Leptospirose: Uma das mais importantes zoonoses do nosso meio



Autores: Aline Lemos da Silva¹, Cátia Fernanda Gomes dos Santos¹, Cristiane Fundão de Souza Castro¹, Luiza Tamara Freitas¹, Nathalia da Costa e S. Fonseca¹, Nayara Lopes Gervásio¹, Renato Nascimento Ribeiro¹

Leptospirose é uma doença generalizada, febril, causada por espiroquetas patogênicas do gênero Leptospira, podendo acometer o homem e os animais domésticos e selvagens, sendo caracterizada por uma vasculite generalizada. Pode determinar, no homem, manifestações clínicas variadas, desde infecções inaparentes até a forma íctero – hemorrágica, também conhecida como “Doença de Weil”. É também conhecida como febre dos pântanos, febre de Andaman ou tifo canino. Diversos sorotipos de leptospiras estão associados à clínica apresentada. Embora exista uma correlação, sabe-se hoje que todas as formas clínicas podem ser causadas por um único sorotipo e, por este motivo, prefere-se utilizar o termo leptospirose para designar a doença causada por todos os sorotipos de leptospiras. Constitui uma das mais importantes zoonoses do nosso meio.

¹ Enfermeiros

Aspectos Epidemiológicos:

A leptospirose é uma doença infecciosa aguda, de caráter sistêmico, que acomete o homem e os animais, causada por microorganismos pertencentes ao gênero Leptospira. A distribuição geográfica da leptospirose é cosmopolita, no entanto a sua ocorrência é favorecida pelas condições ambientais vigentes nas regiões de clima tropical e subtropical, onde a elevada temperatura e os períodos do ano com altos índices pluviométricos favorecem o aparecimento de surtos epidêmicos de caráter sazonal. É uma zoonose de alta importância devido aos prejuízos que acarreta, não só em nível de saúde pública, face à alta incidência de casos humanos, como também econômicos, em virtude do alto custo hospitalar dos pacientes, da perda de dias de trabalho e das alterações na esfera reprodutiva dos animais infectados.

Agente Etiológico:

O gênero Leptospira é um dos componentes da família dos Espiroquetídeos, onde estão reunidos os microrganismos com morfologia filamentosa, espiralados, visualizados apenas pela microscopia de campo escuro e de contraste de fase, com afinidade tintorial pelos corantes argênticos. Nesse gênero aceita-se atualmente a existência de duas espécies: L.interrogans e L.biflexa, as quais reúnem, respectivamente, as estirpes patogênicas e aquelas saprófitas de vida livre, encontradas usualmente em água doce de superfície.A diferenciação em espécie apoja-se nas características de crescimento em meios de cultivo enriquecidos; no entanto, do ponto de vista taxonômico, as características antigênicas decorrentes de antígenos de parede, com natureza lipoprotéica, possibilitam as diferenciações sorológicas que superam a cifra de 200 exemplares para a espécie L. interrogans, as quais com base em relações antigênicas são reagrupadas em sorogrupos.

Dentre os fatores ligados ao agente etiológico que favorecem a persistência dos focos de leptospirose, especial destaque deve ser dado ao elevado grau de variação antigênica; relativo grau de sobrevivência em nível ambiental em ausência de parasitismo (registros experimentais referem até 180 dias desde que haja alto nível de umidade, proteção contra os raios solares e valores de pH neutro ou levemente alcalino); ampla variedade de vertebrados suscetíveis, os quais podem hospedar o microorganismo.

Reservatório e Fonte de Infecção:

Os roedores desempenham o papel de principais reservatórios da doença, pois albergam a leptospira nos rins, eliminando as vivas no meio ambiente e, contaminando água, solo e alimentos. Dentre os roedores domésticos (Rattus norvegicus, Rattus rattus e Mus musculus), grande importância deve se dispensar ao R. norvegicus, portador clássico da L. icterohaemorraghiae, a mais patogênica ao homem.

