e a incorporação dos trabalhadores na luta pela produtividade nas empresas.

Palavras-Chave: Lucro. Exercito Industrial de Reserva. Acumulação de capital. Movimentos Sindicais.

1-INTRODUÇÃO

O capitalismo é o sistema econômico que se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção. As classes se caracterizam pela posse ou carência de meios de produção e pela livre contratação do trabalho. A mais rigorosa crítica ao capitalismo foi feita por Karl Marx, ideólogo alemão que propôs a alternativa socialista para substituir o capitalismo. Para os Marxistas, o sistema capitalista não garante meios de sobrevivência para a sociedade. Ao contrário, a condição do sistema é a existência do Exército Industrial de Reserva, ou seja, uma massa de trabalhadores desempregados. Além do mais os trabalhadores que estão em atividades, ou seja, empregado nos ramos de produção, recebem um salário que apenas garantem sua sobrevivência. Segundo Marx, o lucro não se realiza por meio de troca de mercadorias, mas sim em sua produção. O que Marx quis dizer é que havia uma diferença entre o valor incorporado a um bem e a remuneração do trabalho que foi necessário para sua produção: a mais-valia.

Para a taxa de lucro é a razão da mais-valia sobre o capital, e sua queda é proporcionada pelo desenvolvimento das forças produtivas. O desenvolvimento da força, pondo em movimento uma quantidade sempre maior de meios de produção por uma quantidade sempre menor de trabalho, faz que cada parte do produto total, contenha menos trabalho. Ocasionando uma queda nos preços de mercadorias. Os capitalistas empreendem uma exploração mais intensa da força de trabalho, para contrapor a queda da taxa de lucro. O capital tende constantemente a dilatar a jornada de trabalho, ao máximo de sua possibilidade física, já que na mesma proporção aumenta o sobretrabalho e, portanto o lucro que dele deriva. Marx explica que o processo de acumulação do capital, em constante crescimento, faz surgir uma população excedente de trabalhadores desempregados. O aumento do capital global não é acompanhado pela demanda de mão-de-obra, pois são criados meios de produção sem, necessariamente aumento número de trabalhadores.

A lógica da acumulação prescindi cada vez mais de força de trabalho. Até mesmo, para garantir o crescimento, após períodos de recessão. Não há dúvidas que o enriquecimento da classe dos capitalistas, se da pela exploração da classe operária. Em reação a isso, surgem os movimentos sindicais que reagem à exploração a qual são submetidas. Porém, com o capitalismo assumindo um novo padrão de produção, observa-se que estes movimentos tendem a se não "a quietar" seus ânimos, sufocar seus gritos e substituí-los por uma posição pacífica e de neutralidade. A causa será discutida mais adiante, como objeto de estudo deste artigo.

2-NOÇÕES BÁSICAS DO CAPITAL CONSTANTE E DO CAPITAL VARIÁVEL

Para se compreender o declínio da taxa de lucro e o Exército Industrial de Reserva, far-se-á necessário expor noções básicas da composição do capital e a formação da mais-valia. A mais-valia é resultado da produção de mercadorias em cujo nascimento se dá pelo trabalho vivo, novamente realizado,e não dos meios de produção existente. No processo de produção capitalista nos deparamos com dois diferentes tipos de capital: o capital constante e o capital variável.

O Capital Constante se transforma em meios de produção não modificando sua grandeza de valor no processo de trabalho, enquanto o Capital Variável éa transformação de parte do capital em força de trabalho, alterando o seu valor no processo de produção, produzindo seu próprio equivalente e um excedente, a mais-valia. É a obtenção de mais-valia o objetivo principal dos detentores de capital. Nos diversos ramos de atividade econômica, diferente quantidade de meios de produção pode acrescentar-se a uma mesma quantidade de salários, ou seja, capital variável. O Capital Constante é composto por duas partes diferentes e de natureza distintas. São elas: os meios de trabalho com as quais se executam os objetos de trabalhoe o próprio objeto de trabalho. Os meios de trabalho segundo Marx, "é pois o seguinte: com o funcionamento e consequentemente com o gasto do meio de trabalho, uma parte de seu valor passa para o seu produto, enquanto a outra permanece fixada ao meio de trabalho, e por isso mesmo ao processo de trabalho" (Julian Borchardt, 1982).

