O HOMEM DO SERINGAL



O HOMEM DO SERINGAL

 

               Caminha o seringueiro com sua bugiganga nas costas, bota de borracha, cantil de lado, percorrendo o mais temível sertão brasileiro, ora percorrendo Mato Grosso, ora transpassando o Amazonas ou caminhando em terras do Pará. Sua mudança é uma rede, uma mala e um chapéu. Sua empresa – a floresta, sua atividade, a borracha, seu lar, duas árvores onde arma sua rede, sua música – o cantar dos pássaros.

          As florestas, as macegas, os espinhos, os insetos vão saindo de sua estrada respeitando aquele forte homem brasileiro que, graças ao seu punho de ferro existe o progresso de um planeta inteiro. Graças a ele temos várias indústrias de borracha entre as quais as de pau-a-pique.

          A borracha é uma planta nativa do Brasil  - lugar onde ela foi encontrada pela primeira vez. Somente no Brasil existia a seringa que foi um dos primeiros produtores mundiais, mas a inveja foi tanto que perdemos a primazia para os invejosos. Não tem importância, pelo menos temos a dignidade de dizer que a borracha é brasileira. Se existe em outros países é porque carregaram as sementes de nossa pátria.

          Os principais produtores de borracha são o Amazonas, Pará e Mato Grosso. A qualidade mais importante é a seringueira, também a mais abundante na Hiléia brasileira, no inferno verde amazonense, sendo que Mato Grosso possui grande parte dessa área.

          Os seringueiros, no tempo adequado, juntam seu material e se mandam para as florestas. Em cada seringueira fazem um corte e colocam o copinho. Deixa-se passar uns dias até o copo encher e depois é retirado e levado para casa onde é defumado e colocado em grandes barras de onde vão para as indústrias.

          Segundo a professora Janete Cerqueira da UFMT em seu livro “Mato Grosso”, existe beneficiamento em Várzea Grande, porém grande parte ou a maioria da borracha vai para São Paulo para a apuração e devido aproveitamento para as indústrias.

          Um dos meios utilizados no Amazonas é a canoa, porém há quem jogue a borracha na água e outros a retiram lá embaixo, mas este meio quase nem mais existe devido a grandes furtos.

          A coleta do látex é perigosíssima porque a floresta é muito vasta e espessa, além de possuir diversos tipos de doenças e insetos.

          Em Mato Grosso, por exemplo, uma das feras mais terríveis é a cobra surucucu e também a cascavel que, geralmente leva o seringueiro ao buraco. No caso de doença, apesar dos esforços da federação, o problema da malária ainda vem afetando muitos seringueiros. Quanto a insetos ainda predomina e predominará por muitos anos os pernilongos, formigas, sapos e o que eles chamam de “porvinha” que atormentam o dia inteiro.

          O que os seringueiros mais reclamam são de seus próprios companheiros. Eles dizem que muitos roubam as canecas com o látex numa ganância de querer apanhar mais, além disso não se pode falar nada que eles se zangam.

          Os seringueiros, com o tempo, começam a fabricar objetos de borracha para uso. É assim que eles fazem a bola, o saco de bagagem, a bolsa e a cama, além de outros objetos.

          O duro mesmo é enfrentar as matas todos os dias carregando enorme peso nas costas – a borracha, que significa o mesmo que carregar o progresso dos povos em seus ombros, pois dali saem vários artigos industrializados. A missão é árdua e a luta é constante.

          Em sua pequena vila, o seringueiro quase sempre mora sozinho, pois é perigoso para a família no mato, sem nenhum conforto.

          Em Cuiabá existem muitos seringueiros, porém se adentram no serão mato-grossense a procura do látex.

          E ele sobe morro, desce morro, percorre rios, atravessa picadas, transpassa sertão até chegar num pé de seringa, a sua alegria, a sua riqueza. Aí então ele fixa seus copinhos e continua a jornada e de pé em pé, de parada em parada percorre todo o sertão.

          Dificilmente um seringueiro se habituará numa cidade, pois ele se acostumou com o silêncio da mata, o ar puro, o frescor da floresta, as gotas de orvalho, os barulhos dos rios, o cantar dos pássaros e a seringa mãe-amiga.

          A partir do rio Novo próximo a  br 163 já começa os seringais. Um dos seringais mais perto de Cuiabá fica nas proximidades do rio Novo, município de Diamantino a 196 km de Cuiabá. Os seringais mais explorados da região norte de Mato Grosso são os que ficam no rio do Sangue, Juruena, Aripuanã e Teles Pires.

          Os seringueiros trabalham exclusivamente com a borracha, porém alguns praticam uma pequena agricultura de subsistência.

          Importante comentário a respeito da borracha foi dado por um seringueiro do Rio do Sangue. Segundo este seringueiro, senhor Sinfrônio Cândido da Silva, as colheitas são da seguinte maneira: o campo de trabalho é a floresta onde a seringueira existe como também o caucho e a mangabeira que somente é nativa nos campos. Na floresta cortam-se três picadas (estradas). No primeiro dia furam-se os “Painéis espirais” nas árvores duma estrada, no segundo dia faz o mesmo na segunda estrada e no terceiro dia idem. Findo este dia, recolhem-se os copos que foram colocados no primeiro dia e idem ao segundo e ao terceiro. O painel espiral é furado com um instrumento chamado “alegre”. Os copos são adquiridos através do banco da Amazônia – o banco da borracha. Recolhido o látex das três picadas a borracha é colocada no coxo e apertada para ficar em forma de barras. As barras são transportadas por barco e posteriormente por caminhões.

          O seringueiro trabalha por safra que varia de 5  a 7 meses. Neste meio, um seringueiro retira entre 500 a 1000 quilos de borracha que são vendidos a razão de R$ 3,50 o quilo, quantidade bem pouca em virtude dos trabalhos do seringueiro que arrisca sua vida nas lutas contra feras, doenças e índios. Além disso ainda paga 5% para o dono do seringal.

          A maior parte da borracha é vendida em São Paulo, segue de Mato Grosso a borracha “laminada”.

          As feras mais perigosas são as cobras e as onças.

          No período da chuva é impossível a colheita da borracha uma vez que os copos enchem de água.

          Nos seringais é quase impossível a fixação de famílias, pois faltam todas as espécies de conforto.

          Os seringueiros de hoje estão sendo muito marginalizados em virtude da incompreensão e furtos por parte dos patrões que logo ficam ricos às custas do seringueiro.Já pensou um seringueiro trabalhar seis meses para ganhar três mil reais? Mas o homem se acostuma na sua vida que segundo ele é muito divertida. Tem o frescor e o ar puro da floresta, a beleza natural, as lindas quedas d’água, o cantar dos pássaros. Ele se acostuma tanto que não se habitua mais à cidade.

          Os patrões deveriam ter um pouco mais de consideração para com o homem do seringal, aquele homem que traz em suas mãos o progresso de uma região.

          Os anos vão passando e o forte homem da selva continua na sua labuta incansável de mata em mata, de rio em rio a procura do líquido branco.

          Como o café, a seringueira deveria ser um símbolo da árvore da floresta, assim como o café é o símbolo do seu plantio no Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Autor: Henrique Araújo


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