A Dança: Resultado do primeiro contato com a Arte.



A DANÇA: RESULTADO DO PRIMEIRO CONTATO COM A ARTE.

LUCIENNE ELLEM MARTINS COUTINHO*

RESUMO: Mediante a coleta das narrativas dos discentes da primeira Turma de Graduação em Dança da Universidade Federal do Pará, ao que tange o primeiro contato com a arte,foielaborado um quadro com o objetivo de deixá-lo enquanto leitor a par da situação como um todo e em seguida mostrar-se-á quais serão os focos de atenção, assim como se explanará os conceitos a serem utilizados, além do embasamento teórico imprescindível a análise das experiências relatadas.Foi montado um quadro destacando-se quatro enfoques de destaque primeiro os discentes os quais são os sujeitos da pesquisa, em seguida os participantes das histórias relatadas, posteriormente, o primeiro contato com a arte e por fim a "metodologia" utilizada para a apreensão da experiência elencada enquanto arte.A partir desse quadro definiu-se o referencial teórico capaz de possibilitar a análise do material coletado mediante as entrevistas com os discentes e assim chegar a grande questão como esses discentes introduziram a dança em suas vidas.

*Pedagoga, Discente da primeira turma de graduação em Dança da Universidade Federal do Pará,Bolsista do Projeto de Pesquisa,desenvolvido pela Universidade Federal do Amazonas com o apoio na região Norte da UFPA, Intitulado " Diagnóstico do esporte e lazer na região Norte Brasileira :o existente e o necessário",bolsista do Projeto de extensão intitulado "Auto do Círio" desenvolvido pela UFPA alocado na Escola de Teatro e Dança da UFPA – ETDUFPA.Representante discente da escola de Teatro e Dança da UFPA na congregação do ICA – Instituto Ciências da Arte,representante de turma e coordenadoradocentroacadêmicodedança.

O quadro abaixo foi montado destacando-se quatro enfoques de destaque primeiro os discentes os quais são os sujeitos da pesquisa, em seguida os participantes das histórias relatadas, posteriormente, o primeiro contato com a arte e por fim a "metodologia" utilizada para a apreensão da experiência elencada enquanto arte.

Quadro1: Resumos das histórias relatadas em sala de aula

Discentes

Participantes da História

Primeiro contato com a Arte

Metodologia

Adriana Di Marco

Ela mesma

Com massa de modelar e argila produzia animais em especial uma tartaruga.

Processo de criação

Airleise Rodrigues

Ela mesma

Através da televisão, imitando o que assistia.

Imitação

Ana Rosângela

Avó Benzedeira

Observação do fazer da avó enquanto benzia as pessoas.

Observação, admiração

Bárbara Dias

Avó e ela mesma

Uma saia vermelha que a avó usava.

Observação

Camila Helena

Ela mesma

Representação artística no banheiro, isto é, fazia o papel de atriz no banheiro.

Imitação, criação

Cíntia Peterli

Ela mesma

Desfile da escola no dia sete setembro

Observação

Daniele Brito

Ela mesma

Dançando entre amigas mais velhas

Imitação

Dylan Neves

Ele mesmo

Colecionando insetos

Manipulação

Fanny Cruz

Ela mesma

Rabiscando paredes

Manipulação

Izabella Barbosa

Ela mesma

Dançando em concursos familiares

Execução

Jorge Santos

Ele mesmo

Imitando o cantor Elvis

Imitação e execução

Kamyla Rodrigues

Avô

A prática do avô de tecer Matapí

Observação

Leida Maria

Avô

Artesanato da cuia feito pelo avô.

Observação

Leila da Costa

Família

Tradição cigana.

Observação

Linnesh Ramos

Ela mesma

Conhecer o sol de verdade.

Observação, admiração

Lívia Oliveira

Ela mesma e o tio

Compondo com quadros que o tio produzia.

Observação, Manipulação

Lorena Marinho

Ela mesma e seus primos

Criação de boneco de barro junto com seus primos.

Produção

Lucienne Ellem

Ela mesma e uma vizinha

Competição de crochê com sua vizinha

Manipulação, produção

Ludmila Mello

Ela mesma e o Avô

Violino Stradivarius que o avô tocava.

Observação

Luiz Thomaz

Ele mesmo

Recriar história

Criação

Luiza Souza

Ela mesma

Pintura

Manipulação

Monike Taborda

Ela mesma

Sambando em concurso de dança

Produção

Priscila Silva

Ela mesma

Ballet para o crescimento

Execução

Roberta Cristina

Ela mesma e a mãe

Músicas de ninar cantadas pela mãe.

