Tópicos Especiais - Introdução aos Estudos das Utopias



UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA

CENTRO DE LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS COM HAB. EM LÍNGUA INGLESA

DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS II – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DAS UTOPIAS

PROFESSOR: OLAVO PONTE

AP1 DA DSICIPLINA TÓPICOS ESPECIAIS II – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DAS UTOPIAS

Antônio Rondney Mouta Xavier

SOBRAL, MAIO DE 2009.

Introdução

Trabalho apresentado para obtenção da nota da 1° AP na disciplina de Tópicos Especiais II - Introdução aos Estudos das Utopias, ministrada pelo Professor Olavo Ponte no 9° período doCurso de Letras com Habilitação em Língua Inglesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.

TÓPICOS ESPECIAIS II

1) Construa  um conceito para o nome UTOPIA.

O nome ora em análise é de autoria do romancista Inglês Thomas More (1477-1535) e intitula sua obra escrita por volta de 1516 - De optimo Reipublicae Statu deque Nova Insula Utopia Libbelus Vere Aureas,em narrativa latina, a qual traz a forma de república perfeita traçada pelo autor.

Podemos dizer da significação da palavra Utopia, que segundo alguns estudiosos defendem, a mesma surge como um neologismo formado pela derivação grega de TOPOS (lugar), anteposto ao prefixo de negação latinoU (não), e posposto o sufixo nominal IA, vindo a formar a idéia de designação de uma impossibilidade lógico-formal e também possibilidade retórico-imaginaria, concretizando assim a idéia de que a palavra se refere a um não-lugar, lugar inexistente ou lugar não-físico, apenas imaginário ou idealizado.

Para alguns historiadores, o encanto de More com as narrações de Américo Vespúcio sobre a Ilha de Fernando de Noronha, o inspirou a cunhar a obra Utopia como um lugar perfeito com uma sociedade pura, longe da hipocrisia européia de sua época. Posteriormente o nome ganhou dimensão não apenas de designação do irreal, inalcançável, mas também virou gênero e subgênero literário como o cyberpunk, a ficção científica e as sátiras.

2) Qual seria a tipologia do gênero utópico?

Para discorrer sobre as principais características do gênero utópico podemos nos utilizar das definições usadas pelo historiador Raymond Trousson.

Trousson estabeleceu um esquema geral para explicar as características da Utopia. Segundo ele as Utopias trazem o Insularismo como característica mais recorrente. Sua condição geográfica, seu isolamento, mesmo que ela não seja uma ilha e sua constante fuga da realidade por uma atitude mental, são a representação da exigência de manter a comunidade afastada da corrupção externa.

Outra característica é a da Utopia como uma Autarquia onde há o desprezo pelo Ouro e pela prata e com independência econômica absoluta. A Autarquia teme a desigualdade trazida pelo sistema monetário, por isso seu sistema é fundado sobre a agricultura, pois encara o comercio como um sistema parasitário anti-social e imoral.

O controle perfeito e total do funcionamento do sistema Utópico assinala outra característica sua: A estrutura geométrica. Segunda esta, a Utopia deve ser perfeita e a vida em sociedade deve funcionar como um relógio, em eixo firme, sem estar submetida à fantasia e a exceção. O amor pela ordem levado a um ponto de misticismo reflete a paixão pela simetria.

Para os utopistas, são as leis que fazem o povo bom, pois acreditam serem estas nascidas da sabedoria e da razão, obras de um personagem mítico, um legislador. Acreditam também que as instituições formam os costumes e isto nos traz outra característica importante da Utopia: A defesa da Legislação e das Instituições.

Na Utopia o cidadão é apenas parte de um todo onde a sua vontade se confunde com a do estado. São ignorados dissensos, dissidências, reivindicações e oposições, assim como também na Utopia não existem partidos políticos, existindo na verdade uma Uniformidade Social, fruto das leis do estado e mais traço marcante da utopia.

O Utopismo sacrifica o indivíduo em defesa da instituição criada para proteger o homem. Com Dirigismo absoluto, o coletivo é prioridade diante do particular e isto faz com que haja intervencionismo radical do estado, de modo a garantir a ordem e equilíbrio total do sistema Utópico.

