A Educação Indígena Xacriabá e a Memória e História, Mostrada nas Representações Elaboradas pelas Crianças



RESUMO

O presente estudo versa acerca da construção da nova identidade dos povos indígenas Xacriabá, do norte de Minas Gerais, próximo à cidade de São João das Missões, antiga redução jesuítica. As influências católicas e protestantes é temática central para a construção da memória dos índios e, por isso, estão presentes constantemente na fala e nas representações indígenas. Entre as representações indígenas optamos por estudar as elaboradas pelas crianças Xacriabá, a nova geração. Por meio desse imaginário pode-se compreender melhor como os próprios índios percebem e constroem sua história, com seus interesses e ideologias. Os Xacriabá inserem-se nesse grupo de adaptado a uma nova realidade e mantêm aspectos de sua cultura, religião, preservando desse modo aspectos de sua historia tradicional, é notório, que na educação escolar os Xacriabá conservam aspectos da língua tradicional, visto que são ensinados vocábulos dessa língua para as crianças indígenas e também a língua portuguesa.

Introdução

Os primeiros olhares sobre os índios são delineados no século XVI, com o início do povoamento da costa litorânea brasileira a partir, principalmente, do Nordeste. Já na nossa "certidão de nascimento", a Carta de Pero Vaz de Caminha, os ameríndios têm lugar de destaque. No entanto, os portugueses já demonstram a dificuldade de reconhecer a identidade desses povos. O estranhamento é a tônica do relato:

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. (...) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma.[1]

Uma das coisas que mais chamou a atenção dos portugueses era a relação "natural" dos índios com a sexualidade; porém, para os lusitanos isso só mostrava o nível de barbárie dos indígenas:

Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.[2]

A citação acima de Pero Vaz de Caminha faz a primeira descrição acerca dos gentios brasileiros. Posteriormente, o historiador e cronista português Pero de Magalhães Gândavo os descrevem como promíscuos preguiçosos e violentos.

O devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha. (...) [A língua que usam] carec "São mui desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvera razão de homens, ainda que todavia em seu ajuntamento os machos com as fêmeastêm e de três letras, convém a saber, não se acha nela  F, nem L, R, coisa digna de espanto, porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei." (...)"Em cada casa dessas [aldeias] vivem todos muito conformes, sem haver nunca entre eles nenhuma diferença; antes são tão amigos uns dos outros que o que é de um é de todos, e sempre de qualquer coisa que um coma, por menor que seja, todos os circundantes hão de participar dela."[3]

Nota-se uma tendência etnocêntrica nas primeiras abordagens sobre os indígenas. De acordo com Varnhagem[4] os índios são "povos na infância, não há história; Não há etnografia." Almeida[5] ressalta que a fala de Varnhagem foi bem aceita pela historiografia brasileira, na qual os índios têm tido participação inexpressiva: aparecem, grosso modo, como atores coadjuvantes, agindo sempre em função dos interesses alheios.

Nesse sentido, este estudo versa acerca da história recente desse povo indígena. Através de uma discussão bibliográfica renovada mostram-se alguns aspectos da identidade, educação das novas gerações da aldeia, estudo das representações das crianças indígenas. A fonte trabalhada foi elaborada e publicada pelos próprios índios. O material aqui analisado foi o primeiro a ser produzido por eles.

O período de delimitação deste estudo restringi-se ao período em que foram elaboradas as representações das crianças indígenas, ou seja, no ano de 2005.

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Autor: Márcio Carvalho C. Ferreira


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