RESENHA ACERCA DO TEXTO: ENTRE A PALMATÓRIA E A MORAL DE DANIEL CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE LEMOS



RESENHA ACERCA DO TEXTO: ENTRE A PALMATÓRIA E A MORAL DE DANIEL CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE LEMOS

Fábio Santos de Andrade

Julho de 2009

Em um sistema patriarcal, onde a autoridade sem limites do senhor de engenho ditava as normas e regras a serem seguidas - é claro, sob os ditames da tradição e da Igreja - o castigo físico era prática corrente na educação das crianças: a palmatória e a vara de marmelo eram companheiras zelosas do bom comportamento; e quanto mais cruel era a família com a criança, mais cruel era a criança com os animais e com os escravos companheiros dos seus folguedos.

Por outro lado, os sofrimentos impostos às crianças levavam-nas a desenvolver problemas emocionais. Freyre (1978) assinala que "muito menino de formação patriarcal sofria de gagueira; muito aluno de colégio de padre, também". Escreve que tanto a educação da casa-grande quanto a do colégio religioso se empenhavam em "quebrar a individualidade da criança, visando adultos passivos e subservientes" (p. 367). Havia também as doenças que costumavam afligir e dizimar as crianças, como o sarampo, a varíola, verminoses, dermatoses e sarna, além da infecção chamada "mal-de-sete-dias", resultante da inflamação do umbigo do recém-nascido (Santos Filho, 1991).

Somente a partir do século XIX é que começa a mudar a forma de se conceber a criança e suas necessidades. A criança precisava ser protegida, cuidada, amparada e educada, daí a necessidade de propagar os ideais higienistas, que a preservariam dos males e a poupariam da morte prematura.

O que se observa no século XIX, principalmente a partir de sua segunda metade, é que, na medida em que a medicina se torna mais científica e a prática médica vai deixando de ser exercida por leigos ou "quase-leigos", esta ciência médica se torna poderosa e influente na sociedade, recebendo dela e dos poderes políticos constituídos, "autorização" para descobrir, propor e impor normas de saúde e equilíbrio que beneficiassem essa mesma sociedade. Na Colônia e nos primeiros tempos da Independência são a Igreja e o senhor-de-engenho que ditam as regras do "bem-viver". No século XIX será a classe médica com suas teses, discursos, livros, debates acalourados na Academia Imperial de Medicina, artigos nos jornais.

A interação Estado-medicina no século XIX será responsável pela definição e aplicação de um conjunto de teorias, políticas e práticas voltadas para o bem-estar da população, da mãe e da criança; para o controle de acidentes; para uma procriação saudável; para o controle de epidemias; na utilização de estatísticas e medidas de orientação da população no concernente à saúde e doenças; e na organização da medicina enquanto profissão. Vai falar sobre a urbanização do Brasil e a consolidação dos ideais higienistas, responsáveis por toda uma ideologia nascente, que passará a determinar uma nova conduta social, novos costumes e novos padrões de comportamento, culminando nas modificações que serão verificadas na organização da família brasileira, que pouco a pouco vai extinguir muitas das práticas coloniais danosas à infância.

A criança será vista sob um outro ângulo, sua interação com a família será mais dinâmica e participativa e a mortalidade infantil declinará em relação aos períodos anteriores. A decadência do patriarcado e da organização familiar rural e o desenvolvimento da urbanização e a ascensão econômica e social da burguesia contribuirão para isto e também diminuindo gradativamente os castigos corporais e principalmente os sofrimentos morais e psicológicos dentro e fora da escola.

ANÁLISE CRÍTICA

Depois do século XVIII a urbanização das cidades requer a intervenção médica nas questões de higiene e saúde, e gradativamente muda a concepção de criança, primeiro na Europa, depois no Brasil, chegando o século XIX com médicos preocupados com a questão da mortalidade infantil e com os cuidados que se deveria ter com  a criança, negligenciada até então. É no século XIX que se inicia a institucionalização dos saberes médicos e psicológicos aplicados à infância e é quando podemos obter mais registros sobre que cuidados eram reservados à criança. Penso eu que é também a partir desse período que os castigos físicos contra a criança diminuem gradativamente por causa do advento das questões relacionadas com a higiene e a saúde, a urbanização e o progresso dissemina outra visão de criança, a criança que agora faz parte da sociedade e participa dela a partir da escola e com o convívio de seus iguais.

Referência Bibliográfica

Freyre, G. (1978). Casa grande & senzala. Rio de Janeiro: José Olympio. 

Santos Filho, L. (1991). História geral da medicina brasileira. São Paulo:  HUCITEC/EDUSP.


Autor: F�bio Santos de Andrade


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