RECICLAGEM E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ATÉ QUE PONTO RECICLAR É AMBIENTALMENTE CORRETO?



RESUMO

A reciclagem é hoje, talvez, o método mais conhecido e utilizado em Projetos de Educação Ambiental. Porém, várias iniciativas neste sentido trazem consigo manifestações ideológicas e políticas, segundo a própria lógica do mercado no enfrentamento dos problemas ambientais. Por esta razão, o objetivo deste artigo é discutir ainda que brevemente o fato de que as políticas ambientais e especialmente as que envolvem as questões do lixo e da reciclagem devam ser mais bem elucidadas para não se correr o risco de transformar-se a Educação Ambiental numa educação de prática extensionistas, isto é, baseada em transferências técnicas de saber sem que se proporcionem diálogos e questionamentos a respeito da origem das coisas.

Palavras-Chave: lixo, reciclagem, Educação Ambiental, Consumismo, Capitalismo

Ao discutir-se acerca de temáticas ambientais, um dos assuntos mais abordados certamente será o da problemática do lixo, não só em âmbito nacional como também internacional. A justificativa para tal fato pode estar atrelada a fácil percepção do cidadão frente aos problemas causados pelos lixos como a poluição tanto visual quanto do solo e das águas, contaminação de plantas e animais, proliferação de pragas como ratos e baratas e prejuízos à saúde humana.

Na atualidade as questões ambientais vêm se tornando moda e acabam por não serem tratadas com a seriedade e profundidade que merecem devido a sua grande relevância na vida de todos nós. Se um dos assuntos mais debatidos na questão ambiental é o lixo, quando se trata especificamente deste tema, logo surge à associação à reciclagem. O mesmo acontece quando se fala em Educação Ambiental.

Criou-se, então, a falsa idéia de que simplesmente reciclando-se objetos como plástico, papel, metal e vidro resolvessem os problemas relativos ao lixo. E, assim, estas atividades vêm sendo desenvolvidas precariamente por Prefeituras, Escolas, Universidades. Digo precariamente porque as Prefeituras, em geral, dispõem de coletas pouco difundidas e eficazes; as Escolas, normalmente trabalham esta questão fazendo trabalhos com o lixo que depois de alguns dias retornam novamente à condição de lixo e; as Universidades pelo fato de geralmente desenvolverem Projetos ditos como sendo de Educação Ambiental, mas que, no entanto, pouca ou nenhuma transformação social pode ser percebida.

Estes trabalhos, em geral são vinculados à Escola e até mesmo às Prefeituras incentivando coletas, destacando-se que os recicláveis devem ser limpos antes de serem colocados nos locais de coleta. Esquecem-se, porém, que a escassez de água potável é hoje, juntamente com a pobreza e a fome humana, um dos maiores problemas mundiais.

Cruz (2002) em sua dissertação de mestrado revela uma das contradições referentes à reciclagem como método de Educação Ambiental revelando que este gera grandes gastos de energia fóssil, eletricidade, água, além da poluição pelo uso de solventes e alvejantes, e não impede a necessidade da utilização de matéria-prima para a produção de novos produtos. Por isso é que, freqüentemente, produtos que utilizam papéis recicláveis, por exemplo, como folhas de ofício, cadernos e agendas são mais caras do que as demais. Percebe-se também aí a moda da qual se falou inicialmente, ou seja, paga-se mais caro para parecer-se politicamente ou ambientalmente correto, quando na verdade o dano ambiental causado na produção desse material foi ainda maior. E, o que é pior, se está a contribuir para com o grande vilão dos problemas não só ambientais, mas socioambientais, que é o nosso modo de produção econômico, o sistema capitalista.

De forma alguma se está aqui condenando a prática da reciclagem. O que se critica são os Projetos que incentivam tais técnicas sem questionar o custo-benefício de ações. Não se está agindo em favor de um ambiente saudável se, por exemplo, para reciclar um pote de margarina eu gosto “x” litros de água e “y” ml de detergente. Critica-se, principalmente, a não discussão a respeito da origem dos problemas dos lixões, por conseguinte, dos recicláveis, que estão totalmente vinculados à sociedade de consumo, onde todos os dias compram-se novas coisas e descartam-se no lixo outras tantas, atitudes impulsionadas pelo capitalismo.

Métodos que não questionam a origem das coisas não podem ser considerados como Educação. Para elucidar o objetivo deste artigo, pode-se dizer que de nada adianta, por exemplo, criar oficinas de reciclagem de papel com a meta de acabar com o desmatamento. Isso é ter uma visão acrítica e uma forma ingênua de se abordar a Educação Ambiental. Mas, infelizmente, esta é a forma como a Educação Ambiental vem sendo tratada na sociedade.

A questão do lixo propicia discussões a respeito da crise ambiental em seus múltiplos aspectos como bem salienta Cruz (2002), citando como exemplos dessas práticas transformadoras temas como padrões de consumo, e produção, exclusão social, problemas epidemiológicos, contaminação e poluição ambiental, alternativas para a minimização de resíduos como a reutilização e o reaproveitamento de materiais, a compostagem e a vida útil dos produtos. Desta forma, entende-se que para haver uma Educação Ambiental transformadora relativa a estas problemáticas é preciso incorporar os valores culturais e socioeconômicos dos sujeitos da prática educativa, discutindo-se com a comunidade, favorecendo-se a troca de saberes no desenvolvimento de mecanismos que garantam a participação dos próprios atores sociais nos processos de gestão ambiental.

REFERÊNCIAS

CRUZ, Luiz E. A Práxis Educativa e a problemática do Lixo em uma Comunidade Pantaneira – Mimoso/MT. Dissertação de Mestrado. Cuiabá: Universidade Federal do Mato Grosso, Instituto de Educação, 2002.

PEREIRA, Cieusa Maria Calou E. & SAMPAIO, José Levi Furtado. A Integração entre Resíduos Sólidos, Água e Saúde Pública no Ambiente Urbano in MATOS, Kelma Socorro (org.) Cultura de Paz, Educação Ambiental e Movimentos Sociais: Ações com Sensibilidade. Fortaleza: Editora UFC, 2006.

QUINTAS, José Silva. Introdução à Gestão Ambiental Pública. Brasília: IBAMA, 2005.
Autor: Danieli Veleda Moura


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