O zelo do Presidente



O zelo do Presidente

 

Tanta sujeira vindo à tona no Senado Federal, e o Presidente Lula acha de estranhar justamente uma escaramuça de fim de festa.

 

Coisa feia! Homens maduros, formados, com mais de 35 anos, “poderiam agir de forma mais civilizada”. E nem se deram conta, em seu destempero, de que a televisão registrava tudo. Assim, até “mesmo o cidadão que gosta muito de política fica sem compreender o que está acontecendo.”

 

A reprimenda presidencial, como se observa, não invectiva a sujeira em si, vale dizer, os “atos secretos” do Senado, mas condena a teatralidade chula de alguns senadores, diante das câmeras de TV.

 

Se bem que esse desvio da atenção do substancial para o formal seja o recurso preferido das políticas atuais, afeiçoadas ao lusco-fusco, onde todos os gatos são pardos, o comentário presidencial oferece uma particularidade deveras interessante.

 

Trata-se do zelo do Presidente com “o cidadão que gosta muito de política”, e “fica sem compreender o que está acontecendo.”

 

Preliminarmente impende esclarecer que gostar de política é uma das inclinações malogradas do cidadão comum. A rigor, excetuada a aplicação  de filósofos, estudiosos e de raros estadistas, só gosta de política o profissional, porque dela tira proveito.

 

O cidadão comum relaciona-se com a política do mesmo jeito que visita o proctologista. Nessa relação, gostar é uma noção falha. Aliás, não é à toa que tanto o voto, como o toque retal são obrigatórios.

 

Desse modo, se o cidadão comum estiver confuso ─ nada garante que esteja ─ não será de forma alguma por amor ao mister político. Antes, será por ver a política insinuar-se cada vez mais como potência absoluta, tirocínio único, capaz de conduzir, indiferente às normas éticas, os destinos da sociedade.

 

Ora, sem ética, sem Deus. E, se Deus não existe, já dizia Ivan Karamazov, tudo é permitido.


Autor: Osorio de Vasconcellos


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