Carimbó: Um ícone da identidade paraense



CARIMBÓ: Um ícone da identidade paraense

Maria do Socorro Mendes Pereira*                                                                      Em 24/04/08

Produzido especialmente para os alunos das escolas de Tomé-Açu

 

No presente texto apresento algumas informações a respeito do carimbó no Pará, tomando como base os resultados de pesquisas realizadas por outros pesquisadores em algumas regiões onde se pratica tal atividade cultural. O meu objetivo é simplesmente “contaminar” você leitor estudante para o fato de vislumbrar, assim como eu, o carimbó como uma forma lúdica de evasão de espírito do caboclo paraense. Para isto organizei de forma bem didática de fácil compreensão este texto. Vamos lá! Leia!

Para compreender o Carimbó, sua origem e evolução é necessário, de antemão, que se compreenda o contexto da região amazônica como uma “salada étnica” da qual se originou o caboclo basicamente indígena, mas com ampla mistura de branco europeu e negro africano.

É de suma importância saber que esse caboclo não carrega em si somente os traços físicos herdados da miscigenação, mas carrega também um pouco de cada manifestação cultural, evidenciando-se, porém como parte de um povo múltiplo que se reconhece enquanto mestiço imerso em um uma pluralidade cultural, mas que dentro de tal “caldeirão” se registra e se identifica, e se mostra  através de uma invenção lúdica, única e inigualável :  O carimbó.

Falar do carimbó é falar do Estado do Pará, considerando o fato de que é em várias regiões desse Estado que se desenvolve o carimbó, ou melhor, os carimbós, devido o fato de tais regiões apresentam realidades sócio-econômicas diferenciadas. E sendo o carimbó uma criação “parida” das vivências cotidianas do caboclo paraense certamente carrega em si marcas de tal realidade.

 

De onde vem a palavra carimbó?

Apalavra Korimbó é de origem tupi: curi que significa pau oco e mbó que significa furado. Com o passar do tempo foi ocorrendo uma variação fonética: curimbó, corembó, corimbo, curimã. E ultimamente é conhecida nacionalmente como Carimbó.

 

E como surgiu o carimbó?

Sabe-se todo ser humano necessita de uma periódica evasão de espírito, de lazer para contrabalancear sua luta no trabalho com atividades de lazer. Segundo registros, o carimbó surgiu em Marapanim, situada a cento e cinqüenta quilômetros de Belém, no litoral do Pará, como uma alternativa de lazer com o intuito de dar leveza à dura tarefa do trabalho cotidiano do caboclo.

 

Tipos de carimbó

Justificando-se pela diversidade regional paraense, há basicamente três tipos de carimbó. O carimbó praieiro, típico da zona atlântica do Pará, a qual costuma se chamar zona do salgado, na qual se destaca Marapanim, Algodoal onde a atividade principal é a pesca. O carimbó pastoril, típico das regiões de campo como Soure e Marajó. E o carimbó rural ou agrícola mais praticado no baixo amazonas, Santarém, Óbdos e Alenquer. Em algumas destas regiões o carimbó ainda é resultado de uma espontaneidade poética principalmente de pescadores, em se tratando de algodoal, por exemplo, onde levam uma vida simples e transformam suas vivências diárias em poemas rimados que resultam em cantos de carimbó que ficam registrados apenas em suas memórias. Tais carimbos são cantados em momentos festivos sem pretensão financeira. O interessante é que em Marapanim há diversos grupos de dançarinos de carimbó e dos melhores por sinal, já em Algodoal se dá maior ênfase à escuta de cantos de carimbó enquanto conversam e tomam suas bebidas nos bares em finais de semana.

 

O carimbó chega à metrópole

Com o decorrer dos tempos o carimbó chegou também a capital do Pará e passou a fazer parte da cultura desta como uma modalidade musical que mesmo tendo como matriz o carimbó de Marapanim organizou-se em duas correntes distintas que se denominaram tradicional, representada pelo cantador Verequete e a moderna representada por Pinduca.Causando assim uma certa rivalidade entre defensores da tradição e da modernidade. Mas, deixando de lado essa discussão. O certo é que o carimbó encontrou terreno fértil na capital e dando tanto a Pinduca quanto a Verequete reconhecimento como carimbozeiros importantes do Estado paraense. E assim estabeleceu-se o carimbó como um ícone de identidade paraense.

 

Por que o nome Carimbó?                   

Carimbó, na verdade, é o nome do instrumento (tambor) feito de troncos de árvore. É escavado e fica um pau oco, medindo em media 90 cm a 1,50 de comprimento e 40 cm a 50 cm de diâmetro. Uma das extremidades é envolta com pele de animal silvestre (veado, cobra). É utilizado pelos tocadores de carimbó que se sentam sobre o instrumento e o batucam com as mãos. E por tal instrumento fazer parte da dança de Carimbó seu nome foi automaticamente transferido à música e também à dança.

 

Que outros instrumentos fazem parte da orquestra?

A base do carimbó (música) é o tambor responsável pelas marcações percussivas. Além do carimbó (tambor), outros instrumentos fazem parte da composição musical da dança: viola reco-reco, ganzá, banjo, duas maracás, e flautas, o que dá ao carimbó um ritmo único, envolvente e sensual. Porém um fato interessante é que o cantador pinduca não utiliza em sua orquestra o instrumento que dizem ser o principal (o tambor/carimbó). Alguns cantadores dizem que no carimbó vale todo tipo de instrumento (cavaquinho, violino, guitarra etc.). Hoje bandas que tocam carimbó utilizam instrumentos como bateria, teclado, contrabaixo elétrico.  O importante é manter o ritmo.

