A importância do brincar para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança



Aline Leite Ramos [1]

Juliana Rocha R. Santos [2]

RESUMO: O artigo apresenta uma breve abordagem sobre a importância do brincar para a aprendizagem e desenvolvimento da criança. No primeiro momento iremos relatar a influência do estágio na Lua Nova na escolha pelo tema e em seguida apresentaremos uma breve revisão de literatura sobre a importância do brincar para o desenvolvimento e aprendizagem e o brincar livre e dirigido com base nas contribuições de WASJKOP(2004); OLIVEIRA(1992); MOYLES(2002) e Vygotsky citado por REGO(1995)

Palavras-chave: brincar, criança, aprendizagem e desenvolvimento.

1.0 Introdução

Juliana

Vivenciando a Lua Nova-escola e centro de Estudos, como estagiária, pude perceber como o lúdico é utilizado como forma de aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Na alfabetização, turma da qual fui estagiaria, observei o trabalho da professora que conseguia envolver os alunos nas atividades.

Durante nossas jornadas, um fato me chamou a atenção quando uma das crianças, que estava doente, pediu à mãe para ir até a escola e avisar a professora que enviasse as atividades de casa para ela fazer.Situações como estas permitiram-me crer que havia algo mágico na prática pedagógica e fui descobrindo que a ludicidade era um dos aspectos que contagiava as crianças.

A professora demonstrou prazer e entusiasmo através da sua prática pedagógica e boa parte da suas ações, enquanto docente, envolveram brincadeiras, jogos, e os faz-de-conta. Tais situações representaram para mim um estágio rico e muito prazeroso.

Quem não gosta de aprender brincando? Ao contrário do que algumas pessoas pensam, brincar para as crianças é algo muito sério, pois é através dos jogos e brincadeiras que a criança tem a possibilidade de expressar, imaginar, representar e aprender regras sociais (OLIVEIRA, 2005).

No grupo 6, no início do primeiro semestre, a chamada, por exemplo, foi utilizada como uma forma de integração com o grupo.

"(...)as fichas foram viradaspela professora e quempegasse a ficha tentaria identificar o nome do colega e dar um abraço nelee assim sucessivamente. As crianças se divertiram muito. (Trecho do registro feito pela estagiária Juliana em 03/03/2008)

 

Situações lúdicas eram integradas a rotina como: brincadeiras na hora do parque, aulas de música e educação física. Pude perceber através das experiências com outros grupos da educação infantil que havia na instituição o real desejo por uma educação de qualidade e compromisso com a infância.

Percebi que a integração entre a aprendizagem e o brincar pode acontecer se existir interesses comuns, espaço, desejo e parceria.

O brincar além de oportunidade prazerosa é, também, uma forma de possibilitar a interação da criança com o mundo social e seus desafios.

Aline

O meu interesse por este tema surgiu da fala de uma mãe que conheci quando disse que não colocaria seu filho na escola antes dos cinco anos porque antes disso estaria jogando dinheiro fora, pois nesta idade as crianças só fazem brincar. Esta fala mexeu muito comigo porque ao mesmo tempo que achei um tremendo absurdo, concordei em parte. Concordei que as crianças nesta faixa etária brincam bastante, mas este brincar tem uma importância indiscutível no desenvolvimento do sujeito.

Quando comecei a estagiar na Lua Nova (05/08/08) este tema foi ficando claro, rico e real, pois este brincar não é somente dado a devida importância na educação infantil, mas também no fundamental, inclusive é utilizado nos conteúdos escolares. Como sou estagiária volante e por isso vou circulando em diversas salas, percebo que a ludicidade é uma grande forma e estratégia para motivar, incentivar e criar o interesse dos estudantes sobre o que está sendo trabalhado.

Nos grupos de 2 a 5 estão muito presentes o faz-de-conta onde as crianças imaginam estar tomando banho embaixo do chuveiro, fazem da vassoura um grande cavalo, lutam e brincam como se fossem os super heróis. Com a música e a dança se envolvem, se entregam de uma maneira muito especial e pessoal, onde juntos se divertem, constroem e re-constroem.

