EDUCAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UM OLHAR SOBRE A (IN)DISCIPLINA



INTRODUÇÃO

A justificativa proposta deste trabalho monográfico parte da temática: "A prática educativa nas séries iniciais do Ensino fundamental", sendo justificada pela minha escolha pessoal, dado que num futuro próximo, pretendo direcionar minha carreira para ser professora deste segmento da educação infantil. Assim, pretendo conhecer mais profundamente as estratégias de ensino voltadas para esta modalidade da educação básica.

Durante os estágios realizados no curso Normal Superior da UNIPAC, trocando informações com as colegas queatuam no Ensino Fundamental, senti necessidade de investigar e analisar a causa da indisciplina nestas séries. As nossas escolas estão vivendo momentos alarmantes, principalmente no que diz respeito à disciplina. Conseguimos verificar através de estudos que esta situação existia anteriormente, no entanto vem se agravando nos últimos tempos. Entendemos inicialmente que a disciplina é primordial, para que haja uma aprendizagem satisfatória, conduzindo o aluno a participar com respeito e colaboração para com seus colegas e professores.

Por outro lado, nas séries iniciais do Ensino Fundamental o professor precisa ministrar aulas mais prazerosas e interessantes, capazes de, pelo menos, diminuir o problema que vem prejudicando a educação nas escolas.

A problemática norteadora desta pesquisa parte da necessidade de buscar respostas à questão:"Por que ocorre o processo de indisciplina nas séries iniciais do Ensino Fundamental?".

Os objetivos apresentados nesta pesquisa são: verificar a carência de normasbásicas de relacionamento entre alunos e professores nas séries iniciais do Ensino Fundamental, com olhar voltado para o fenômeno da indisciplina nas salas de aula, analisar formas de promover os valores humanos nos alunos e, numa fase posterior, estudar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) paraorientar quanto aos direitos e deveres.

Sugerimos as hipóteses a serem analisadas no decorrer do estudo, as quais são: o exame acerca da disciplina é essencial à aprendizagem, a indisciplina pressupõe falta de entendimento de regras comuns por parte dos alunos e o professor não sabe conduzir os conflitos de relação professor-aluno.

A metodologia utilizada foi apesquisa bibliográfica em livros, revistas; base de dados da internet, textos da área de educação, e finalmente, o questionário, onde foram realizadas entrevistas com 08 (oito) professoras, daquele universo profissional, a fim de coletar dados sobre o tema proposto nesta monografia.

O questionário com declaração/autorização, para as professoras, constando de 05 (cinco) perguntas, foi elaborado de acordo com o assunto abordado (anexo). Dentre as 08 (oito) professoras entrevistadas,foram escolhidas 05 (cinco) para a exposição dos resultados da pesquisa de campo, sendo 01 (uma) da rede particular e as outras04 (quatro) da rede municipalde ensino, enfocando as séries iniciais do Ensino Fundamental (1ª a 4ª), em que pude observar crianças na faixa etária de 0 a 12 anos de idade, sujeitos dos estágiosque realizei.

Entende-se pela experiência pessoal, que os aspectos indisciplinares na sala de aula advêm de fatores que refletem as dificuldades sociais pelas quais passamos na atualidade e que colaboram com as dificuldades disciplinares na escola. Observamos, também, a gravidade e a complexidade da situação dos professores, os quais, muitas vezes, suprem deficiências familiares dos alunos, extrapolando o próprio universo profissional.

Os recursos metodológicos cabíveis que me foram possibilitados foram usados, pois estou cursando o 6º período do Curso Normal Superior da UNIPAC, e este, é o primeiro trabalho de conclusão de curso que realizo.

A pesquisa focou-se no estudo bibliográfico de autores, que tive acesso, especificamente: Ana Jover (1988), Ângela M. Brasil Biaggio (2005), Celso dos Santos Vasconcelos (1994), Içami Tiba (1996), Ives da La Taille (2004), Jacqueline Stubert (2004), Jean Francisco Ribeiro de Lima (2004), José Carlos Libâneo Macedo (2005), José Sérgio F. de Carvalho (1996), Júlio Groppa Aquino (1996), Laurizete Ferragut Passos (1996) Leandro Lanjoquière (1996) Maria Izete de Oliveira (2005), Jean Piaget, (2004) Vera Lúcia Câmara F. Zacharias (2006), que contemplam a temática proposta nesta monografia.

Desta forma, o corpo do trabalho que se segue aborda os capítulos construídos a partir do tema da Monografia, composto de: Capítulo I que fazuma reflexão conceitual teórica sobre a (in)disciplina nas séries iniciais do Ensino fundamental. O Capítulo II relata a abordagem inicial sobre a Educação nas séries iniciais do Ensino Fundamental através de uma revisão de literatura. O Capítulo III apresenta uma pesquisa de campo seguida de conclusão da abordagem analisada. E por fim, expomos as considerações finais que complementam este estudo.

CAPÍTULO I

REFLEXÃO CONCEITUAL TEÓRICASOBRE A(IN)DISCIPLINA

NASSÉRIESINICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Neste capítulo apresentamos o histórico da indisciplina nas séries iniciais do Ensino Fundamental, por considerá-lo importante para análise do tema ora proposto.

José Sérgio F. de Carvalho (1996), analisa qual o tipo de contribuição poderia dar um professor de Filosofia da Educação a um tema tão complexo como este e que, em nossos tempos, tem sido abordado bem mais freqüentemente, por todasas áreas.

O caminho mais comum à tradição dos estudos seria comentar as reflexões dos vários autores sobre a disciplina, uma vez que as questões a ela relativas, o hábito, regras e seu cumprimento ou transgressão, foram amplamente analisadas ao longo da história da educação e, muitas vezes, sob formas que ainda guardam interesse. Mesmo quando, sua ausência parece freqüentemente apresentar-se ao professor como algo imediato, urgente e concreto, com o qual ele lida cotidianamente.(CARVALHO, 1996).