O capitalista despede uma parte de seu capital para a produção contínua, ou seja, os salários e a outra para os meios de produção. Porém estes gastos, preço do custo da mercadoria, devem ser cobertos dento do próprio ciclo de fabricação de produto.

3-FORMAÇÃO DA TAXA DE LUCRO

Depois de breve exposição sobre o Capital Constante e o Capital Variável, analisar-se-á influência que eles exercem sobre a Taxa de Lucro. Como afirmou Marx, nem todo Capital Constante aparece imediatamente no valor do produto, mas uma parte dele permanece intacta. "Conforme o que permanece intacto seja maior ou menor, as mais-valias geradas - contanto que permaneçam iguais as outras circunstancias – por capitais de importâncias devem pois, naturalmente ser diferentes". O próprio Marx exemplifica o exposto acima, com os supostos dados de tabela abaixo:

 

CAPITAL

MAIS-VALIA

TAXA DE LUCRO

CAPITAL CONSTANTE CONSUMIDO

VALOR DA MERCADORIA

PREÇO DE CUSTO

I 80c + 20v

20

20%

50

90

70

II 70C  + 30V

30

30%

51

111

81

III 60C + 40v

40

40%

51

131

91

IV 85c +15v

15

15%

40

70

55

V 95c + 5v

5

5%

10

20

15

Total 390c + 110v

110

110%

 

 

 

Média 78c + 22v

22

22%

 

 

 

A composição da soma dos cinco capitais é: 500 = 390c + 110v e a composição média, igual a 78c + 22v. a mais-valia é de 22% que repartia entre os capitais de I a V, obtém-se aos preços de mercadorias exposto na tabela abaixo.

 

CAPITAL

Mais-valia

Taxa de lucro

Preço da Mercadoria

Valor da mercadoria

Preço de custo

Diferença entre o preço e o valor

I 80c + 20v

20

22%

92

90

70

+-2

II 70C  + 30V

30

22%

103

111

81

-8

III 60C + 40v

40

22%

113

131

91

-18

IV 85c +15v

15

22%

77

70

55

+7

V 95c + 5v

5

22%

37

20

15

+17

As diferenças de preços são compensadas pela divisão da mais-valia em partes iguais ou pela soma do lucro médio. O preço de produção da mercadoria é o preço de custo mais o lucro médio e a soma destes preços de produção é igual à soma de seus valores. Vale destacar também nesta seção, que o lucro e a mais-valia, com muitos costumam pensar, não são grandezas equivalentes. O lucro é exterior ao valor imanente da mercadoria e é resultado da exploração geral do trabalho pelo capital total. O trabalho vivo é a fonte exclusiva de lucro e dadas às circunstancias em que ela é empregada, pode tanto aumentar a taxa de lucro, quanto fazê-la decrescer.

3.1- QUEDA DA TAXA DE LUCRO

A diminuição relativa do número de operários fará decrescer a taxa de lucro e aumentar a composição orgânica do capital. O capitalista aumenta a produtividade com o emprego de novas máquinas no processo de produção e consequentemente reduz o número de operários. Assim, ele pode auferir lucros cada vez maiores, já que um aumento contínuo de mercadorias produzidas, quantidade estas que superam os custos de pagamento de salários e os custos de Capital Constante, devolvendo ao capitalista uma parte excedente, denominada de mais-valia. Contudo, o progresso técnico, com o aumento contínuo das máquinas ocasiona um aumento gradual do Capital Constante. Ou seja, favorece uma queda da Taxa de Lucro. "A quantia de trabalho vivo empregado, não cessando de decrescer em relaçãoà quantidade dos meios de produção que pôe em movimento, a parte do trabalho vivo que não é paga e que se materializa em mais-valia deve ela também, decrescer sem cessar em relação ao valor do conjunto do capital empregado". (Julian Borchardt, 1982).