 

As letras/temáticas

As letras de carimbó geralmente são poemas espontâneos compostos por trabalhadores que versejam sobre fatos da sua rotina: suas batalhas no trabalho, seus amores etc. Como Algodoal, por exemplo, onde os pescadores registram em seus cantos os mitos e as lendas locais, seus trabalhos pesqueiros e a beleza natural da ilha. Geralmente são poemas curtos rimados com palavras simples fáceis de memorizar, pois são repetidos algumas vezes no momento do canto.

Cantadores de carimbó

Apesar de nos dias atuais se possa contar com exposição, bandas musicais, ainda existem localidades onde não se conta ainda com essa tecnologia. E então ainda é possível encontrar cantadores de carimbó, que são acompanhados por seus parceiros que tocam os instrumentos como o tambor carimbó (tambor), e outros instrumentos de pau e corda.

O número de dançantes

Não há limite de pessoas para o momento da dança. Por ser uma dança de roda, mas como já citei anteriormente, no carimbó são admitidas várias performances e interpretações. É permitido até dança solo. Muitos dançarinos preferem a dança solo, pois se sentem mais livres para execução da coreografia.

 

Qual o período propício para a dança

O carimbó , ao contrário do carnaval, das festas juninas, e outras festividades que tem datas fixas em calendário, não tem época certa é válido em todo e qualquer tempo. Em Marajó, por exemplo, se dança mais nos meses de junho, novembro e dezembro. Em outras regiões se dá maior ênfase à dança no início do verão (junho e julho). Em outras regiões as festas de carimbó ocorrem em janeiro em fevereiro e por ocasião de momentos festivos locais.

 

As roupas

 Para as mulheres: blusas lisas ou estampadas, com babados, com ombros e barriga a mostra, muitos colares e pulseiras feitos de sementes regionais. Saia floral rodada ou franzida bem comprida (uma influência do caribe, de origem negra) Na cabeça geralmente usam flores ou outro arranjo a gosto da dançarina. Para os homens: camisa lisa ou estampada, Calças de preferências mais curtas que o normal, (uma analogia ao pescador) lenço no pescoço e chapéu de arumã. Ambos dançam descalços.

A dança do Carimbó /coreografia

A dança Carimbó é resultado de uma das danças do fandango que ficou “desgarrada” pela Amazônia, revela em si, traços lusitanos, negros e índios. É típica do Pará e seus arredores. A dança apresenta uma coreografia que em seus volteios os dançantes imitam bichos como o macaco e o jacaré. É uma dança que Inicia com o homem convidando, com palmas, sua parceira para a dança. Ela aceita. Dependendendo do repertório e do objetivo do momento pode ser de sedução, onde há o cortejo sensual à mulher, mas os pares não se tocam. Pode ser também uma brincadeira muito divertida onde durante a dança a mulher tenta jogar a saia na cabeça do seu par. Ele, dança sempre tentando se aproximar dela, mas com o cuidado de não ser coberto pela saia, pois isso é motivo de caçoada para ele. No meio da dança ela lhe lança um desafio, jogando um lenço no chão e ele deve pegar com a boca com os braços virados para trás enquanto os outros cantam:

O peru ta na roda, xô peru / O peru ta rodando, xô peru...

 Enquanto isso a dama segura a saia com as duas mãos e sacode como se estivesse realmente enxotando um peru. Se o moço conseguir capturar o lenço, ele volta vitorioso pra dança, se não conseguir sairá vaiado pelos seus pares. Um elemento marcante na dança de carimbó é o sorriso. Este não deve estar ausente do rosto do dançante de carimbó.

O carimbó em sua essência não pretende nada, nada além de ser um alento á alma do trabalhador. Mas, como já foi citado anteriormente, devido suas “andanças” através de bandas, pelo Pará e pelo mundo, vai juntando para si mais e mais elementos. Assim, há uma diversidade de coreografias que são inventadas e reinventadas a cada dia. E que, diga-se de passagem, Caem bem! Acabam combinando.

Enfim, assim como o povo brasileiro,o carimbó, esteja onde estiver. Tradicional ou moderno. É brinquedo, é dança, é festa, é sensual, é negro, é europeu, é índio! É lindo!E acima de tudo PARAENSE! É como diz pinduca “É uma dança quente que faz a gente se requebrar.”

 

Obs.: O carimbó está em processo de tombamento como patrimônio cultural imaterial brasileiro. É uma dança maravilhosa, que provoca deliciosa emoção, tanto nos dançantes quanto em quem apenas assiste. Experimente! DEIXE O CARIMBÓ LHE LEVAR.

*Pedagoga, funcionária pública do município de Tomé-Açu Trabalha em coordenação de programa social. É apaixonada pela dança do Carimbó. Já demonstrou o carimbó em cidades do Nordeste como Recife e Fortaleza. E leva sempre sua indumentária na mala de viagem.

 

Para saber mais:

VIEIRA, Lia Braga, (org.) Pesquisa em música e suas interfaces. Belém/EDUEPA, 2005

 


Autor: maria do socorro mendes pereira


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