Gostaria de evidenciar que, mesmo reconhecendo a relevância desse caráter prático do assunto, tampouco será esse o caminho aqui apontado e de propor uma outra forma de abordar a (in)disciplina dentro da sala de aula. Essa forma tenta esclarecer, através de alguns procedimentos canonizados pela Filosofia, certas noções que utilizamos em nosso discurso. Neste caso, as de disciplina e de indisciplina e suas relações com o ensino e a aprendizagem, a partir de seu uso na linguagem corrente e de suas manifestações concretas como práticas sociais. (CARVALHO, 1996).

A leitura da obra citada mostra a relevância do tema para o autor, relacionando-o com o ensino e a aprendizagem, a partir de seu uso na linguagem corrente e de suas manifestações concretas como práticas sociais.

Assim sendo, iniciamos nossa análise a partir das definições encontradas em um dos dicionários da língua portuguesa que registra o uso que fazemos do termo disciplina. O dicionário Caldas Aulete (1996), por exemplo, registra no verbete disciplina os seguintes significados: "1. instrução e direção dada por um mestre a seu discípulo... 2. submissão do discípulo à instrução e direção do mestre. 3. imposição de autoridade, de método, de regras ou preceitos... 4. respeito à autoridade; observância de método, regras ou preceitos. 5. qualquer ramo de conhecimentos científicos, artísticos, lingüísticos, históricos, etc.: as disciplinas que se ensinam nos colégios. 6. o conjunto das prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem resultante da observância dessas prescrições e regras: a disciplina militar; a disciplina eclesiástica." É interessante que, somente a última definição(6) não faz referência direta ao processo educacional, mas ressalta seu uso eclesiástico ou militar. (CARVALHO, 1996).

No entanto, justamente esta idéia de disciplina como "o conjunto das prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem", própria e oriunda de outras instituições sociais, onde a ordem e a hierarquia configuram-se como um modo de vida, é a que mais fortemente tem marcado a discussão sobre indisciplina por parte de professores e outros agentes escolares. (CARVALHO, 1996).

Pois esta é a definição que se aplica ao trabalho, já que este é o conceito de disciplina que fundamentam um processo harmônico de convivência nas relações sociais na escola.

Mas, é preciso ressaltar que, a idéia e os pressupostos de disciplina em um contexto da vida militar ou monástica são radicalmente distintos da idéia e dos pressupostos que regem sua utilização na vida escolar, embora nossas práticas escolares pareçam, muitas vezes, desconhecer essa distinção. Esta distinção não repousa no fato de que no contexto escolar não haja prescrições e regras (como veremos adiante elas existem), mas no fato de que, tanto no caso militar como no eclesiástico, falamos de um tipo de disciplina que implica um controle sobre o comportamento como um valor, onde a rigidez do hábito invariável centra-se em um único objetivo para cada instituição: ter uma força armada pronta para o conflito ou atingir a beatitude. (CARVALHO, 1996).

Apesar de serem "radicalmente distintos", estes conceitos fundamentam-se como básicos para a obtenção dos objetivos de cada instituição. No caso escolar, atingir o pleno conhecimento, que segundo Carvalho (1996, p. 129-38) "a escola, o emprego da palavra disciplina implica uma outra noção, menos fundada em uma ordem fixa e imutável de procedimentos comportamentais relacionada ao aprendizado das diversas ciências, artes ou demais áreas da cultura".

O próprio fato de chamarmos o currículo escolar de disciplinas, mostra a importância de destacarmos que a escola trabalha com disciplinas que exigem disciplinas, sempre no plural (procedimentos em face de seu objeto ou formas de abordá-lo que acreditamos ser mais eficazes ou próprias), reside no fato de que, freqüentemente, idealizamos uma ordem invariável - tal como a boa ordem da definição 6 - para o comportamento em sala de aula, como se o objetivo do processo educacional repousasse prioritariamente na fixação de certos comportamentos e não na transmissão e assimilação de determinados conhecimentos, habilidades ou atitudes, que eventualmente exigem certos tipos de comportamento e procedimentos como meios. (CARVALHO, 1996).

O fato é que a (in)disciplina é um ponto de abordagem do processo educacional; poderia ser outro – avaliação, metodologia, educador ou outra, caso a análise fosse mais ampla.

A trajetória para entendermos essa questão escolar consiste na explicitação dos vínculos entre os seus significados vernáculos de "área do conhecimento" e "comportamentos / procedimentos", que são próprios e específicos da relação escolar. Acredito mesmo que a crença de que exista um único tipo de comportamento chamado "disciplinado", é responsável por muitas das aflições que temos em relação à suposta indisciplina dos alunos. Agir disciplinadamente em um jogo de futebol, em um mosteiro ou em um laboratório requer não só ações diferentes, mas um espírito diferente até em relação às próprias regras. Numa dada situação, o silêncio pode ser fundamental; noutra, um entrave. (CARVALHO, 1996).

Para Carvalho, 1996 a disciplina é ordenadora e padronizadora do comportamento-alvo e valoroso em instituições eclesiásticas e militares. Mas, na escola, ela se vincula aos conteúdos que a demandam. Disciplina (derivada da palavra latina "disco", que significa "aprendo"), é a submissão do aluno-aprendiz às regras e à autoridade do mestre, aquele que inicia o discípulo em uma arte ou área de conhecimento.

A observância estrita das regras pode ser, por exemplo, no caso de um mosteiro, a razão para o êxito em relação ao objetivo. Mas para um cientista, ater-se obcecadamente às teorias e procedimentos anteriores pode significar o fracasso na descoberta de novas teorias ou modos de abordar o problema. Nesse sentido, a disciplina de um cientista não implica um comportamento de adesão irrestrita aos procedimentos de seus antecessores, mas uma adesão a um ideal canonizado que exige criação de métodos e técnicas. Uma prática científica disciplinada pode e deve conter ousadia e criatividade O mesmo é verdadeiro para a criação artística, onde ser um artista pressupõe um esforço constante de ousadia e criação, o que não se espera de um monge. O que significa, pois, o reforço das definições 3 e 4 do dicionário, o respeito ou a imposição de regras, métodos e preceitos. (CARVALHO, 1996).

