ZÉ, O PERFECCIONISTA



José Antônio da Silva, brasileiro, funcionário público, cidadão do bem. Para os amigos, simplesmente Zé. Não fosse uma rara mania, seria apenas mais um José Antônio da Silva entre tantos homônimos nascidos no Brasil. Zé sofre do chamado transtorno obsessivo compulsivo, ou TOC, como preferem chamar os seus portadores. É verdade que não é tão raro, mas no caso do Zé, o TOC se torna raro pelos exageros. Ao chegar ao consultório médico, por exemplo, onde trata esse mal, Zé não se contém e vagueia pela ante-sala, modificando a disposição dos objetos decorativos, até ficarem em posição simetricamente perfeita, sob o olhar incrédulo dos outros pacientes. Fica louco quando observa um quadro na parede em altura diferente do quadro ao lado. Dia desses trouxe uma furadeira e pediu permissão à recepcionista para corrigir o grave defeito e, antes mesmo da resposta da moça, que já não aguenta mais suas esquisitices, lá estava o Zé furando a parede para alterar a altura dos quadros, o que lhe custou pagar mais caro pela consulta, pois teve que arcar com o conserto dos estragos. Zé, até chegar à posição correta, fez uns quinze furos.

Antes de dormir é outro martírio, principalmente para a esposa do Zé. Não é que o cidadão, antes de ir para cama, confere cada porta e janela umas vinte vezes? Além disso, verifica a disposição das sandálias; o par deve estar milimetricamente emparelhado e até chegar à perfeição, ponha hora nisso. O sujeito é maluco, mesmo. Ao caminhar pelas calçadas, pisa exatamente entre os quadrados e quando ocorre de pisar nas linhas divisórias, volta todo o percurso e faz nova caminhada. Sua mulher fica louca. Chegaram atrasados em vários compromissos, por causa disso.

Outro dia, a esposa de Zé cometeu o desatino de levá-lo à casa de uma amiga do trabalho. Zé não se conteve ao observar que os estofados não estavam em disposição harmônica, então pediu aos donos da casa que se levantassem e o ajudassem a modificar os lugares. O sofá menor, segundo Zé, havia de ficar perto da janela e não da porta de entrada. Os donos da casa sorriram, pensando tratar-se de uma piada, mas logo perceberam que Zé não estava de brincadeira e trataram de atender os caprichos do maluco. Com louco não se brinca, pensaram os donos da casa. A mulher do Zé, coitada, perdeu a amiga.

A coisa estava ficando tão séria, que um dia Zé se complicou feio. Seguia ele de ônibus, do trabalho para casa, quando viu que a senhora sentada ao lado trazia em seu busto um belo broche, mas colocado incorretamente, na ótica do meticuloso Zé. Não deu outra e nosso obstinado herói avançou até o busto da jovem senhora, meteu a mão no bendito broche para os devidos ajustes, mas não concluiu a tarefa. Em pé, ao lado da moça, estava  seu marido, Paulão, um homem de pouco sorriso, dois metros de altura e braços de estivador. O brutamontes deu uma bofetada tão grande no Zé, que quase mata o infeliz. Ainda grogue, Zé observou que o cinto do seu algoz havia se sobreposto a uma arreata e, mais uma vez, não se conteve. Agarrou-se no cinto do gigante, na vã tentativa de cobrir a maldita arreata. Não deu outra; levou uma patada  mais forte que a primeira. Antes de desmaiar,  ainda ouviu o grito do Paulão: Tarado!


Autor: sander dantas cavalcante


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