Crise Financeira Global



Ivanildo S. da Silva.

Não sou economista, mas estou (devido também a profissão), a algum tempo lendo e prestando atenção no que está acontecendo com a economia global. Existem inúmeros artigos por aí que explicam o que está acontecendo, mas poucos falam de uma maneira clara e simples para que todos nós, meros mortais, entendam o que está acontecendo de fato. Vou tentar explicar de uma maneira mais simplória o que aconteceu para dar todo esse alvoroço na economia mundial.

Crise imobiliária

Tudo começou com a crise imobiliária dos EUA. Essa crise começou por lá porque os bancos estavam oferecendo muito crédito imobiliário, incentivando muito o setor. Só que não exigiam muita análise dos clientes, achando que bastaria cobrar juros mais altos para se proteger da inadimplência e aumentar seu lucro. Só que o tiro saiu pela culatra…

Como existia muito crédito na praça, os americanos foram às compras felizes e contentes porque estavam adquirindo a sua casa própria. Só que com isso, o preço dos imóveis subiu muito e chegou ao ponto que imóveis que originalmente valiam US$ 80 mil estavam sendo vendidos por US$ 200 mil.

O que aconteceu? Desgostosos por pagar preços exorbitantes nos imóveis e nos juros da sua hipoteca, os americanos começaram a deixar de pagar aos bancos. Mas isso ainda não é o maior problema, o problema é que isso não aconteceu apenas com alguns casos isolados, foi em massa.

"Mas os americanos pararam de pagar as suas hipotecas só por causa disso?"

Não. Os bancos não ofereciam crédito apenas para compra de imóveis. O crédito era oferecido para tudo, incentivando o consumo em diversas áreas. O problema é que isso aumentou muito o endividamento e as pessoas acabaram por muitas vezes não conseguir pagar suas dívidas.

Como a inadimplência estava crescendo assustadoramente, os bancos começaram a sentir falta de dinheiro entrando. Dinheiro esse que, inclusive, já contavam para várias outras operações financeiras. Esses empréstimos que os bancos fizeram são considerados por muitos um tipo dos chamados "ativos podres".

O que é um ativo? E um passivo?

Existem inúmeras definições para esses termos, mas simploriamente falando, um ativo é alguma coisa que dá dinheiro para uma determinada pessoa enquanto o passivo o tira. Por exemplo, se você tem uma casa e a aluga por um preço maior do que o que você gasta com impostos e manutenção, essa casa é um ativo. Quando você tem uma casa e não a aluga ou a aluga por um preço mais baixo que o que você gasta com impostos e manutenção, você tem um passivo.

Por isso que os bons economistas não consideram a casa própria um ativo, tal como muitos gerentes de banco dizem. Já imaginou o quanto se gasta para manter uma casa em "ordem?".

O monstro chamado recessão

Muitos estão falando em recessão. Você sabe o que é isso?

A recessão acontece quando há uma grande diminuição no crescimento econômico de uma determinada região ou país. Os resultados são devastadores e incluem a diminuição do salário dos empregados, redução da produção de produtos e serviços, desemprego, etc. Com isso, os países que estão com problemas, diminuem seus investimentos em outros que diminuem suas relações de importação/exportação com outros, e o "efeito dominó", expandi-se por todos os cantos do planeta.

Um exemplo: fisicamente Japão e EUA estão a milhares de quilômetros de distância, mas o país que mais importa a tecnologia japonesa em todo o mundo é os Estados Unidos. Por outro lado, o Japão é o terceiro importador dos serviços estadunidenses. Já imaginou os resultados desta crise? Isso se chama globalização. Ou todos ganham juntos ou todos perdem ao mesmo tempo.

A única saída é vender as reservas de dólar por um preço acima do normal e tentar convencer o Parlamento Brasileiro (Senado + Câmara Federal) a aprovar medidas que beneficiem os investidores. O que por sua vez, beneficiará a médio e a longo prazo, a todos nós, metrópoles e colônias.

Pense na grande quantidade de dinheiro americano que entra no Brasil (via UNESCO, FMI, BIRD, Banco mundial etc.), e que dependem da valorização das ações dos responsáveis pela manutenção dessas instituições.

"E agora? Nós brasileiros, estamos em recessão?"

O governo diz que não, mas alguns economistas afirmam que muitos países já estão em recessão. Tecnicamente falando, a recessão acontece quando o PIB de um país diminui por dois meses consecutivos e o Brasil ainda não se encaixa nesse quadro.

Mas já estamos correndo o risco de completarmos este período, caso as medidas tomadas pelo governo não seja eficazes.

Mas como nada se faz existir sem precedentes, observe os pontos a seguir, pois do meu ponto de vista, eles ajudarão na compreensão da atual crise.

Origens da Crise

Podemos considerar o capitalismo um regime que oficialmente foi implantado á partir de finais do século XVIII, após a "Era das Revoluções". Atravessou alguns momentos de angústia representada pela Iª guerra Mundial e a Revolução Russa de 1917. Mas, a crise de 29 responde pelo seu derradeiro teste de sobrevivência.O primeiro momento real de crise do capitalismo.

