Crônica do Início, do Meio e do Fim



Discreta, como uma partícula que compõe uma molécula. Menor do que um átomo e mais forte que a força mantenedora dessa união nuclear, provendo a multiplicação, a replicação que tão logo faz surgir novos 'parceiros" de caracteristicas singulares: um líquidozinho denso e vermelho aqui; um gás sem peso, cor ou tamanho acolá; e quando menos se espera o que era mudo adquire sons, não gritos, sinuosos como se tivessem saídos de uma opera cômica de Chaplin, não sendo o motor da engrenagem e sim somente mais uma válvula.

Em meio a esse balé corpóreo é possível sentir algo que ninguém vê mas que está presente: simples momentos, sensações e virtuosidades que chamamos abstrações do inconcreto, ou melhor sentimentos. Estes fazem parte de um grande reino chamado corpo humano povoado apenas de carnes e abstrações, os súditos, e governados por uma consiencia, o rei.

Ela me faz parar e observar por uma janela aquilo que chamamos de movimento, continuo e podendo ser acelerado ou retardado mas um fator determinante de um abstrato insano chamado tempo. Por mais que adentramos sua linha menos deixamos vestígios, ou observamos por onde ela passa ou nos preocupamos para onde ela leva; somos da geração do continuo , os não contempladores da vida. As vezes penso que isso ocorre apenas por eu estar em um grande épico de Cecil B. Mile e que as 3 horas de lutas, derrotas, e conquistas equivaleriam à uma vida inteira. Mas o espelho é um pouco mais cruel e quando me pego através dele somente quando consigo diminuir meu ego e minhas preocupações é que a distancia entre nós fica suficientemente boa para que nele eu me reflita puramente, e assim o filme parece se enlargar a cada dia e ali nesse momento o mais abstrato de todos os momentos de um ser pode acontecer, no instante em que ele se vê pacientemente e observa que a cada segundo passado ele esta mais diferente, mudado, envelhecendo e então em êxtase momentâneo parece que posso ver as rugas e as rusgas
da vida, todos os amores e tragédias descem por uma linha que sai de meu olho: a lágrima da constatação, estou ficando velho.

Os filmes por outro lado não são atingido por esse fator, ainda que sua mensagem possa parecer antiquada em uma certa época a magia e a paixão de se contar uma história nunca morrerá naquela película, talvez ali estejam os homens que conseguiram concretizar o abstrato. Mas na vida só o "cheiro da morte" talvez possa nos mostrar o quanto é surreal existirmos para acompanhar nosso martírio que um dia chegará, tamanha é a complexidade do reino de nossa existência.

O fim sempre nos faz pensar o que restou no meio, e esse talvez seja o motivo de chegarmos ao fim mais conscientes de que passamos momentos concretos nessa caminhada. A retórica de viver pensando em deixar um recado tornaria-se um erro pois lembranças como varias outras coisas não são impostas mas sim deixadas, conquistadas, adotadas por aqueles que por elas passaram. No entanto seria simples demais não pensar que ao menos um amor ficará marcado, uma viajem, um almoço, um sorriso. Em se tratando de vida quanto mais complexa uma se torna, mais simples a morte termina, e a dor pode vir apenas pela complexidade do amor da vida se tornar a simples mudança de estado que talvez seja a morte.
Autor: Phelipe Fabres


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