Embora o lucro entre em declínio com o aumento do número de máquinas e investimentos no processo de produção a fim de acelerar a produtividade, a mais-valia percorre um caminho inverso, o caminho do crescimento simultâneo da queda da taxa de lucro. Os especialistas tentam contrapor à tendência a queda na Taxa de Lucro com o aumento da exploração do trabalho, tirando do operário um excedente maior do trabalho, com o prolongamento da jornada de trabalho e intensificação de sua atividade e redução do salário constante e dos meios de subsistência e ao mesmo tempo faz subir a taxa de juros. Por permitir o aumento da produção, ele acelera a acumulação, porém reduz o capital variável em relação ao capital constante, ocasionando uma queda na taxa de Lucro. "Além do mais capitais colocados no comércio exterior podem produzir uma taxa de lucro superior se fizerem concorrência às mercadorias produzidas em países menos evoluídos, de forma que o país mais desenvolvido pode vender suas mercadorias acima do valor e, contudo com melhores preços quedos países concorrentes" (Julian Borchardt, 1982).

A forma mais eficiente de evitar a baixa de lucro é o constante aumento do capital.

4-A ACUMULAÇÃO DO CAPITAL E O EXÉRCITO INDUSTRIAL DE RESERVA

Como foi exposto nos itens anteriores, o aumento e acumulação do capital assumem um papel importante no modo de produção capitalista. Estes se dão pelo processo de mais-valia. A força de trabalho é vendida ao capitalista como uma mercadoria e este a paga em forma de salário. Trabalhando, o operário produz um valor que ultrapassa ao montante do salário, a mais-valia. Para a produção deste, o capital aumenta a jornada de trabalho, porém ao fazer isto, ele se depara com a resistência nas classes operárias, que o faz através de duras lutas políticas e sociais.

O capitalista extrai a mais-valia de forma contínua em relação ao valor por ele empregado. Se assim não fosse, e ele a consumisse de maneira inteira ocorreria apenas à repetição da produção, ou seja, a reprodução simples. Quanto à mais-valia não é destinada para o consumo capitalista, mas empregada como capital, formar-se-á um capital novo acrescido do antigo. "A utilização da mais-valia como capital, ou retransformação da mais-valia em capital, é o que se chama acumulação do capital" (Julian Borchardt, 1982). A acumulação só é possível quando a mais-valia é transformada em capital, e o seu crescimento se dá ao mesmo tempo que o capital e a massa dos "pobres trabalhadores".

Vale observar, que, o aumento do capital torna insuficiente a força de trabalho explorada. O mesmo acontece de forma inversa: a diminuição do capital torna abundante a força de trabalho explorável e desvaloriza seu preço. "O aumento da força produtiva do trabalho significa que a mesma quantidade de forças de trabalho (v) consome uma quantidade maior de produção (c). O progresso da acumulação exige, pois, necessariamente, que a composição técnica interna (orgânica) do capital se modifique de tal modo que uma parte relativamente maior seja empregada em meios de produção (c) e com uma força menor de trabalho (v)" Julian Borchard, 1982).

A acumulação do capital produz uma superpopulação operária, a qual pode ser considerada uma das condições de existência do modo de produção capitalista. Esta superpopulação, ou Exército Industrial de Reserva pesa sobre o exército ativo nos períodos de estagnação, comportando-se de forma moderada nos períodos de expansão. Os operários têm seus trabalhos com meio de obtenção de valor de capital e esta se torna mais precária quanto mais eles trabalham, produzem e aumentam a força produtiva de seu trabalho. O grau de intensidade de sua concorrência recíproca depende da pressão exercida por uma superpopulação a exploração por meio dos capitalistas.

5-O NOVO PADRÃO DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA E SEUS IMPACTOS NOS MOVIMENTOS SINDICAIS

Uma vez exposto os conceitos de capital constante e capital variável, formação e tendência à queda da Taxa de Lucro, além da existência de um Exército Industrial de Reserva, o principal objetivo deste artigo, que é a exposição do novo padrão de acumulação capitalista e seus impactos nos Movimentos Sindicais, podem ser sucintamente abordadas.

