MILAGRE NOS ANDES



Estava orando em uma mata, em pleno coração do Mato Grosso do Sul, quando entendi que o Senhor estava me dando uma ordem expressa, a qual surgiu de maneira inequívoca em meu coração:

- Vai aos Estados Unidos!

Fiquei surpreso. Por que Estados Unidos?

Desde criança tinha uma vontade tremenda de conhecer aquele país de sonhos. Alguns meses antes cheguei até a pensar em tal possibilidade, quando preguei em uma igreja e ao fim da mensagem uma irmã foi usada em profecia e proferiu estas palavras:

- Meu servo, desde criança que tenho te ensinado idiomas. Eis que vou levar-te a diferentes países do mundo para anunciar minha palavra. Nações se congregarão para ouvir-te

Guardei no coração aquelas palavras e agora, ali orando e recebendo a ordem de ir até os Estados Unidos, sentia que a profecia começava a cumprir-se.

Não tendo dinheiro para comprar uma passagem de avião de ida e volta aos Estados Unidos, tomei a decisão de ir por terra, começando pela Bolívia, subindo pela Rodovia Panamericana, tomando um pequeno vôo da Colômbia para a América Central e, finalmente, tomando a rota até o México e meu destino final.

Juntando algum dinheiro para o início da viagem, parti em demanda de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, de trem, em um trem antigo, com bitola estreita o qual andava tão devagar que as vezes daria para ir mais depressa caminhando.

Quando disse "algum dinheiro", era algum mesmo. Quando cheguei a Santa Cruz de la Sierra, hospedei-me em um bom hotel que era muito barato, pois nosso dinheiro estava bastante valorizado em relação ao dinheiro da Bolívia.

Mesmo assim, era muito pouco para chegar até os Estados Unidos. Não dava para chegar nem na metade do caminho.

No dia seguinte tomei um ônibus até Cochabamba, capital da província do mesmo nome.

A paisagem boliviana era belíssima. Conheci na viagem os índios aimarás e quíchuas, com suas vestes típicas e costumes estranhos.

Conheci as alpacas, vicunhas e lhamas, animais que não temos no Brasil e vi, pela primeira vez na vida, um jumento coberto de lã, feito uma ovelha.

Dei glória a Deus. Que maravilha, Senhor, sua bendita proteção para o animal, por causa do frio dos Andes, o que não é necessário para os nossos jumentos no Nordeste do Brasil.

Quando cheguei a Cochabamba o medo ao desconhecido tomou conta de mim e eu resolvi voltar para o Brasil e aguardar melhores condições para empreender tão ousada e arriscada viagem.

Cheguei novamente a Santa Cruz de la Sierra e outra vez hospedei-me naquele confortável hotel. No dia seguinte voltaria ao Brasil.

À noite saí para dar uma volta pela cidade, olhar vitrines, tomar um sorvete, que eles chamam de "nieve"...

Praticamente não havia vivalma na cidade. Eu não estava informado, mas o país estava em estado de sítio e eu já estava transgredindo o toque de recolher.

Cheguei à maior praça da cidade e no meio da praça encontrei um jovem desconhecido, alto, loiro, que me dirigiu a palavra.

- Oi, tudo bem?

- Tudo bem, respondi.

- Você estava pretendendo ir aos Estados Unidos e agora está querendo voltar para o Brasil?

- É, respondi. (Mas agora, perguntei a mim mesmo, quem é este que conhece meus planos de viagem que eu não falei para ninguém?)

O jovem continuou:

- Olhe, não volte não. Vá em frente que tudo vai dar certo.

Naquele momento era como se eu estivesse em transe. Até hoje não sei se ele falou comigo em Português, em Espanhol ou em Inglês. O fato é que suas palavras eram seguras e convincentes.

Agradeci-lhe, comecei a andar de volta ao hotel e, de repente, olhei para trás e aí o espanto aumentou.

Não consegui mais ver o rapaz.

Antes de dormir, orei e cheguei à conclusão que Deus providenciara um mensageiro para animar-me e que providenciaria todo o suficiente para fazer a viagem.

No dia seguinte fui ao Correio colocar uma carta para casa e, na minha frente, na fila estava um homem parecido com um europeu, com muitas cartas na mão.

Sem querer querendo, vi no timbre dos envelopes o nome de uma igreja. Pedi-lhe licença e perguntei-lhe:

- O senhor é pastor?

- Sim, amado, respondeu-me, e o senhor, também é?

Respondi-lhe que sim, identifiquei-me e falei da ordem de Deus que me enviara aos Estados Unidos.

Ele me perguntou onde eu estava hospedado e na mesma hora convidou-me para ir à sua casa, fazendo-me a proposta de passar uma semana pregando em sua igreja.

Levou-me logo à igreja a qual era bem grande e em seguida levou-me à sua casa onde me alojou numa confortável suíte.

Aquela foi uma das mais agradáveis semanas da minha vida. A igreja gostou muito das mensagens nas quais enfatizei o tema que me encanta, "Santidade".

Por incrível que pareça, na despedida houve até lágrimas. O pastor conduziu-me até o ônibus e emocionado entregou-me um envelope, o qual recebi com alegria e agradeci muito, prometendo voltar ali em alguma de minhas próximas andanças internacionais.

Ele tinha dito que aquilo era um pequeno reconhecimento que a igreja estava demonstrando pelo trabalho realizado. Tomei um ônibus e segui para Cochabamba.

Chegando lá descobri que dentro de mais duas horas havia outro ônibus que seguiria para La Paz, capital da Bolívia.

Como a igreja tinha pago minha passagem de Santa Cruz para Cochabamba, estava ainda em condições de viajar por um trajeto bem longo. Comprei minha passagem e segui para La Paz. Pensei:

- Em La Paz vou ter que procurar uma igreja, pois o dinheiro encurtou muito.

A viagem seria pelas montanhas andinas. Foi realmente um deslumbramento se bem que a altura ia deixando o brasileiro com sérias dificuldades de respiração.

Mesmo assim, foi uma bênção.

Chegando a La Paz, fui para um hotel. Esperava tomar um banho, descansar e mais tarde procurar uma igreja.

Mas isto não foi necessário.

Abri a mala, peguei o envelope e resolvi abri-lo. Quando o abri grande foi a surpresa. O envelope estava apinhado de dinheiro boliviano que eram notas vermelhas e com varias notas verdes, de dólares.

Aquele dinheiro deu para eu viajar pelo Peru, passando pelo Equador e chegando até a Colômbia.


Autor: Paulo de Aragão Lins


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