Augusto Boal, um legado de paz...



Uma coisa que sempre me preocupou, desde meus tempos de trabalho com teatro, era invariavelmente (seria) receber (ou ler) sobre a morte de Augusto Boal (1931-2009) de maneira alienada, desinformada. Mas eu sabia, foi exatamente o que aconteceu: Boal faleceu no dia 02 de maio e só soube disso dois meses depois... Na ocasião lia a revista Caros Amigos e, claro, pude me despedir só, como um em um milhão ao saber da perda deste gênio. Mas não costumo falar do que se foi. Prefiro o que ficou. O legado de Boal é imenso. É antes de qualquer coisa, um legado de paz.

Como é possível? Alguém aclamado como Embaixador Mundial do Teatro pela Unesco, indicado ao Nobel da Paz, popularizou seu método, O Teatro do Oprimido, em mais de 70 países, ser tão impopular – inclusive no meio artístico e teatral – e ao mesmo tempo tão reverenciado? Sua experiência com o chamado "ensaio contra a opressão" era (ainda é) uma filosofia prática para ensaiar os dramas reais da vida, da existência humana. Você que provavelmente lê esse texto (e espero que leia Boal!) e nunca ouviu falar neste homem de teatro, humanista, pacifista, militante político da arte enquanto política do humano, terá uma surpresa ao mergulhar em suas idéias.

Entre muitos livros publicados no Brasil e exterior, dois parecem sintetizar o legado de Boal: O Arco-Íris do Desejo e Jogos para atores e não-atores, compêndios máximos sobre a necessidade de mudar a mentalidade humana a partir de uma estética artística dos oprimidos/as. O nome é inspirado na Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Ambos foram exilados e passaram a trabalhar em contextos onde regimes ditatoriais não atrapalhassem a libertação de consciências. Passou boa parte de sua trajetória profissional (anos 70 e 80) na África, América do Sul, Europa e Ásia. Como se vê, o mundo conhece Boal. Talvez porque no Chile, França ou Índia, os Centros de Teatro do Oprimido fundados com sua ajuda sejam mais atuantes? Os excluídos da superestrutura capitalista nestes países tiveram mais identificação com seu método teatral do que aqui? Quem são os oprimidos/as desse teatro? Mulheres, indígenas, negros/as, prostitutas, homossexuais, operários, imigrantes, ciganos, refugiados de guerra...

No Teatro do Oprimido essas pessoas ensaiam, encenam seu cotidiano oprimido e simulam uma modificação real. Mulheres ensaiam conquistar salários mais dignos em relação aos homens, ciganos o direito à pátria, operários pobres, melhores condições de trabalho, prostitutas o reconhecimento social... E assim continua. Um teatro para quem não possui voz.

Só quero dizer que em tempos tão apoéticos, a poesia viceja em todos os lados, ganhando adeptos/as e ajudando a refletir, a mudar as ordens opressoras sobre a vida. Boal nos deixa como legado a necessidade de um novo saber, de outros saberes mais livres e criativos. Assim, aquele/a que esconde o que sabe, não sabe que sabe. Não percebe o tesouro em suas mãos, a riqueza da mudança.

Augusto Boal, muito obrigado!


Autor: Paulo Milhomens


Artigos Relacionados


Arborização: Prática De Educação Ambiental Com A Comunidade

Áreas Verdes: Necessidades Urbanas

Estágio: A Oportunidade Do Primeiro Emprego

Poluição Atmosférica

Sexualidade Na Adolescência - Puberdade

A Importância Da Água

Resenha Sobre Reflexões Sobre A Educação Universitária