CARACTERÍSTICAS DOS TRANSPORTES AÉREO DE BAIXO CUSTO E FERROVIÁRIO PARA PASSAGEIROS NA EUROPA



Jorge André Ottosato Bocardo
[email protected]
Universidade Sagrado Coração – Bauru/SP

RESUMO

O desenvolvimento da tecnologia dos aviões se deu na Europa e, além de notáveis europeus, o brasileiro Santos Dumont a isso contribuiu com suas atividades na França no início do século XX. Além de ponto de convergência de vôos intercontinentais, a movimentação aérea interna ao continente europeu é relevante; e, paralelo a isso, ocorre o surgimento de companhias aéreas de baixo custo, que contribuíram à popularização dessa modalidade de transporte. Igualmente ligado e desenvolvido no Velho Mundo, o uso dos trens foi primordial ao escoamento da produção da Revolução Industrial, sendo, quase simultaneamente, aplicado também a passageiros, que dispõem de extensa malha e estações de embarque localizadas centralmente nas cidades. Ambos os meios de transporte representam alternativa viável ao transporte rodoviário de pessoas, dependendo da adequação da escolha ao interesse do usuário.

Palavras-chave: transporte europeu; aviação européia; ferrovias européias; alternativa ao transporte rodoviário na Europa

INTRODUÇÃO

O ser humano sempre teve fascínio por voar e a grande evolução do transporte aéreo mundial se deu na Europa. Consolidado no século XX como meio de transporte, o avião e toda a estrutura que cerca suas operações representa alternativa moderna na movimentação das pessoas.
Concebido inicialmente para o fluxo de cargas, o modo ferroviário se popularizou a partir da Revolução Industrial e adquiriu importância fundamental ao trânsito dos europeus até os dias atuais.
Objetiva o presente trabalho diferenciar as alternativas à disposição no continente europeu em vias aéreas através de companhias de baixo custo e para uso dos trens para movimentação de pessoas.

TRANSPORTE AÉREO NA EUROPA

Desde o século XVI, através dos artefatos voadores idealizados pelo italiano Leonardo da Vinci, há registros de anseios de voar no território europeu.
Dois séculos depois, os irmãos franceses Montgolfier desenvolveram em balões tentativas de sucesso para vôos tripulados.
Já no século XIX, o inglês George Cayley concluiu que as asas teriam e têm de suportar o peso da aeronave e seus componentes materiais e humanos através da sustentação aerodinâmica. Apoiado nesses estudos, o alemão Otto Lilienthal aderiu noções de controle direcional a planadores.
Não apenas no continente europeu como em todo o planeta, o desenvolvimento dos meios de transporte aéreo se deu de maneira acelerada durante o século XX, quando o modelo de dirigível de Ferdinand von Zeppelin produzido em série foi adotado pelo exército alemão.
Embora haja controvérsias a respeito da invenção do avião entre os irmãos Wright e o brasileiro Santos Dumont, é inegável que as façanhas deste foram realizadas em Paris, França. Palhares (2002, pág. 103) esclarece que:

As controvérsias envolvendo estas duas façanhas estão, basicamente, centradas sobre a publicidade da divulgação dada aos dois eventos, bem como a forma de propulsão e no emprego efetivo da tecnologia de controle direcional para um artefato mais pesado que o ar. A corrente norte-americana argumenta que os vôos dos irmãos Wright não foram publicamente divulgados como verdadeiros durante algum tempo, pois eles próprios temiam que outras pessoas “roubassem” a idéia do seu invento e pudessem patenteá-lo antes deles próprios. Em contrapartida, a corrente francesa e brasileira têm a seu favor registros históricos e concretos, uma vez que os vôos de Santos Dumont foram pública e amplamente divulgados pela imprensa francesa e européia na época.

Segundo Bocardo e Arantes (2008, págs. 04 e 05), “a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) consolidou definitivamente o uso dos aviões, já aceitos como meio de circulação desde a criação da primeira companhia aérea regular, em 1909, a Deutsche Luftschiff Fahrts Ag – Delag – atual Lufthansa”.
Cooper et al (1993, pág. 185) consideraram que viajar por ar foi provavelmente a inovação de transporte mais importante no século XX.
O desenvolvimento tecnológico das aeronaves e sua aplicação como meio de transporte na Europa são indicados por Teles (2006, pág. 18), que afirma que “cerca de cinqüenta por cento das chegadas internacionais são realizadas por via aérea, resultado do desenvolvimento tecnológico que permitiu o aumento da qualidade e da segurança do transporte aéreo”.
O transporte aéreo se reverte de grande importância nas movimentações internas de passageiros no continente europeu à medida que, conforme Davidson (1998, págs. 78 e 79) afirma: “o tráfego aéreo intraeuropeu ultrapassa o tráfego de longa distância em número de passageiros, para cada companhia nacional européia”. Citado volume de passageiros se deve majoritariamente ao ingresso no mercado das companhias de baixo custo, que, de acordo com Teles (2006, pág. 25):

Emergiram como consequência da liberalização do setor. Foi já em 1995 que surgiu a primeira companhia na Europa e em 1998 existiam seis companhias, cuja estratégia se assemelhava às suas congêneres norte-americanas, pretendendo servir as grandes cidades ou mercados fortes de lazer, utilizando os aeroportos secundários das cidades capitais.

