O Desabrochar



 

O Desabrochar



-Será que consigo? Parece tão difícil escolher.

Caro leitor, apresento-vos Lúcio, espero que não fique a indagar que razão leva-me a escolher esse nome para o meu personagem, afinal nem eu sei. Tudo neste mundo começa com uma resposta,em todos lugares as pessoas falam que as coisas são assim e pronto, coitadas delas, mal sabem que estão condenadas a ser livres, cuidado amigos não espalhem, pois isso é um esclarecimento perigoso do ponto de vista da ordem vigente. Eu, como pseudo-revolucionário, não gosto muito de respostas, contudo adoro perguntar e por conta disso é que esse conto ou crônica, não me sinto seguro a afirmar nada, corrijam-me os estudiosos, começa dessa forma. Ah! Fica implícita minha crítica aos palestrantes da revolução.

Voltando à estória, quero informa-los sobre as características e a vida desse rapaz de quem vos falo. Ele tem 17 anos, está preparando-se para o vestibular e tal como a maioria dos adolescentes é assolado por diversas dúvidas. Sua mãe, o pai não tinha contato com ele e isso fica para uma próxima estória, espera que ele seja ´´doutor´´,ou seja, que gradue-se em Medicina ou Direito,contudo o que o moço queria mesmo era forma-se em História e dar

aula, sonho aparentemente ou talvez verdadeiramente pueril, entretanto faça o favor, meu estimado leitor, de não julgar com tanta severidade um adolescente, só porque você, talvez, tenha perdido a capacidade de acreditar que pode fazer a diferença, não quer dizer que o nosso jovem também tenha que fazer o mesmo, perdoe-me se sou indelicado é que Lúcio é um personagem que tem vida, pois habita o meu ser, eu o amo, por isso defendo-o com todas as forças. Ele acreditava que a educação poderia fazer a diferença na vida das pessoas, na verdade não queria ensiná-las nada, apenas queria mostrar que elas podem aprender e transformar tudo que quisessem, por conta de todos esses motivos decidiu-se por seu curso universitário. .

Lúcio durante o ano inteiro atritou-se com a mãe, ela não queria ver o seu estudioso filhinho, ainda mais agora com esse estória de ser professor, juntando-se a canalha comunista. Calma,calma não se assustem, o rapaz não era simpatizante dessa doutrina marxista,contudo a mãe acreditava que qualquer coisa que questionasse o sistema era fruto do pensamento ou da ação dos ´´comedores de criancinha´´. Perdoe a nobre mãe de família, afinal ela tinha 48 anos e em sua juventude, um tanto conservadora, foi alvo da maciça propaganda imperialista estadunidense e acabou tornando-se uma adepta do ´´american waw of life”. Somos tão diferentes dela? Pobre rapaz, a pressão em casa era grande, ele, cada vez mais, perdido não sabia mais se realmente deveria seguir seus desejos e sonhos ou fazer a vontade de sua mãe. Talvez, para alguem como você seja fácil escolher, todavia o rapaz queria tanto realizar os sonhos de sua preceptora, afinal ela tinha sacrificado-se tanto por ele. Não pense que o adolescente fazia parte da minoria de privilegiados financeiramente, ele era pobre, mas não paupérrimo, contudo não se pode dizer que sua vida era fácil.

A pergunta realizada no começo desse ´´fluxo escrito de pensamento´´ foi proferida durante uma viagem de ônibus. Às vezes, pergunto-me quantas vidas já foram mudadas graças a esses momentos epifânicos dentro desse meio de transporte urbano. O futuro do mundo e do Brasil, mal sabem as pessoas, não está na Casa Branca ou no Palácio do Planalto, mas sim dentro dos ´´buzões´´. Peço perdão a tchekov pela insolência, contudo tenho que falar dos transeuntes das ruas,eu sei que eles não vão participar da narrativa, mas os invisíveis esses sim são reais. Eu sei amigo, pode acreditar, também quero terminar esse texto, mas tenha paciência, afinal, de acordo com Kant, ela tem fruto doce, não tenho muita certeza disso, todavia respeito opiniões alheias. Sobre os transeuntes,só queria mencionar que eles estão vivos, eu sei é difícil acreditar, mas é verdade. Eu sei que o meu protagonista merece mais atenção de minha parte, mas por favor deixem-me, só estou querendo nascer. Lucinho já tinha pensando bastante, mas não conseguia tomar uma decisão. Chega o dia da inscrição, acaba sedendo, pois faz a vontade da mãe e inscreve-se em Direito. Vou adiantar um pouco o desenrolar dos acontecimentos, pois meu espírito mudancista não aguenta passar tanto tempo preso a mesma coisa. O rapaz conclui um semestre do curso universitário e depois de muitas discussões e lágrimas acaba trancando a faculdade. Agora sim ele ia fazer o que tanto queria, já estava tudo planejado, ia ser o maior professor de todos os tempos. A mãe já estava até acostumando-se com a ideia. Tudo era questão de tempo para ele começar a viver seu grande sonho.

Nova inscrição no vestibular, dessa vez escolheu o curso que tanto queria. Fez a prova e como era de se esperar passou entre os primeiros. A mãe, meio encabulada, deu-lhe os parabéns. Acaba-se mais um ano, nosso protagonista está bastante ansioso para o início das aulas, mal pode esperar que tudo começe. Enfim, têm-se início o ano letivo as primeiras aulas são excepcionais, passa-se o tempo e, à medida que isso acontece, aquilo para Lúcio vai tornando-se, cada vez mais, chato e sem graça.. O que estava acontecendo? Por que? Respondam-me, o que sei eu de mim mesmo? Isso mesmo meu caro Pessoano, nada. O rapaz então, após novamente muita convulsão em casa, larga o curso de História no 5 semestre. E agora? Não meu caro amigo assassino, ele não se suicidou por achar que a vida tinha perdido o sentido, apenas largou tudo, por mais incrível que pareça, até a própria mãe. Talvez só estivesse querendo ser, faça o favor de entender o verbo como intransitivo. Saiu de casa com o intuito de viajar o mundo, tendo como única companheira sua flauta transversal. .Desculpem-me novamente, é que desde de pequeno o agora, nos dizeres da sociedade civil, homem estudava música. Viajou apenas com a passagem de ida para a Itália, onde tinha alguns amigos. O dinheiro ,conseguiu vendendo sua coleção de livros, diga-se de passagem, comprou eles a muito custo fazendo bicos,tais como: trabalhar de mecânico, lavar carros e dar aulas de reforço. No fundo vai ver que ele não queria mudar nada, tudo o queria era desabrochar de uma maneira ou de outra. Se ele arrependeu-se? Eu tiro o ônus da resposta de minhas costas, digamos que a vida desse rapaz é um tanto inefável. Caso um dia eu venha a saber o que aconteceu, prometo que mandarei um e-mail para você, afinal eu sei que em tempos de neoliberalismo e globalização, são bastante poucas as pessoas que têm tempo para um encontro cordial para falar de um amigo distante.



Autor: marco vasconcelos


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