Ocomentário de Carvalho (1996) reforça a idéia de que disciplina vincula-se aos conteúdos demandados pela aprendizagem de um tema qualquer, não seguindo uma regra padrão de conformidade.

Nesse sentido, a ação disciplinada é freqüentemente um saber-fazer e não um saber proposicional; é um tipo de ação e não a posse de um discurso. Transferindo-se estas idéias para uma sala de aula, a disciplina não necessariamente precede de forma discursiva o trabalho, mas concretiza-se nele. Tanto a atividade do professor, que é o ensino, como o do aluno, que é a aprendizagem, só são possíveis porque há uma ação em alguma medida metódica e regrada, portanto disciplinada, mesmo que permeada por comportamentos que não sejam imediatamente identificados com a boa ordem. (CARVALHO, 1996).

A palavra "regra" pode, entre outras funções, expressar a idéia de um regulamento tácita ou explicitamente formulado, através de proibições, exigências e permissões (como as de trânsito, as de um jogo ou dos estatutos de um clube); pode expressar instruções (como as regras para o uso de um aparelho) ou, ainda, preceitos morais e religiosos que visam guiar a ação de um indivíduo (como os mandamentos bíblicos). Também no que diz respeito à noção de método, é preciso uma certa precaução provavelmente ainda maior do que em relação ao termo "regra". Talvez em função do uso difundido da expressão "método científico", popularizou-se a idéia, completamente irreal, de que método seria simplesmente uma aplicação seqüencial de procedimentos fixos e mecanizados, ao final dos quais obteríamos o resultado esperado. (CARVALHO, 1996).

Método é forma de fazer, baseada em regras, procedimentos, arte e engenhosidade e, até mesmo, nas "manhas do ofício", pois já caíram no gosto das respectivas comunidades de praticantes de qualquer ofício ou arte, como formas interessantes de trabalhar.

Uma vez que qualifica seu possuidor como metódico e seguidor de certas regras, o adjetivo disciplinado indica a posse de um modo de fazer que não se funda necessariamente em enunciados gerais prévios que guiem a ação ou regulem o comportamento para a boa ordem, mas em preceitos que podem nos ser úteis para que, entre outras coisas, não desperdicemos esforços em vão, para que os caminhos que tomemos nos surpreendam negativamente o menos possível, dadas as experiências anteriores (nossas ou de outras pessoas). E é nesse sentido que o trabalho do professor, ainda que não seja insubstituível, é enriquecedor.(CARVALHO, 1996).

Imaginemos uma criança que sobe no telhado para pegar um brinquedo, acompanhada, de longe, por alguém mais experiente nesta prática. Essa pessoa, ainda que não suba no telhado no lugar da criança, pode indicar-lhe caminhos que evitem fracassos ou riscos, e fornecer-lhe indicações que funcionaram em situações parecidas.(CARVALHO,1996).

Não podemos aprender pela criança a subir no telhado, ainda que pudéssemos subir para ela. Ela só aprenderá subindo, ainda que possamos dar-lhe certas dicas facilitadoras. Ela só aprenderá uma forma de subir quando ela o fizer pelas suas próprias pernas. E essa forma lhe será tanto mais útil quanto mais ela representar não um evento único, mas a aquisição de uma maneira de subir em novos telhados. Ao propiciar uma forma de trabalho, um modo de operar, o professor transmite um método e uma disciplina para fazê-lo. Entretanto, só haverá aprendizagem se, e quando o aluno desenvolver sua forma de executá-lo e resolver o problema a que ele se propuser.(CARVALHO, 1996).

A aprendizagem é, assim, a aquisição de formas de contrapor a um problema, soluções próprias daquele que aprende. Essa noção de que a aprendizagem não se limita à repetição de procedimentos, ainda dela que provavelmente não possa prescindir em seus momentos iniciais, se expressa com clareza em nossa linguagem corrente. É por esta razão que disciplina, tal como demonstram as acepções de 1 a 4 do dicionário, significa tanto a instrução e direção dada por um mestre, quanto à aquisição por parte do discípulo das regras, métodos e procedimentos.(CARVALHO, 1996).

O ensino (instrução e direção) só se constitui em aprendizagem (aquisição) na relação pedagógica através dos procedimentos escolares. A iniciação em práticas sociais operada pela educação exige comportamentospróprios, e é esse o problema prático de que não há uma resposta para a questão aqui abordada. Se disciplina é uma prática social, tê-la para realizar algo não significa ser disciplinado para tudo.(CARVALHO,1996).

Disciplina escolar não se identifica com uma boa ordem, mas com práticas que exigem diversas disposições e diferentes tipos de exigência. Uma aula expositiva pode exigir silêncio e acompanhamento do raciocínio. Por outro lado, a resolução de problemas pode exigir troca de idéias sobre procedimentos e tentativas, como parte constituinte da sua resolução, e não como manifestação de indisciplina. No âmbito escolar, o objetivo não é o de obter-se um tipo padronizado de comportamento, mas o de como ensinar as corretas formas de executá-lo. E o ensino é uma arte-prática que não tem regras que garantam seu êxito. (CARVALHO, 1996).

De acordo com Leandro de Lajonquiére (1996), o trabalho do professor não é o de fixar, através de certas receitas, comportamentos invariáveis, mas o de criar, segundo seus objetivos e as características daquilo que ensina. Ter um método para transmitir disciplinas não é ter um discurso sobre ela, mas é criar uma maneira de torná-la prática. Tal maneira será tanto mais eficaz quanto mais o professor tiver clareza de objetivos e procedimentos dos conteúdos ou áreas de conhecimento com os quais deseja trabalhar. Assim, o problema aqui abordado desloca-se do âmbito e da perspectiva moral e comportamental para situar-se no âmbito da apropriação de práticas e linguagens públicas, em cuja difusão reside a principal atividade das instituições escolares.

Em relação ao assunto exposto, é importante notar a citação deLajonquière, (1996), que abordao ato de indisciplina escolar:

Todo ato de "indisciplina escolar", uma vez que é considerado justamente um epifenômeno de uma realidade psicológica individual, acaba motivando as interrogações seguintes:

1. deve-se encaminhar o aluno para uma avaliação clínica com vistas à descoberta das causas desse acontecimento?