No processo grupal, aprendem a ceder, a dar espaço para o outro falar, brincar, chorar e depois acolher. Desde o grupo 2, começam a visualizar os números e a perceber as diferenças das linguagens escritas e faladas, através de receitas de bolos, brigadeiros, sorvetes que acompanham na prática como é feito, experimentando e observando as medidas. Nos grupos seguintes, é dado prosseguimento com outros tipos de atividades, como: jogos de contagem( baralho), chamada etc.

O brincar ficou mais encantador para mim depois que entrei na Lua Nova, pois é uma escola que valoriza e incentiva o brincar, seja de forma lúdica para lidar com o real, ou de forma dirigida para guiar a uma aprendizagem pedagógica.

O que é idealizado na Lua Nova é alcançado porque todos comungam de um mesmo pensamento. Embora cada grupo tenha seu objetivo, a escola consegue aproveitar de cada grupo uma união de conhecimentos sobre cultura, arte e o que é ser HUMANO.

 
2.0 A importância do brincar para o desenvolvimento e a aprendizagem

A chegada ao mundo é o primeiro desafio à criança. As descobertas diárias e a forma como ela lidará através dessa relação com o meio são fatores fundamentais, os quais influenciarão no seu comportamento.

A brincadeira é a ponte que possibilita às crianças a ligação do real com o imaginário, ampliando e a aproximando o seu contato com o ambiente. Ao brincar, a crianças aprendem e ainda conseguem se apropriar de situações da vida cotidiana, criando, recriando, reinventado e transformando a realidade.

Vigostky (1984) citado por Rego(2004) revela a importância do brincar como um meio, um caminho que aproxima a criança ao mundo:

"(...) A brincadeira é uma atividade humana ora qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos".

Brincar é uma necessidade da criança, uma forma de interagir com o meio social. Por meio da brincadeira a criança vai se constituindo como sujeito, (WAJSKOP,2007:28). Através da brincadeira a criança é capaz de modificar a realidade e dar-lhe um novo sentido passando a adquirir um novo significado.

As coisas podem representar outras diferentes do que elas realmente são. Garantir esse espaço à criança é necessário a fim de que a mesma possa ampliar seus caminhos e o campo das descobertas.

Segundo Vygotsky (REGO,2004), a brincadeira passa por três etapas: imaginação, imitação e a regra. Toda situação imaginária traz em si regras de comportamento, ao desempenhar papéis sócias, como: vendedor, professor, médico, no qual a criança através da imitação se esforça para se aproximarde tal papel. Esse esforço permite que a mesma atue em um nível superior ao que se encontra.

Ao brincar a criança vê-se maior do que já é, salta da zona de desenvolvimento real para a proximal, compreendem e resolvem problemas, levantam hipóteses, vivenciam papéis, confrontam opiniões contrárias as suas, vivenciam conflitos, aprendem a cooperar, resolver, solucionar, compartilhar, compreender regras e criar outras.

O ato de brincar tem sido sempre uma marca fundamental para vivenciar a infância. Nessa etapa da vida humana é importante que as crianças tenham a oportunidade de vivenciar brincadeiras, faz-de-conta e situações lúdicas. Quando a criança não as vivenciam, a sensação é a de que existiram lacunas no desenvolvimento humano. A brincadeira é o modo através do qual a criança tem a possibilidade de se desenvolver socialmente, cognitivamente e culturalmente.

"Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. (...) Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, amemória, a imaginação. Amadurecem, também, algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais." (RCNEI,1998:22)

O brincar é mais do que uma distração, é uma linguagem na qual a criança revela uma forma de pensamento. Através da brincadeira a criança situa-se no espaço em que vive, constrói a idéia de si e do outro, experimenta, fala, age, interpreta, interage, enfim desenvolve habilidades essenciais para uma melhor compreensão do mundo.

Quando há interesse, o aprendizado ocorre. Considerar o grau de interesse das crianças por determinados assuntos é uma forma de perceber a sua realidade como uma possibilidade de articular suas vivências com a aprendizagem.

A maneira como a criança brinca e desenha reflete de maneira implícita na forma como esta lida com a realidade. Ao mesmo tempo em que se diverte, constrói laços de amizade, compartilha o funcionamento de um grupo, aprende a respeitar limites e a ceder para que o outro também se satisfaça. É um processo constante de construção da consciência de si mesmo e do outro (Oliveira, Vera Barros, 1992).

