Sobreviventes



(by Lucia Czer)

O título poderia também "sobre viventes" já que estamos falando sobre vida, vida de pessoas, daqueles que tem muito a contar, que viram e ouviram muitas e muitas coisas, que ganharam, mas que também perderam, que chegam à idade madura contabilizando somente as perdas sem valorizar as múltiplas conquistas acumuladas no decorrer de quatro, cinco, seis ou mais décadas.

É preciso lembrar que crescemos perdendo coisas: Primeiramente o ventre materno, depois o peito no aleitamento, a chupeta, o colo, a presença dos pais que diminui ao chegarmos à idade escolar, quando vamos para outros círculos sociais. Chegamos à maturidade e as perdas tem outras significâncias: o convívio com os colegas de trabalho na aposentadoria, são os filhos que casam ou se tornam independentes e voam em busca do seu próprio espaço, é a morte do cônjuge, dos pais, parentes e amigos. De repente, não somos mais tão necessários. Isso marca profundamente a nossa existência. Mas sobrevivemos e é preciso continuar de pé.

Com as alterações sofridas no nosso meio social, vem junto a diminuição dos hormônios, da libido, da acuidade visual e auditiva, da memória, da motricidade e do tônus muscular, e com isso, aparece um sentimento de impotência, de inutilidade e baixa estima.

O apego ao passado em demasia, gera frustrações que podemos e devemos evitar. Precisamos, isto sim, perceber que há uma nova etapa e o melhor é adaptar-nos a ela, percebendo o que de novo ela traz: O tempo disponível para mais lazer, a oportunidade de conhecer pessoas, fazer amigos, ir a lugares, acostumar-nos a novos afazeres, criar uma nova rotina.

Quantas e quantas vezes, no período ativo, nos lastimamos pelo fato de precisarmos trabalhar para garantir a subsistência e de não poder usufruir de tempo para viagens, descanso ou convívio com as pessoas a quem amamos?

Agora é a hora de viver o que não foi possível anteriormente. Se possível, é bom que tenhamos alguma ajuda profissional, como um terapeuta, mas também não é imprescindível, desde que nos dispusemos a passar a limpo tudo que vivemos e medir o valor de perdas e ganhos. Temos que descobrir, com o tempo vago, o que queríamos e não conseguimos fazer antes: os livros que ficaram intocados na estante, os filmes de que gostamos, os jogos que não pudemos assistir, grupos de que não participamos mas que ainda nos interessam, sair sem hora marcada, viver a vida láfora, fora dos muros que nós mesmos criamos quando nos reclusamos na própria existência e no sentimento de incapacidade.

Viver vale a pena, sobreviver também!


Autor: lucia czer


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