2. deve-se "aplicar uma sanção" ou, simplesmente, "chamar a atenção", na expectativa de contribuir para a correção do desenvolvimento das capacidades psicológicas?

Como sabemos, assistimos no dia-a-dia da escola um leque bastante amplo de respostas, também mais ou menos cruzadas entre si. Deixando de lado toda a discussão sobre o grau de pertinência de hipotéticas resoluções de episódios singulares, analisemos a lógica que anima essas interrogações, bem como a conseqüência embutida nessa forma hegemônica de se colocar o problema da dita indisciplina – a crescente psicologização do cotidiano escolar. (LAJONQUIÉRE, 1996).

Quando um aluno é encaminhado para avaliação psicológica, em face à sua indisciplina, a expectativa é que sejam colhidas informações úteis sobre as causas do episódio.

Para Vera Lúcia Câmara F. Zacharias, (2006) o mau comportamento é com freqüência, conseqüência de condições desfavoráveis do mesmo ambiente escolar que está atuando sobre os alunos: locais e mobiliários inadequados, falta de unidade e critério dos professores e equipe da escola etc., e sobre eles devem centrar-se inicialmente a atenção antes de tomar medidas mais drásticas e também atuar com a família e com o próprio aluno.

Normalmente, pensamos que a questão da indisciplina necessita de trabalho urgente e coletivo, mas para que deixe de ser simplesmente moda e deixemos de assumí-la como intratável, cabe buscarmos caminhos para entender o que é efetivamente(in)disciplina.

Encontraremos nesta citação, a relação entre disciplina e a necessidade de aprender, frutos da condição humana, já que o aprendizado é um processo compartilhado e disciplinado.

Já Laurizete Ferragut Passos (1996) tem outra maneirade abordar o tema: uma forma de avançar na compreensão das questões que envolvem a indisciplina na escola seria através do conhecimento sobre o que ocorre em toda a realidade escolar, ou seja, entendê-la no contexto das que "fazem" o dia-a-dia das escolas. Isto porque a prática pedagógica é estruturada a partir dos quadros ideológicos de referência, morais e sociais de todos os envolvidos na dinâmica escolar: professores, diretores, alunos, pais, funcionários etc. Tais quadros se cruzam com todo o universo simbólico cultural (de valores, crenças, representações) que dão sentido a suas atitudes e comportamentos.

Assim, estudar a escola a partir do seu cotidiano é compreender a ação dos sujeitos que nela se movimentam, entendendo a sua realidade macro-social.

No capítulo seguinte buscar-se-á relatar a abordagem inicial sobre a educação nas séries inicias do Ensino Fundamental, através de uma breve revisão de literatura.

CAPÍTULO II

ABORDAGEM INICIAL SOBRE A EDUCAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL:

REVISÃO DE LITERATURA

Com relação ao tema"Educação nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental: uma abordagem sobre a indisciplina", expomos inicialmente as idéias do professor psicólogo Lino Macedo (2005, especializado na linha construtivista de Piaget, defensor da idéia de que o comportamento dos alunos em sala de aula é algo que precisa ser ensinado e varia de acordocom a atividade.

Para o referido autor, a disciplina é uma competência escolar que as crianças aprendem como qualquer conteúdo. Condição para realizar um trabalho com êxito, é uma matéria interdisciplinar, porque dela dependem todas as outras. Fala-se muito que as crianças de hoje não têm limites.

Em uma sociedade como a brasileira, onde não se tem horárionem para as refeições, chegando a almoçar até mesmo enquanto se fala ao celular. Nós é que não temos rotinas para organizar a vida das crianças. Entendemos os motivos da nossa "indisciplina" porque sabemos que para muitas pessoas a regularidade se tornou impossível. Mas, se nós formos disciplinados, podemos esperar um comportamento regular das crianças, como se fosse uma coisa natural, espontânea, e herdada. Podemos conquistar o aluno para um projeto de disciplina conseguindo a admiração dele. Em sua origem, a palavra disciplina tem a ver com discípulo. Discípulo é uma pessoa que tem alguém como modelo e se entrega pelo valor que atribui a essa pessoa. Com o tempo, perdeu-se o elemento de referência que havia antigamente. Isso tem que ser novamente conquistado, pouco a pouco, pelos dois lados, uma vez que, de acordo com Macedo (2005, p.24) a "Disciplina é um conteúdo comoqualquer outro".

Concordamos com as idéias do autor, por acreditar que só podemos ensinar bem o que praticamos.

O problema não é só do professor. Realmente, alcançar a disciplina dentro da sala de aula, tornou-se um verdadeiro desafio para o ensino nos dias atuais, tanto nas escolas públicas, quanto nas privadas.Escolas de todos os níveis sociais, no mundo inteiro, têm que enfrentar a questão da disciplina, sem recorrer a castigos e mantendo vivo o interesse do aluno. (JOVER, 1998, p. 34).

Na medida que a disciplina deve ser analisada como fator de interesse de aquisição de conhecimento, ela não vem sendo trabalhada nas famílias.

A citação de Ana Biaggio (2005) comprova o comentário, quando destaca Patterson (1982):

Patterson (1982) estudouum grupo demeninos de três a oito anos de idade, que tinham sido rotuladas como "sem controle" pela escola ou pelos pais. Depois de estudar esses meninos em seus lares, ele concluiu que a agressão é um problema de ambiente familiar. Patterson e seus colaboradores registraram cada vez que um membro da família criticou outro, resmungou, recusou-se a atender a um pedido ou ordem, gritou, destruiu um objeto, bateu, empurrou, ou atirou um objeto, implicou, comandou ou chorou. Para a finalidade da pesquisa todos esses atos foram classificados como coercitivos. Os eventos foram registrados em seqüência temporal, de modo que os episódios completos pudessem ser analisados posteriormente. Famílias quenão tinham crianças-problema foram observadas para comparação. Patterson verificou que as crianças "sem controle" se envolviam em um número três vezes maior de atos coercitivos do que as outras crianças. Mas os membros de suas famílias também usavam ameaças e força. Em outras palavras, as relações de família são mutuamente coercitivas. Patterson salienta que o comportamento agressivo não é um ato isolado, mas uma cadeia de interações. Patterson melhorou o comportamento dessas crianças ensinando aos pais a modificarseu comportamento coercitivo: a serem claros e consistentes a respeito do que esperam da criança: a reagir com firmeza, mas de forma não violenta quando a criança não obedece; a deixar a criança "esfriar" quando está encolerizada; e a discutir maneiras não coercitivas de resolver quotidianos da criança. (BIAGGIO, 2005, p. 206-205)

Entendemos pela análise acima, que crianças "indisciplinadas" trazem do ambiente familiar uma carga emocional conflitiva, já que ela vivencia isto em casa. Tanto é, que Patterson melhorou o comportamento das crianças, ao atuar em seus lares, ou seja, a escola tem o papel de aprimorar a vivência que a criança traz de casa.