Manifestações Clínicas

A maioria das pessoas infectadas pela Leptospira interrogans desenvolve sintomas discretos ou não apresenta manifestações da doença. As manifestações da leptospirose, quando ocorrem, em geral aparecem entre 2 e 30 dias após a infecção (período de incubação médio de dez dias).

As manifestações iniciais são febre alta de início súbito, sensação de mal estar, dor de cabeça constante e acentuada, dor muscular intensa, cansaço e calafrios. Dor abdominal, náuseas, vômitos e diarréia são freqüentes, podendo levar à desidratação. É comum que os olhos fiquem acentuadamente avermelhados (hiperemia conjuntival) e alguns doentes podem apresentar tosse e faringite. Após dois ou três dias de aparente melhora, os sintomas podem ressurgir, ainda que menos intensamente. Nesta fase é comum o aparecimento de manchas avermelhadas no corpo (exantema) e pode ocorrer meningite, que em geral tem boa evolução.A maioria das pessoas melhora em quatro a sete dias.

Em cerca de 10% dos pacientes, a partir do terceiro dia de doença surge icterícia (olhos amarelados), que caracteriza os casos mais graves. Esses casos são mais comuns (90%) em adultos jovens do sexo masculino, e raros em crianças. Aparecem  manifestações hemorrágicas (equimoses, sangramentos em nariz,  gengivas e pulmões) e pode ocorrer funcionamento inadequado dos rins, o que causa diminuição do volume urinário e, às vezes, anúria total. O doente pode ficar torporoso e em coma. A forma grave da leptospirose é denominada doença de Weil. A evolução para a morte pode ocorrer em cerca de 10% das formas graves.

As manifestações iniciais da leptospirose são semelhantes às de outras doenças, como  febre amarela, dengue, malária, hantavirose e hepatites. A presunção do diagnóstico leptospirose é feita com base na história de exposição ao risco (inundações, limpeza de bueiros e fossas, contato com animais de estimação) e na exclusão, através de exames laboratoriais, da  possibilidade de outras doenças. Mesmo que tenham história de risco para leptospirose, pessoas que estiveram em uma área de transmissão de febre amarela e malária, e que apresentem febre, durante ou após a viagem, devem ter essas doenças investigadas. A leptospirose grave, que evolui com icterícia, diminuição do volume urinário e sangramentos é semelhante à forma grave da  febre amarela. A diferenciação pode ser feita com facilidade através de exames laboratoriais. A icterícia é rara nos casos de dengue. Nas hepatites, em geral, quando surge a icterícia a febre desaparece.

É importante que a pessoa, quando apresentar-se febril após uma exposição de risco para leptospirose, procure um Serviço de Saúde rapidamente. Não se justifica a utilização generalizada de antibióticos para a população em períodos de epidemias. É mais racional diagnosticar e tratar precocemente os casos suspeitos.

A confirmação do diagnóstico de leptospirose não tem importância para o tratamento da pessoa doente, mas é fundamental para a adoção de medidas que reduzam o risco de ocorrência de uma epidemia em área urbana. Pode ser feita através de exames sorológicos (microaglutinação pareada, com uma amostra de sangue colhida logo no início da doença e outra duas semanas após), ou do isolamento da bactéria em cultura (que tem maior chance de ser feito durante a primeira semana de doença).

Modo de Transmissão:

A infecção humana pela leptospira resulta da exposição direta ou indireta à urina de animais infectados. Em áreas urbanas, o contato com águas e lama contaminados demonstram a importância do elo hídrico na transmissão da doença ao homem, pois a leptospira dela depende para sobreviver e alcançar o hospedeiro. Há outras modalidades menos importantes de transmissão como a manipulação de tecidos animais e a ingestão de água e alimentos contaminados. A transmissão de pessoa a pessoa é muito rara e de pouca importância prática. A penetração do microorganismo se dá pela pele lesada ou mucosas da boca, narinas e olhos, podendo ocorrer através da pele íntegra, quando imersa em água por longo tempo.