Com a ausência de propriedade a Utopia garante a igualdade de seus cidadãos, pois as fontes de conflitos, (pobreza, inveja e outras), são eliminadas em prol de seu Coletivismo. A sua igualdade pressupõe a exaltação do trabalho e o horror ao parasitismo social.

Através da Pedagogia, objeto absoluto do Estado, a Utopia age sobre o material humano, erradicando a sua natureza primitiva, anárquica e individualista. A pedagogia é usada para introjetar no homem a ordem e a regra, de modo a suprimir a contestação e a dissidência, fazendo com que sua estrutura mental se comporte de acordo com a estrutura social.

A religião na Utopia acredita na imortalidade da alma, mas sem questões de ordem teológica. A fé é voltada para um Deus criador, mas não há uma igreja institucionalizada, sendo assim a religião a única característica da Utopia a fugir do Dirigismo absoluto. Há tolerância é ampla desde que não haja desordem. Na Utopia não se tem uma religião, na acepção comum da palavra, mas apenas um deísmo, para que não se crie uma organização própria, autônoma, estabelecendo assim uma liberdade religiosa aparente, pois a Utopia em si mesmo já é a religião, uma Auto-adoração da cidade e de seu modo de vida.

Foi através da disposição dos elementos tratados acima que More projetou sua crítica contra a sociedade Européia de sua época, que vivia de luxos e do trabalho das classes social inferiores e em específico ao rei da Inglaterra Henrique VIII. Criticou as injustiças e mostrou uma alternativa de organização social oposta a de seu tempo.

3) Faça uma analogia entre a Utopia de More e a Nova Atlântida de Bacon. Ao mesmo tempo, revele pontos que as distanciam.

Sabemos que a obra de More como também a de Bacon buscam expor uma alternativa a sociedade em que eles vivam, movidos por um grande desejo de construção do lugar perfeito para o homem, além da crítica a organização social de seu tempo. As obras divergem sim, mas a plenitude de ambas é muito mais harmônica do que dissonante.

Levando em consideração o momento histórico de escrita das duas, podemos contrapor as pretensões das mesmas. A obra de More traz apenas possibilidades para solução dos problemas da humanidade daquela época, não propõe mudança com nada de extraordinário. "More não olha o futuro" de acordo com Mauro Brandão Lopes (p. 37)Nova Atlântida, no entanto, traz o vislumbre da tecnologia que segundo a obra serviria para solucionar vários problemas, como a produção de alimentos transgênicos, cruzamento de espécies,transplantes, submarinos, máquinas que podiam voar pelo ar, coisas que só muito tempo depois se tornou possível ao homem e outras ainda são desconhecidas.

O Insularismo é característica presente nas duas obras. Localizam-se Geograficamente em ilhas. Ambas estão afastadas da corrupção e do vício de outras civilizações. No entanto no que tange a valores econômicos podemos dizer que a obra de Bacon é menos radical, chegando a valorizar o ouro, prata e pedras preciosas para uso em adorno de roupas dos ilustres da Bensalém "... Trazia belas luvas, adornadas com pedras preciosas e sapatos de veludo adamascado (Nova Atlântida, p. 244). Já para os utopianos o ouro e a prata servia apenas para forjar cadeias e correntes para os escravos e para os serviços mais vis. "Forjam-se cadeias e correntes para os escravos... Estes últimos levam anéis de ouro nos dedos e nas orelhas, um colar de ouro no pescoço, um freio de ouro na cabeça" (idem, p. 93) As suas roupas seguiam um padrão, não havia diferença. Todos se vestiam de modo simples. "as roupas têm a mesma forma para os habitantes de toda a Ilha" (Utopia, p. 80).

O visitante que chegasse a qualquer das cidades das ilhas descritas já encontraria tudo organizado e um povo feliz. Ambas as cidades deviam sua organização e legislação a um legislador maior que tinham por responsabilidade fazer com que tudo ocorresse de forma perfeita para a felicidade de seu povo. Nestes estados eram descartados possibilidade de mudanças, pois tudo já estava organizado de modo a contribuir para o bem comum.

