A EQUIPE DE ENFERMAGEM DO CENTRO-CIRÚRGICO FRENTE AO ESTRESSE OCUPACIONAL



RESUMO 

O estresse ocupacional do centro cirúrgico tornou-se parte do cotidiano da equipe de enfermagem, por sua diversidade de tarefas e o compromisso em oferecer assistência de melhor qualidade. Considerado atualmente como a doença do século, sendo a enfermagem também a profissão mais estressante dos tempos atuais. O estresse ocupacional é um dos fatores propiciadores de doenças psicossomáticas em indivíduos de diferentes classes profissionais. O estresse é provocado por diversos estressores, externos e internos ao organismo. O presente estudo teve o objetivo de pesquisar as principais literaturas que abordaram o estresse ocupacional da equipe de enfermagem no centro cirúrgico, identificando suas necessidades e importância, destacando situações estressantes do cotidiano.
PALAVRAS-CHAVE: estresse ocupacional, Equipe de enfermagem, centro cirúrgico, doenças psicossomáticas

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os fatos relatados pela medicina moderna estabelecem que o estresse, é um desenvolvimento anormal, e é hoje considerado um dos maiores causadores de distúrbios funcionais no ser humano, seja ele de natureza física, psicológica ou social. Situações positivas ou negativas podem ser estressantes, porque ambas requerem adaptações maiores.1

Os primeiros estudos sobre estresse foram realizados em 1936, pelo pesquisador canadense Hans Selye, endocrinologista, que denominou o estresse como um conjunto de reações que um organismo desenvolve, ao ser submetido a uma situação que exige esforço para a adaptação.1

Em contrapartida, Lazarus e Launier2 , definem estresse, no modelo interacionista, como qualquer evento que demande do ambiente externo ou interno e que taxe ou exceda as fontes de adaptação de um individuo ou sistema social.

Tal definição, concordada e expressa por Smeltzer & Bare.3, citando estresse como uma condição de ruptura que ocorre em resposta às influências adversas a partir de um ambiente interno ou externo

Inúmeros são os termos empregados para definir o estresse, porém holisticamente, este agravo à saúde pode ser definido como resultado da relação entre a pessoa, o ambiente e as circunstâncias que a cercam.1

Ao se tratar de estresse, não se pode deixar de abordar a Síndrome Geral de Adaptação, a qual, Hans Selye¹, utilizou para identificar o processo de estresse, destacando três fases: alerta, resistência e exaustão.

Reflexão semelhante sobre este tema vem de Lipp4 , que observou em pesquisas recentes quatro fases: alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão.

Contudo, segundo Lipp4, cada fase apresenta suas manifestações próprias, tais como: aumento da freqüência cardíaca, com hipervigilância na fase de alerta, já na fase da resistência há um aumento do córtex da supra-renal o que eleva a incapacidade de manter a atenção. Na fase quase-exaustão, o desgaste aumenta levando ao surgimento de doenças psicossomáticas, e na exaustão, quarta fase, o organismo diminui o rendimento, tornando-se sensível a reações de emoção.

As manifestações do estresse são de origem fisiológica, provocando reações, que em excesso na sua intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo. Sua reação é uma atitude biológica necessária para a adaptação a situações novas. Ou seja, o estresse desencadeia processos fisiológicos no organismo, para que, o mesmo tenha capacidade de adequar-se as novas situações que o individuo esta enfrentando ou posteriormente já enfrentou.4

Lima5, dentro das suas concepções,diz que o estresse ocorre quando a capacidade de adaptação do individuo é suplantada por eventos e sobrecargas emocionais muitas vezes no aspecto qualitativo, sendo quantitativamente insignificantes e, na maioria das vezes decorre de excessos e tensões emocionais no âmbito afetivo, familiar, profissional e/ou social

Dessa forma, ao abordar o tema estresse, o processo fisiopatológico deve ser analisado. Para Lipp.4, o individuo ao ser exposto a um fator estressante, favorece o organismo reagir subitamente, liberando através do fígado glicose, o que abastece os músculos, e libera os hormônios epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina), os quais entram na corrente sanguínea das terminações nervosas simpáticas situadas na parte interna das glândulas supra-renais. Assim, o sistema nervoso simpático responde acelerando os batimentos cardíacos e a respiração, desviando o sangue para os músculos esqueléticos liberando gordura das reservas do corpo.

