Quebranto: uma análise aprofundada



Renata Magalhães Jungmann[1]

Resumo:

Este artigo[2] tem como finalidade expor de forma escrita e organizada as observações notadas na peça Quebranto[3] de Coelho Neto representada pela primeira vez no teatro da exposição nacional, a 21 de Agosto de 1908. A obra de Coelho Neto é uma comédia em três atos que trata da vida de uma família de classe média no Rio de Janeiro na época acima citada. Com humor e ironia o autor retrata como um espelho as tendências e hipocrisia existentes na época em uma sociedade dominada pelo capitalismo e pelo surgimento de uma tecnologia ainda não existente. O casamento por interesses, o cotidiano de todos girando em torno do dinheiro são temas presentes na peça.

Palavras - chave: hipocrisia – sociedade - capitalismo

Abstract:

This article purpose is to abstract and analize Coelho Neto's play "Quebranto", first presented at the national exposition, on August 21 in 1908. The refered play is a comedy composed of three acts which expose the life of a mid-class family of Rio de Janeiro at the given time. With humour and irony the author portraits in a realistic way the trends and hipocrisy that existed that time on a society dominated by capitalism and the appearance of a new technology that had never existed before. The marriages of interests, the daily routine based on the Money are current themes in the play.

Keywords: hypocrisy – society – capitalism.

  1. Introdução:

O artigo foi realizado no intuito de elaborar uma análise crítica e pessoal sobre a peça para fins acadêmicos. Foi uma atividade solicitada pelo Professor Doutor Ricardo Bigi de Aquino como trabalho final de sua disciplina: História das artes Plásticas. O livro apesar de fácil acesso data de 1908, portanto a maior dificuldade encontrada foi a adequação vocabular tão modificada desde então. Apesar de antiga, quebranto é uma peça que sem maiores dificuldades pode ter suas características fundamentais observadas na sociedade atual e Coelho Neto de forma perspicaz as critica em sua comédia dividida em três atos, 61 páginas no total. A metodologia de estudo escolhida foi a interpretação da peça num contexto isolado e posteriormente em sua escala social e temporal procurando sempre correlacionar com outras obras do autor ou da época. A elaboração do artigo teve como resultado não apenas a conclusão de um trabalho, mas também o acréscimo cultural: histórico e literário adquirido na medida em que o texto estava sendo construído.

2.Desenvolvimento:

2.1.Autor:

Henrique Maximiano Coelho Neto nasceu no dia 21 de fevereiro de 1864 em Caxias no interior do Maranhão e veio a falecer em 1934 no dia 28 de novembro no Rio de Janeiro. Além de escritor, era também professor, político, poeta, teatrólogo. Filho do casamento de um português e uma mulher de sangue indígena, seus pais: Antônio da Fonseca Coelho e Ana Silvestre Coelho o transferiram para o Rio quando tinha apenas seis anos. Estudou no Colégio Pedro II e chegou a cursar medicina, mas logo desistiu e foi cursar direito na Faculdade de direito do Largo São Francisco. Transferiu sua matrícula para a faculdade de Recife, pois havia se envolvido em movimentos estudantis contra um professor e não queria ser prejudicado ou ameaçado. Depois de ter regressado se envolveu novamente em movimentos de cunho abolicionista e republicano o que levou a desistência total de seu curso de direito em 1885. Após desistir da carreira jurídica, retornou ao Rio e lá fez amizades com boêmios de grande nome como Olavo Bilac[4], Luís Murat[5], Guimarães Passos[6] e Francisco de Paula Ney[7], e foi para Ney que ele dedicou seu romance Fogo fátuo. Aos 26 anos, casou-se com Maria Gabriela Brandão e juntos tiveram 14 filhos. Conseguiu eleger-se a deputado federal do Maranhão em 1909 e reelegeu-se em 1917 além de ter sido nomeado professor de história da arte na escola nacional de belas artes e professor de literatura no colégio Pedro II. Pelo fato de Coelho Neto exercer diversos cargos públicos ele também escrevia usando pseudônimos, os principais foram: Ariel, Manes, Charles Rouge, Democ, Tartarin, Fur-Fur, Anselmo Ribas, Amador Santelmo, Blanco Canabarro, Caliban, N. Puck. Sempre foi um escritor muito conhecido, chegando a ser ate o mais lido do Brasil e também foi eleito "Príncipe dos prosadores Brasileiros" em 1928 por uma votação aberta realizada pela revista "O Malho". Atualmente, suas obras são de difícil acesso e caíram em certo esquecimento por conta do grande ataque que sofreram do modernismo após a semana de arte moderna.

2.2.Contexto Histórico da peça:

A peça se passa no início do século XX, 1908 precisamente. Este ano foi o ano da renúncia do imperialismo no Brasil apesar de que formalmente ele não existia há quase duas décadas. A sociedade naquele momento no Brasil ainda se alienava com as mudanças ocorridas com a modernização desde a revolução industrial que acarretou em várias mudanças no modo de vida dos Brasileiros. As novas tecnologias trouxeram novos estilos de vida e a sociedade agora almejava muito mais. Na peça nota-se o uso de várias expressões em Francês e Inglês, isso também pode ser observado como uma característica da época em que as pessoas de classe média e alta tentavam assimilar os padrões europeus tanto nos estudos quanto no modo de vida.No texto da peça de Coelho Neto as seguintes expressões exemplificam o argumento acima: "demi-monde[8]", "flirt[9]", "budget[10]" entre outros. De uma maneira geral tudo na sociedade era uma troca de interesses, casamentos eram organizados não pelo amor, mas pela conveniência e dinheiro. O preconceito impedia com que as mulheres exercessem muitas atividades hoje consideradas normais.

