FIDCs: uma alternativa, apesar dos juros altos



A política de juros altos torna a maioria dos investimentos que não se baseiam nos títulos públicos meros coadjuvantes nas carteiras dos investidores. “Em termos de política de curto prazo não há investimento alternativo em condições de concorrer com um adversário do porte do governo”, afirma Marcelo Rabbat, da Risk Office, agencia classificadora de risco. Ele acredita que as fundações devem ficar concentradas nesse tipo de aplicações até haver uma mudança de rumo da política monetária. Isso não quer dizer, porém, que não se deva ficar atento ao surgimento de oportunidades de ganho com investimentos de médio ou longo prazo desatrelados pela Selic.

Dentro desse perfil, uma modalidade que tem conseguido ganhar espaço no mercado são os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), os fundos de recebíveis, compostos por artigos originados da securitização de uma carteira de crédito. Por ser uma opção de capitalização das empresas de custo menor e a emissão de debêntures, a expectativa dos analistas é que esse segmento cresça expressivamente nos próximos anos.

Thyrso Pizzoferrati, consultor de Investimentos da Mercer, entende que num quadro de médio a longo prazo um FDIC bem estruturado pode ser uma boa opção. “Claro que é preciso considerar o grau de risco de crédito, entre outros, mas a rentabilidade é muito atraente. É difícil antever como se comportará a política de juros para os próximos períodos, mas existe consenso de que as taxas precisam cair. Se isso ocorrer, os fundos de recebìveis certamente deverão ter uma procura maior”.

Marcelo Rabbat, por seu lado, destaca que o perfil dos recebíveis mudou bastante de um ano e meio para cá, com ingresso de variados segmentos da economia nessa alternativa de empréstimo, tais como financeiro, comercial, industrial, imobiliário, hipotecário, arrendamento mercantil, prestação de serviços e educação. Entrem nesse perfil desde aluguel de shoppings, venda de ingressos, agronegócios e outros. “Num cenário de juros mais baixos, isso significa um bom leque de alternativas para os investidores, com um bom retorno”.

Negócio do futuro
Os Fundos de Recebíveis ganharam impulso em Janeiro do ano passado com o início das negociações de cotas da Bovespa, que permitiu o desenvolvimento de um mercado secundário, fator essencial de geração de liquidez para os investimentos. O desempenho crescente do segmento pode ser constatado no mercado secundário da BovespaFix, no qual o FIDCs negociados em 2004 registraram volume financeiro de R$ 421, 034 milhões, com 132 negócios. Neste ano, no acumulado de janeiro até o início de junho, esse volume já é da ordem de R$ 433, 576 milhões, com 136 negócios realizados. Os 41 fundos de recebíveis existentes somavam patrimônio liquido de R$ 5, 056 bilhões até abril ultimo. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid), o crescimento patrimonial foi de 175,64% em 12 meses. No ano a elevação esta em 11,41%.

Para Charles de Toledo, gerente de Operações de Renda Fixa da Bovespa, o FIDC “é o negócio do futuro”. Segundo ele, entre as varias alternativas de empréstimos que as empresas possuem, o FIDC se revela o mais vantajoso e mais barato. Na emissão de debêntures, por exemplo, o investidor compra o papel com um deságio enorme, fazendo com que o custo da empresa se eleve. Um FIDC, depois de passar pelo crivo de uma agência de rating (classificação de risco), vai antecipar a receita a uma taxa de desconto de mercado. “Do ponto de vista financeiro a maior forma da empresa captar recursos é através de um FIDC, porque é mais barato, consegue antecipar a receita a uma taxa razoável”.

Toledo vê os FIDCs como uma alternativa interessante para os fundos de pensão. “Ainda é uma modalidade insipiente no mercado e o volume financeiro não chega a ser expressivo. Mas em breve esse instrumento será melhor compreendido”, acredita. Ele ressalta ainda que existem vários tipos de FIDC e, por isso, a analise de investimento demanda mais atenção para verificar quais são os ativos e o lastro que serve de recebível. “O distribuidor de energia elétrica que faz um FIDC, por exemplo, tem na sua classificação de risco um triplo A, ou seja, risco praticamente zero de não receber. Há outros créditos, como os consignados ou os de financiamento de carro, cada qual com o risco diferente. Embora a securitização dê uma garantia maior ao investidor, é preciso acompanhar a performance do lastro ativo”, explica.