Observação

Fonte: Relatos dos próprios discentes em sala de aula durante o mês de agosto

Primeiramente apontaremos as respostas dos discentes que estariam elencados ao período pré-operatório da Teoria de Desenvolvimento Humano de Jean Piaget. Período este considerado por Piaget como a primeira infância, uma vez que esses discentes demonstraram o que Piaget classifica como sentimento interindividual quando acentua-se "o respeito que a criançanutre pelos indivíduos que julga superiores a ela"(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA,P.86,1995).

A teoria de Piaget servirá como base de análise das respostas enquadradas à Teoria de desenvolvimento humano e estas são dos seguintes discentes: Ana Rosângela1, Bárbara Dias2, Jorge Santos3, Kamyla Rodrigues4, Leida Maria5, Leila Costa6, Lívia de Oliveira7, Ludmila Mello8 e Roberta Cristina9 que falam dos adultos e de suas admirações ao produto de alguma atividade realizada por eles é justamente cultuando e respeitando seus atos e ações adultas.

Primeiramente, vamos abordar aquelas respostas que não foram elencadas a Teoria de Piaget e esclarecer o porquê de não estarem elencadas a tal teoria e em seguida aprofundaremos os conceitos de Piaget nas análises das experiências enquadradas à Teoria de Desenvolvimento Humano.

Em relação às outras respostas percebeu-se que estas se enquadravam em outros conceitos como, por exemplo, as respostas de Fanny Cruz e de Lorena Marinho estariam elencadas a Teoria Comportamental, ou seja, ao Behaviorismo e, sobretudo o de Skinner quando enfoca o processo de extinção que é "um procedimento no qual uma resposta deixa abruptamente de ser reforçada. Como conseqüência, a resposta diminuirá de freqüência e até mesmo poderá deixar de ser emitida" (BOCK, p.52, 1997). No caso de Fanny será a extinção do ato de rabiscar na parede e no caso da Lorena dar-se-á pela rejeição de beleza de seu boneco feita por seus primos.

No caso de Lucienne, de Luiza, Monike e Izabella encontramos o que Vigostski aponta em relação ao desenvolvimento infantil, este visto a partir de três aspectos: o instrumental, o cultural e o histórico. Nos três relatos dá-se destaque ao aspecto cultural que "envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas tarefas" (LURIA apud BOCK, p.92, 1995).

1 Ana Rosângela Colares Amador : Bailarina e coreógrafa.Formada pelo curso técnico em dança da UFPA; 2 Bárbara Dias dos Santos:Formada pelo curso técnico da UFPA , integrante do grupo coreográfico da UFPA;3 Jorge Alves Santos:dançarino informal de street dance; 4Kamyla Rodrigues:Graduanda em Comunicação Social – relações públicas No IESAM,dança pelo sophos;5 Leida Maria Willott Pereira: Licenciada plena em Ciências Biológicas pela UFPA,pós-graduada em envelhecimento e saúde do idoso,curso técnico de dança pela UFPA,membro do grupo de estudos e pesquisa sobre o envelhecimento da Amazônia da UFPA;6 Leila Pinheiro da Costa: Bailarina cigana,especialista nas danças orientais,professora de técnicas orientais,faz parte da C&Ade dança do ventre do Pará e da C&A Claúdia Ranna;7 Lívia Helene Paixão de Brito:Graduanda em Licenciatura Plena em Dança;8 Ludmila Mello da Silva:Graduanda em Agronomia pela UFRA,integrante da C&A Athlética;9 Roberta Cristina Corrêa de Figueiredo Costa:Bailarina formada pelo curso técnico em dança da UFPA,dança a treze anos,participou de várias companhias de Belém.

Em todos os quatro casos observamos que o incentivo à realização de cada "tarefa" foi oriundo de um apoio adulto e este não apenas incentivava como incitava a disputa e conseqüentemente a obtenção dos melhores resultados possíveis, com o intuito de tornar a criança "a melhor", "e mais competente". (grifo meu).

Em relação à Linneshe Adriana, caberia apontar em seus relatos o processo de individuação de Jung, já que nas três falas percebemos as influências de outras pessoas, entretanto essa influência não interferiu nas apreensões individuais de cada uma.

