A PARCERIA DA FAMÍLIA NAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS INDIVÍDUOS COM PSICOPATOLOGIA DO CENTRO DE APOIO PSICOSSOCIAL (CAPS) DE BARREIRAS – BA



Élbeti Cristian Neris Silva1.

Èrica Aline do Amara1..

Eumilécia Alves de Brito1.

Mirtes Catarina G. Udaeta1.

Tamires Raquel Araújo1.

RESUMO

A família é um suporte básico para a vida de qualquer pessoa, mas para os indivíduos portadores de psicopatologias ela possui especial importância, pelo fato desses sujeitos, na maior parte das vezes necessitarem de cuidados e acompanhamento dos membros do grupo familiar. A família enfrenta situações de dificuldade talvez por não terem suficiente conhecimento sobre a doença vivenciada pelo seu familiar, esta geralmente não compreende a sintomatologia e a evolução do quadro clínico da patologia. Utilizou como caminho metodológico a implementação de uma festa junina, objetivando a integração harmônica e social dos familiares com os indivíduos portadores de psicopatologia. Diante do que foi proposto, a enfermeira promoveu a integração dos familiares na participação das atividades desenvolvidas pelo doente mental.

Palavras chaves: Família; Doença Mental; Integração Social; Enfermagem. 

1Acadêmica de Enfermagem pela Faculdade São Francisco de Barreiras-FASB.

INTRODUÇÃO

O campo da saúde mental tem passado por importante processo de transformação em sua base teórica e nas práticas assistenciais por conta da reforma psiquiátrica, um processo em construção. Os profissionais de saúde que atuam na comunidade terão que acompanhar tal processo, pois acreditamos que a assistência à saúde mental tem que atender ao lema "cuidar sim, excluir jamais".

A lei nº. 10.216, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil, em vigência desde abril de 2001, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtorno mental e redireciona o modelo de atenção a saúde mental no país. Ela foi constituída partindo de um novo paradigma que visa à reabilitação e á reintegração psicossocial do indivíduo adoecido mentalmente.

Na relação com a família dar-se a socialização primária, uma estrutura social objetiva, que não permite a escolha de outros sujeitos significativos além de seus membros; apresentando-se como um conjunto antecipadamente definido que deve ser aceito sem possibilidade de outra opção. Assim, na socialização primária, a criança deve interiorizar o mundo familiar como seu mundo, o único concebível. Por mais que nos afastemos desse mundo constituído na infância, ele sempre estará presente, pois sua interiorização se faz carregada de emoção.

Trabalhar o tema família e doença mental decorre de nosso interesse de compreender como é a integração na vida cotidiana do familiar de portadores de transtorno mental, face às transformações paradigmáticas que estão a orientar este campo da saúde mental.

Foi realizada uma ação educativa em saúde com uma festa junina junto aos familiares dos indivíduos com psicopatologia do Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), de Barreiras – Ba, promovendo participação e simultaneamente integração social das pessoas com doença mental e seus receptivos familiares.

Diante do apresentado, justificou-se a necessidade de promover a integração dos portadores de psicopatologia com seus familiares, nas atividades desenvolvidas no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) de Barreiras, Bahia. Mostrou-lhe que o doente mental quando devidamente acompanhado no seu tratamento pode participar de eventos sociais como membro integrante.

DESENVOLVIMENTO

Cavrem e Hirnle (2006) conceituam família como um grupo social cujos membros compartilham valores comuns, ocupam posições específicas, interagem com o passar do tempo e apresentam forças e necessidades diversas. Os membros da família sustentam e criam os filhos, cooperam do ponto de vista econômico e político e cuidam do doente e enfermo de todas as idades.

Corroborando com a concepção acima descrita Luis. et al (1989, p. 52), enfatizam que:

Habitualmente uma família é um grupo de pessoas ligadas por um acordo legal, sexo e/ou anos, heranças, objetivo e/ou costumes e/ou crenças comuns, com o propósitos de proteger-se frente ao mundo hostil, gerar e criar filhos, transmitir a cultura do subgrupo e companheirismo. Às vezes estão presentes muitos poucos desses elementos e, no entanto, o grupo e pessoas envolvidas se considera como sendo família.

Diante de tais conceitos Beni. et al (2004), afirma que o homem é um ser social. A longa dependência da criança, desde o nascimento, das figuras dos pais, leva-a desenvolver todas as suas capacidades (inteligência, memória, linguagem...) na relação com o outro. Isto é, ela é dotada de instrumentos inatos que favorecem o contato com outras pessoas. Aquilo que inicialmente é uma necessidade de relação, indispensável para sua sobrevivência física, torna-se rapidamente necessário para sua sobrevivência psicológica. Em outras palavras, sua saúde mental e seu equilíbrio emotivo dependem da qualidade de suas relações com a família e com o mundo externo.

O indivíduo com psicopatologia pode ser incapaz de adaptar-se aos requerimentos importantes da situação, ignorando as regras e sendo punido ou rejeitado. Por isso, sofrem com estereótipos e preconceitos que podem influenciar, de forma negativa, às condutas que os membros da sociedade têm para com eles (CABALLO, 2006).

Para Cavalheri (2002), quando a família possui um membro com uma doença mental, toda ela acaba mobilizando-se inteiramente. Independentemente de ser orgânica ou mental, o desgaste é gravado quando se trata de uma doença de duração prolongada, com freqüentes casos de agudização de sintomas e quando é considerada incapacitante e estigmatizadora.