O povo das duas obras gozavam de liberdade religiosa. Os utopianos não tinham religião oficial e o povo de Bensalém tinha espaços para outros credos apesar do cristianismo ser predominante. Utopianos acreditavam que a religião era capaz de estimular à virtude. Já o povo de Bensalém acreditava que esta era o melhor freio ao vício.

Como característica bastante diversa na cultura dos povos das duas obras podemos citar o casamento. Os casais da Utopia tinham o direito de ver um ao outro nu antes de casar para que não houvesse o constrangimento de descobrirem alguma deformidade oculta depois do casamento. Já os noivos da Nova Atlântida tinha alternativa mais confortável: mandavam um amigo de cada um do casal banhar-se com o outro numa das lagoas de Bensalém de nomes Adão e Eva para que lhe pudesse examinar o corpo.

O coletivismo é traço comum tanto da Utopia quanto de A nova Atlântida. Os indivíduos eram iguais entre si. O Bem estar coletivo era maior que os desejos pessoais. O Dirigismo absoluto controlava a vida feliz dos habitantes, os quais desconheciam a poligamia, bordéis, traição e outros vícios tão comuns nas sociedades, pois lá tais mazelas eram impraticáveis.

Criatividade e arte à parte, as duas obras contribuíram bastante para o debate e questionamento das sociedades ao longo do tempo, pois estudiosos do assunto não se cansam de questionar a profundidade e o alcance da palavra cunhada por More. Sua praticidade, ramificação e subgêneros. Além disso, outros não deixam de tentar criar suas sociedades com traços Utópicos, como foi o caso de Padre Cícero no Ceará e Antônio conselheiro na Bahia com os seus ideais de comunismo. Na verdade More e Bacon talvez tenham dado apenas mais um passo para que a humanidade continue sonhando com um mundo perfeito, mesmo que seja uma "Utopia".

4) Em Nova Atlântida, Bacon propõe uma sociedade perfeita. Esta sociedade utópica se caracteriza por ser altamente desenvolvida tecnológica e cientificamente. Podemos assim, dizer que Bacon faz uma espécie de previsão do nosso mundo, do mundo moderno.

Podemos imaginar por um momento que Bacon fez e acertou a previsão por termos hoje uma sociedade altamente desenvolvida tecnologicamente, como a de sua obra. O homem já tem o avião para auxiliá-lo e tornar a vida mais cômoda. Já temos vacinas, transplantes, curas, clonagens, remédios e benefícios, grande parte deles para quem pode custeá-los. Aliás, temos duas sociedades: uma tecnologicamente inserida e outra à margem desta tecnologia.

Pegando como exemplo um pequeno recorte da sociedade brasileira podemos afirmar que vivemos numa sociedade voltada para o "ter" em detrimento do "ser". Onde cada Homem/Mulher representa um número no cadastro dos governos por toda a vida: CPF, RG, CNH, PIS/PASEP, CARTÃO DO BOLSA FAMÍLIA, CERTIDÃO DE NASCIMENTO, TÍTULO DE ELEITOR E OUTROS. A cada dois anos, em época de Eleição, este número passa a representar um voto que geralmente é conquistado por outro número, o das notas que o compram, pois o ter é prioridade. O homem de hoje não tem a religião como um laço com a fé, mas sim como uma empresa. Fé/Religião, na nossa sociedade Virou negócio e dos "bons". Temos hoje emissoras de tevê compradas com a fé. A fé entrou para a política como deputados, senadores, vereadores e prefeitos para participar do poder, já que hoje não se tem mais a igreja a frente do estado. A fé toca em CDs. Faz-se shows com a fé e os seus super astros são pastores, padres e etc. E os direitos autorais de Deus? Não pagam. Sim, pois deveriam pagá-lo, Não dizem que é ele quem usa o artista para se expressar? A nossa sociedade usa Deus como garantia de sucesso para os seus negócios e objetivos. A Fé dos nossos dias até mata inocentes. O "ter" é maior que a fé.

