REFORMA PROTESTANTE - O Tilitar da Moeda na Caixa



Edevânio Francisconi Arceno

Prof. Marcos Neotti

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Licenciatura/ História (HID 0771) – História Moderna

19/05/09

RESUMO

A palavra Reforma, apesar de complexa, seus significados mais comuns são: melhoramento; conserto; reparação; restauração; modificação, ou seja, aprimorar, reparar, restaurar ou modificar o que já está feito. Porém quando observamos os fatos da Reforma Religiosa, a nomenclatura Reforma fica sem sentido, pois não foi isto que aconteceu.O que houve foi a contrução de novas religiões, novos dogmas, novas alternativas e ainda que todas tenha o mesmo fim, guiar o Homem ao reencontro com Deus, cada uma delas afirma ser o único e verdadeiro caminho.Mas será que a dita reforma , tevê exito por que Deus queria dar uma nova chance ao Homem? Será que existe outros fatores que contribuiram para este feito?Veremos no decorrer deste trabalho, que existem tantos motivos materiais quanto espirituais, além disto outros interesses menos autruistas também contribuiram. Estudaremos as dimenções econômicas, políticas e sociais que contextualizaram a histórica Reforma Religiosa.

Palavras-chave: Igreja; Burguesia; Transformações.

1 INTRODUÇÃO

Acreditamos que uma revolução nunca acontece baseada apenas em um fato isolado, por isso entendemos que vários fatores culminaram na Reforma Religiosa. Não queremos minimizar nenhum deles, da mesma forma, achamos difícil destacar o principal, porém isto não significa que não exista um.

Seguiremos o método cartesiano, analisaremos cada dimensão separadamente. Assim, poderemos perceber que para a dimensão econômica os motivos da reforma são diferentes da política, e assim por diante. Compreendendo cada contexto, poderemos analisar de maneira mais precisa os motivos de cada uma.

Como cristãos esperamos que o motivo mais importante desta reforma, foi a providência divina com o intuito de resgatar o Homem, colocando-o novamente no caminho, para que no futuro ambos possam estar para sempre no paraíso.

Como escritores, temos a responsabilidade de expor na forma mais clara possível todas as informações necessárias para que nossos leitores possam analisar e chegar a uma conclusão. Como historiadores, nosso compromisso é com os fatos.

2 A DIMENSÃO ECONÔMICA DA REFORMA RELIGIOSA

Os príncipes do Sacro Império Germânico estavam com dificuldades de aceitar a imposição do imperador Carlos V da Espanha e sua subordinação a todas as exigências da Igreja Católica. Suas inquietações causavam ressentimentos com os demais povos, por ter que pagar impostos absurdos para uma instituição estrangeira em detrimento do povo Germânico.

Neste contexto Lutero encontrou o apoio para dar continuidade às tentativas frustradas do britânico Wyclif e do Boêmio Jan Hus, de reformar a Igreja Católica Romana. O apoio e a proteção do Príncipe Frederico III, eleitor da saxônia foi imprescindível na Reforma Protestante liderada por Lutero.

Este apoio foi ganhando cada vez mais adeptos a partir do momento em que a burguesia germânica, viu na reforma a possibilidade de livrar-se dos tributos e do poder cerceador da Igreja Católica e a possibilidade de enfraquecer o poder político de Carlos V.

Em outro contexto, os interesses burgueses também contribuíram na Reforma Calvinista, pois a Igreja Católica condenava a prática da usura, ao contrário do calvinismo que incentivava o acúmulo de bens, indo de encontro aos interesses da Burguesia.

Por isso, dentre os reformistas o que mais recebeu apoio da Burguesia, foi John Calvino que além de conceber a usura, pregava a predestinação, ou seja, os eleitos de Deus são justamente aqueles que trabalham e acumulam riquezas.