Após a ativação do sistema nervoso simpático, o hipotálamo realiza ainda sua segunda função, com a ativação do sistema adrenal cortical, que sinaliza para a glândula pituitária segregar o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), o "principal hormônio para o estresse" no corpo, que estimula a camada externa da glândula adrenal, o córtex central, resultando na liberação de um grupo de hormônios, cujo principal é o cortisol, que regulam os níveis sanguíneos de glicose e de certos minerais. 6

Atualmente as ciências psicopatológicas buscam correlacionar o estresse, aparecimento ou agravo de várias patologias, por exemplo: artrite reumatóide, doenças cardíacas, hipertensão arterial sistêmica, desenvolvimento de neoplasias malignas, úlceras, dentre outras.6

Entretanto, existe uma demasiada preocupação com os problemas que se sucedem, devido à realização da prática de uma atividade profissional, sendo assim observa-se, que o estresse ocupacional é desencadeado pela pressão em que o trabalhador é submetido, tendo também como fatores contribuintes: a sobrecarga de trabalho, turno de trabalho, condições inadequadas de trabalho, riscos ocupacionais e baixa remuneração.6

Salienta-se que o desgaste do profissional da área de saúde pode levar a um crescente estresse decorrente de suas atividades, devido ao fato de estar diretamente ligado à satisfação no trabalho e ao bem-estar físico e mental dos profissionais.6

Foram propostos os seguintes objetivos:

- Realizar uma revisão bibliográfica no que diz respeito ao estresse ocupacional da equipe de enfermagem do centro-cirúrgico.

- Reconhecer os problemas relacionados ao estresse ocupacional existente no ambiente de trabalho;

- Analisar as medidas que influenciam na melhoria do ambiente como precaução de possíveis estresses e riscos ocupacionais;

2. MATERIAIS E MÉTODOS:

Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se pela Pesquisa Bibliográfica, que abrange fontes secundárias, toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, dentre outros, até mesmo meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais, filmes e televisão.

Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas ou gravadas.

3. RESULTADOS:

O estresse ocupacional tornou-se parte do cotidiano da equipe de enfermagem, por sua diversidade de tarefas e o compromisso em oferecer assistência de melhor qualidade.

Para Couto7, estresse ocupacional é um estado em que ocorre um desgaste anormal do organismo humano e/ou diminuição da capacidade de trabalho, devido basicamente à incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar, superar ou se adaptar às exigências de natureza psíquica existentes em seu ambiente de trabalho ou de vida

O desgaste emocional, a que a equipe de enfermagem se depara nas relações com o trabalho é muito significativo, o estresse tem presença marcante na atuação do enfermeiro, pois o ambiente a que está exposto é altamente estressante, devido às condições caóticas do dia a dia. .7

De acordo com Ross & Altamaier8, o estresse ocupacional é a interação das condições de trabalho com as características do trabalhador, nas quais a demanda do trabalho excede as habilidades do trabalhador para enfrentá-las.

O estresse ocupacional não é um fenômeno novo, mas um novo campo de estudo que é enfatizado devido ao aparecimento de doenças que foram vinculadas ao estresse no trabalho. 9

Ballone.9, coloca que, uma das conseqüências mais marcante do estresse ocupacional é a síndrome de Burnout, que se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação à quase tudo e todos, podendo até estar ligada com uma defesa emocional.

No setor público, a enfermagem é classificada pela Health Education Authority como a quarta profissão mais estressante, devido à responsabilidade pela vida das pessoas e a proximidade com os clientes em que o sofrimento é quase inevitável, exigindo dedicação no desempenho de suas funções aumentando a probabilidade de ocorrência de desgastes físicos e psicológicos. 10, 11

O trabalho do enfermeiro, por sua própria natureza e características, revela-se especialmente suscetível ao fenômeno do estresse ocupacional. O centro cirúrgico requer suporte adequado de modo que os aspectos técnico-administrativos referentes à planta física e localização, aos equipamentos, ao regimento, às normas, às rotinas e aos recursos humanos sejam assegurados como mecanismos para prevenção e controle dos riscos e sustentem, na prática, a proteção ético-legal da equipe e da instituição.11

A realização de uma cirurgia é um momento crítico. Portanto o centro cirúrgico é visto como um ambiente altamente estressante para o paciente, bem como para a própria equipe que nele atua.

O fato do profissional desta área estar diretamente ligado, diretamente, ao sentido de vida e morte dos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, revela um constante risco ocupacional de natureza psicológica a este trabalhador.12

Essa unidade pode ser considerada uma das mais complexas do hospital, pela sua especificidade, presença constante de estresse e a possibilidade de riscos à saúde a que os pacientes estão sujeitos ao serem submetidos à intervenção cirúrgica. 12

Segundo Zakabi13, os trabalhadores da área de saúde ocupam uma das profissões campeãs do stress, sendo classificada como a terceira, ficando atrás somente dos controladores de vôo, motoristas de ônibus urbano, que ocupam o segundo lugar e dos policiais e seguranças privados que estão em primeiro lugar. As profissões da área de saúde em geral sofrem pressões de todos

os lados, tanto dos clientes/pacientes ou subordinados.Portanto, nota-se a importância de um cuidado maior com enfermeiros de centro cirúrgico, pois o crescimento do estresse ocupacional nesta área está cada vez maior.

