A educação em Kant



Para Kant é somente a partir da educação que o homem pode alcançar, com plenitude, sua humanidade, pois a educação o “constrói”, fazendo com que ele seja capaz de gozar sua liberdade.  A liberdade plena só pode ser alcançada a partir do momento em que o homem compreende que deve cumprir a lei moral e é capaz de cumpri-la. O papel da educação é aperfeiçoar as disposições que o homem já traz dentro de si referentes a esta lei.

 

O autor considera que a educação deve atender a quatro aspectos imprescindíveis para seu desenvolvimento: a disciplina, a cultura, a civilidade e a moralidade.

Segundo sua classificação a disciplina seria o componente principal da Educação Física que visa impedir que os resquícios de animalidade do homem prejudiquem sua humanidade – uma forma de “domar” sua selvageria. Depois de disciplinado, o homem encontra-se em condições de entrar em contato com os demais aspectos – que unidos constituem o que Kant denominou Educação Prática, também conhecida como educação moral.

 

O homem nasce com disposições naturais para o bem, no entanto estas disposições desenvolvem-se enquanto virtudes a partir do contato com a Educação Prática. A Educação Prática de Kant consiste em trabalhar no homem sua habilidade, sua prudência e sua moralidade – aspectos que somados estão diretamente relacionados à formação de seu caráter. Quanto às virtudes podemos compreendê-las como a capacidade que o homem desenvolve em si de agir conforme o dever estabelecido por ele mesmo por meio da razão. É a razão que nos permite conhecer a lei moral que encontra-se em nós. Tal lei é um imperativo categórico, pelo fato de ser uma ação boa em si mesma, um princípio ordenado por nossa razão.

 

A habilidade precisa ser trabalhada para que o homem consiga todos os seus fins e possua um valor em relação a si como indivíduo; a prudência lhe proporciona um valor público preparando-o para tornar-se cidadão; a moral lhe agrega valores relacionados à espécie humana como um todo.

 

Em linhas gerais, Kant vê na educação (mais especificamente na educação prática tendo em vista que a educação física está mais relacionada a questão de cuidados para a manutenção do corpo e  na contenção do homem) um passaporte para a perfeição da humanidade. Cada geração se aperfeiçoaria mais que a anterior visando um ideal de perfeição, que segundo o próprio autor, estaria apenas no plano das idéias, porém impulsionaria os homens para que gradativamente – geração após geração – buscassem atingi-lo.

 

Sua obra apesar de ter sido elaborada exclusivamente no campo teórico, sem relações empíricas com o meio infantil e escolar é reconhecida como um marco da pedagogia iluminista, pois representa a confiança da reforma da sociedade através da educação. Este é um dos traços da pedagogia kantiana que pode ser encontrado ainda hoje no ideário educacional.

 

Com vistas na configuração do ideal de perfeição humana baseado na educação tão difundido na obra de Kant, criou-se o termo “pedagogia da qualidade”, segundo o qual há um ideal pedagógico perfeito que se busca alcançar. Este ideal foi desenvolvido e aprofundado com pesquisas científicas por uma série de pensadores dos quais destacam-se: Freud, Montessori, Vigotsky, Piaget, Pestalozzi, entre outros – segundo a professora da Universidade de Brasília, Bárbara Freitag.

 

Apesar das correntes favoráveis à pedagogia kantiana, alguns pesquisadores não vêem sua efetivação na prática. O professor Jürgen Oelkers da Faculdade de Filosofia da Universität

Zürich (Suíça) considera a passagem da filosofia kantiana para a prática pedagógica problemática, porque não resolve as lacunas existentes entre teoria e prática por não oferecer o encadeamento entre ambas – ficando apenas no âmbito da exigência do dever. Ainda segundo o professor só é possível observar, de fato, essa ponte a partir do paradigma proposto por Locke. Segundo este todas as aprendizagens, incluindo a moral, provém do meio externo para o interno de modo a conduzir os homens para o caminho que se espera chegar, pois para Locke não existe idéias nem predisposições inatas – o homem é visto como uma tabula rasa onde as idéias são impressas.

 

 

Não podemos deixar de considerar a influencia de Kant na educação. Seus pressupostos permeiam o cenário escolar até os dias de hoje e são refletidos na prática docente. No entanto, é importante ressaltar que a pedagogia de Kant, bem como sua filosofia, partem do princípio da universalidade do ser humano, sem considerar o contexto específico em que se desenvolve sua moralidade. Isso, de fato, dificulta sua aplicação na prática já que a educação é um processo repleto de especificidades.


Autor: Joycimar Lemos Barcellos Zeferino


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