EVIDÊNCIAS DE ESTRESSE AMBIENTAL NO CRETÁCEO BRASILEIRO



Desde o surgimento da vida na Terra, as transformações e inovações sempre se fizeram presentes ao longo dos tempos, principalmente durante o Cretáceo, que é considerado um dos períodos mais expressivos em termos de eventos geológicos globais, pois foi durante este período que ocorreram grandes eventos como a separação definitiva entre a América do Sul e a África, surgindo assim o Atlântico Sul, grandes derramamentos basálticos e a reativação de falhamentos. Paleontologicamente marcou o fim dos grandes arcossauros, o surgimento e rápida proliferação das angiospermas, surgimento de inúmeras fossas tectônicas, gerando grandes mudanças geológicas e climáticas acarretando crises bióticas (extinção) e estresse ambiental (anoxia, evaporação dos paleolagos, gigantismo da fauna em decorrência de altas temperaturas, nanismo ecológico pela falta de comida, mortandade em massa, pouca diversidade e grande número de espécimes). Esses eventos puderam ser detectados graças à contribuição de grupos fósseis de insetos que, igualmente ao que ocorre hoje, apresentaram grande diversificação de nichos ecológicos e principalmente por estarem situados entre os organismos terrestres mais sensíveis a alterações climáticas e geológicas sendo, portanto, altamente precisos como indicadores de clima e condições ambientais. A presente contribuição tem como objetivo analisar casos de grupos de insetos fósseis em especial sugestivos de evidências de estresse ambiental.

INTRODUÇÃO

A busca pelo conhecimento sobre o registro fossilífero nos permite compreender e inferir, em alguns aspectos, a importância e as conseqüências de eventos geológicos que condicionaram a evolução gradativa dos acontecimentos biológicos.

O Cretáceo pode ser considerado um dos períodos mais expressivos em termos de eventos geológicos globais, pois foi durante este período que a África e América do Sul se separaram definitivamente e importantes acontecimentos estão diretamente relacionadas a essa separação, destacando-se grandes derramamentos basálticos, formação e reativação de falhamentos, transgressões marinhas relacionadas à abertura do oceano Atlântico, dentre outros. Paleontologicamente, o Cretáceo marca o fim do domínio dos grandes arcossauros, entre os quais os dinossauros. Entre os invertebrados, o grupo dos amonóides (cefalópodes extintos), até então um dos mais importantes, também desapareceu por completo. A vegetação sofreu uma notável mudança, com o surgimento e rápida proliferação das angiospermas, que na fase final do período constituíam já no grupo vegetal dominante. Evidências geológicas e paleontológicas atestam a existência de um clima quente no decorrer do período, havendo no nordeste brasileiro uma tendência à aridez, atestada pela ocorrência de evaporitos entre as camadas sedimentares das fossas tectônicas existentes (MARTINS-NETO, 2006).

Desde o surgimento da vida na Terra, as transformações e inovações exibidas pelos organismos, principalmente os insetos, evidenciaram fenômenos e uma temporalidade que em muito transcende a dimensão da existência humana (CARVALHO, 2004).

Os insetos são sensíveis a mudanças geológicas e climáticas e o registro fossilífero nos permite inferências dessas mesmas variações em épocas pretéritas (MARTINS-NETO, 1991), pois estes invertebrados terrestres estão entre aqueles de maior diversificação a nichos ecológicos (CARVALHO, 2004), por apresentarem as seguintes características: um exoesqueleto de quitina; capacidade de voar, o que potencializa o acesso aos alimentos e a outras fontes além de fuga dos predadores; o dobramento das asas em repouso permitindo a utilização de micro-hábitats; a ontogenia holometabólica, que inclui um estágio larval, que possibilita ao inseto juvenil utilizar recursos diferentes dos adultos (RUPPERT e BARNES, 1996). Destaca-se também a possibilidade de respiração através dos tubos traqueais, tornando-os extremamente adaptados aos ambientes continentais. Podem viver em corpos lacustres de água doce ou salobra, em terra firme e/ou como parasitas de outros organismos (CARVALHO, 2004).

Por isso, os insetos são extremamente importantes para o estudo paleontológico. Por estarem situados entre os organismos terrestres mais sensíveis a mudanças climáticas, e por ser um grupo ainda pouco explorado, embora abundante nos registros, principalmente no Cretáceo (MARTINS-NETO, 1991) e além de altamente precisos como indicadores de clima e condições geográficas (MARTINS-NETO, 2006).

