COMPARAÇÃO DAS ATIVIDADES FUNCIONAIS EM CRIANÇAS COM DESENVOLVIMENTO NORMAL E CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL



INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral também denominada encefalopatia crônica não progressiva da infância, é conseqüência de uma lesão estática, ocorrida no período pré, peri ou pós-natal que afeta o sistema nervoso central em fase de maturação estrutural e funcional. É uma disfunção sensoriomotora, envolvendo distúrbios no tônus muscular, postura e movimentação voluntária. Esses distúrbios se caracterizam pela falta de controle sobre os movimentos, modificações adaptativas do comprimento muscular e em alguns casos, chegando a resultar em deformidades ósseas. Esta doença ocorre no período em que a criança apresenta ritmo acelerado de desenvolvimento, podendo comprometer aquisição de habilidades; tal comprometimento pode interferir na função, dificultando o desempenho de atividades freqüentemente realizadas por crianças com desenvolvimento neuropsicomotor normal (MANCINI, M.C. et al, 2002).
As propostas de definição do que seja paralisia cerebral são variáveis, decorrentes da própria variabilidade etiopatogênica e clínica da entidade. O limite de idade para que se considerasse que uma lesão do sistema nervoso poderia causar quadro clínico compatível com paralisia cerebral é também causa de discussão, pois este limite é variável, indo desde a vida pré-natal até a infância e a meninice.
Sabe-se entretanto, que a maturação estrutural e funcional do sistema nervoso não para na primeira infância e, muito menos, aos três anos de idade, há estruturas que só completam sua maturação aos 18 anos ou mais (DIAMENT, A. et al, 1996).
Esta enfermidade pode apresentar conseqüências variadas, no que se refere a função de órgãos e sistemas, a paralisia cerebral geralmente interfere no funcionamento do sistema músculo-esquelético. Um tipo de classificação é baseada nas alterações clínicas do tono muscular e no tipo de desordem do movimento, podendo produzir o tipo espástico, discinético ou atetóide, atáxico, hipotônico e misto; e a gravidade do comprometimento neuromotor, pode ser caracterizada como leve, moderada ou severa.
Informações sobre o desempenho de atividades funcionais são extremamente relevantes, uma vez que as dificuldades no desempenho das mesmas constituem, geralmente, a queixa principal de crianças, pais e familiares, portanto, a promoção do desempenho de atividades e tarefas funcionais pode ser definida como objetivo a ser alcançado pelas terapêuticas empregadas (MANCINI, M.C. et al, 2002).


MÉTODO

Este estudo contou com a participação de crianças de duas amostras distintas que foram selecionadas de forma não aleatória, com base em critérios de inclusão previamente determinados para cada grupo.
Os critérios foram: apresentar desenvolvimento normal, ter nascido a termo, não fazer uso regular de medicamentos e não apresentar problemas físicos, sensoriais ou emocionais. Para participação no grupo de PC, os critérios foram: ter diagnóstico definido desta doença e apresentar severidade leve ou moderada. Foram excluídos deste estudo crianças que apresentassem distúrbios associados (retardo mental, epilepsia, déficit sensorial), visando incluir um número equivalente de crianças de ambos os sexos (MANCINI, M.C. et al, 2002).


DIAGNÓSTICO


O diagnóstico da PC é primordialmente clínico, torna-se necessário fazer exames complementares de rotina quando o paciente é atendido inicialmente, visando afastar etiologias infecciosas, principalmente alues e toxoplasmose.
O EEG tem um importante papel no diagnóstico, principalmente quando o neonato apresenta convulsões. A angiografia está indicada somente quando há suspeita de malformação vascular ou hematoma subdural, que são causas freqüentes de PC.
Há cerca de 20 anos, os métodos modernos de neuroimagem mudaram a face da neurologia clínica, sendo exames complementares fundamentais no esclarecimento etiológico da PC. Assim a ultra-sonografia no RN e lactante pode esclarecer vários processos patológicos que irão causar um PC, e a tomografia computadorizada obviamente poderá revelar melhor tais processos, mas recentemente, a ressonância magnética nuclear traz maior nitidez e detalhes acerca do processos patológicos do SNC .
Exame Psicológico é muito importante pois vai nos dar indicação quanto ao desenvolvimento da inteligência e orientar a equipe que cuida de habilitar o paciente para uma vida produtiva, na medida de suas possibilidades, também investiga quais as áreas mais deficitárias.
Para aprender, a criança com PC necessita não apenas ter nível mental compatível, como também estar bem equilibrada emocionalmente, possuir uma eficiente organização perceptiva visual – motora e raciocínio abstrato. Os testes de personalidade usados são os mesmos empregados para a criança normal, desde que haja boa possibilidade de comunicação pela fala. As experiências de Piaget são indicadas para avaliar o nível operatório dessas crianças. Na aplicação dos testes de inteligência deve haver flexibilidade dos examinados experiente, que saberá modificar a técnica de administração.
O QI não deve ser interpretado da mesma forma que se costuma fazer, seguindo instruções estandardizadas. Além da inteligência, o exame psicológico pode analisar outros aspectos necessários para o aprendizado escolar ou da atividade escolar ou da atividade da vida diária, através do exame complexo da organização sensorial, da percepção, das praxias e do conhecimento do esquema corporal (DIAMENT, A. et al, 1996).


