O meu caderno



Um dia desses, antes de dormir, folheava meu caderno. Ao escrever nele, não relato fatos, nem conto histórias, simplesmente escrevo o que sinto, da forma que sinto...

Em meu caderno.

E ao virar suas páginas reparei que algo me incomodava: minha letra estava, em alguns momentos, horrível. Meu primeiro pensamento? "Vou passar a limpo", como sempre fiz em meus diários quando adolescente, em meus cadernos da faculdade, como ainda faço em materiais de trabalho, e o que pensei em fazer naquele instante em meu caderno.Mas antes de qualquer decisão, resolvi observar o que havia escrito nas páginas de "letra horrível" comparando-as com as outras. Eis que nesse momento, me surpreendo com algo que ainda não havia refletido: em meu caderno, minha letra fala.

Às vezes meu sentimento é tão intenso ao escrever, outras vezes "carregado" de euforia, ou de dor, e minha ansiedade é tamanha, para conseguir transpor meus pensamentos para o papel sem deixar passar nada, que pronto! A letra sai de qualquer jeito...eu me entrego para meu caderno, e assim entrego o meu estado. A forma da minha letra também é conteúdo. Através dela, é possível perceber o dia que estava tranquila, magoada, ansiosa, feliz, triste, empolgada...e chegando a essa conclusão foi que tomei a decisão: não iria passar a limpo. De forma alguma! Quero que meu caderno continue falando por mim.

Ora, meu caderno não está preocupado com sua estética, mas com seu conteúdo sincero, que são meus sentimentos, e com seu conteúdo espontâneo, minha letra, da forma que for. Meu caderno, com as passadas de borracha, de corretivos, com a letra quase que ilegível (para os outros, não para ele, nem para mim), com desenhos simples, com marcas de lágrimas e até mesmo, com páginas rasgadas sem querer. E acreditem, mesmo assim ele é bem cuidado: colorido e cheio de vida! E tem a minha marca.

Aqui, em meu caderno, não escolho palavras perfeitas. Há palavras soltas, que juntas, falam da minha alma. E olhem que lindo, hoje escrevi NELE sobre ELE. E como última homenagem,deixo um trecho de uma música que me encanta e faz lembrar da minha história. Da minha história com meus cadernos. E vocês podem imaginar que não foram poucos...

"....Você vai ver

Serei de você confidente fiel

Se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo

Vou lhe dar abrigo...

...Mas a vida segue sempre em frente

O que se há de fazer

Só peço a você um favor

Se puder

Não me esqueça num canto qualquer."


Música: O caderno - Toquinho


Autor: Natacha Moraes


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