O desafio dos professores, para Tiba (1996) perpassa pela análise de que:

A disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, conseqüentemente, na escola.(TIBA,1996, p.117).

O autor aponta ainda que a disciplina, enquanto conjunto de regras, deve ser uma postura bilateral, pois é uma questão de relacionamento, que necessita de dois atores para se concretizar.

Já Libâneo (1994) destacasobre as dificuldades da indisciplina na sala de aula.

Uma das dificuldades mais comuns enfrentadas, pelo professor é o que se costuma chamar de "controle da disciplina". Dizendo assim dá a impressão de que existe uma chave mágica que o professor usa para manter a disciplina. Não é assim tão simples. A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo da prática docente, ou seja, à autoridade profissional, moral e técnica do professor (no sentido que mencionamos) mais os alunos darão valor as suas exigências. (LIBÂNEO, 1994, p.32).

Assim, a disciplina dentro da classe é conquista do professor, que a colhe com sua moralidade e competência técnica, estimulando a autodisciplina dos alunos, objetivando as construções coletivas das regras, proporcionando ao indivíduo o equilíbrio autônomo e a percepção de seus próprios limites.

Para Taille (2004), a indisciplina é uma questão moral e não ética:

A questão moral implica a restrição da liberdade, já a ética não. Daí a necessidade do professor ter que saber diferenciar quando ela acontece normalmente, as escolas tendem a dar exemplos não funcionais aos alunos, ou seja exemplos morais. La Taille exemplifica: Toda vez que a criançaquebra alguma coisa nas dependências da escola, em vez do professor reforçar a idéia de que não pode quebrar isso porque é seu também ele deveria perguntar: "Você sabe quanto custou e quanto tempo levaram para construir isso?" (TAILLE, 2004, p. 26).

Deste modo, para reforçar a noção da indisciplina como questão moral, a educação preconiza a adoção de normas morais, ao invés de abordar questões éticas, levando os alunos a refletir sobre suas atitudes dentro e fora da sala de aula.

Já para Stubert (2004) que é professora da Escola Estadual República Oriental do Uruguai, não há uma receita mágicapara que se opere uma mudança nas atitudes dos alunos, a não ser um trabalho diário.

Até hoje ninguém apresentou uma receita pronta e mágica o suficiente que faça com que os alunos mudem suas condutas do dia para anoite e que comecem a agir dentro do esperado. Assim de nada resolve enfileirar alunos às portas da Orientação Pedagógica, esperando que, de lá, voltem "curados"; tampouco adianta fingir que tudo está bem e continuar dando aulas de péssima qualidade, que não atingem a todos, nem alcançam o objetivo proposto.

(STUBERT, 2004, p. 26).

Para que esta mudança aconteça é preciso um trabalho constante e que cada professor encontre sua fórmula, resgatando os valores mostrando que há regras a serem cumpridas de ambos os lados, cobrando, reforçando, dialogando, agindo com firmeza e segurança, traçando metas e assim conquistandoa colaboração de todos.

Ensino em uma escola pública que têm como clientela alunos de classe média baixae vejo, nesses alunos, total ou quase total ausência de parâmetros que os guiem na condição de sua própria educação. Caracterizo as atitudesde um educador como aquelas que busquemganhar a confiança do aluno, para que ele possa vislumbrar nesse educador sentimentos de respeito e, principalmente, de amizade. Precisamos formar uma imagem positiva e ética diante do aluno. (LIMA, 2004, p. 26).

Diante do que foi relatado não podemos tratar do assunto relacionado simplesmente com atitudes proibitivas ou punitivas, pelo fato de que só isso não ajuda a formar o caráter do aluno; só servem como paliativo no combate à indisciplina em sala de aula. É necessário que tenhamos atitudes de confiança, diálogo, solidariedade e respeito.

(...)os problemas de disciplina não são fruta que amadurece, que se resolve " com o passar do tempo"; ao contrário, com o "tempo", só se avoluma, se multiplica, se agrava! Énecessário tempo para solucioná-lo, mas um tempo "cheio", marcado por intervenção, interação. Se logo no começo do ano o professor não estabelece o clima de trabalho em sala de aula, as coisas vão se acumulando, chegando a um ponto em que nem é capaz, por exemplo de identificar os alunos com maiores problemas disciplinares: "é o grupo todo". Alguns professores não tomam as medidas cabíveis, logo no início, vão se contemporizando; depois, se vêem desesperados, pois a situação se complica e já não tem mais moral de cobrar, uma vez que não cobrou antes: "Ah, professor, por que eu agora, se todo mundo faz isto?" Para evitar o efeito "cascata", é preciso parar logo no começo para uma revisão geral do problema, dar atenção, investigar.(VASCONCELOS, 2001, p. 90).

No entender do autor a construção da disciplina é trabalho urgente e coletivo, evitando que se avolume e se torne incontrolável e, cabe a nós, educadores, estabelecermos, no início do curso, um conjunto de regras sociais de convívio.