ETIOLOGIA


Este aspecto do problema é também controverso em vista de dois argumentos.
1. o material clínico retrospectivo utilizado na maioria desses estudos é objeto de interpretação variada, mesmo em países com assistÊncia pré e perinatal adequadas, dificilmente são colhidas informações completas das anamneses, pois não houve planejamento nessas observações para que se esclarecesse aspectos duvidosos.
2. a objetividade das publicações anatomoclínicas é evidente, porém fica difícil extrapolar estes dados de pacotes graves que morreram precocemente e aplicá-los a casuísticas mais amplas.
Até o surgimento das atuais técnicas de neuroimagem, não se dispunha, entretanto, de elementos clínicos complementares que pudessem comprovar-se uma determinada causa estava em jogo, isto é, se era congênita (pré-natal), perinatal de pós-natal (DIAMENT, A. et al, 1996).


RESULTADOS


O primeiro grupo (não portadores de PC) de 142 crianças, com idade entre 3 a 7 anos, entre meninos e meninas na mesma proporção apresentaram dificuldades em realizar tarefas mais simples como escovar os dentes, pentear os cabelos e comer.
O segundo grupo (portadores de PC) de 33 crianças onde 18 eram do sexo feminino e 15 do sexo masculino, com idade entre 3 a 8 anos. Onde a maioria dos casos foi relatado severidade leve (n=25) e hemiplegia (n=15). Nestas crianças as maiores dificuldades foram em atividades que requeriam habilidades bimanuais como: lavar as mãos, abotoar a camisa, amarrar os sapatos etc (MANCINI, M.C. et al, 2002).





DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo nos mostra que o desempenho de atividades funcionais foi relativamente iguais nos dois grupos, isso nos mostra que mesmo portando a doença as crianças tendem a despenhar atividades de rotina diária semelhante a das crianças com desenvolvimento normal.
Essa similaridade pode ter duas justificativas como: maturidade do desempenho funcional onde massa corporal, forca e coordenação poderiam influencias essas atividades, a outra seria atribuída à expectativa de desempenho dos pais, mostrando assim a influencia do ambiente sobre o desempenho.
Apesar de relativa consistência na ordem de disposição das habilidades algumas diferenças foram notadas. Em itens que requeriam habilidades bimanuais, controle postural e precisão da função manual como: fechar a torneira, lavar as mãos, abotoar e desabotoar, abrir e fechar o zíper, tem maior impacto para a criança com paralisia cerebral.
Nas habilidades de auto-cuidado como: comer, limpar e assoar o nariz, pentear o cabelo a criança normativa apresenta maior dificuldade, devido a valores culturais protecionistas, o que não acontece com as crianças portadoras de PC, onde sempre os pais são orientados a estimular essas atividades.
É verdade que as dificuldades de controle de movimento apresentadas pela criança com PC influenciam no desenvolvimento funcional das mesmas, diferenciando do padrão mostrado por crianças normais (MANCINI, M.C. et al, 2002).


CONCLUSÃO

Concluímos que é durante as AVD (atividades de vida diária) que a limitação funcional da criança será manifestada.
Todas essas investigações surgem como hipótese a serem investigadas cientificamente. Os resultados nos ajuda a entender melhor o desenvolvimento humano em diferentes condições e fornecem subsídios para construir estratégias de avaliação e intervenções cada vez mais eficazes para nossos pacientes.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Artigo Neuro-Psiquiatria, v. 60 n. 2 B São Paulo, Jun. 2002 ISSN 0004-282X (MANCINI, M. C., et al, 2002)

DIAMENT, A. Neurologia Infantil – 3ª ed. São Paulo, Ed. Atheneu, 1996.

Autor: EDSON COSTA


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