Cassino: o retrato do mais antigo Balneário do RS através dos tempos



Nossa história como riograndinos é repleta de privilégios. Vivemos na cidade mais antiga do estado, temos o clube de futebol mais antigo do Brasil, bem como o Balneário mais antigo do Rio Grande do Sul e a maior praia do mundo em extensão. Nossa cidade é repleta de muitas histórias e, infelizmente muitos de nós não as conhecemos e/ou não damos o devido “valor”. Por isso, é de suma importância que informações a respeito dos nossos patrimônios sejam divulgados. Aprendemos a zelar por aquilo que gostamos e para gostarmos é preciso dar “valor”, conhecendo um pouco mais sobre estes patrimônios a fim de que possamos lutar sempre em prol de um futuro melhor para o que é nosso. A localidade que hoje conhecemos como Balneário Cassino foi fundada pela Lei Provincial nº 1.697/1888, mas só foi oficialmente inaugurada em 1890, recebendo inicialmente o nome de Vila Siqueira. Sua criação se deu em virtude do fato de que ao longo de toda a costa oceânica do Rio Grande do Sul não existia empreendimentos que explorassem o lazer à beira-mar. Por esta razão, logo que foi fundado, tornou-se ponto obrigatório de veranistas da aristocracia rural e comercial gaúcha. Podemos observar isto pelos suntuosos antigos casarões em estilo europeu, os quais alguns, felizmente ainda existem, principalmente na Avenida Rio Grande e que são marcos históricos do nosso Cassino. A construção de uma linha férrea contribuiu muito para a instalação da nova estação balneária. Sem muitas justificativas, a linha férrea foi desativada no inicio da década de 70, deixando saudades em quem viveu aqueles tempos. O Prédio da Antiga Estação Férrea, situado na entrada do Balneário, sobrevive aos tempos, como um símbolo de uma época vivida. A Vila Siqueira possuía água, luz, quarenta casas geminadas, vinte chalés particulares, moderno hotel e bonde puxado por mulas e que fazia o trajeto do inicio da Vila até à Praia. A estrada Rio Grande-Cassino (RS-734) era de saibro, passando por ela somente carroças e charretes. Em 1927, é que surge a primeira frota de ônibus cuja viagem do centro ao Balneário durava cerca de setenta e cinco minutos. Segundo relatos de pessoas que viveram os primeiros tempos do Balneário, a paisagem era bem diferente. A praia se estendia até onde hoje localiza-se o “Barracão”, chegando até à Avenida Atlântica, quando a maré estava alta. Havia até mesmo um marco indicando onde as águas estiveram, mas sobre ele foi erguido um Edifício (na esquina entre as Avenidas Rio Grande e Atlântica). Onde, hoje, localiza-se o “Supermercado Guanabara” haviam barracas em madeira de lei, também de inspiração européia para que os banhistas pudessem trocar as suas roupas, que eram bem diferentes da nossa sungas, biquínis e maiôs. Algumas pessoas contam, inclusive, que antigamente, as dunas eram enormes. Isso, antes de serem degradadas, antes de terem suas areias retiradas para aterros, por exemplo. Dizem que do alto delas dava para se avistar as luzes da cidade, à noite. Nos locais menos freqüentados da praia, ainda podemos encontrar dunas conservadas, como as que podemos vislumbrar no Documentário de Ulrich Seeliger chamado “Litoral Selvagem”, que mostra as praias arenosas e os cordões de dunas do extremo sul do Brasil. Durante o dia, o Balneário atraia as pessoas por causa da praia que era local não só de lazer, como também para tratamentos terapêuticos, sendo indicada para cura de males. Já, à noite, no local que hoje conhecemos como “Hotel Atlântico” oferecia-se jogos, bailes e jantares, o que atraia pessoas de diversas localidades que usavam trajes de gala para freqüentar tal ambiente. Mas, o Balneário Cassino, que foi um espaço reservado para “poucos”, sofreu grandes mudanças a partir da Segunda Guerra Mundial. Italianos e alemães residentes no Balneário se sentiram constrangidos com a Guerra, criando, assim, uma divisão na elite local, o que permitiu a popularização do Balneário que até então era elitizado. Os novos tempos foram chegando e o cenário se modificando. Muitos dos antigos casarões deram lugar a edifícios e outros