NÃO SE CUIDA DE EDUCAÇÃO NESTE PAÍS, por Américo Menezes*



O fenômeno que ocorre na atualidade de profundo descaso pelo problema da Educação em nosso País tem uma evidência que era para se sair fazendo protestos públicos, com faixas e gritaria nas ruas, segundo a moda já muito vulgarizada.

Falar em Educação, propriamente dita, não é falar em Instrução, pois há grande diferença entre uma e outra.

Instruir é uma tarefa que não é fácil, mas educar é outra, e mais difícil, bem como mais importante. A primeira desvantagem na execução dessas duas tarefas importantíssimas para a nacionalidade é a confusão que se faz entre as duas, que poderiam ser executadas ao mesmo tempo, uma beneficiando a outra, como acontece em colégio de cunho religioso, muitas vezes.

A Instrução e a Educação podem andar de mãos dadas, ambas desfrutando do mesmo grau de atenção, a primeira facilitando a segunda, e vice-versa.

Na capa dos livros, em títulos, noticiários e denominações de atividades relativas ao problema educacional, usa-se muito a palavra Educação, mas Educação mesmo, que é a parte da qual se devia cuidar com prioridade, fica inteiramente de lado, só se cuidando de Instrução, que é geralmente deficiente.

Quantas campanhas podem ser feitas em benefício deste imenso Brasil no plano da Educação! Em favor do aprimoramento do caráter do cidadão brasileiro, moço ou velho, dando ótimos resultados e do qual tanto se precisa! A Educação não tem limite de idade, isso é uma verdade incontestável perante qualquer pedagogo evoluído. Perguntasse isso a Anísio Teixeira, grande Mestre da nossa Educação que sobre essa, em seu magnífico compêndio intitulado Educação Progressiva deu a maravilhosa definição de o que é Educação: “É ir e vir com segurança, pensar com clareza, querer com firmeza, executar com tenacidade.” A pessoa que conseguir assimilar esse ensinamento, seja lá de que idade for, terá dado um grande passo à frente, um grande passo educacional.

Dever-se-ia fazer campanhas educativas como a feita para esclarecer sobre o HIV – o desempenho dela no Brasil foi considerado como um dos que teve os melhores resultados mundiais.

John Dewey, o maior pedagogo americano ou um dos maiores, diz: “Quando cresce, então, a vida? – cresce à medida que aumentamos o conteúdo de nossa experiência, alargando-lhe o sentido, enriquecendo-a com idéias novas, novas distinções e novas percepções; e à medida que aumentamos o nosso controle dessa experiência”.

Citemos mais um dentre tantos pedagogos: Monsenhor Pedro Anísio, notável e esquecido nessa área, lá da Paraíba, com seu excelente Tratado de pedagogia, Civilização Brasileira S.A. da Biblioteca Brasileira de Cultura, 2ª edição, dirigida por Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde) – 1893-1983- proeminente escritor nosso, crítico literário que prefaciou o Tratado de pedagogia e nesse assegurou que o seu autor “saiu-se bem, de tal forma bem que creio poder afirmar não existir em nossas terras, até hoje, nenhuma obra do alcance desta em matéria de Educação.” Disse também: “Em nenhum setor a cultura moderna, e muito particularmente da nossa cultura brasileira, é tão necessária uma palavra de ordem e bom senso como no setor pedagógico”.

Quantas lições maravilhosas dadas nessa Pedagogia aos conterrâneos brasileiros, quanta Educação dada ao Brasil e que não se aprendeu! Especialmente na parte de Ética ou Moral.

Portanto, é verdade: “Não se cuida mesmo de Educação em nosso Brasil”. Há muito tempo.

O Japão, arrasado pela 2ª Guerra Mundial, com a Educação a que se impôs, em pouco tempo, se tornou um dos maiores Países do mundo! Grande exemplo a ser copiado.

Por que os dirigentes dos governos que se passam, no setor da Educação, não têm o gosto de querer pô-la em prática? – É um desprezo governamental.

Não se realiza a educação do nosso povo porque não há iniciativa nesse sentido. Só nessa área de campanhas muito se podia fazer de eficiente e proveitoso, até por empresas particulares que dispõem de muitos recursos, estimuladas por dispositivos de lei nesse sentido, gratificando-as ou premiando-as, como se fazem campanhas em favor da saúde pública.

Um jornalista de televisão, citemos seu nome: Boris Casoy, muito ouvido, fez uma grande campanha contra o vício de fumar, muito meritória, que produziu resultado inegavelmente positivo. Parece que não cobrou nada por fazê-la. Por que não se faz trabalho semelhante, educativo, contra a violência ou contra a corrupção? Um nome de realce, para o bem do Brasil, da Política ou das Letras caberia essa iniciativa. Em pouco tempo poderia ficar até célebre.

Mas, a Escola, desde a primária, desde a pré-primária até a mais graduada, a Universidade poderia ter essa incumbência diretamente. Um Professor loquaz, de renome, com pendores para o mister, para isso especialmente designado, mesmo nas Universidades, através de palestras periódicas, em pouco tempo, atingiria às raias do sucesso.

A Escola, a Família e a Igreja, todavia, são os maiores veículos ou ambientes para o trabalho educacional. A Escola, especialmente na etapa do Ensino Médio, o professor, com preparação especial, diplomado em Pedagogia, bem remunerado, teria a tarefa especial de ministrar lições de Moral ou Ética.

Não há, nem existe regulamentação oficial, nenhuma nesse sentido.

Não se cuida de Educação propriamente dita neste País. Essa é a triste realidade.

A Revolução Educacional de um povo, altamente positiva, pode processar-se desde que se tenha o propósito de fazê-lo e que se tenha compreensão para executá-la por meios eficientes. As campanhas educacionais, inclusive pela televisão, como muitas outras que são feitas com resultados muito positivos, também podiam ser realizadas sob regulamentação do Governo. Essa regulamentação oficial seria passo fundamental, a cargo da vasta estrutura administrativa que já existe no País relativa à Educação. Só o Conselho Nacional da Educação, CNE, órgão de alto nível, composto por figuras cuidadosamente selecionadas e, em seguida, nomeadas pelo Presidente da República, com facilidade, podia elaborar o Plano Fundamental da Educação Nacional – PFEN, como tantos outros planos com amplitude nacional que são elaborados e postos em prática neste País. A Educação tem o seu Ministério com muitos técnicos que poderiam se incumbir do bem-vindo plano. O que falta é iniciativa, ou então, coragem para enfrentar o problema. Todos os Estados da Federação têm sua Secretaria da Educação, órgão quase sempre bem estruturado. Até uma dessas Secretarias de um Estado, por exemplo, de São Paulo, podia idealizar e pôr em prática seu Plano Fundamental de Educação, uma vez que seria, grande benefício, sem dúvida, para os seus coestaduanos, além de ser dignamente imitado por outros Estados. Que se precisa de Educação nesse nosso grande Brasil corrupto e violento é evidente e incontestável.

Não há pessoa de bom nível cultural ou não que deixe de reconhecer essa verdade. Peçamos a Deus, então, por um Plano Nacional de Educação quanto antes. Por isso se fez o livro Educação Nacional – Formação do Caráter. É um Grande e Sincero Apelo. Veemente!

*Américo Menezes, Professor Catedrático, Advogado, Procurador Federal, ex-diretor de dois educandários no Espírito Santo, Escritor.

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Autor: Celso Fernandes


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