A estas empresas e sua atuação cabem as características distintivas abaixo:
 Os preços praticados nessa modalidade, embora aparentemente atrativos, possuem enorme variação relacionada aos períodos, destinos e antecedência da compra, com possíveis altas em finais de semana e feriados prolongados;
 Tempo de viagem, ao qual devem ser acrescidos os procedimentos de embarque e desembarque nos aeroportos;
 Há uma enorme malha aérea, flexível e disponível, com possibilidade do surgimento e desaparecimento de aeroportos em uso que, via de regra, se encontram distantes dos centros das grandes cidades;
 Liberdade de o comprador adquirir trechos mais viáveis economicamente, valendo ressaltar a existência de restrições de peso de bagagem e cobrança por serviço de bordo.
A localização dos aeroportos, segundo Bocardo e Arantes (2008, pág. 7), assim como as condições meteorológicas, pode afetar o tempo da viagem aérea, e deve ser fator a ser considerado em comparação entre o tempo de trânsito até os terminais de embarque e o destino aéreo pretendido.

TRANSPORTE FERROVIÁRIO NA EUROPA

O impulso de todo o transporte ferroviário mundial, decorrente dos avanços da Revolução Industrial do século XIX, se deu fundamentalmente na Europa, exigindo meios mais eficazes de transporte de matérias-primas às indústrias e dos produtos fabricados aos mercados consumidores, através de locomotivas a vapor, que tinham limitada capacidade de funcionamento contínuo decorrente de sua necessidade de constante manutenção.
Já o transporte regular de passageiros, foco deste trabalho, segundo Moscom (2001, pág. 7), teve sua primeira linha inaugurada em 1830, ligando Manchester a Liverpool, num percurso de 63 quilômetros.
No século XX , a partir de 1930, as locomotivas a vapor passaram a ser substituídas por motores a óleo diesel e o final da Segunda Guerra Mundial representou a oportunidade de eletrificação das linhas férreas, extremamente danificadas pelos conflitos.
A Agência Ferroviária Européia indica a existência de 280.000 quilômetros de ferrovias no continente, havendo a determinação de padrões de qualidade ao transporte ferroviário que norteiam condições de conforto aos passageiros e técnicas aos trens.
Considerado o meio de transporte existente “mais europeu”, há algumas aspectos que o diferenciam no continente:
- Meio de transporte seguro e pouco poluente;
- Grande e diversificada malha ferroviária;
- Estações principais com localização central nas cidades;
- Pouca burocracia para embarques;
- Pontualidade;
- Existência de vagões dormitórios para viagens longas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fim de delinear uma comparação entre os meios de transporte de passageiros aéreos de baixo custo e ferroviários na Europa, há que se considerar prioritariamente os objetivos das viagens, de modo que as situações abaixo possam ser analisadas conforme os interesses dos usuários.
Assim sendo, mesmo que os trens de passageiros sejam seguros e pouco ofensivos ao meio ambiente, haja grande malha ferroviária, as estações sejam bem localizadas, a burocracia no embarque seja reduzida, a pontualidade constante e se coloquem à disposição vagões dormitório para longas viagens, o preço das passagens é elevado, as refeições tem alto custo e a segurança e o transporte das bagagens são responsabilidade do próprio usuário.
Por outro lado, nas vias aéreas, os preços, via de regra, são competitivos, há também uma enorme e flexível malha de alternativas com o surgimento costumeiro de novas rotas e possibilidade de aquisição dos trechos mais atrativos ao comprador, muito embora os preços variem conforme os níveis de procura, ao tempo de vôo devam ser acrescidos os procedimentos de embarque e desembarque, os aeroportos que operam rotas de baixo custo se localizem afastados dos centros da cidades, opções de destinos possam desaparecer rapidamente e exista cobranças progressivas sobre o peso das bagagens e de serviço de bordo.
Desse modo, aviões de baixo custo e trens, convenientes a interesses que se adeqüem a suas características, representam, na Europa, alternativa extremamente viável sobre o transporte rodoviário.

BIBLIOGRAFIA

BOCARDO, J. A. O.; ARANTES, L. M. O Aeroporto Moussa Nakhl Tobias e o desenvolvimento do transporte aéreo na região de Bauru/SP. Bauru, 2009.
COOPER, C.; FLETCHER, J.; GILBERT, D.; WANHILL, S. Tourism Principles and Practice. Longman Scientific and Technical, England, 1993.
DAVIDSON, R. Travel and Tourism in Europe. Addison Wesley Longman Limited, New York, 1998.
MOSCOM, M. A. O turismo e a ferrovia. Americana, 2001.
PALHARES, G. L. Transportes Turísticos. São Paulo: Edusc, 2002.
TELES, S. Fatores determinantes na definição da estratégia de uma companhia aérea. Funchal, 2006.
UNIÃO EUROPÉIA. Perspectivas sustentáveis dos transportes na Europa. 2003.


Autor: Jorge Bocardo


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