A economia das trocas simbólicas



Na linha do estudo do imaginário, apresento aqui uma obra de um renomado sociólogo francês – Pierre Bourdieu.

Seus estudos se voltam para as formas de dominação, sobretudo simbólicas, existentes nas sociedades. Os mecanismos de reprodução social que objetivam legitimar os grupos dominantes são fartamente discutidos em seu pensamento.

Nesta obra, A economia das trocas simbólicas, o autor visa aliar o conhecimento da organização interna do campo simbólico – cuja eficácia reside justamente na possibilidade de ordenar o mundo natural e social através de discursos, mensagens e representações, que não passam de alegorias que simulam a estrutuura real de relações sociais – a uma percepção de sua função ideológica e política, corroborando uma ordem arbitrária em que se funda o sistema de dominação vigente.

Para Bourdieu, a organização do mundo e a fixação de um consenso a seu respeito constitui uma função lógica necessária que permite à cultura dominante, numa dada formação social, cumprir sua função político-ideológica de legitimar e sancionar um determinado regime de dominação.

O autor transpõe para a análise do campo simbólico o vocabulário da esfera propriamente econômica, e recupera a tradição materialista do marxismo, na linha epistemológica do positivismo francês, tão marcado nos últimos tempos pelo estruturalismo.

Para Bourdieu, o que está em jogo no campo simbólico é, em última análise, o poder propriamente político, muito embora não existam puras relações de força a não ser mediatizadas por sistemas simbólicos que, ao mesmo tempo, tornam-nas visíveis e irreconhecíveis, pois lhes conferem uma existência através de linguagens especiais. Encobrindo as condições objetivas e as bases materiais em que tal poder se funda.

No decorrer do livro, várias são as discussões levadas habilmente pelo autor. No primeiro deles, Bourdieu, num diálogo com weber, demosntra que a definição de classes numa estrutura estática não é a melhor forma de análise. Além de considerarmos o relativismo presente em sociedades tão diferentes, a condição e a posição de classe devem atentar não só para os aspectos econômicos, mas também para os aspectos simbólicos.

Em seguida, mais uma vez utilizando o esquema weberiano, o autor discute as origens e a estrutura do campo religioso, para estabelecer uma relação direta entre religião e política. Além disso, ele mostra oquanto a “oferta” religiosa dialoga e atende a “demanda” de seus “clientes” – as diversas camadas sociais.

Bourdieu vê o campo cultural como um mercado de bens simbólicos, mais uma vez funcionando nos moldes da lei da oderta e da procura, de acordo com as camadas sociais existentes.

Mais adiante, o autor considera os sistemas de pensamento de uma época como sendo frutos do seu sistema de ensino. Este, por sua vez, além de repetir o esquema de diferenciação social (já trabalhado nos outros campos), acaba por afirmar o status quo da sociedade.

Até a arte é abordada por Bordieu. Falando sobre os modos de produção e percepção artísticos, ele relaciona-os com a estrutura social e o valor simbólico da arte em si.

Por fim, retomando algumas questões, o autor mostra como o aesso à cultura está relacionado ao nível de educação do indivíduo. Com isso, quele que possui mais escolaridade acumula maior capital cultural. Neste sentido, Bordieu vê o sistema de ensino como reprodutora da estrutura cultural e social, mantenedora das relações de força e das relações simbólicas entre as classes. Ou seja, o sistema de ensino reproduz a estrutura de distribuição de apital cultural entre as classes.

Leitura complexa, mas recomendada.


Autor: Luiz Eduardo Farias


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