OS NOVOS SENHORES DE ENGENHO



A queda do Muro de   Berlin ocorrida em novembro de 1989, marcou a vitória do sistema capitalista no mundo, a partir daí, de forma desordenada, países emergentes começaram a implantar um modelo de capitalismo selvagem, impondo a máxima do lucro como ápice de seus sistemas socioeconômicos e políticos. Nunca fui adepto ao modelo socialista, sempre acreditei na livre iniciativa por se tratar de uma característica imprescindível para uma sociedade democrática, mas o sistema que aí está sob as barbas da usura e do “lucro a todo custo” não é o capitalismo em sua verdadeira acepção.

            Fico indignado ao ver a postura dos usineiros de álcool de nosso país, o Governo ajudou-os, sem medir esforços, na pendenga jurídica junto a OMC para abrir as portas do mercado de açúcar de cana na Europa, e de uma hora para outra os mesmos deixaram de cumprir o compromisso de abastecer o mercado de álcool brasileiro, causando sérios transtornos para economia nacional e afetando a vida de milhões de brasileiros e o pior, exigindo benesses para o setor. Não adianta demonstrar através de balanços e muito menos alegar entressafra, primeiro que balanços são passíveis de fraude - uma prova disso foram as feitas de grandes empresas estadudinenses que abalou a bolsa de valores há algum tempo atrás-, e com relação à entressafra, uma “conversa pra boi dormir” que poderia ter sido amenizada através de cronogramas, ou seja, planejamento empresarial, que pode prever problemas de abastecimento do produto no mercado.

            A questão é que a gestão administrativa de grande parte dos setores da indústria brasileira está alicerçada em conceitos ultrapassados e inconcebíveis para um país que pretende alcançar um espaço de destaque na economia globalizada; não raro a desculpa fica sempre e tão somente sobre o excesso da carga tributária, como se eles pagassem impostos, que na realidade é repassado para o consumidor final.

            Com relação ao setor alcooleiro, o que esperar de uma atividade empresarial galgada sobre o sistema escravista e com empresários ultrapassados; eles são os antigos senhores de engenho agora denominados “xeiques do petróleo branco”, tudo podem. Recentemente os meios de comunicação mostraram o resultado do novo modelo escravocrata do setor, esse foi o avanço da gestão empresarial dos usineiros sem pejoração: cortadores de cana morrendo de tanto trabalhar ...

            Na atividade que atuamos a mais de 10 anos, marketing empresarial, detectamos de forma notória que, sem generalizar, a maioria da classe empresarial ainda tem a concepção de que o objetivo principal de seus negócios é o lucro, se esquecendo da função social de suas atividades e negligenciando de forma estúpida elementos cruciais para o sucesso empresarial.

            Há uma diferença muito grande entre ser empreendedor e ser empresário. Primeiro, para empreender um grande negócio é necessário proporcionar lucro ao cliente, maximizar receitas minimizando despesas e não perseguir o lucro do empreendimento como uma caça, ou seja, o lucro deve vir naturalmente com os resultados de esforços contínuos, resumindo: lucro não é objetivo, é conseqüência de ações bem planejadas visando o cliente como o principal patrimônio do negócio. O lucro deve ser buscado de forma honesta, não se deve buscá-lo sem escrúpulos; um empreendimento de sucesso é aquele que é colocado acima de si mesmo, de seus interesses de “poder através do dinheiro” e status pessoal. Faço minhas as palavras do grande empresário japonês de sucesso, Kazuo Inamori:

Muitas pessoas pensam somente em seus próprios lucros. Oportunidades de negócio, porém, raramente batem à porta de pessoas egoístas. Nem sempre um cliente procura seus produtos e/ou serviços simplesmente para agradá-lo.


Autor: HERÁCLITO NEY SUITER


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