UMA IGREJA QUE PERDEU O RUMO



UMA IGREJA QUE PERDEU O RUMO

 

by Dr. Paulo de Aragão Lins

 

Dentre as sete igrejas da Ásia a igreja de Éfeso se destacava como uma comunidade aparentemente perfeita. Jesus disse que conhecia suas obras e seu trabalho. Comentou a respeito de sua perseverança, uma virtude rara e necessária.

 

Falou também que aquela igreja não podia suportar os maus. Alguém perguntaria: e quem suporta? Muitos. Diria que a maioria das igrejas hodiernas suporta os maus e suportam tranquilamente, desde que eles aumentem o número dos membros e a bolsa dos dízimos e ofertas. Mas os efésios não davam colher de chá para os que desejavam passar por crentes fiéis ao mesmo tempo em que praticavam abominações.

 

Naquele tempo o dinheiro, a posição e o prestígio não vinham em primeiro lugar.

 

Naquele tempo não se manufaturavam apóstolos a torto e a direito. Naquele tempo não existiam confrarias de homens importantes para impor precipitadamente as mãos e declarar alguém apóstolo.

 

Ou mesmo fazer o que alguns faziam naquele tempo – “se diziam apóstolos”.

 

A abençoada igreja de Éfeso, porém, pegou essa escória espiritual e colocou-os à prova. Eles não passaram na prova e foram chamados de mentirosos.

 

Outra grande virtude da igreja de Éfeso era o fato de aborrecerem a obra dos nicolaitas. Dizem alguns intérpretes que essas pessoas eram aquelas que gostam de dominar, de dar ordens, de ter a hegemonia. Isto por causa da conotação grega da palavra “nicolaíta” que significa “vitória” ou “domínio” sobre os leigos.

 

É outra mazela que chegou aos nossos dias – homens e mulheres que se arrogam chefes, conseguem uma titulação e passam a mandar, a ordenar, a vociferar, a comandar, a exigir, a determinar, a criar leis humanas, a estabelecer sistemas terrenos e fixar altos salários para si.

 

Os efésios, como as demais igrejas primitivas, tiveram sua parcela de sofrimento. Jesus disse que eles sofreram por amor do seu nome, mas não desfaleceram.

 

Parece, até, que nada faltava àquela igreja. Mas, faltava algo, sim, e algo muito sério, algo que provavelmente encobria todas as virtudes citadas na carta.

 

Jesus disse: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor”.

 

Desde garoto, na igreja, sempre ouvi falar nesse primeiro amor. Quando alguém via um crente animado, recém convertido, sempre comentava:

 

- Está vivendo o primeiro amor!

 

Era realmente bonito de se ver – aquela alegria, aquele contentamento, aquela dinâmica, aquele interesse pelas coisas de Deus, aquela dedicação à obra, aquela freqüência persistente na casa de Deus, aquela pontualidade, aquela disposição constante para reagir a qualquer necessidade da igreja ou dos irmãos, coletiva ou individualmente.

 

Era esta a égide dos efésios. Era esta a maravilha que permeava a vida da igreja.

 

Mas, oh tragédia!  Chegou uma hora em que eles abandonaram o primeiro amor. Misericórdia!

 

Seria isto um pecado?

 

Claro que sim. Se não fosse um pecado, o Senhor não teria dito: “Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras. E se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres”.

 

Se havia a exigência de um arrependimento, estava configurado o pecado.

 

Em resumo, a igreja de Éfeso perdera o rumo. Enveredara pelo caminho da apostasia, da apatia, da indiferença, da impassibilidade, da insensibilidade. De uma igreja cheia de vida passara a ser uma igreja cheia de marasmo e indolência.

 

Perdera a vivacidade, o entusiasmo, o ânimo, o alento, a coragem, a força, a seiva do Evangelho puro. A energia primitiva havia desaparecido. O ardor evangelístico tinha se ido. A paixão pelas almas se esvaecera. A inspiração das mensagens declinara.  A flama viva do ensino virou rotina. A influência na comunidade já não era a mesma. Provavelmente já haviam substituído a graça pela lei, o amor pelas exigências, a vida graciosa pelas regras espartanas.

 

Quando eu era jovem cantávamos muito, em nossa igreja o Hino 608 do Salmos e Hinos que dizia assim:

 

                        Vem, visita, a tua igreja,

Ó bendito Salvador.

Sem tua graça ela murcha

Ficará

E sem vigor.

Vivifica, vivifica

Nossas almas, ó Senhor!

Vivifica, vivifica

Nossas almas, ó Senhor!

 

Sempre fui durão para os revezes da vida, mas sensível para as coisas de Deus. Geralmente cantávamos este hino ao final do culto. Não somente eu, mas muitos irmãos e irmãs enxugávamos as lágrimas após este cântico.

 

Como disse um precioso irmão norte-americano: “Estamos orando muito por um avivamento, mas o que precisamos hoje, em primeiro lugar, é de uma matança”.

 

Ui! Que expressão drástica, não?!

 

Não. É verdade. Precisamos de uma geração que esteja disposta a morrer para os seus delitos e pecados, morrer para a carne, morrer para o mundo, morrer para o espírito de futilidade e viver seriamente o primeiro amor do Evangelho.

 

Só assim faremos o que acredito que os efésios fizeram após a exortação do Senhor – arrependeram-se e voltaram para o seu primeiro amor.

 

(Refs. Ap 2.1-7.)

 


Autor: Paulo de Aragão Lins


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