O Mundo Burguês



No texto retirado do livro "Era do Capital", do historiador Eric Hobsbawm. O título do capítulo 13, "O mundo burguês", não poderia ser mais oportuno e revelador. A sociedade burguesa é mostrada como um mundo à parte, onde o sucesso de seus membros era mostrado pelas roupas e casas sempre decoradas com esmero. Onde não bastava apenas pertencer à burguesia, tinha que demonstrar esta condição principalmente através do vestuário: "um burguês típico!", usava sempre as roupas certas. Outra forma de demonstração de status era a casa burguesa, onde era personificado o ideal de vida feliz e próspera. Como um contraponto ao outro mundo de fora (onde nem sempre o patriarca exercia o devido poder), mas dentro de casa em relação à família ele o exercia inconteste. Em alguns outros recortes do outro mundo, feito para a burguesia, também era obedecido o mesmo padrão de decoração esmerada. Beleza significa antes de tudo, um merecimento para o burguês e o que, os diferenciava como classe abastarda.

Outras revelações dizem respeito à moralidade, principalmente sexual usada pelo burguês, mas não seguida na prática. Que moralidade ambígua seria essa?

Uma moralidade extraída da "Era vitoriana", (fase de luto da Rainha Vitória, após a morte do príncipe Albert). Que se caracteriza por um código de conduta extremamente rígido. Com a supervalorização da castidade para moças, fidelidade canina ao marido, percebe-se que esta conduta moral valia apenas para mulheres. Ficando os homens a se comportarem de forma hipócrita como defensores da moral, mas que nos momentos ocultos deixava de existir. Este tipo de moral dúbia, era até certo ponto incentivada nos países católicos. Nos países protestantes a boa conduta moral era obrigação de ambos os sexos, mas isso não impedia a hipocrisia reinante. Mas de fato no protestantismo, deslizes eram menos tolerados, ocasionando mais tormento pessoal.

Mas tanto no relato de Eric Hobsbawm, quanto no relato de Marilena Chauí, evidencia-se que esta repressão à paixão física, tinha por objetivo impedir a divisão da herança. Bem como impedir outras formas de perdas no âmbito do capitalismo ideológico burguês.

"A família burguesa é um contrato econômico entre duas outras famílias para conservar e transmitir o capital sob a forma de patrimônio familiar e de herança (mantendo a classe)".Marilena Chauí- em O que é ideologia Pág.44

Hobsbawm faz também um breve relato sobre as relações familiares. Onde a mulher era um ser encorajado a se comportar como um mero objeto da casa, limitado apenas a agradar o marido, educar as crianças e principalmente dar ordens aos empregados. Sem falar nas filhas da burguesia que eram convertidas como barganha de troca. Costume este duramente criticado por Karl Marx no "Manifesto do Partido Comunista"

Outra questão muita bem demonstrada no texto diz respeito à participação dos burgueses na política e na vida pública. E como requisito básico deveriam ter diploma de direito (fato comum a cargos públicos no Brasil). E que os burgueses era antes de tudo pessoas que utilizavam o poder da influência. Faz-se ouvir pelo poder do dinheiro e tinham modos de ação diferentes das massas. Quando queriam algo, ou estavam em apuros, falavam direto com o "dono dos bois", sempre demonstrados é claro o seu sucesso e capacidade em ter muito dinheiro.

Esses fatos com certeza ajudaram a construir o mito da superioridade genética da burguesia. Seres, ou porque não dizer uma espécie evoluída, fadada a explorar as raças inferiores que não tinham outra alternativa a não ser trabalhar com satisfação.

O comunismo, como relata Eric Hobsbawm ameaçava o direito de mando e de propriedade de o burguês fazer o que bem quisesse do trabalhador. É lógico, se não houvesse tido conquistas trabalhistas, os patrões não teriam pudor nenhum de sugar dos trabalhadores até a última gota de sangue.

É louvável para não dizer assustador a tomada de poder da burguesia, e sua afirmação como classe hegemônica.

E o sentido é no mínimo de total ódio por perceber, que eles estão em todo lugar na política, na economia, no senso comum. Bombardeando tudo e todos com a sua ideologia torpe. Em seu texto Hobsbawm objetiva narrar aspectos do mundo burguês, mas o que fez foi narrar as permanências sob a ótica dos vencedores.


Autor: Andreia Lemes


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