"Inclusive as chamadas guerras de religião do século XVII aconteceram, antes de tudo por interesses materiais de classes muito concretas. Estas guerras foram lutas de classes, da mesma forma que os conflitos internos que mais tarde se produziram na França e na Inglaterra. Que estas lutas tivessem certas características religiosas, que os interesses, necessidades e reivindicações de cada uma das classes tenham sido dissimulados com uma capa religiosa, não modifica a situação em nada e se explica pelas condições da época" (Engels, apud Marques, Beirutte e Faria, 2005 p. 104)

Surgiu a ética protestante, que impulsionou o desenvolvimento do capitalismo, recebendo total apoio dos burgueses que em pouco tempo espalhou o calvinismo por toda Europa.

Na Inglaterra, a ruptura com a Igreja Católica Apostólica Romana, foi fundamentada no desentendimento entre Henrique VIII e o Papa Clemente VII em relação ao divórcio, ou seja, uma questão politica. Porém a questão ecônomica esteve intrisecamente ligada, uma vez que a Igreja Católica era proprietária de um grande número de bens e propriedades, que foram confiscado logo após esta ruptura, que deu origem ao Anglicanismo, a nova Igreja de Henrique VIII e seus súditos.

3 A DIMENSÃO POLITICA DA REFORMA RELIGIOSA

Como dissemos a Reforma Inglesa, aconteceu em virtude das necessidades políticas de Henrique VIII. O mesmo era casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, então Henrique solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do casamento.

Com a recusa do Papa, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protetor da Igreja inglesa. O Parlamento concedeu a Henrique VIII e os seus sucessores a liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo.

Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI , os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.

Outra questão política que podemos mencionar foi a recém formação dos estados Nacionais.

Estes Estados Nacionais, entre eles a França, viram na Reforma Religiosa uma oportunidade de aumentar sua autonomia, consolidando seu poder e soberania política, minimizando assim as interferências eclesiásticas da Igreja de Roma..

4 A DIMENSÃO SOCIAL DA REFORMA RELIGIOSA

Os séculos XVI e XII foram marcados por profundas transformações sociais, devido a um período de transição, onde muitos conceitos e movimentos se contradiziam. O antropocentrismo se confrontava com o Teocentrismo, o Geocentrismo contra o Heliocentrismo, enfim a razão versus a Fé.

Este período de renascimento produziu alguns pensadores, tais como Erasmo de Rotterdam e Nicolau Copérnico, que através de suas obras influenciaram muitos outros pensadores, clérigos e nobres, pessoas formadoras de opinião, entre elas o próprio Lutero.

Apesar dos diferentes contextos sociais e seus motivos para aderir um movimento separatista, todos os territórios europeus viram na Reforma Religiosa uma alternativa para livrar-se de vez dos dogmas e conceitos medievais da Igreja, possibilitando a evolução das ciências.

No campo artístico, a Reforma influenciou diversos artistas renascentistas propiciando um grande número de literaturas, arquiteturas, esculturas, pinturas, todas as belas artes, servindo de expressão popular a esta Reforma.

Outra questão social que contribuiu para a difusão da Reforma foi o desenvolvimento técnico e o surgimento da imprensa, que possibilitou a publicação em série da Bíblia, conscientizando e alertando a pequena parcela da sociedade que conhecia a escrita, produzindo fiéis mais exigentes e críticos em relação à Igreja.

5 A QUESTÃO ESPIRIUAL DA REFORMA RELIGIOSA

Apesar de algumas pessoas já terem se manifestado e criticado o comportamento de alguns lideres eclesiásticos e os desvios da Igreja de Cristo, a eclosão do processo reformista envolveu o papa Leão X e seus métodos para arrecadar dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma.

Leão X negociou a venda de indulgências, que era o perdão de pecados cometidos. Este benefício também se entendia aos mortos, pois segundo o Frei dominicano alemão Jhoann Tetzel, o maior vendedor das indulgências papal, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando do purgatório para o Céu!

Diante disto, no dia 31 de outubro de 1517, o monge Martinho Lutero, protestou colando suas 95 teses na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, onde atacava as indulgências, alegando que a única forma do Homem justificar-se diante de Deus é pela Fé, e ninguém mais tem este poder, inclusive o Papa.