Por outro lado, Aquino (1996, p. 40-41) destaca que:

Embora o fenômeno da indisciplina seja um velho conhecido de todos, sua relevância teórica não é tão nítida. E o pouco número de obras dedicadas explicitamente à problemática vem confirmar este dado. Um tema, sem dúvida, de difícil abordagem. Os relatos dos professores testemunham que a questão disciplinar, é, atualmente, uma das dificuldades fundamentais quanto ao trabalho escolar. Segundo eles, o ensino teria como um de seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça, tumulto, falta de limite, maus comportamentos, desrespeito às figuras de autoridade etc. Outro dado significativo refere-se ao fato de a indisciplina atravessarindistintamente as escolas públicas e privadas. Enganam-se aqueles que a supõem mais ou menos presente apenas em determinado contexto. Vale lembrar que, embora diferentes significados sejam atribuídos à problemática e até mesmo os próprios objetivos educacionais subjacentes ambas possam ser distintos, elas parecem sofrer o mesmo tipo de efeito. Não se trata, pois, de uma espécie de desprivilegio da escola pública; muito pelo contrário. A indisciplina seria, talvez, o inimigo número um do educador atual, cujo manejo as correntes teóricas não conseguiriam propor de imediato, uma vez que se trata de algo que ultrapassa o âmbito estritamente didático-pedagógico, imprevisto ou até mesmo insuspeito no ideário das diferentes teorias pedagógicas. É certo, pois, que a temática disciplinar passou a se configurar enquanto um problema interdisciplinar, transversal à Pedagogia, devendo ser tratado pelo maior número de áreas em torno das ciências da educação. Um novo problema que pede passagem. Decorre disto que, apesar de o manejo disciplinar ter sempre estado em foco de um modo ou de outro nas preocupações dos educadores, o que teria acontecido com as práticas escolares a ponto de a indisciplina ter se tornado um obstáculo pedagógico propriamente.

Ainda neste sentido Oliveira (2005) considera que:

As tendências pedagógicas que surgiram ao longo dos anos e influenciaram fortemente na forma de agir do professor não tiveram, obviamente, um processo linear e passivo. Analisando o processo de desenvolvimento dessas tendências, percebe-se que esse movimento é dinâmico: ora surge uma corrente pedagógica em oposição à outra, ora surgem teorias que trazem contribuições significativas para alguma corrente já existente.(OLIVEIRA, 2005, p. 38).

Deste modo, é de fundamental importância evidenciar e contextualizar as tendências pedagógicas, pois o volume e a velocidade das informações nos apresentam várias correntes pedagógicas, algumas passageiras, outras apenas como reforço daquelas já estabelecidas, que sempre influenciam na forma de agir do professor, sem que se possa sedimentar uma postura técnica definitiva.

No capítulo seguinte abordaremos, especificamente, a questão da indisciplina nas séries iniciais do Ensino Fundamental, de acordo com docentes de escolas públicas e particulares do município de Uberlândia (MG).

CAPÍTULO III

O OLHAR DOCENTE SOBRE A (IN) DISCIPLINA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL:

ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO

Este capítulo tem a função de compreender como ocorre a indisciplina nas séries iniciais do Ensino Fundamental do ponto de vista dos docentes de escolas públicas e particulares do município de Uberlândia (MG).

Foram realizadas entrevistas com 08 (oito) professoras daquele universo profissional, a fim de coletar dados sobre o tema proposto nesta monografia.

O questionário aplicado para as professoras, constando de 05 (cinco) perguntas, foi elaborado de acordo com o assunto abordado (anexo). Dentre as 08 (oito) professoras entrevistadas,foram escolhidas 05 (cinco) para a exposição dos resultados da pesquisa de campo, sendo 01 (uma) da rede particular e as outras04 (quatro) da rede municipal de ensino.

As características destas profissionais são expostas a seguir:

Entrevistada

Formação

Acadêmica

Tempo de

Magistério

Local de Trabalho

E.A.

Superior (Letras Português-Inglês), com Especialização em Didática e

Psicopedagogia

10 anos

Rede Particular de Ensino

E. C.

Pedagogia e Pós-graduação em Pedagogia

16 anos

Rede Pública Municipal de Ensino

M. A.

Graduada no Curso Normal Superior e Pós-graduação em Psicopedagogia

6 anos

Rede Pública Municipal de Ensino

L. P.

Graduada no Curso Normal Superior

10 anos

Rede Pública Municipal de Ensino

M.R.

Magistério, cursando último período do Normal Superior

07 anos

Rede Pública Municipal de Ensino

O quadro acima apresenta as professoras entrevistadas. Destacamos que todas possuem expressiva experiência no Magistério, com vivência concreta no tocante ao assunto e com boa formação acadêmica, cujo universo de respostas revela que a indisciplina é fato preocupante no ensino público e privado. Os resultados, na totalidade,são apresentados abaixo, pergunta a pergunta:

A primeira pergunta foi tabulada conforme o quadro abaixo:

Entrevistada

Pergunta 1:Você jáenfrentou problema com indisciplina?

E.A.

Sim, por várias vezes me deparei com situações de indisciplina, alunos sem regras, sem limites e muitas vezes com problemas de aprendizagem. Indisciplina e baixa aprendizagem, muitas vezes, estão relacionadas.

E. C.

Nos meus 15 anos de trabalho, já enfrentei problemas simples de indisciplina, bem como alguns complicados, envolvendo pais do aluno e demais funcionários da Instituição.

M. A.

Sim. Ao me dispor em trabalhar em uma sala multiseriada, enfrenteiproblemas de indisciplina, decorrentes do fato de algumas crianças se beneficiarem de serem portadores de necessidades especiais. Seus professores anteriores e seus familiares não lhes impunham limites, favorecendo-lhes a indisciplina.

L. P.

Como atuo na educação infantil, posso afirmar que já enfrentei situações como falta de limites, que é um dos motivos da indisciplina em crianças maiores.

M.R.

Sim, este é um problema que todos os educadores enfrentam. Alguns mais sérios, outros mais relevantes.

Os resultados mostram que todas as entrevistadas já enfrentaram problemas com a indisciplina de seus alunos. Uma das entrevistas chega a textualizar que é um problema que todos os educadores enfrentam.É notável que os entrevistados apontem a relação entre indisciplina e falta de limites.A entrevistadaM. A. aponta interessante aspecto:Aos alunos com necessidades especiais, a nãoimposição de limites seria uma compensação, como se disciplina fosse um castigo, o que prejudica a formação cidadã destes indivíduos.

