Molhes da Barra do Porto do Rio Grande: das origens à atualidade, uma obra repleta de histórias



Os molhes da Barra da cidade do Rio Grande são duas muralhas de pedras, construídas junto à desembocadura da Lagoa dos Patos (laguna), que adentram o Oceano Atlântico, por cerca de 4 Km. Podem ser divididos em Molhe Leste que se encontra no município de São José do Norte (RS) e possui atualmente uma extensão e 4,2 quilômetros e em Molhe Oeste, que se encontra no município de Rio Grande (RS) e possui uma extensão de 3,5 quilômetros. São considerados como a terceira maior obra de engenharia naval do planeta (menor apenas que os canais de Suez e o do Panamá). Antes da construção dos Molhes da Barra o canal do norte, que permite a entrada e a saída da Barra do Rio Grande, tinha sua foz obstruída por bancos de areia que dificultavam a passagem das embarcações que, portanto, ficavam esperando as condições do canal melhorarem para, só então, realizarem tal passagem, pois algumas embarcações chegaram até mesmo a naufragar neste local. Foi, por esta razão que o fundador da cidade do Rio Grande, o Brigadeiro José da Silva Paes mandou erguer na entrada da Barra dois grandes mastros com bandeiras que indicavam as condições do canal. Em seguida, nomeou Gaspar dos Santos como Patrão Mor da Barra do Rio Grande de São Pedro (denominação a qual nossa cidade era conhecida naquela época), melhorando, assim, os estudos sobre o Canal. O serviço de Praticagem na Barra, teve início com apenas um pequeno barco que indicava o nível da água e auxiliava os navios em sua entrada e saída pelo canal, cobrando por este serviço uma pequena taxa. Em 1846, o Governo Imperial criou a Inspetoria da Praticagem da Barra servido por práticos conhecedores da Barra que tinham a sua disposição um navio a vapor para a realização de sondagens na Barra; um pequeno barco para auxiliar os navios na entrada e saída e; rebocadores de uma empresa particular que prestavam serviços aos barcos à vela, cobrando para isto uma taxa tabelada que era aprovada pelo governo. Em 1881, a Barra se obstruiu de tal forma que a profundidade só permitia a passagem de embarcações com até dois metros de calado, e mesmo assim, após esperar dias fora da Barra sujeitos ao perigo e as bruscas variações de tempo. Em 1883 diante das dificuldades de navegação na Barra e das exigências dos comerciantes e políticos do Estado (que queriam evitar o contrabando e controlar a fiscalização aduaneira), o Governo Imperial criou uma comissão chefiada pelo Engenheiro Honório Bicalho. Em 1887, foi aberta concorrência pública para execução do projeto, mas nenhuma proposta foi aceita, até que em 1888 uma Companhia Francesa ganhou a concorrência, mas em 1893, o contrato é rescindido por decisão de um árbitro, uma vez que tal Companhia começou a prolongar o início da obra, exigindo indenizações sob ameaça de guerra civil. Até que em 1903, um grupo de capitalistas norte-americanos resolveu visitar a Barra do Rio Grande, a fim de analisar pessoalmente as condições e as riquezas da região. Ao perceberem que se tratava de uma região com grande potencial para o desenvolvimento econômico propuseram ao Governo Brasileiro a organização de uma empresa que tomasse a seu cargo a abertura de um canal marítimo com dez metros de profundidade nas águas baixas, e que este deveria ser conservado nestas condições durante o prazo de 20 anos, bem como o estabelecimento de um porto aperfeiçoado na cidade, cuja exploração se daria pelo prazo de setenta anos. As discussões se prolongaram até 1906. Os Estados Unidos autorizou a obra em 1907, mas seu capital não era suficiente para cobrir tamanha obra. Foi, então, que estes capitalistas americanos recorreram à França, que financiou o projeto que teve início, sob a orientação do Engenheiro Edemer Lawrene Corthel. E, finalmente, em 15 de novembro de 1915, o novo cais do porto do Rio Grande e suas demais instalações foram inauguradas. Atualmente, os Molhes da Barra possuem grande importância não só para a navegação, como também importância ecológica e turística. Seus blocos são o único substrato rochoso de grande porte em meio aos 600 Km de costa arenosa do Rio Grande do Sul, servindo de habitat para diversos organismos e crustáceos. Além disso, atraem diariamente visitantes não só da própria cidade como também turistas interessados em desfrutar dos passeios sobre as rochas, onde pode ser observada a diversidade da fauna e os aspectos ecológicos que ocorrem no local, além é claro de poder admirar a bela paisagem. Tais passeios podem ser feitos também através das vagonetas que são carrinhos pequenos movidos à vela impulsionados pelo vento. Os Molhes também é um lugar muito procurado por aqueles que gostam de pescar. Com o objetivo de aprofundar o canal de acesso ao Porto do Rio Grande, possibilitando, assim, a passagem de navios de maior porte, em maio de 2001 foi iniciada a ampliação dos Molhes da Barra. Em dezembro de 2002 as obras foram paralisadas, após a execução de 25% do seu avanço físico, devido a intervenções do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público Federal de Rio Grande (MPF), culminando com o vencimento em julho de 2004 da Licença de instalação emitida pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Vivos Renováveis). Em janeiro de 2007, as obras foram retomadas em caráter emergencial, devido ao iminente risco à navegação causado pela movimentação das pedras já lançadas. O prolongamento dos molhes, no total, será de 300 metros no Leste, que tem 4,2 quilômetros de extensão, e de 700 metros no Oeste, cuja extensão é de 3,5 quilômetros. No primeiro, já foram trabalhados 150 metros até dois metros acima do nível do mar e no segundo, 290 metros. Também já foram instaladas as sete torres para monitoramento das condições do solo durante a obra, das quais três estão instrumentadas. Assim, talvez até o final deste ano, tenhamos esta obra concluída e, um dos nossos maiores pontos turísticos ainda mais atrativo, não só pelo fato da grandiosidade da obra, mas principalmente pela paisagem natural, já que por localizar-se na desembocadura da Lagoa dos Patos (laguna) permitem que os visitantes visualizem uma zona chamada estuário, onde ocorre o encontro e a mistura entre a água doce da lagoa e a água salgada do oceano e que é de extrema importância ecológica devido aos processos que ali ocorrem como a renovação de nutrientes, a migração da fauna para alimentação, reprodução e desenvolvimento, o aporte de sedimentos para região marinha, entre outros. Sem dúvida é um obra lindíssima, mas, devido principalmente a importância, ora citada, deste local é que devemos sempre pensar nas questões de preservação ambiental e nos perguntarmos até que ponto a grandiosa obra será benéfica para toda comunidade? REFERÊNCIAS VALENTE, Cédric Bainy. Ecologia como Instrumento para o Turismo – Estudo de Caso da Praia do Cassino - RS. Rio Grande: FURG, 2006. PANTALEÃO, Gérson. Molhes da Barra: Molhe Leste já recebe pedras e estrutura para ampliação. Maio de 2008 Disponível em: http://www.jornalagora.com.br/site/?caderno=19¬icia=49476&pagina=18_61__. PEREIRA, Célia Maria. Memórias de um Balneário: Patrimônio edificado do Cassino. 2.ed. Rio Grande: Salisgraf, 2005. PORTO DO RIO GRANDE. Prolongamento dos Molhes deve iniciar na próxima Semana. Maio de 2008. Disponível em: http://www.revistaportuaria.com.br/site/?home=noticias&n=zSTTU&t=prolongamento-dos-molhes-deve-iniciar-prxima-semana.
Autor: Danieli Veleda Moura


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