Brincar é estar junto com outro, sentir seu olhar, gestos e feições, o brincar aproxima e une as pessoas.(ESTEVES, 1956 ; LEITE, 1961).

Para as crianças que ainda não conseguem expressar-se oralmente, o brincar serve como uma alternativa para realizar a sua leitura do mundo. O envolvimento com as artes, a utilização do corpo é bastante utilizada como recurso para possibilitar a expressão: movimentos, gestos, entre outras formas fazem parte dessa descoberta, conforme (ESTEVES, 1956 ; LEITE, 1961):

" Temos na arte-educação, vários significados que constituem uma forma especial de linguagem. Formas de ser da criatura humana que dificilmente são verbalizadas ou expressas pelas palavras, podem ser expressas, através do desenho, da pintura, da escultura, da música, da dança e do teatro."

O brinquedo e o brincar são indispensáveis para a formação da estrutura e repertório mental, em que a criança utiliza-se deste meio para descobrir, mudar, repetir, construir ou até mesmo rejeitar sua realidade, no qual aos poucos evolui numa forma cada vez mais abstrata, organizada e significativa.

Conforme (OLIVEIRA, 1992), quanto mais a criança interage com a realidade externa, mais ela tem necessidade de uma organização interna, ágil e coerente, a fim de arquivar suas experiências e utilizá-las de modo adequado.

Desta forma com a ampliação da realidade externa, mais se faz necessário que seja ampliado sua realidade interna para que a estruturação mental se desenvolva com conexões internas ágeis e funcionais.

2.0 O brincar livree o brincar dirigido

Segundo Moyles (2002), brincar pode ser visto tanto como processo quanto como modo. Como modo, é interno, afetivo e natural. Como processo pode ser manifestado externamente pela criança ou pelo adulto. Configuram: brincar livre (modo) e o dirigido (processo).

O brincar torna-se dirigido quando o professor utiliza-se da mediação nas inter-relações e na forma do brincar. Tal intervenção proporciona as crianças uma gama de novas possibilidades de explorar o brinquedo, assim como amplia o repertório conceitual e mental, como um todo.O brincar dirigido, dá a possibilidade de ampliar capacidades e proporcionar avanços para a aprendizagem e desenvolvimento do sujeito.

"Por meio do brincar dirigido as crianças têm uma outra dimensão e uma nova variedade de possibilidades estendendo-se a um relativo domínio dentro daquela área ou atividade.(MOYLES,2002:33)

O brincar livre seria a exploração inicial das crianças sobre o ambiente e objetos que estão disponíveis. Neste momento as crianças em conjunto (ou não) organizam como, onde e quem irá brincar, a partir daí se divertem da forma que definirem.

Por meio do brincar livre, exploratório, as crianças aprendem alguma coisa sobre situações, pessoas, atitudes e respostas, materiais, propriedades, texturas, estruturas, atributos visuais, auditivos e cinestésicos. (MOYLES,2002:33)

Estas duas formas de brincar podem ser utilizadas em conjunto. No primeiro momento o professor pode aproveitar o brincar livre para identificar preferências e formas de se organizarem e utilizar estes dados para planejar atividades futuras. Depois de um certo tempo ele poderá orientar estas brincadeiras, sem desconsiderar o "jeito" das crianças, em concordância com Moyles (2002), canalizar a exploração e a aprendizagem do brincar levando as crianças a um estágio mais avançado de entendimento.

Como exemplo, podemos citar o circuito de colchões que é realizado na Lua Nova, em que inicialmente as crianças arrumam estes colchões como querem e brincam de maneira livre, explorando tudo o que podem.

Depois o professor arruma as cadeiras, como se fosse uma ponte para que eles passem por ela e depois pulem no colchão, e em seguida os colchões são dispostos de formas diferentes em uma ordem para que eles possam passar como se fosse uma trilha cheia de desafios. O objetivo desta atividade é criar nas crianças mais confiança, segurança, equilíbrio, limite, entre outros.

A brincadeira pode ser uma espaço para promoção de avanços. (REGO,2004:10)

O professor pode aproveitar o prazer que decorre das brincadeiras para articular com o aprendizado das áreas do conhecimento tornando a aprendizagem um momento prazeroso e não cansativo.