E tal fato ocorre quando Linnesh relata o fato de ter visto o sol de verdade era algo além do real, era algo indescritível poder sentir aquele calor aquecendo a face era pura magia. Já para Adriana o fato de ter tido sua tartaruga modificada, não mudava o seu pensamento de que aquela tartaruga era a coisa mais linda.

No caso do Dylan seria o que Bruner na Psicologia elencaria de representação ativa quando o interesse da criança "consiste em manipular o mundo por meio da ação" (BRUNER apud MOREIRA, p.39; 1981). E isso se deu quando Dylan passou a colecionar insetos e tal fato o fazia sentir dono e manipulador da vida daqueles animais cujos eram colecionados.

Para entender a experiência de Thomaz, caberia utilizar Freud, quando este fala da formação reativa em que "o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e,para isto, o indivíduo, adota uma atitude oposta a este desejo"(FREUD apud BOCK, p.75,1995).Quando Thomaz reinventa as histórias que causavam-lhe medo têm em vista mudar essa situação de pavor e criar uma nova realidade completamente distinta daquela imposta a ele.

Camila e Daniele seriam elencadas ao comportamento operante do Behaviorismo em que "agimos ou operamos sobre o mundo em função das conseqüências criadas pela nossa ação" (BOCK, p.50, 1997). O agir de Camila estava relacionado ao ato de representar, o atuar no banheiro a fazia acreditar que era uma atriz de verdade, portanto, produto de sua ação de atuar. O agir de Dani se dava quando esta dançava independentemente do lugar, no meio das meninas maiores que ela e tal fato a fazia sentir-se também grande.

De outro lado as experiências de Cíntia e Priscila caberiam ambas na representação icônica de Bruner que fala do estágio em que a criança já consegue interiorizar sua ação, isto é, já concretiza mentalmente suas atividades. E é justamente o caso de Cíntia quando interiorizou em si a importância do dia sete de setembro pela sua estruturação, preparação e objetivos que envolviam a escola como um todo. Com Priscila o foco de atenção de sua experiência direcionou-se a dança, isto é, ao Ballet Clássico que foi a atividade física indicada pelo médico e imprescindível ao seu crescimento e tal fato fez Priscila interiorizar de forma harmônica aquela pratica tão encantadora para sua vida, pois esta se tornou sinônimo de crescimento.

Acima apresentamos as respostas que não foram elencadas a Teoria de Piaget, agora caberá destacarmos as respostas enquadradas a Teoria de Desenvolvimento Humano de Piaget. Enfatizaremos o porquê de terem sido escolhidas, far-se-á a explanação das experiências, e buscaremos identificar como se deu a introdução da dança nas vidas destes discentes mediante este primeiro contato com a arte, isto é, como esse primeiro contato proporcionou o interesse pela arte cênica em especial a dança.

Antes de adentrarmos a Teoria de Desenvolvimento Humano de Piaget devemos entender que esta teoria está alocada a área de conhecimento da Psicologia que estuda o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social (desde o nascimento até a fase adulta que é justamente na fase em que todos os aspectos atingem o mais completo grau de maturidade e estabilidade.).

Dentre as várias teorias de desenvolvimento humano em psicologia escolhemos a de Piaget (1896-1980)*, por ser a teoria capaz de nos responder como e por que o indivíduo teve aquele comportamento em determinada situação naquele momento de sua vida.

Para Piaget estudar o desenvolvimento humano significa: "conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos"... "estudar o desenvolvimento humano significa descobrir que ele é determinado pela interação de vários fatores" (BOCK, 1995, p.81). E esses fatores são indissociados e em constante interação afetam todos os aspectos do desenvolvimento e são eles:

* Psicólogo e filósofo suíço, Jean Piaget foi um importante teórico do processo do conhecimento humano (epistemologia). Nasceu em 9 de agosto de 1896, na cidade suíça de Neuchâtel, no Cantão francês, e faleceu em Genebra, em 1980 .Piaget bacharelou-se(C0NT.)

·Hereditariedade – a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra.

·Crescimento orgânico – refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois andar, em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida.

·Maturação neurofisiológica- é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2,3 anos não tem. Observe como ela segura o lápis.

·Meio- o conjunto de influências e estimulações ambientais altera padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de três anos pode ter um repertório verbal musical muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida. (BOCK, 1995, p.82).