2.3.A peça

A peça se passa no Rio de Janeiro e é a história começa com o casal Macário e Amélia discutindo sobre o casamento que eles querem arranjar para a filha Dora com um homem de 60 anos, porém muito rico, pois dessa forma as dívidas que o casal possuía poderiam ser pagas. Dora a princípio é contra o casamento alegando não querer perder sua mocidade casando-se com alguém tão mais velho, entretanto acaba persuadida pelos pais, pois não quer abdicar da vida de luxo que possui. Macário então fala com o senhor Fortuna, pretendente de Dora dono de muitos seringais na Amazônia, sua terra de nascença. Josino que é sobrinho de Macário estava encarregado de mostrar a cidade para o senhor Fortuna e quando os dois vão fazer uma visita à casa de Amélia, ele fica sabendo que a jovem aceitou seu pedido de casamento. Macário então chama Dora que conhece o senhor fortuna, ele muito contente pela jovem ter aceitado seu pedido, ajoelha-se jurando fazê-la muito feliz. Nesta hora Josino e Clara, avó de Dora, vêem a cena e ficam indignados, principalmente a avó que faz uma ótima comparação sobre os tempos de sua mocidade e o que acontece hoje, fazendo uma crítica a todo esse jogo de interesses e clara hipocrisia. Depois, Fortuna vai falar com josino, pois está preocupado já que não é mais jovem e precisa estar em forma para o casamento. Josino então cita um caso de "dinamogênese[11]" que seria uma série de atividades como equitação, esgrima, massagem, extensor que usaram em um senhor de 68 anos e que conseguiu depois disso ter dois filhos. Fortuna então se mostra interessado pela técnica e depois na casa conhece o restante da família e alguns amigos que debocham as escondidas dele, pois apesar de rico notam que não é um homem de etiquetas. Ele então é convidado para um piquenique. Acaba o primeiro ato. O segundo ato começa com Dora e josino conversando e josino a acusa de "roubo", pois sabe que não ama o seu noivo e revela também particularidades como as amantes que o senhor fortuna possuía. Dora fica chocada, mas josino a diz que não precisa fazer papel de inocente porque conhece seus segredos, Dora então fica nervosa e pede logo um preço a ele para guardar tudo.A peça continua depois com Clara horrorizada com as atividades que o noivo de Dora esta se fazendo passar, por conta da dinamogênese e josino a explica que isso ajudara a rejuvenescê-lo. Depois, Amélia e Dora estão conversando quando ocorre um desentendimento: Dora avisa a sua mãe que não pretende morar com ela quando estiver casada nem ajudá-la financeiramente, Amélia chocada e preocupada fala a Macário que diz para ter calma, pois tudo pode ser tratado com diplomacia. Mais tarde, quando josino está mostrando a Fortuna o monóculo que comprou para substituir os óculos velhos do senhor, ele começa a reclamar do processo, pois estava deixando-o muito cansado e começa a questionar realmente se tem idade para fazer tudo aquilo. Já quase no final do segundo ato, é revelado que josino foi o primeiro amor de Dora e fica claro que ele ainda possui esperança de tê-la de volta. Há uma grande reunião para comemorar o noivado e todos cantam, dançam e recitam poemas e Fortuna percebe no meio em que meio estava escolhendo viver e fica claro para ele que sua origem de caboclo do Amazonas não iria permitir isso. No terceiro Ato, Fortuna se queixa para Clara de quebranto e ela diz que aqui nessa cidade havia muitas pessoas invejosas e acendeu vários incensos para espantar a maldade. A peça termina com o noivado desmanchado pelo senhor Fortuna e com o grande segredo de Dora revelado em uma carta que enviaram para ele. A carta dizia que Dora já havia perdido sua pureza com Josino, ela fica desesperada e pede ao senhor Fortuna que não acredite nas cartas e ele diz que não é por esse motivo que não casar-se com ela e sim porque ele não quer viver naquele tipo de sociedade e não quer tirar a juventude dela. No final quando ele está livre de compromisso ele diz ter se livrado do Quebranto que tanto o incomodava.

2.4. Análise Crítica:

A peça, apesar de uma comédia, retrata com muita verossimilhança a situação de diversas famílias naquela época. Com um final imprevisível, fica clara a opinião de Coelho Neto acerca do tema em questão. A temática do livro pode de certa forma, ser comparada a uma obra, também muito famosa, de Machado de Assis chamada: Memórias Póstumas de Brás Cubas em que o autor conta uma história também de um amor por interesse. Com vocabulário acessível e poucas páginas uma grande mensagem e cultura pode ser adquirida ao ler a peça.

3. Conclusão:

Os objetivos do trabalho foram não só alcançados como ultrapassados pois a peça retrata de uma realidade não muito distante e muitas vezes presente no dia – a – dia de pessoas em pleno século XXI tornando possível para quem a lê compreender melhor o mundo em que vive.

Referência Bibliográfica:

1. NETO, Coelho. Quebranto. In:______. Teatro de Coelho Neto I – Rio de Janeiro: Funarte, 1998. Pág. 199 – 264.

2. pt.wikipedia.org – site enciclopédico de informações.




Autor: Renata Magalhães Jungmann


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