Sobre o mesmo tema Oliveira e Jorge (1998, p.380) afirmam que:

A doença seja ela física ou psiquiátrica afeta seriamente o grupo familiar. Quando se adoece, há uma interrupção de suas atividades normais e algumas destas atividades precisam ser desempenhadas por outras pessoas.

Às famílias que possuem, dentre os seus membros, um sujeito acometido por uma doença mental frequentemente tendem a adaptar-se com a presença da patologia, inclusive, em alguns casos, precisando se restringir da participação em alguns eventos sociais pelo preconceito existente na sociedade. Além disso, podem precisar mudar determinados hábitos a cerca do relacionamento familiar, intensificando a atenção ao doente mental (BRETAS, 2006).

A família é um suporte básico para a vida de qualquer pessoa, mas para os indivíduos portadores de psicopatologias ela possui especial importância, pelo fato desses sujeitos, na maior parte das vezes necessitarem de cuidados e acompanhamento dos membros do grupo familiar. A família enfrenta situações de dificuldade talvez por não ter suficiente conhecimento sobre a doença vivenciada pelo seu familiar, esta geralmente não compreende a sintomatologia e a evolução do quadro clínico da patologia (WERNET, 2001).

Até bem pouco tempo, a assistência ao doente mental apresentava-se centrada nos hospitais psiquiátricos, locais da prática e do saber médico, cujo modelo de atenção restringia-se à internação e medicalização dos sintomas demonstrados pelo doente mental, excluindo-o dos vínculos, das integrações, de tudo o que se configura como elemento e produto de seu conhecimento (COLVERO; COSTARDI; ROLIM, 2004).

No modelo de atenção atual, a política assistencial vigente preconiza a diminuição da oferta de leitos hospitalares. Cabendo a enfermagem a criação de serviços substitutivos de atenção à saúde mental deslocando, assim, o seguimento de evolução dos tratamentos para o interstício das dinâmicas familiares mobilizadas pela inclusão dos portadores de transtorno mental. Implementando intervenções na saúde mental que visem á qualidade de vida, a integração familiar e não apenas a ausência de doença mental ou de sintomas. Deve, assim, abranger a dimensão da autonomia e da capacidade de viver com qualidade e em família (POTTER; PERRY, 2004).

Os mesmos autores acreditam ainda ser necessário construir uma forma de pensar a pessoa com transtorno mental em sua existência – sofrimento, ressaltando a importância da inserção da família na assistência ao indivíduo com psicopatologia, bem como, a necessidade de cuidado, por parte da equipe de enfermagem com o grupo familiar que, na maioria das vezes, se encontra desgastado. 

A relação importantíssima neste contexto é a do doente com a sua família e as possibilidades mórbidas daí decorrentes. Este assunto é muito amplo e estudado, preocupação mesmo da moderna medicina e da saúde pública, enfim, de qualquer trabalho que vise o bem-estar social. Por isto a enfermeira, em suas freqüentes idas à casa do doente, tem oportunidade de perceber as características psicológicas da integração na vida familiar.

CONCLUSÃO

A ação educativa objetivou a promoção da integração dos familiares com o doente mental buscando minimizar perante a sociedade o estigma da doença mental.

As enfermeiras aconselharam e proporcionaram educação em saúde, por tanto às mesmas buscaram aprimorar seus conhecimentos técnico-científico e desenvolveram estratégias, contribuindo de forma mais efetiva para qualidade da assistência na relação doente-família, bem como, conscientizaram os familiares a cerca da necessidade de atuação e participação nas atividades desenvolvidas pelo doente mental.

Portanto, pretendeu-se com a intervenção contribuir de forma mais efetiva para qualidade de tal integração e, consequentemente, reduzindo os estereótipos e preconceitos que influenciaram de forma negativa, as condutas que os membros da sociedade tiveram para com os indivíduos portadores de psicopatologias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENI, Michele de. Psicologia e sociologia. 2ª ed., São Paulo: Paulus, 2004.

BRETAS. Ana. C.P; GAMBA. Mônica. G. Enfermagem e saúde do adulto. 1°ed., Barueri – SP: Manale, 2006.

CABALLO, Vicente. E. Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. 1° ed., São Paulo – SP: Santos, 2006.

CAVALHERI, S. C. Acolhimento e Orientação à família. Mesa Redonda: Importância da Família na Saúde Mental, 2002. Disponível em www.sppc.med.br/mesas/silvana.htm

COLVERO, Luciana. A; COSTARDI, A. C; ROLIM, A. M. Família e doença mental: a difícil convivência com a diferença. Revista Esc. Enfermagem. USP. 2004; 38(2): 197-205.

CRAVEN, R. F; HIRNLE, C. J. Fundamentos de Enfermagem: Saúde e função humanas. 4ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A, 2006.

LUIS, M. V. Percepções que a família e o paciente psiquiátrico têm sobre os determinantes de um distúrbios mental. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre: v. 10, n.1, p. 52-59, jan 1989.

OLIVEIRA, M. B; JORGE, M. S. B. Doente Mental e sua relação com a família, In: LABATE R. C. (org). Caminho para a assistência Integral. Riberão Preto: Scala, 1998.

POTTER, P. A; PERRY, G. A. Fundamentos de enfermagem. 5ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Gookan S. A, 2004.

WERNET. M. Mobilizando-se para família: dando um novo sentido ao cuidar e á família. São Paulo: USP, 2001. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, 2001.


Autor: Tamires Raquel Oliveira Araújo


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