Entrevistada

Pergunta 2:O que o Professor precisa fazer para encarar o problema da indisciplina?

E.A.

Em primeiro lugar, avaliar o porque da indisciplina. É por causa do aluno? Ele possui algum problema (cognitivo, familiar, hiper-atividade, déficit de atenção)? Em segundo lugar, o professor deve avaliar suas aulas, seu material didático e sua motivação. A partir desses dados, o Professor deve usar estratégias para diminuir ou acabar a indisciplina.

E. C.

Primeiramente, ter calma para analisar o problema, os envolvidos,interagindo com os supervisores, diretores e quem mais puder nos ajudar e depois, discutir e procurar soluções.

M. A.

Deve ser analisada a situação, procurar descobrir o motivo da indisciplina apresentada. Manter diálogo aberto com a coordenação da escola e os familiares da criança em questão. O professor não deve rotular o indisciplinado e sim tentar criar um elo afetivo com o mesmo.

L. P.

Assumir que o problema existe e está ganhando proporções irreversíveis. Diante de tal gravidade, buscar soluções de toda a sociedade (governo, família etc).

M.R.

Não existe uma receita, pois a indisciplina é reflexo de vários fatores. Acredito que provêm de aspectos emocionais, financeiros, cognitivos e também, da má estrutura familiar. A criança não programa "vou ser indisciplinada". Ela é receptora do que o meio a transmite. O professor deve ter certo manejo para detectar a problemática e adquirir conceitos atitudinais.

As respostas seguem um padrão de ponto de vista. As entrevistadas foram unânimes em considerar a indisciplina como um problema mais amplo, oriundo de uma série de outros fatores. Uma das entrevistadas cita, literalmente,"a indisciplina como reflexo de vários fatores". Sendo assim, por não ser problema localizado exclusivamente no aluno, o professor deve pedir ajuda a todos os envolvidos.

É interessante notar que uma das entrevistadas coloca o Professor no centro da problemática, já que a indisciplina pode ser gerada pela qualidade das aulas.

Entrevistada

Pergunta 3:O tratamento da indisciplina é um fato isolado ou deve ser uma política da escola?

E.A.

A indisciplina deve ser uma política da escola. As regras devem ser claras e sempre lembradas. Se possível, as regras devem ser elaboradas junto com os alunos.

E. C.

Deve ser uma política da escola, onde a mesma deve respaldar os profissionais envolvidos e chamar para a realidade escolar os pais envolvidos e os próprios indisciplinados.

M. A.

Deve ser uma política da escola, pois somente o trabalho coletivo poderá trazer um resultado satisfatório; um trabalho a longo prazo é indispensável, porque disciplina e limites são adquiridos através de ações planejadas e repetidas para maior absorção pela criança.

L. P.

Com certeza deve ser tratada pela escola, pela família, pela sociedade, Justiça, por todos. Tidos nós devemos estar comprometidos pela busca de uma solução para um problema tão grave com nossos filhos e alunos.

M.R.

A escola é o agente descobridor do problema. Cabe, portanto, às instituições estabelecerem um diálogo aberto com as famílias, considerando-os como parceiros e interlocutores no processo educativo.

Novamente, existe concordância nas respostas das entrevistadas. O trabalho de combate á indisciplina passa, necessariamente, pela escola, que deve ter uma política (regras, ações, procedimentos) bem definida, e que o combate à indisciplina não seja um trabalho individual do professor.

Existe uma relação muito forte entre esta pergunta e as anteriores. Como todas as entrevistadas apontaram várias causas para a indisciplina, inclusive na postura do professor, é natural que as respostas apontem para uma política a ser adotada pela escola.

Entrevistada

Pergunta 4:A indisciplina pode afetar o aprendizado da criança? Justifique.

E.A.

Claro. Nas séries iniciais já é um problema, mas a partir da terceira série, o problema se agrava, pois o conhecimento fica mais abstrato e aumenta o grau de concentração.

E. C.

Afeta, e muito, o aprendizado, uma vez que a criança não tem interesse algum nas aulas, no que é proposto em sala. Ele, na maioria das vezes, vai para a escola porque não tem onde ficar e os pais trabalham o dia todo.

M. A.

Sim, pois a indisciplina impede a criança de deter atenção ao aprendizado apresentado e atrapalhar o aprendizado de outras crianças que estão ao seu redor.

L. P.

Claro. O aluno indisciplinado atrapalha os colegas, os professores e afeta profundamente a rotina em sala de aula e da escola.

M.R.

Acho que é um fator relativo. Pode interferir, ou pode não interferir. Há crianças indisciplinadas que conseguem absorver bem o conteúdo e o contrário também ocorre.

A maioria das entrevistadas relaciona indisciplina com aprendizagem, ou seja, a aprendizagem fica prejudicada em caso de indisciplina. Apenas uma das entrevistadas relativizou o problema, dizendo que pode ou não, interferir no aprendizado. O fato de a entrevista afirmar que "há crianças indisciplinadas que absorvem o conteúdo", é natural que se pense nesses casos como exceções.

Entrevistada

Pergunta 5:Você foi preparado(a) na escola para lidar com a questão da indisciplina? Justifique.

E.A.

Não diretamente. A indisciplina é um problema que sempre existiu e sempre existirá. Ela acontece por várias razões. Precisamos conhecer as causas da indisciplina para minimizá-la em sala de aula. A família deve estar presente para juntos resolver os problemas. A escola deve ser um lugar de disciplina e conhecimento.

E. C.

Não. Nós professores aprendemos com nossa prática, aproveitando o que deu "certo", excluindo o que não foi bom. E com o passar dos anos, aprendemos a ter "jogo de cintura", para determinados problemas, e até que "nos saímos bem", às vezes, nem sempre.

M. A.

Não. As escolas não preparam nenhum professor para enfrentar este tipo de problema na sala de aula. Cada professor tem que se virar para resolver a questão apresentada, se o professor tiver uma visão clara do que é "educação", conseguirá resultados satisfatórios, porém, se o mesmo não tiver esta visão, a criança será rotulada e desprezada.