O cenário capitalista depara-se com mudanças que se processam no mercado de trabalho, as quais são reflexos do novo padrão de acumulação de capital. Verifica-se no mundo do trabalho, um processo de desproletarização do trabalho fabril e uma tendência a subproletarização deste. Pode-se verificar também um aumento da exploração do trabalho sobretudo da mão –de - obra feminina, intenso processo de assalariamento dos setores médios e uma alteração qualitativa na forma de ser do trabalho, além da existência no mercado de dois tipos de trabalhadores: o de centro, trabalhadores em tempo integral com habilidade facilmente disponíveis no mercado e os empregados em tempo parcial, com contrato por tempo determinado . Nota –se como mudança no mundo do trabalho, tambémo incremento sistemático do desemprego, o qual é um componente estrutural do capitalismo, formando o Exército Industrial de Reserva.

Os capitalistas deparam-se com seus concorrentes de mercado, em decorrência disto eles fazem um investimento maior em capital constante do que em capital variável, diminuindo o valor unitário das mercadorias e auferindo um lucro extra. Porém, estas condições favoráveis são anuladas com a entrada de novos outros capitais no mercado, resultando numa queda tendencial na Taxa de lucro. Os novos processos de trabalho nada mais são que a forma histórica encontrada pelo capital para implementar o processo de intensificação da exploração. As empresas capitalistas investem em inovação tecnológica articulados com nova forma de organização e gestão de produção, a fim de aumentar a exploração e ganhar vitória política sobre os trabalhadores.

Em contraposição a isto foram criados os sindicatos que é uma instituição utilizada para organização dos trabalhadores na luta por seus direitos junto aos governos e principalmente em relação aos empresários. O termo "sindicato" deriva do latim syndicu, que é proveniente do grego sundikós, com o significado do que assiste em juízo ou justiça comunitária. Na Lei de Le Chapellier, de julho de 1971, o nome síndico era utilizado com o objetivo de se referir a pessoas que participavam de organizações até então consideradas clandestinas.

O sindicalismo tem origem nas corporações de ofício na Europa Medieval. No século XVIII, durante a revolução industrial na Inglaterra, os trabalhadores, oriundos das indústrias têxtil, doentes e desempregados juntavam-se nas sociedades de socorro mútuos. Durante a Revolução Francesa surgiram idéias liberais, que estimulavam a aprovação de leis proibitivas à atividade sindical, a exemplo da Lei Chapelier que, em nome da liberdade dos Direitos do Homem, considerou ilegais as associações de trabalhadores e patrões. As organizações sindicais, contudo, reergueram-se clandestinamente no século XIX. No reino Unido, em 1871, e na França, em 1881, foi reconhecida a legalidade dos sindicatos e associações.

As mudanças oriundas da conformação do novo padrão de acumulação causaram e continuam a causar um impacto muito grande nos movimentos sindicais, ocasionando uma tendência a redução das taxas de sindicalização. As novas mudanças no padrão de acumulação também dificultam o diálogo entre ostrabalhadores, já que estes não existem no mercado de forma homogênea, mas se dividem entre trabalhadores de centro e periféricos. Portanto seus interesses divergem por causa desta heterogeneidade, tal situação favorece o capitalista, já que isto dificulta a reação do trabalhador à exploração que ele é submetido. Por outro lado enfraquece o poder sindical. Somado a isso ver-se um aumento da intenficação neocorportivista que procura preservar apenas os interesses dos trabalhadores estáveis ou de centro. Esta diferença de níveis de trabalhador, dificulta como já foi dito, as ações grevistas e a consolidação de uma consciência de classe dos trabalhadores. O capital amplia sua ação isoladora e coibidora dos movimentos de esquerda e anticapitalistas, através de métodos ideológicos e manipulatórios.

O novo padrão de acumulação tem como característica mais marcante a globalização de superexploração da força de trabalho. Isso é bastante perceptível na redução acentuada da atuação dos sindicatos: mobilização e ações grevistas, luta por melhores salários, melhores condições de trabalho e de vida e pelo incremento dos postos de trabalho para absorção dos novos membros da PEA (População Economicamente Ativa). Além de reivindicações à diminuição da jornada de trabalho. A destruição e a neutralização do sindicato tem sido uma das condições necessárias para os diversos processos de trabalho que vêm sendo implementado.