Considerando esses fatos, é possível, através do conhecimento dos aspectos da autoecologia dos vários grupos fósseis sobre uma visão atualística, revelar que o mesmo padrão de crises bióticas, de estresse ambiental, capazes de promover a extinção e/ou a especiação de espécies verificadas na natureza, podem ser igualmente evidenciadas ou detectadas no registro fossilífero gerando dados úteis para inferências paleoambientais, paleoecológicas e paleogeográficas, foco do presente trabalho.

1 METODOLOGIA PROPOSTA

1.1 ANALISANDO CONCENTRAÇÕES

Os fósseis, quando os encontramos, podem estar fortuitamente dispersos nos sedimentos, ou acumulados. A acumulação ou concentração pode também ser fortuita, ao acaso, por razões mecânicas detectáveis, envolvendo sempre processos hidrodinâmicos ou ainda decorrentes de crises bióticas. A acumulação pode ser ainda: (a) biogênica (os organismos foram preservados nos mesmos locais quando em vida), comum em colônias de corais, moluscos sésseis (como ostras e mariscos); (b) sedimentológica, a mais comum, (os organismos são acumulados devido a transporte, sendo encontráveis não necessariamente nos mesmos locais quando em vida); e (c) diagênica (os organismos foram acumulados após sua fossilização, por erosão, tectonismo, etc., retirando-os do ambiente sedimentar original). Os fósseis podem ainda estar dispostos em um horizonte (podendo ser concordantes, oblíquos ou perpendiculares a ele), ou ainda acumulados em brechas, fendas e depressões. Grandes acumulações podem ainda resultar em organismos empilhados, aninhados (pequenos espécimes dentro dos maiores) e emaranhados. A existência de padrões preferenciais de orientação (ou não) vai fornecer importantes subsídios para a correta interpretação do ambiente de sedimentação no passado geológico. O método mais simples de determinação matemática de padrões de orientação dos fósseis é o Método da Roseta (MARTINS-NETO, 1993), que será detalhado mais a frente.

1.2 PROCEDIMENTOS DE CAMPO

Em campo, o método mais prático é o do esquadrinhamento cuja ferramenta necessária é um quadrado de madeira (o esquadrinhador) e 1 m² (1 x 1 m), de área útil, ou seja, não importa a espessura da madeira utilizada (moldura), desde que sua área interna corresponda exatamente a 1 x 1 m e, evidente, não seja empenada ou irregular. O bom senso também dita que não seja demasiadamente grossa e pesada, pois dificultaria seu transporte. Na moldura, afixa-se de 10 em 10 cm um prego (compatível com a moldura é claro) em todo seu perímetro e, de preferência com fio de "nylon" (que é mais resistente e fino), e faz-se se uma malha de fios, tanto verticais quanto horizontais, que terão exatamente 10 cm², todos os 100. A ferramenta de trabalho, previamente fabricada, está pronta para ser utilizada em campo (MARTINS-NETO, 1993).

Também, previamente preparadas, devem estar às planilhas com a réplica do esquadrinhador e todos os quadrados da malha numerados. Após selecionar a área de estudo, delimita-se o perímetro (quanto maior a área, melhores e mais precisos serão os resultados) e aplica-se o esquadrinhador para a coleta de dados (ILUSTRAÇÃO 1A e B). De posse da determinação do norte magnético (obtido por uma bússola), passa-se para a planilha de dados todas as informações: número de espécimes e orientação em relação ao norte, em cada quadrícula (ILUSTRAÇÃO 1C). Cada planilha é então numerada para posterior composição de toda a área estudada (MARTINS-NETO, 1993).

ILUSTRAÇÃO 1 O método da roseta com a utilização do esquadrinhador, aplicado em bivalves do litoral norte paulista. (A) procedimentos de campo; (B) detalhe do esquadrinhador; (C) planilha de dados.

Fonte: Martins-Neto (1993).

1.3 PROCEDIMENTOS DE LABORATÓRIO

Este procedimento de laboratório consiste basicamente em:

a)Posicionar a planilha, com o norte previamente determinado no campo;

b)Numerar todos os espécimes contidos em cada quadrícula da planilha;

c)Com um transferidor, medir os ângulos em relação ao norte e anota-los em folha a parte;

d)Construir tabelas de seno e co-seno dos ângulos medidos. Exemplo: a amostra contém dez indivíduos, com os seguintes ângulos medidos (TABELA 1);

e)Agrupar os dados em faixas de ângulos, tabulando-os com variações, por exemplo, de 30 graus (doze faixas no caso) (TABELA 2).

1.3.1 Coleta de dados

        TABELA 1 Modelo de Tabela de Coleta de Dados


Autor: Leandro Camerini


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