De acordo com o relato das experiências das discentes Ana Rosângela, Bárbara Dias, Jorge Santos, Kamyla Rodrigues, Leida Maria, Leila Costa, Lívia Oliveira, Ludmila Mello e Roberta Cristina nos foi possível perceber que dentre esses quatro fatores o meio (grifo meu) foi o que mais propiciou a alteração do comportamento desses discentes, uma vez que nos nove relatos destaca-se justamente as influências e estimulações ambientais que incitaram curiosidade nas crianças à época.

Piaget divide o desenvolvimento humano em períodos, estes de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento. E os períodos são:

·1º Período: Sensório-motor (0 a 2 anos)

·2º Período: Pré-operatório (2 a 7 anos)

·3º Período: Operações Concretas (7 a 11 anos ou 12 anos)

·4º Período: Operações Formais (11 ou 12 anos em diante)

em Biologia pela Universidade de Neuchâtel em 1915; e após doutorar-se em Ciências Naturais na mesma universidade em 1918, mudou-se para Zurique para estudar Psicologia.(cont.)Em 1921, Eduardo Claparéde, psicólogo da educação e diretor do instituto Jean-Jacques Rousseau de Genebra destinado à formação de professores, que se (cont.)

Segundo Piaget, cada período é caracterizado pela melhor ação que o indivíduo consegue fazer em cada faixa etária. Todo e qualquer indivíduo passa por todos os períodos, nessa seqüência (1º Período, 2º Período...), entretanto o início e o fim de cada um deles vão depender das características biológicas do indivíduo e dos fatores educacionais, sociais. Logo, a divisão por faixa etária é uma referência, e, portanto não uma norma rígida.Desses quatro períodos vamos enfatizar o segundo, já que percebemos que as respostas as quais selecionamos estão enquadradas neste segundo período, isto é no Período Pré-operatório.

Você poderia nos perguntar, mas porque o segundo período?Responder-lhe-ía que tal elencação do período deveu-se a análise e interpretação das respostas fator este que apontou as características pertinentes e imbricadas ao período pré-operatório. Pois neste período a linguagem é o "fator" de maior importância que desponta no indivíduo e isto acarretará modificações nos aspectos intelectuais, afetivo e social da criança.

Entre os indivíduos a interação e a comunicação são sem dúvida, as conseqüências mais evidentes da linguagem. Através da palavra, "há a possibilidade de exteriorização da vida interior e, portanto a possibilidade de corrigir ações futuras. A criança já antecipa o que vai fazer" (BOCK, 1995, p.86). Em decorrência desse aparecimento da linguagem o desenvolvimento do pensamento acelera-se. É o que foi possível perceber nos noves relatos, quando os discentes ao observarem aquela atividade desenvolvida pelo adulto presente em sua história instigavam-os a pensarem o que faziam, como faziam e porque faziam?

havia impressionado com um artigo recebido de Piaget sobre a inteligência infantil, lhe ofereceu um lugar de pesquisador no Instituto. Lá Piaget publicou, em 1923, o seu primeiro livro, "A Linguagem e o Pensamento da

Criança". No ano seguinte casou-se com sua assistente Valentine Châtenay, com a qual teve três filhos, Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laureni (1931), crianças cujo desenvolvimento mental Piaget acompanhou e descreveu detalhadamente. Os resultados obtidos da observação da conduta de seus próprios filhos, que abarcaram o período desde o nascimento até aproximadamente 2 anos (período que Piaget designou "sensorio-motor"), foram publicados em 2 volumes: O Naissance de l' intelligence chez l' enfant ("O nascimento da inteligência da criança"), de 1936, e La construction du réel de l'enfant ("A construção de o real na criança"), de 1936. Mais tarde Piaget sucedeu Claparede como diretor e como professor na universidade de Genebra onde lecionou História do Pensamento Científico, Psicologia e Sociologia. Após a Guerra, em 1946, Piaget participou da criação da UNESCO, órgão das Nações unidas para a Educação, Ciência e Cultura, colaborando na elaboração de seu regimento e tornando-se membro do seu conselho executivo. Em 1950 publicou a primeira síntese de sua teoria do conhecimento: "Introdução à Epistemologia Genética". Nomeado em 1952, foi professor na Sorbone até 1963. Em 1956 Piaget criou, na Faculdade de Ciências de Genebra, o Centro Internacional de Epistemologia Genética, onde passou a investigar sistematicamente, com o apoio de uma grande equipe, o desenvolvimento do pensamento da criança nos modos de pensar moral, abstrato, lógico e concreto. É de 1967 sua principal obra: "Biologia e Conhecimento". Veio a falecer em Genebra a 17 de setembro de 1980.