Quem de nós já refletiu durante uma fila de banco, hospital ou outra assim e viu o quanto somos individualistas, egoístas e ferozes em momentos como estes. Quando temos problemas a resolver, seja de saúde, contas a pagar ou outros, somos prioridade, não importa o semelhante nem o tamanho da sua necessidade, somos o centro do mundo neste momento e mostramos o quanto ainda somos irracionais.

E os valores morais, éticos, familiares? O que fizemos destes? Grande parte de nossas famílias está dilacerada, aviltada, sem estrutura. Pai e filho em conflito constante não têm tempo de discutir estes valores, de construí-los e o resultado que temos disto são profissionais corruptos, políticos da mesma estirpe e toda uma sociedade impregnada de mazelas que já desconhece o que é certo ou errado, que apenas opta entre o oportuno e inoportuno, fazendo valer a lei da maior vantagem. O homem de hoje de tudo quer tirar vantagem. Sem vantagens a sociedade não anda.

Apesar da coincidência de Bacon ter descrito uma sociedade desenvolvida cientificamente como a nossa atual, sabemos, no entanto que Bacon não teria feito esta previsão conscientemente, pois não teria este poder, e menos ainda objetivava uma sociedade avançada tecnologicamente e humanamente atrasada como a que vivemos. Bacon na sua obra, certamente expressou apenas sua criticidade e seus anseios de um tempo de acordo com os seus ideais de Ética, Justiça, fraternidade e Igualdade.

5) Embora tenha nascido como gênero literário, a utopia imbrica-se com fenômenos históricos e conseqüentemente diálogo com a política e com os problemas sociais.Essa interconexão parece ser maior do que a registrada em outras manifestações literárias.Por quê?

Certamente foi a constante insatisfação dos Utopistas que os fez expressar e até mesmo criar seus ideais. O homem é naturalmente insatisfeito com o que o circunda. É natural do homem querer mudar, melhorar, progredir; mas foi o crescimento de uma consciência ética e moral que levou More a se aventurar com sua obra desafiando a sua sociedade, os poderosos de seu tempo e todo um sistema ao expor seus ideais.

Thomas More, o criador da palavra Utopia, que depois viria tornar-se gênero literário, viveu numa sociedade corrupta, injusta e desonesta. Isto provavelmente terá sido o combustível necessário as idéias utopistas que tivera. More provavelmente viu na literatura a oportunidade de extravasar sua indignação com o que via em sua volta, e a chance de criar, embora apenas no papel, um lugar perfeito, fazendo nascer as idéias de sociedade comunista.

A utopia mostra a sociedade desnudada, sem mascaras e sem poder. Cria a perspectiva do lugar perfeito, sem sofrimentos, egoísmos e sem dores. Talvez por isso desde o surgimento destes pensamentos a humanidade não cansa de buscar a sua forma de utopia. Citemos cuba com o seu comunismo de mais de meio século, que foi atropelado por mais um câncer da nossa sociedade, o capitalismo.

A Utopia não poderia ser apenas mais um gênero literário. Ela tornou-se parte inseparável da política, da ciência, da filosofia, da religião e de toda nossa sociedade por que permite ao homem a esperança e garra necessária para poder levantar-se contra toda forma de injustiça que lhe inquieta, perturba e lhe faz infeliz. A Utopia abriu os olhos do homem para que ele pudesse sonhar.

"A maior capacidade de um ser humano é a de poder indignar-se contra toda forma de injustiça realizada contra qualquer ser humano em qualquer parte do mundo a qualquer tempo" (Henry David Thoreau - 1862)

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Site:www.wikkipedia.com.br

Proposta de criação do U-TOPOS - Centro de Estudos sobre Utopia IEL-UNICAMP (apud site:www.unicamp.com.br)

BANCON, Francis. A Nova Atlântida.Tradução e notas de José Aluysio Reis de Andrade.

www.google.com.br


Autor: Antônio Rondney Mouta Xavier


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