Um exemplo disso é a CUT (CentralÚnica dos Trabalhadores), que migrou de sindicalismo de combate parao sindicalismo de neutralização, ao longo de sua história. Podem-se delinear três fases na trajetória do sindicalismo cutista: A que vai de 1973 à 1983 em que se caracteriza por uma ação sindical combativa; a 1988 à 1991, que é a fase de transição e a mais recente caracterizado por um sindicalismo negociador. Tal transformação dar-se em decorrência da consolidação do novo padrão de acumulação, daí a busca de convivência pacífica com o capitalismo, reformá-lo estruturalmente e extrair, através de negociações, benefícios para os trabalhadores.

5.1 Crise de identidade no sindicalismo

Com a intensificação na década de 90 do processo de internalização do capital e da globalização produtiva, o mundo do trabalho sofre profundas mudanças. O modelo de produção neste novo contexto não é só o fordismo e o taylorismo, acrescenta-se aí o toyotismo, modelo japonês que consegue explicitar muito bem esta nova fase de exploração do capitalismo. No toyotismo os operários são polivalentes, divididos em grupos de trabalho e assim competem entre equipe e entre si. Com este modelo intitui-se um maior controle entre trabalhadores e um maior envolvimento do trabalhador no seu ofício: assim o grande efeito do toyotismo é articular de modo original de coerção capitalista e o consentimento operário. Junta-se a este modelo a automação, a robótica e a microeletrônica provocando uma revolução tecnológica que vai ocasionar transformações no mundo o trabalho e especialmente na classe operária.

É notório perceber que todos estes aspectos modificam a forma de ser do proletariado na medida que flexibiliza a unidade fabril, desconcentra a produção e envolve a força de trabalho na gestão provocando um "estranhamento" do trabalho. Levando a crença de que a produtividade é objetivo comum a todos, no entanto não desaparece a subordinação capital-subjetividade do trabalho, sua consciência de classe, afetando assim seus organismos de luta. É nesse âmbito que se insere os sindicatos.

Os sindicatos que tem nos anos 80 uma história de luta, sendo muitas vezes vitorioso, tornaram-se nos anos 90 menos ofensivo ao avanço do capital, regredindosua já limitada ação de defesa de classe. Este novo sindicalismo chamado por Giovanni Alves de sindicalismo neocorporativista tem uma inversão de valores que deixam de reivindicar contra o modelo de acumulação capitalista em prol do sentido de classe para se adaptar ao capital e suas estratégias. "A luta pelo controle social da produção , presentecom intensidade na década de 60/70, na Europa e em tanto outros momentos da luta dos trabalhadores parece cada vez mais distante. O moderno é o mercado, a produtividade, a integração,negociação, o acordo, a conciliação, conservação. Incapaz de aprender a amplitude e a dimensão da crise do capitalismo, postado numa situação que lhe obsta a possibilidade de visualizar e agir para além do capital, o sindicalismo em seus traços e tendências dominantes nos países avançados, conduzido pelo ideário que tem conformadosuas lideranças, a cadapasso dado recua a um patamar anterior, assemelhando-se a um indivíduo que embora pareça caminhar a frente, desce uma escada de costas sem visualizar o último degrau e menos ainda o tamanho do tombo." (Ricardo Antunes).

O sindicalismo vive assim uma grave crise de identidade, esta é uma crise aguda, pois atinge tanto na materialidadequanto na subjetividade da classe que vive do trabalho. Desarticulando este novo sindicalismo não percebe que a nova reestruturação produtiva tem diminuído os postos de trabalho graças ao binômio taylorismo-fordismo. Paralelo a isso há um processo de subproletarização do trabalho através da incorporação do trabalho precário, temporário e parcial. O padrão de acumulação de riqueza tem fechado empresas, o processo de terceirização tem esvaziado o sentido de classe, deslancha o assalariamento dos setores médios, juntos a isso há um processo de qualificação em alguns setores com tendência de intelectualização do trabalho industrial e desqualificação em outros. Com o fragmento da classe operária tem-se logo processo à diminuição as taxas de sindicalização tendem a cair.