E mesmo sem obterem respostas àquelas perguntas, continuavam a fazê-las, isto é, em decorrência desse pensamento desenvolvido pela linguagem e justamente aguçado pelo meio em que vivem. É a fase em que a criança transforma "o real em função dos seus desejos e fantasias (jogo simbólico)".

No aspecto afetivo, surgem os sentimentos interindividuais, é um dos mais relevantes nesse período é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga superiores a ela. "É um misto de amor e temor. Seus sentimentos morais refletem esta relação com os adultos significativos, na moral da obediência, onde o critério de bem e mal é a vontade dos adultos" (BOCK, 1995, p.86).

A partir daí a criança já tem o domínio ampliado do mundo, multiplicam-se o interesse pelas diferentes atividades e objetos, surge então uma escala de valores própria da criança. Em relação a esse transformar "o real" em função de desejos próprios, no caso de crianças, pôde se perceber nos relatos se apresenta no processo de individuação de cada sujeito e sua história, isto é, cada criança possuía intrinsecamente um significado daquela atividade desenvolvida por aquele adulto que era foco de atenção, ou seja, no caso de Rosângela, por exemplo, a avó benzedeira não só praticava um simples ato de benzer esta chegava a ser uma "mágica", isto é,conseguia tirar qualquer mal daquelas pessoas que a procuravam, era uma fantasia criada pela cabeça dela. No caso de Bárbara aquela saia vermelha da avó era mais que uma vestimenta, era algo encantado que lhe maravilhava olhar e lhe inquietava a significação. Aquela saia representava algo diferente e estranho inexplicável e confuso, portanto tomando um significado fantasioso oriundo da cabeça de Bárbara enquanto criança, pois aquela saia não passava de uma peça de roupa na cor vermelha e não possuía nada de estranho ou inexplicável.

Para Jorge o simples ato de imitar o cantor Elvis era como um rito de aproximação de um fã com um ídolo, aquele ato de imitar significava para Jorge igualar-se àquele adulto o qual era um protótipo a ser seguido e venerado.

Já Kamyla, Leida, Leila, Ludmila e Roberta Cristina aquele fazer adulto representava uma obra de arte encantadora e impressionante tanto na prática de tecer matapí, quanto no artesanato da cuia, como na tradição da família cigana, na produção sonora do violino como nas músicas de ninar. Era o sentimento fantasioso aguçado dessas crianças que tornava tais atividades dotadas de encanto e fantasia.

Enquanto para Lívia esse desejo aguçado ia mais além, segundo ela os quadros que o tio produzia eram meio diferentes e estranhos, isso só mudava quando eram manipulados pelas suas próprias mãos e se transformavam em outras formas e adquiriam novos contornos.

Recorrendo ao conceito de sentimento interindividual podemos entender como a dança surgiu na vida dessas crianças mediante esse primeiro contato com a arte, uma vez que esse sentimento de respeito que uma criança nutre pelos indivíduos que julga superiores aguça e indaga a criança a querer experienciar o que vê então quando explanamos as histórias dos noves discentes que apresentavam esse conceito imbricado em seus relatos percebemos que em todos o interesse pela dança surgiu do que Piaget denomina de "escala de valores própria da criança.E a criança passa a avaliar suas próprias ações a partir dessa escala"(BOCK,1995,p.87).

Portanto essa observação de atividades externas a essas crianças e enfatizadas nas nove histórias fez "plantar" nelas (as crianças) o interesse por produções corporais, por corpos em movimento e essas ações passaram a ter valor qualitativo na vida desses indivíduos, uma vez que desse olhar de observação e encantamento por objetos, sons, linguagens atingiram o ápice na escala de valores atribuídos por essas crianças e essa elevação valorativa resultou no futuro o interesse pela dança representando e significando tudo o que esses discentes observavam,admiravam e respeitavam.

Referência Bibliográfica

BOCK,A.M.B;FURTADO,O.;TEIXEIRA,M.deL.T. Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia.São Paulo: 8ªed.Saraiva,1995.

Cobra, Rubem Q. - Jean Piaget. COBRA PAGES: www.cobra.pages.nom.br/ ecp-iaget.html, Internet, Brasília, 2003. Acesso em 24/09/2008 às 15:30


Autor: LUCIENNE COUTINHO


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