"A oportunidade para avaliar as respostas, compreensões e incompreensões da criança se apresenta nos momentos mais relaxados do brincar livre" (MOYLES,2002:33).

O modo como o professor envolve a turma pode caracterizar uma relação de prazer para a criança pelo que se aprende na escola.

A professora do grupo 6, Rejane, propôs à turma um jogo: caça países na África, e explicou que para realizá-lo a turma precisaria ser divida em 4 ou 5 equipes. Cada grupo recebeu um mapa político da África. Quem achasse o país (que foi ditado por ela) em primeiro lugar ganharia 10 pontos, em segundo 5 pontos e em terceiro e quarto lugar 2 pontos. Os pontos foram registrados sobre o papel por cada equipe.

A professora desenhou o mapa da África no quadro e explicou que se ficasse muito difícil para encontrar o país ela daria dicas (leste, oeste, norte, sul) e usaria o desenho do mapa no quadro para "sinalizar". As crianças que encontravam deveriam anotar os pontos no caderno e ao final do jogo eles tentariam descobrir o total dos pontos.

Pude perceber alguns objetivos que puderam ser trabalhados nesse jogo como: identificação e reconhecimento de palavras, ampliação do vocabulário e conhecimento do nome dos países da África, interação com o grupo e o despertar de forma lúdica pela leitura de mapas. Tais objetivos podem ser trabalhados simultaneamente proporcionando prazer tanto ao professor quanto à criança. Portanto, é possível articular a aprendizagem ao prazer que o brincar e o lúdico proporcionam.

3.0 Conclusão

É importante que a criança sinta e vivencie o espaço escolar como um ambiente prazeroso em que a aprendizagem deve ocorrer sem precisar estar desvinculada do prazer, da fantasia e da ludicidade.

Ao longo deste artigo relatamos o processo de aprendizagem e desenvolvimento por meio da ludicidade e do brincar. No entanto, vale ressaltar, que é importante que as crianças também vivenciem conflitos, pois o meio social não compreende apenas momentos prazerosos e muitas vezes é no conflito que surgem novas idéias, novas formas de ver o mundo, possibilitando à criança descobertas e o enfrentamento à novos desafios. Passando a identificar novos significados e aprendendo a respeitar o outro como também sujeito de desejo.

REFERÊNCIAS

BRASIL,MEC. Referencial Curricular para a Educação Infantil. Volume 2. 1998, BRASILIA

CÓRIA-SABINI, Maria Aparecida: LUCENA, Regina Ferreira de. Jogos e brincadeiras na educação infantil. Ed. Papirus, Campinas - SP:2004

ESTEVES, Acúrsio Pereira;LEITE, Disalda Mara. Pedagogia do Brincar: Jogos e brinquedos e brincadeiras da cultura lúdica infantil, Ed. Kellly Graf Ltda, Salvador-BA,1993

MALUF, Ângela Cristina Munhoz.Brincar : prazer e aprendizado. 5ª edição, Ed.Vozes, Petrópolis,Rio de Janeiro:2007

MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil.

Tradução: Maria Adriana Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2002.

KAMII, Constance. Reinventando a aritmética: implicações da teoria de Piaget, Ed. PAPIRUS, Campinas-SP

OLIVEIRA, Vera Barros de. BOSSA, Nádia A AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DA CRIANÇA DE 0Á 6 ANOS 2ª edição editora Vozes

REGO, Teresa Cristina> Vygotsky : uma perspectiva histórico-cultural da educação. Ed. Vozes, Petrópolis,RJ, 1995

SMOLE, Katia Stocco, DINIZ, Maria Ignez, CANDIDO, Patricio . Coleção matemática de 0 a 6- Brincadeiras infantis nas aulas de matemática. Artes Médicas. Porto Alegre, 2000

SPIGOLON, Raquel. A importância do lúdico no aprendizado- Campinas,SP:2006

Artigo disponível em:

http://libdigi.unicamp.br/document/?view=20805


[1]Estudante do curso de graduação de psicologia, da Universidade Salvador - UNIFACS.

2Formada em Pedagogia com habilitação em pré-escolar pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia.


Autor: Juliana Rocha R. Santos


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