L. P.

Não. Acho que as escolas tentam mascarar estas situações. Enquanto que na Faculdade, ou seja, nos cursos de Graduação, ficamos presos à teoria que chega a ser utopia, na realidade escolar.

M.R.

Não. Às vezes o Supervisor tem a postura de mediador, mas não consegue soluções. O Professor através de sua prática adquire os meios de se trabalhar as diferentes situações, visando o bem de ambos.

As entrevistadas responderam que não foram preparadas para tratar o assunto seriamente, de forma técnica e estruturada. Algumas entrevistadas aprenderam "com o passar dos anos".Isso mostra, claramente, uma deficiência das escolas formadoras de professoras, ao não colocarem no seu currículo uma disciplina específica, para que se trate esse tipo de problema, ajudando até mesmo as escolas, a criar uma política de tratamento da indisciplina.

Assim, de forma geral, o questionário expõe as seguintes questões que servem para uma reflexão, no âmbito desse trabalho:

1 – Em face às análises bibliográficas e respostas dadas pelas entrevistadas ,o controle da sala de aula depende da formação acadêmica do professor, de sua atuação frente à turma, de uma política da escola, da parceria existente com a família e, de toda a sociedade.

2 - Observa-se, na prática diária, que chega a ser injusto uma professora, sozinha, numa sala, muitas vezes com até 40 alunos, conseguir resolver um problema complexo, que não é de sua competência exclusiva.

3 - Mesmo sendo pessoadotada de conhecimento técnico, a professoranão pode resolver problemas de causas tão diversas, inclusive, sendo que na sua formação acadêmica não teve preparo para abordá-lo.

Os resultados da pesquisa são, interessantes, visto que o tema "Um olhar sobre a (in)disciplina" nosacena com um problema que sempre existiue continuará a existir mesmo gerando controvérsias e, que uma possívelsolução ou minimização do problema, só será possível, com uma parceria entre todos os envolvidos.

Assim, passamos às Considerações Finais que complementam o estudo monográfico ora proposto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao desenvolvermos o estudo sobre o tema da indisciplina na escola, algumas considerações podem ser feitas. O trabalho aqui apresentado, "Um Olhar sobre a (In)disciplina nas séries iniciais do Ensino Fundamental", retrata novas concepções sobre o tema.

Em função do momento social, de amplo contexto, qual seja, de crise econômica, nas relações familiares, nos valores de liderança e comportamento, nos exemplos das figuras políticas envolvidas em situação de indisciplina moral, as escolas vivem momento crítico, principalmente sobre o binômio disciplina/indisciplina.

No Capítulo I, fizemos uma reflexão conceitual teórica sobre a (in)disciplina nas séries iniciais do Ensino Fundamental, sobre o tema, mostrando-o como parte integrante do processo de aprendizagem, apontando, portanto, a importância da escolha do tema e de seu natural desenvolvimento teórico.

O Capítulo II nos mostra que a literatura sobre o assunto é ampla, tendo contexto histórico e social. É traçado um panorama dos diversos conceitos e acepções da palavra disciplina, das suas variadas origens e causas, permitindo maiores investigações sobre o tema, e a importância de tratá-lo como forma de aprimoramento do processo de aprendizagem, que é reflexo da sociedade e de seus fatores desequilibrados, relacionamentos e perspectivas futuras de alunos e professores.

Já o Capítulo III, retrata toda aabordagem tratada nos capítulos anteriores. A indisciplina é um problema real, causado por uma série de fatores, a falta de postura e política oficial da escola, o tratamento das macro-questões do país (corrupção e violência). A heterogeneidade social, a falta de formação técnica, a falta de autonomia para manutenção da disciplina são o reflexo das tabulações efetuadas na pesquisa. Assim, é preciso que a escola volte a ter papel de disciplinadora e formadora, num processo mútuo de respeito e disciplina.

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, vivenciei experiências ricas e frutíferas, atestando minhas concepções sobre o assunto, que reforçam a importância do papel disciplinador da escola, enquanto formadora de profissionais e cidadãos.

Espero ter oportunidade de aplicar esse conhecimento na minha vida profissional, seja como professora, seja como integrante de algum grupo multidisciplinar, que vise à implantação de uma política de disciplina na minha futura escola.

Há um longo caminho a percorrer na construção do conhecimento e na fundamentação teórica do tema proposto e constato que nada poderei mudar isoladamente. Deve-se propor um processo de aglutinação da família na escola, fazendo-se reuniões com as famílias e os profissionais da educação procurando discernir a respeito dos problemas e facilitando a soluçãodos mesmos na família, na rua e nas amizades. Também estudar a legislação, o ECA, orientando quanto aos seus direitos e deveres.

Há um grande equívoco quando se pensa tudo saber e tudo poder fazer da maneira que quiser, se dar explicações a ninguém. É preciso haver o esclarecimento sobre esses "direitos" e oferecer ao jovem, oportunidade de melhor interpretar e vivenciar este estatuto.

Alternativa, seria oportunizar aos alunos situações de extravasarem suas energias e demonstrarem suas habilidades como: trabalhos extra-classe, em grupos que favoreçam a integração dos mesmos. É importante cuidar da auto-estima do estudante e do professor.

Para muitas crianças, a escola, além de ser um espaço instrucional, é um espaço onde fazem novas amizades.

Como futura educadora e mãe não posso desacreditar que as mudanças, dentro do espaço educacional possam ocorrer se os professores participarem desse processo de construção, com suas experiências ou, até mesmo, com suas tentativas que não deram certo. É preciso registrar que nem todos os professores têm essa vontade de mudar.

Esforço-me para não perder as esperanças e quero, pelo diálogo, pela busca de alternativas e pelas contribuições que ora recebo, aprofundar esta reflexão e aprimorar minhas ações em busca de mais paz e respeito mútuo, sobretudo nas escolas.

Essa pesquisa não acaba aqui é um trabalho de conclusão do Curso de graduação, e poderá ter continuidade em cursos de pós-graduação.

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ANEXOS


Autor: Gilda Alves Minafra


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