RÉQUIEM PARA UMA ÁRVORE



O erro fatal daquela árvore foi ter ousado brotar e crescer frondosa ao lado da casa de um dos senhores do universo. É que, diante da tal conscientização ecológica que vem sendo apregoada diariamente em todos os meios de comunicação, sempre chamando a atenção para a preservação do meio-ambiente e principalmente da necessidade das árvores para a sobrevivência da vida no planeta, ela imaginou que seria bem recebida pelos seres humanos.

 

Pois se enganou. Em um julgamento sumário, acusada de estar interferindo em um cano subterrâneo, foi condenada à morte sem direito de qualquer tipo de defesa. Poderiam ter mudado o cano de lugar mas não; resolveram pela morte da árvore em uma decisão totalmente desproporcional e desarrazoada: a vida de uma árvore trocada por um cano de PVC.

 

E assim, sem maiores justificativas, os senhores do universo determinaram a execução e os ignóbeis algozes cumpriram a nefasta decisão.

 

Nem sequer lhe deram o direito a uma morte rápida. Vocês já ouviram falar daquelas condenações da antiguidade, em que a execução dos condenados à morte deveria ser lenta para que a população, em contacto com a maximização da dor, pudesse tomar aquele ato como exemplo, eis que execuções cumpriam uma função eminentemente preventiva e intimidatória? Foi exatamente o que ocorreu com aquela árvore. Ao invés de usarem um instrumento que lhe desse uma morte sem tanto sofrimento, utilizaram-se de facões, machados e serras manuais. Foram cortando aos poucos seus ramos. Dos seus galhos mais frágeis, passaram para os mais fortes e, finalmente, ao seu tronco. Ela sofreu durante quatro dias, foi agonizando aos poucos, até que, finalmente desabou inerte e já sem vida. Depois de morta, ainda continuou sendo esquartejada pelos carrascos com seus olhos ávidos pelo ganho que teriam vendendo sua madeira como lenha.

 

Ficaram sem casa os pardais, os pombinhos, os bem-te-vis e outros pássaros e insetos que por ali faziam seus ninhos ou suas paradas. Também não veremos mais o sabiá-laranjeira que por ali cantava todas as manhãs, pois ele irá buscar outras árvores distantes aonde possa cantar livremente. Também ficou um triste vazio naquele espaço, fato que evidentemente, acarretará uma desarmonização que irá se refletir inicialmente naqueles que estão mais próximos e depois se irradiará por todo o universo.

 

Tais atitudes, ainda que isoladas, já estão acarretando respostas terríveis da natureza e tendem a se agravar. Os seres (des)humanos ainda pagarão um preço muito mais alto por tudo o que estão fazendo com os outros seres vivos caso não aprendam rápido a conviver em harmonia com eles. Afinal, que se mudem os projetos e as casas, mas se preservem os outros seres vivos.

 

Às vezes ainda retumbam dentro de mim aqueles barulhos de morte. Soam em minha alma como se fosse um tétrico réquiem em que a marcação é feita por batidas de machado e a mórbida melodia é executada com o som de serras e do brandir de facões.

 

Adeus árvore. A tua morte deixa o planeta um pouco mais árido e mais triste. O vazio do espaço que ocupavas, também se instalou dentro de meu coração e nunca mais será preenchido.

 

 

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
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Autor: Jorge André Irion Jobim


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