Do século XIX até início do século XX, a economia mundial tinha seu eixo de importância na Europa. Países como Inglaterra, França, Alemanha e outros comandavam as decisões econômicas, estabelecia estratégias financeiras, controlava mercados consumidores, monopolizava fontes de matérias primas, ditava preços e prazos. A libra esterlina era a moeda de troca internacional. Ali estava reunida a fortuna do mundo.

Mas, já no início do século XX, crises, conflitos e vaidades políticas prenunciavam tempestades no horizonte, nem sempre azul. Os países europeus, por não conseguirem conciliar interesses, acabam por se envolver num confronto mundial que, praticamente, pôs fim a essa "Belle Époque".

O país mais beneficiado foi os Estados Unidos. Já na virada do século, quando os ânimos entre os países europeus se acirraram, os americanos do norte aproveitaram-se da situação para se infiltrarem nas regiões sul e central da América e, gradativamente, conquistar certo predomínio econômico nessas regiões, conquistando mercados e substituindo os europeus na exploração econômica da América latina.

Veio a guerra, e mais uma vez, vantagem para os Estados Unidos. Os países europeus em guerra voltaram sua produção para a indústria bélica e farmaceutica diminuindo a produção de bens de consumo geral. Produtos manufaturados americanos eram exportados em massa para o mercado europeu.

Em 1918, Terminada a guerra, novamente a presença americana é flagrante. Empréstimos e mais empréstimos são contratados pelos europeus visando à reconstrução dos países destruídos.

Esses fatores condicionaram aos EUA uma prosperidade sem precedentes. Um período de grande abundância gerou uma idêntica euforia social. Os empresários americanos nadavam em capitais. Exportava também o "modelo de homens de negócios", o Self-made-mam. (o homem pronto ou o profissional flexível, tolerante, pau pra toda obra).

Aquele empreendedor, que, saindo das camadas humildes da população, competentemente prosperou. Toda essa riqueza gerou, nos EUA, um novo ideal de vida ou um novo estilo de vida americano, o "american way of life". Euforia total, alegria geral, contagiante entusiasmo. Mas... breve e de presságios fúnebres.

A Crise

Por volta de 1929, a festa terminou numa violenta crise econômica que abalara todo o alicerce da economia mundial. A produção cresce, o consumo diminui, a bolsa de valores quebra, as indústrias entram em bancarrota e a miséria impera.

Com final da primeira Guerra, o EUA passam por um "boom" econômico. Empresas industriais e agrícolas proliferam e desenvolvem-se. Grandes conglomerados de empresas com capital aberto se tornam comuns. As Bolsas de Valores tem movimento fora do comum e a especulação com ações é o grande atrativo do momento.

Oferecia-se enriquecimento imediato e fácil a quem adquirisse ações. Eram ações de companhias de seguros, agrícolas, minas, grandes supermercados, bancos, etc. Todos e de todas as classes sociais praticavam esse "esporte" financeiro, empregando nisso todas as suas economias.

Essas empresas fartamente capitalizadas produzem cada vez mais para atender, tanto o mercado consumidor americano, como o mercado europeu e latino americano, gerando, com isso, uma superprodução de mercadorias. Mas, se existe mercadorias em excesso, segundo a lógica do mercado capitalista, não existe inflação. Se não existe inflação, não há necessidade de aumento de salários.

Todos nós sabemos, por experiência própria, que ausência de inflação é uma grande mentira. Afinal, as instituições encarregadas pelo cálculo da inflação são controladas pelo governo que tem interesses em demonstrar um equilíbrio financeiro de suas administrações. Com objetivos de manter a população alienada a verdade.

Por isso, os resultados são camuflados e maquiados. E isso ocorre em todos os lugares e em todos os momentos da história. Os EUA, a par de todo seu desenvolvimento, não era e nem é, diferente. Poderia, segundo os cálculos não haver inflação, mas, os salários a cada dia perdiam seu poder de compra e a população consumia cada vez menos provocando um subconsumo.

Repercussão

Paralelamente, nessa altura do "campeonato" os europeus vinham, gradativamente, recuperando sua economia e, lentamente, diminuindo as importações de produtos americanos, o que reflete no problema de subconsumo americano.

Essa diminuição no consumo de produtos americanos, paralelo á produção em excesso produz uma equação inexeqüível e indeterminada: superprodução "versus" subconsumo. Como resultado, as mercadorias em excesso eram estocadas. As empresas tiveram que diminuir a produção, os lucros comprimiram. Os dividendos não tão atraentes.

Gradativamente, as pessoas começam a se desinteressar pela posse de ações e tentam se livrar desses ativos financeiros. Os preços destas começam a cair, a oferta aumenta e o pânico a contaminar quem as possuía.

Por fim, numa Quinta feira, fatídica, 05 de setembro do ano em curso, a Bolsa de Nova Iorque (principal do país), ultrapassa seu recorde, oferecendo milhares e milhares de ações para venda. Os valores despencam a quase zero e a bolsa sofre a maior queda, depois da quebra de 1929. E com os EUA, o mundo inteiro entre em crise.

Espero ter ajudado-lhe a compreender o caos econômico que estamos vivendo.

Boa leitura!


Autor: Ivanildo Severino da Silva


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