A intenção de Lutero não era criar uma nova Igreja, mas sim Reformar a Igreja Católica Apostólica Romana, porém suas interpretações bíblicas divergiam muito das interpretações dos lideres eclesiásticos, que o excomungaram. Lutero só não foi para a fogueira devido a proteção de alguns nobres saxões.

Na Suíça, região de próspero comércio, teve início o processo de Reforma Protestante com Ulrich Zwinglio (1489-1531). Seguidor de Lutero e de Erasmo de Roterdam. Zwinglio morreu porque fazia pregações que resultaram em violenta guerra civil entre reformistas e católicos.

A obra de Zwinglio foi continuada por um francês, João Calvino, que sofreu uma forte perseguição em seu país e fugiu para a Suíça. Em Genebra, começou a propagar a doutrina calvinista, que teve grande aceitação entre os representantes da burguesia, na medida em que valorizava aspectos de seu interesse, tais como o trabalho e o acúmulo de riquezas.

A doutrina calvinista consolidou-se por meio do Consistório[1], que estabeleceu em Genebra um rígido modelo de vida para os habitantes da cidade e suas atividades sociais.

Quanto a Reforma Anglicana na Inglaterra, foi gerada por um conjunto de fatores, dentre eles, a influência das idéias de John Wyclif, o nacionalismo inglês que se opunha ao poder da Igreja Católica e a necessidade da Monarquia inglesa romper com Roma para centralizar o poder.

6 CONCLUSÃO

A Reforma Religiosa reduziu o poder e a influência de um dos últimos Impérios da Terra. Apesar de não ostentar este status, podemos analisar através de suas ações que se trata de uma instituição que tinha poderes políticos, propriedades em toda a Europa e ainda tinha autonomia para processar, prender e matar todos aqueles que ousassem desafiá-la.

Através deste trabalho entendemos que a Reforma Religiosa só foi possível devido a diversos fatores, contextualizados na realidade daquele momento histórico e também que as investidas de Wyclif e Hus não deram certo por não contemplar o mesmo contexto.

Além da justificativa de reconduzir o Homem ao caminho de Deus, todas as reformas européias tinham em comum a questão financeira, reflexos das transformações sociais. Uma coisa é certa, a Reforma Religiosa foi um importante marco na Historia do Homem.

Nesta busca incansável pelo criador, o Homem encontrou motivos para sacrificar, flagelar, flagelar-se, guerrear, matar, queimar, enfim uma série de atrocidades, que às vezes nos fazem refletir. Será que realmente Deus criou o Homem a sua imagem?

Talvez o maior erro não estivesse nas mãos que jogavam a moeda na caixa para tilintar, pois estas pessoas acreditavam que isto ajudaria a si mesmo e seu ente querido, que há muito tempo estaria sofrendo uma angústia interminável e finalmente encontraria repouso!

Então resta-nos perguntar, quem errou mais, os donos da caixa aonde tilintavam as moedas, ou aqueles que nos disseram que de nada adiantava tilintar a moeda, pois nossos entes estão mortos e se morreram condenados, não há mais nada a fazer. Então perguntamos, a Reforma aconteceu em virtude da alma do Homem ou da moeda que tilintava na caixa?

Como Cristãos acreditamos veementemente que foi em virtude da alma do Homem. Como escritores, esperamos que todas as informações expressas, contribuam para que nossos leitores cheguem a uma conclusão, ou que pelo menos tenha neste artigo uma direção em suas pesquisas.

Como Historiadores, acreditamos que cada temporalidade tem suas verdades, razões e enganos, e todas são igualmente importantes e necessárias para que esta História continue sendo escrita.

7 REFERÊNCIAS

DAUWE, Fabiano. História Moderna. Indaial: Ed. ASSELVI, 2008.

REFORMA PROTESTANTE. Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/reforma-protestante/reforma-protestante-5.php. Acesso em: 15/05/09.



[1] Um consistório é uma reunião de Cardeais para dar assistência ao Papa nas suas decisões.


Autor: Edevânio Francisconi Arceno


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