Percebe-se que esta reestruturação produtiva, resultado do processo de mundialização do capital e da busca constante por maiores lucros, característica intrínseca do capitalismo, não modifica a essência da relação de subordinação do trabalho frente ao capital, ao contrário consegue camuflar esta relação, não havendo assim resistência. Mais uma vez o capital metamorfoseou-se para continuar sua insaciável busca de exploração.

6. CONCLUSÃO

Neste texto analisou-se, a tendência da queda na taxa de lucro e formação do Exército Industrial de Reserva, além do novo padrão de acumulação e seus impactos nos movimentos sindicais. A taxa de lucro é resultado da relação entre a mais valia e a soma dos capitais (constante e variável). O lucro só pode ser produzido, bem como a mais-valia, pela força de trabalho. Como há um investimento cada vez maior com capital constante com relação ao da taxa de lucro. Desta forma, o aumento da composiçãoorgânica do capital encaminha soluções para os capitalistas, de outro lado, causa problema no processode acumulação do capital, na medida em que provoca uma queda na taxa de lucro.

O capitalismo está sempre sujeito às crises, e uma maneira de sair delas, além da destruição do capital constante, ou seja, eliminação de mercadorias, falências, etc. também é a formação do Exército Industrial de Reserva. A qual submete o trabalhador à situação de miséria, fome e exploração. Os capitalistas necessitam cada vez mais de uma redução no número de trabalhadores. Marx apontou o desenvolvimento tecnológico e a acumulação do capital, como as principais causas de exploração do trabalhador.

A tendência de aumento da produtividade diminui a proporção do capital variável em relação ao capital constante, baixando a taxa de lucro e aumentando o contingente da população trabalhadora supérflua, o Exército Industrial de Reserva. É interessante para o capitalista, manter este contingente de trabalhadores desempregados reduzidos a mais cruel miséria. Por outro lado, extrai dos trabalhadores ativos, a mais-valia, que não é um roubo, mas uma redução dos trabalhadores a meramente máquinas humanas, que necessitam apenas sobreviver e perpetuar a espécie. Dada a isso, o instrumento mais eficaz para manter os trabalhadores sobre o seu domínio é a alienação tanto material quanto psicológica.

Como foi visto, neste trabalho, o mundo do trabalho passa por modificações visíveis: subproletarização do trabalho fabril, aumento da exploração do trabalho, além de um processo de assalariamento dos setores médios, alterações qualitativa na forma de ser do trabalho e uma existência no mercado dos trabalhadores de centro e periféricos. Estas mudanças enfraquecem os movimentos sindicaisdificultam a consolidação de uma consciência de classe, coibindo a atuação de todos os movimentos de esquerda e anticapitalistas.

Isso possibilita a conclusão de que os capitalistas exploram muito mais que a força de trabalho de um operário, explora a sua consciência, humanidade e dignidade como pessoa. A acumulação crescente do capital dar-se com a degradação de uma maioria sujeita a mais miserável das situações. A força do capital é resultado do enfraquecimento dos demais. Não há mais hinos ou canções que sensibilizem a impiedade dos capitalistas. Não há sinal de luta, nem ruídos de revoltas. O que ficou entre os novos escravos da produção não é chamado mais de sonho ou de esperança, mais unicamente a acomodação e a busca de convivência pacífica segundo os ditames capitalistas.

BIBLIOGRAFIA:

ALVES, Giovanni. O novo e precário mundo do trabalho-Reestruturação produtiva ecrise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000.

ANTUNES, Ricardo. Mundo do trabalho e sindicatos na era da reestruturação produtiva: impasses e desafios do novo sindicalismo brasileiro. Disponível em http://orbita.starmedia.com/novosdebates/antunes, acesso em 16 de dezembro de 2006.

MARX, Karl. O capital: edição resumida. Rio de Janeiro: LTC editora, 1984.

MARX, Karl. O capital: critica da economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983 II.

OLIVEIRA, Ricardo Cordeiro de. Memória operária, greve esindicato.

SILVA JR. Raul José da. Importância e reflexo do fim da unicidade sindical no âmbito da proposta de reforma sindical. 2003.

UNICAMP. Da contração à conformação: a formação sindical da CUT e a reestruturação capitalista. Campinas, 2002.


Autor: Soraya Souza Silva


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