A ESCOLA E A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA



1 INTRODUÇÃO

As dificuldades que emergiram do cotidiano escolar mostram que o tema da inclusão ainda permanece como um problema a ser resolvido pelas escola e pela sociedade. Para a acriança com necessidades especiais, a possibilidade de acesso à escolarização traz ganhos inestimáveis. Há alguns anos uma parcela mínima dessa população tinha acesso aos bancos escolares e sempre a via para este acesso eram as classes especiais ou escola de ensino especializado, revelando que a relação entre deficiência e ensino especial ainda fazia parte de uma concepção na qual a condição de deficiente por si só definiria a conveniência e a necessidade desse atendimento especializado.

Percebe-se, hoje, que essa concepção permanece impregnada nas práticas escolares, provocando ações excludentes dentro dos muros escolares. Nos agenciamentos que a escola provoca, percebe-se que o aluno com deficiência mental ainda mantém o status de quem é diferente. O fracasso escolar o acompanha e o preconceito assume sua forma mais vil: a exclusão. É necessária a transformação escolar, com o objetivo de trazer novos olhares para a deficiência. Não basta colocar o aluno na escola, delegando-lhe um espaço físico dentro da sala de aula.

A escola, como instituição, precisa viabilizar formas de atendimento a essa população. É importante que se ressalte que esses alunos têm não apenas o direito à educação, mas têm o direito às oportunidades educacionais e isso implica atender, nas instituições escolares, a extensa gama de diferenças individuais existentes entre os educandos. Este artigo pretende discutir formas de viabilizar a inclusão de portadores de deficiência mental nas escolas, tentando superar o estigma que ao qual são submetidos esses alunos.

2 DEFICIÊNCIA MENTAL

A prática da terapia ocupacional com a população com deficiência mental, vem mostrando que, apesar de haver um prejuízo intelectual, há, em contrapartida, a possibilidade de construção de um cotidiano que se estabeleça através dos significados e desejos (Matos, 2008). As habilidades que emergem do desejo de realizar do indivíduo, obriga-o a ocupar um outro papel na comunidade. Nessa perspectiva, o indivíduo com deficiência deve ser visto não como incapaz, mas como um indivíduo com especificidades e a deficiência vista como condição e não como doença.

Para Winnicott (Matos, 2008), saúde significa integração, isto é, na saúde o indivíduo encontra-se integrado, habitando o próprio corpo e sentindo que o mundo é real. Em sua visão, o autor acredita que fatores ambientais e pessoais devem ser considerados, priorizando a constituição da experiência a partir da relação com o outro. Concebe a criança em constante troca com o ambiente, entendendo que ela se desenvolve e amadurece no encontro com o outro humano.

A deficiência, a partir desse ponto de vista, passa a ser concebida como parte integrante do psiquismo desse indivíduo e deve ser considerada nesse contexto. Sendo uma condição constituinte do indivíduo que a possui, ele terá experiências somáticas peculiares e seu psiquismo terá como base essas vivências. Desse modo, aqueles que possuem alterações no tecido ou no funcionamento cerebral desde o nascimento, terão seu psiquismo construído a partir dessa condição.

3 INCLUSÃO ESCOLAR

 Na educação, o processo ensino-aprendizagem ocorre na mesma área em que o brincar acontece (Matos, 2008) – o espaço potencial – assim como os processos de socialização que intermediados pelos fenômenos transacionais facilitam a passagem do mundo familiar para a cultura mais ampla. A escola é um espaço aberto, um espaço de criação, um lugar privilegiado de trânsito entre criação e tradição. Porém, esse espaço deve ser compreendido não como espaço físico, mas um espaço de possibilidades que se estabelecem a dois: professor e aluno.

Ao participarmos de processos de inclusão escolar, percebemos que ao inserirmos essa criança na escola não estamos, obrigatoriamente, incluindo-a (MPF, 2008). Muitas vezes, no cotidiano escolar, ela vivencia situações que a excluem das relações que se desenvolvem nesse cotidiano. O resultado, em geral, é o afastamento, o não compartilhar e o sentimento de estranheza que a acompanha. Assim, a escola em sua prática acaba por cristalizar a marca de deficiente, contribuindo para sua constituição como indivíduo deficiente.

Nesse sentido, faz-se necessário pensar em intervenções que proporcionem à criança realizar seu desenvolvimento escolar cognitivo, para que possa atuar no mundo de forma singular e criativa, possibilitando a emergência de sua subjetividade. É papel da escola participar da ampliação e enriquecimento do espaço potencial, oferecendo material cultural de forma que o aluno possa se apropriar dele de forma criativa e singular, preservando sua identidade pessoal e grupal.

Para Winnicott (Matos, 2008), a criança em seu processo evolutivo, afrouxa os laços da dependência familiar e passa a integrar a sociedade global e a apropriar-se da herança cultural, devendo o ambiente provê-la nesse sentido. Mas quando o ambiente é repetidamente insuficiente e invasivo, obriga essa criança a reagir e substituir seu gesto espontâneo pela submissão, adaptação e imitação. A escola, como ambiente, deve sustentar a continuidade do processo evolutivo de cada aluno, pois as experiências vividas na escola se somam e ressignificam experiências de histórias passadas da criança, influenciando na sua auto-expressão e interação com a cultura.

A escola, embora não seja o único espaço, é o lugar favorável, por excelência, para promover o aprendizado formal. Porém, o papel que a escola desempenha não se restringe apenas aos processos formais de ensino-aprendizagem, mas se constitui um importante espaço de trocas, agenciamentos de transmissão de valores sociais e culturais e, portanto, é um espaço onde a desmistificação da deficiência pode ocorrer de forma concreta.

4 CONCLUSÃO

O ambiente escolar apresenta um estímulo à competitividade, à negação das diferenças e uma tendência a valorizar a homogeneidade, enfim, a escola requisita o aluno ideal e realiza suas ações para atender a esse aluno idealizado. Não há espaço para ser diferente e único, para estabelecer um diálogo com a diversidade. Quando se fala de um sistema de ensino inclusivo, é necessário falar de uma mudança de comportamento, atitudes, valores e conceitos.

Os processos de inclusão escolar são viáveis, mas merecem um olhar cuidadoso para as práticas e para as relações que se estabelecem no cotidiano escolar em relação ao aluno com deficiência mental. A inclusão escolar desses alunos não se restringe a ocupar um espaço na sala de aula. Ela implica um processo de ressignificação da deficiência e do lugar que esse indivíduo ocupa na sociedade.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MATOS, E. A. Deficiente Mental: Integração, inclusão e exclusão. Disponível em: http://www.hottopos.com/videtm13/edna.htm. Acesso em: 11 de nov. de 2008.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF). Elementos para a inclusão. Disponível em: http://www.prgo.mpf.gov.br/cartilha_acesso_deficientes.pdf. Acesso em: 11 de nov. de 2008.
Autor: Augusto dos Santos Freitas


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