Muito tem se estudado sobre as correlações existentes que desencadeiam o estresse no ambiente de trabalho. Sabe-se que fatores organizacionais o desencadeiam como condições, objetivos de vida, de trabalho e processos psicológicos. 10

Visto que o desenvolvimento da Síndrome de Burnout envolve aqueles profissionais motivados e comprometidos com sua profissão e que progressivamente vão exaurindo-se,descomprometendo-se e frustrando-se. 10

Tal processo indica um desvio ou perda do desejo de fazer tal trabalho e de ser determinado o sujeito através do trabalho que realiza.10

A análise do processo do desenvolvimento de Burnout correlacionando ao estresse exercido nos trabalhadores de enfermagem como sobrecarga de trabalho a pressão de tempo, falta de suporte e autonomia nas relações de trabalho são condições objetivadas dadas por fatores econômicos, administrativos e gerenciais que definem toda uma dinâmica organizacional estressante característica do mundo do trabalho atual contexto histórico e que estabelece determinado campo de possibilidades.10

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preocupação com o estresse ocupacional, particularmente com a equipe de enfermagem de centro cirúrgico, tornou-se notável pela demanda e fluxo de profissionais acometidos por esta doença.

O ambiente cirúrgico exige dos profissionais que atuam nele, principalmente da enfermagem, atenção constante, técnicas específicas, agilidade e concentração no procedimento.

Tendo em vista este risco psicológico constante, o estresse ocupacional vem de encontro a responder inúmeros problemas enfrentados pela equipe de enfermagem, que neste local realizam suas atividades laborativas.

A constante sobrecarga de trabalho, o fato de o trabalho ser realizado em turnos, principalmente o noturno, as condições inadequadas de trabalho, o elevado grau de risco para acidente, ou desgaste, e a baixa remuneração, coloca os profissionais da área de enfermagem de centro cirúrgico em destaque na lista dos riscos ocupacionais, tanto nos riscos ambientais, quanto nos riscos psicológicos.

O curso evolutivo da exposição a esta pressão psicológica até a evolução da doença, e descoberta deste agravo é muito demorada, e com isso o tratamento é mais lento e prolongado.

A importância deste estudo fica clara quanto se é observado o alto número de profissionais, desta área, acometidos pelo estresse ocupacional. E é somente através de constantes estudos, e elaboração de novas técnicas, para minimização ou extinção deste risco e agravo a saúde, que o processo saúde – doença será atingido de maneira favorável à qualidade de vida destes profissionais no trabalho.

O tema proposto foi embasado nas necessidades expressas anteriormente, visto que é através do conhecimento que o resultado dos problemas é encontrado e passado de pessoa a pessoa, aumentando assim a sede pelo saber daqueles que procuram o conhecer.

5. REFERÊNCIAS:

Selye, H. Stress: a tensão da vida. 2. ed. São Paulo: Ibrasa, 1965.

Lazarus, R.S.; Launier, S. Stress related transaction between person and enviroment. In: Dervin, L.A.; Lewis, M. Perspectives in international psychology. New York, Plenum, 1978

Smeltzer S; Bare B. Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgica. 10ª ed, v.1. Guanabara Koogan. 2004

Lipp, M. Pesquisas sobre stress no Brasil, 2.ed. São Paulo: Papirus, 2001. Prestn, C. A.; Ivancevidich, J. M.; Mateson, M. T. Stress and the OR Nursing. Aorn, J.; v. 33, n. 4, 1981.

Lima. D. R. Manual de farmacologia clínica, terapêutica e toxicológica. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1993.

Atikinson. C., et al. Introdução à psicologia, Estresse e enfrentamento. 11. ed. Porto Alegre. Art med, 1995.

Couto, H.A. Stress e qualidade de vida dos executivos. Rio de Janeiro: COP, 1987. GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa, 3.ed.São Paulo: Atlas, 1996.

Ross, R.R.; Altamaier, E.M. Intervention in occupational stress. London: SAGE Publications, 1994.

9. Ballone. G. J. Neurofisiologia das Emoções-Psiquiatria Geral 2002. Disponível em http://www.psiqweb.med.br. Acesso em: 12 set. 2006.

10. Holrt, R. R. Occupational Stress. In: Goldberger, L.; Breznitz, S. (eds.). Handbook of stress: Theoretical and clinical aspects. 2ª ed. New York. 1993

11.Cooper, C. L.; Michel, S. Nursing and Critically ill and dying. Hum. Relations. v. 43, 2000.

12.Stacciarini, J.M.; Tróccoli, B. T. Estresse ocupacional, satisfação no trabalho e mal-estar físico e psicológico em enfermeiros. Nursing, v. 3, n. 20, jan.2000.

13.Zakabi, Rosana. Stress: ninguém está a salvo desse mal moderno, mas é possível aprender a viver com ele. Revista Veja, v. 37, n-6, p.66-75, 11 fev. 2004.


Autor: Carolina de Oliveira Aragão


Artigos Relacionados


Breves ConsideraÇÕes Sobre O ''stress''

Mulheres No PerÍodo ClimatÉrico: InfluÊncia Na Qualidade De Vida

Estresse - Motivação Para Novos Conceitos

Fidedignidade Do Registro De Enfermagem Relacionado Ao Trauma Físico Em Pacientes De Terapia Intensiva Devido à Restrição Física Ao Leito

Empresas Podem Economizar Com Prevenção De Acidentes No Trabalho

Os Dez Mandamentos Do Professor

HipertensÃo Intracraniana: As Bases TeÓricas Para A AssistÊncia De Enfermagem