Período de Incubação

Varia de um a vinte dias, sendo em média de sete a quatorze dias.

Período de Transmissibilidade

A infecção inter-humana é rara, sem importância prática.

Suscetibilidade e Imunidade

A suscetibilidade no homem é geral, porém ocorre com maior freqüência em indivíduos do sexo masculino na faixa etária de 20 a 35 anos, não devido a uma preferência do agente a estes indivíduos, mas por estarem mais expostos a situações de risco. A imunidade adquirida é sorotipo específico, podendo incidir mais de uma vez no mesmo indivíduo, porém, por sorovares diferentes. Tradicionalmente, algumas profissões são consideradas de alto risco, como trabalhadores em esgotos, algumas lavouras e pecuária, magarefes, garis e outras. No Brasil, há nítida predominância de risco em pessoas que habitam ou trabalham em locais com más condições de saneamento e expostos a urina de animais, sobretudo a de ratos, que se instalam e proliferam, contaminando, assim, água, solo e alimentos.

Tratamento

O tratamento da pessoa com leptospirose é feito fundamentalmente com hidratação. Não deve ser utilizado medicamentes para dor ou para febre que contenham ácido acetil-salicílico (AAS®, Aspirina®, Melhoral® etc.), que podem aumentar o risco de sangramentos. Os antiinflamatórios (Voltaren®, Profenid® etc) também não devem ser utilizados pelo risco de efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e reações alérgicas. Quando o diagnóstico é feito até o quarto dia de doença, devem ser empregados antibióticos (doxiciclina, penicilinas), uma vez que reduzem as chances de evolução para a forma grave. As pessoas com leptospirose sem icterícia podem ser tratadas no domicílio. As que desenvolvem meningite ou icterícia devem ser internadas. As formas graves da doença necessitam de tratamento intensivo e medidas terapêuticas como diálise peritonial para tratamento da insuficiência renal.

Prevenção

Para o controle da leptospirose, são necessárias medidas ligadas ao meio ambiente, tais como obras de saneamento básico (abastecimento de água, lixo e esgoto), melhorias nas habitações humanas e o combate aos ratos.

Deve-se evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas ou outros ambientes que possam estar contaminados pela urina dos ratos. Pessoas que trabalham na limpeza de lamas, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (se isto não for possível, usar sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés).

O hipoclorito de sódio a 2,5% (água sanitária) mata as leptospiras e deverá ser utilizado para desinfetar reservatórios de água (um litro de água sanitária para cada 1000 litros de água do reservatório), locais e objetos que entraram em contato com água ou lama contaminada (um copo de água sanitária em um balde de 20 litros de água). Durante a limpeza e desinfecção de locais onde houve inundação recente, deve-se também proteger pés e mãos do contato com a água ou lama contaminadas.

Dentre as medidas de combate aos ratos, deve-se destacar o acondicionamento e destino adequado do lixo e o armazenamento apropriado de alimentos. A desinfecção de caixas d´água e sua completa vedação são medidas preventivas que devem ser tomadas periodicamente. As medidas de desratização consistem na eliminação direta dos roedores através do uso de raticidas e devem ser realizadas por equipes técnicas devidamente capacitadas.

A pessoa que apresentar febre, dor de cabeça e dores no corpo, alguns dias depois de ter entrado em contato com as águas de enchente ou esgoto, deve procurar imediatamente o Centro de Saúde mais próximo. A leptospirose é uma doençacurável, para a qual o diagnóstico e o tratamento precoces são a melhor solução.

Como desinfectar alimentos e objetos

O cloro mata a bactéria. Se não for possível armazenar os alimentos protegidos da água, o correto a se fazer é eliminá-los. Frutas em geral, carne, leite, verduras, legumes, arroz, feijão, café, manteiga etc devem ser inutilizados. Alimentos enlatados podem ser lavados, desde que não tenha havido contato da comida com a água.

Como preparar a solução


Autor: Nathalia Fonseca


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