O gerente da Bovespa também é de opinião que os FIDCs poderão se tornar importante opção de investimento para os fundos de pensão. “Se a taxa básica de juro (Selic), que esta em 19,75% ao ano, começar a cair, as instituições precisarão busca ativos que remunerem melhor para cumprirem a meta atuarial”, argumenta.

Posição dos fundos
Os fundos de pensão que investem em FIDCs são, em geral, os de grande porte. Rabbat acredita que isso se deve em parte ao fato de que os menores, em geral, não contam com uma estrutura de análise própria para fazer uma boa avaliação dos recebíveis, ainda pouco conhecidos. Os bancos, porém, já começaram a olhar para este público. Thyrso Pizzoferrati destaca que já existem muito gestores externos de médios e pequenos fundos que analisam com carinho as possibilidades de investimento para essa clientela, incluindo os recebíveis. “O bom gestor deve oferecer essas visões diferenciadas”, destaca.

Paulo Julião, diretor Financeiro do Economus, conta que para atender às necessidades de longo prazo, bem como avaliar o risco intrínseco das operações com essas características, os ativos que o fundo considera mais adequados são os títulos públicos. Com base nos estudo desenvolvido pela sua acessória atuarial, o fundo dos funcionários da Nossa Caixa investiu parte significativa dos recursos em Notas do Tesouro Nacional, Série C (NTNs-C), títulos com remuneração indexada ao IGP-M acrescido de cupom estabelecido na aquisição do ativo. As alocações em NTNs-C foram realizadas em meados de 2003, e os títulos têm vencimentos entre 2005 e 2031.
Já para um atendimento dos objetivos de curto e médio prazos, os recursos da entidade estão alocados em carteira própria e em fundos de gestão ativa, entre os quais em um fundo de compra cotas de FIDCs, cuja denominação é Fundo de Investimento em Cotas de Fundo de Investimento em Direitos Creditório Pactual Recebíveis. O Economus encerrou maio de 2005 com o patrimônio de R$ 1,989 bilhão, sendo que a alocação em FIDCs, através do FIQ, representa 0,41% da posição patrimonial.

Mesmo não tendo ainda participação no segmento do FIDCs, a Fundação Promon está analisando a possibilidade de investir nesse tipo de fundo. “É uma operação complexa e a análise não é simples”, afirma Mario Ribeiro, diretor da entidade. Segundo ele, é preciso avaliar bem quais as garantias dos diversos FIDCs existentes, como se comportar em caso de defaut (não cumprimento das obrigações), se há segregação de patrimônio, quem são os players, como é o processo de seleção do crédito etc. Ou seja, há uma série de questões importantes que precisam ser analisadas com critério de profundidade antes de tomar uma decisão”.

A Ceres- Fundação de Seguridade Social estava pronta para começar a investir em FIDCs até o final de junho. Luciano Fernandes, diretor de Investimentos da Ceres manifestou sua convicção de que se trata de uma alternativa interessante de investimentos para os fundos de pensão, “principalmente com a possibilidade de as taxas de juros básicos voltarem a cair nos próximos meses”. A Fundação não deixa de tomar suas cautelas: pretende investir nos FIDCs, no máximo, 10% dos seus recursos, cuja carteira soma R$1,4 bilhão. Afinal, segundo Fernandes, é a parte da política de investimento do fundo não concentrar as aplicações em alguns poucos ativos.

*É importante ressaltar que Marcelo Rabbat atualmente é também diretor da PR&A, empresa especializada em Risco de Crédito, Risco de Mercado e Consultoria de Investimento.

Fonte: Blog Caderno de Economia


Autor: Agência Goodae


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