fins, do trem restou apenas a Estação, não existem mais os bondes, as barracas para trocas de roupas, os salões de jogos. Mas, o Balneário Cassino continua atraindo muitas pessoas não somente no verão, mas o ano inteiro, como demonstra a atual expansão urbana do Balneário. As pessoas são atraídas não só pela satisfação de morar na praia, mas também pela oferta do setor imobiliário em relação a algumas áreas do Balneário. Nas áreas mais próximas da Avenida Rio Grande, e que possuem certa infra-estrutura residem, em geral, pessoas com razoável poder aquisitivo, pois são áreas supervalorizadas. Mas, mais afastado da praia ou da Avenida Rio Grande, pode-se encontrar grandes ofertas imobiliárias, financiamento de terrenos e até mesmo ocupações irregulares. Tudo isso faz com que a estrutura do Balneário não suporte a alta concentração de pessoas o ano inteiro e que aumenta mais de dez vezes no período do verão. Essa maior concentração de pessoas se deu, sobretudo, no final dos anos 90, e o crescimento continua e de forma acelerada. Um outro fator que aumenta a população do Balneário, são os universitários vindos de fora, que ao escolherem um local para residir em nossa cidade, em geral escolhem o Cassino, pela tradição do mesmo. Mas, o aumento na população não é um problema, pois economicamente ganhamos com isto. O problema está na infra-estrutura do Balneário que não evoluiu com o tempo, não acompanhando as mudanças do Balneário, que a cada dia cresce mais em termos de população. Percebe-se que todas estas mudanças no contingente populacional do Balneário acarretam em problemas ambientais como: aumento de esgotos clandestinos lançados ao mar através dos sangradouros; ocupações irregulares no cordão de dunas; aumento na produção de resíduos sólidos que freqüentemente são vistos, principalmente, na beira da praia, nas dunas e nos terrenos baldios e que é foco de constantes pesquisas acadêmicas; problemas de drenagem pluvial; ruas esburacadas; alto número de cães soltos na praia e no bairro; falta de creche, problemas em relação ao trânsito e à segurança pública. Enfim, inúmeros problemas não só de ordem ambiental, mas também de ordem social e que foram discutidos pelos moradores na última reunião sobre o Plano Plurianual da Prefeitura Municipal de Rio Grande, ocorrido em março deste ano. E, nem é preciso lembrar que estes problemas só aumentam. Desta forma, vê-se que o ambiente, tanto natural como o construído, vai sendo modificado dia após dia, desconsiderando não só a qualidade de vida do cidadão, mas o seu aspecto cultural. O “desenvolvimento urbano e econômico” visa apenas lucro e em nome do “progresso” se identifica cada vez mais com a lógica da destruição. Algumas leis são criadas, mas poucas são cumpridas, pois a conveniência, a irresponsabilidade e a falta de informações são manipuladas de acordo com os interesses de alguns e não da maioria como deveria ser. Assim, é de fundamental importância que todos riograndinos, moradores ou não do Balneário Cassino, façam jus ao tão grandioso patrimônio que possuem, agindo como cidadãos conscientes em prol do Balneário, exigindo que o Poder Público e as Ongs cumpram seu papel, mas não deixando apenas a elas esta função. É preciso que cada um de nós se torne um agente na transformação da nossa sociedade. E, nossa “economia” só tem a ganhar, pois um local social e ambientalmente saudável é a melhor imagem que podemos mostrar. Vamos valorizar nossa história, conhecer nossas origens, cuidar do que é nosso. REFERÊNCIAS PEREIRA, Célia Maria. Memórias de um Balneário: Patrimônio edificado do Cassino. 2.ed. Rio Grande: Salisgraf, 2005. SOUZA, Paulo Ricardo Salati. Análise da Expansão Urbana e seus impactos ambientais no Balneário Cassino in Anais do XXIII Encontro Estadual de Geografia A Complexidade do espaço metropolitano: dinâmicas territoriais e problemas ambientais. Porto Alegre: AGB –PA, 2004 (p. 209-213). VALENTE, Cédric Bainy. Ecologia como Instrumento para o Turismo – Estudo de Caso da Praia do Cassino - RS. Rio Grande: FURG, 2006.
Autor: Danieli Veleda Moura


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