CONSTRUINDO CIDADÃOS NA CONTEMPORANIEDADE



Naara Maritza de Sousa[1]

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar a possibilidade da construção de uma escola cidadã com base no pensamento pedagógico socialista. Foi elaborado por meio de uma pesquisa bibliográfica tendo como referência autores cujos pressupostos fundamentam-se em Gramsci e Marx entre eles estão: GADOTTI (2005), PIMENTA (2002),ROSSI (1981).A pesquisa direcionou-se para a análise dos fatores que determinam as diferenças na qualidade da educação.Para tanto,procuramos abordar como as políticas públicas interferem nas práticas educativas e na maioria das vezes como são causadoras do fracasso escolar visto como insucesso do aluno pelo seu mau desempenho sem no entanto relacioná-lo às condições reais de aprendizagem da maioria da população brasileira.Nesse sentido,percorremos um caminho buscando indicar a possibilidade de uma prática educativa voltada para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seu papel para a transformação social.

Palavras-chave:Desigualdades Sociais; Educação Igualitária; Cidadania; Transformação; Educação Socialista; Pensamento Crítico; Comprometimento.

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade caracterizada pelas desigualdades sociais, como, por exemplo, a diferença na qualidade na Educação pública e privada, o que desfavorece consideravelmente a possibilidade de futuro promissor dos alunos de baixa renda.

A estrutura social atual de nosso país tem-se mostrado resistente às mudanças e cabe à Educação e a nós, educadores, exercer um papel significativo na eliminação dessas desigualdades e na preparação para se integrarem na sociedade, como indivíduos ativos, participantes e conscientes.

O sistema educacional pode e deve ser inovador e democrático. Ele deve dar mais oportunidades e incentivos para os educandos se tornarem mais autênticos, dirigindo seus rumos, contribuindo para continuação da construção de sua história, tornando-os pessoas realizadas profissionalmente e como seres individuais, ou seja, cidadãos.

Para uma Educação Democrática e Igualitária:Abordagem do Conceito Pedagógico Socialista e de um Currículo Democrático

O referido artigo foi trabalhado com base no pensamento pedagógico socialista, porque acredito que é esse pensamento poderá mudar a Educação. Somente com uma Educação para todos é que se pode, nos próximos anos, "tentar" modificar essa realidade do ensino, em que a classe alta sempre é favorecida.

Como afirma GADOTTI (2005) "A concepção socialista da educação se opõe à concepção burguesa. Ela propõe uma educação igual para todos." (p. 119)

Por que há pessoas sem nenhuma visão política, cultural ou mesmo incentivo para entrar na faculdade? As maiorias dos alunos de classe baixa não sentem interesse pela Educação. Sua realidade de vida é ver o pai ou a mãe irem trabalhar (como operários, empregados), sem acesso a leitura (exceto de folhetos comerciais).

Uma ridícula minoria de filhos de operários tem acesso ao ensino superior. Milhares de jovens que trazem em si gênio e criatividade não desenvolverão jamais seu poder criador porque pela condição de seus pais não lhes será permitido acesso a uma formação superior. (Santiago, 1998, p.62)

O principal responsável por essa mudança somos nós, educadores. Temos que educar e transformar futuros "revolucionários". Hoje, para revolucionar e transformar a sociedade não é preciso usar armas de fogo e, sim, a arma mais forte de todos os tempos: a Educação, a compreensão. Cabe a nós, educadores, trabalhar em um projeto em que serão diminuídas as diferenças na Educação; caso contrário, sempre estaremos formando empresários e operários, mantendo a divisão injusta de classes sociais.

Entre os meios a serem conquistados figuram, em nosso entender, a escola e o Parlamento. Trata-se de espaços que, entre outros, necessitam ser ocupados pelos intelectuais orgânicos da massa popular insatisfeita e da classe trabalhadora organizada.(Saviani, 1987, p. 153)

O objetivo da Educação socialista é de despertar o pensamento crítico dos alunos perante a postura, comportamentos, valores da sociedade em que ensina o conformismo, a obediência e o individualismo às crianças e jovens pertencentes da classe operária e esses aprendem atitudes em que terão um papel de subordinados.

O confronto entre os interesses dos trabalhadores e dos capitalistas está presente em todas as instituições sociais sob o capitalismo, inclusive na escola, um dos locais de imposição da ideologia hegemônica, mas também local potencial de circulação de alternativas ideológicas.(Rossi, 1981, p.125)

Também, tem como objetivo nestas ações, seduzir o aluno para o conhecimento e conscientizá-lo de que todo indivíduo é capaz de aprender levando em consideração a sua experiência e que é preciso ter perseverança e desenvolver a auto-estima dos mesmos.

Nesse sentido, é importante citar a posição de Lênin em relação ao papel da escola:

Enquanto as escolas continuarem nas mãos dos latifundiários e capitalistas, a geração da juventude permanecerá cega e ignorante. Mas a nossa escola deve dar a juventude às bases do conhecimento, a capacidade de forjar por si mesmas concepções comunistas, deve fazer deles homens cultos. A escola deve, durante o tempo que os homens estudam nela, fazer deles participantes na luta pela libertação em relação aos exploradores.(LÊNIN, apud GADOTTI, 2004, p.134)

O processo de escolarização é diferente para cada uma das classes sociais, pode ser considerado um prolongamento ou rompimento.

para as elites a escola é o prolongamento da vida cotidiana, para a classe trabalhadora dá-se o contrário: ao ingressar na escola, a criança pobre se depara com uma linguagem que não é sua. A criança pobre se encontra diante de uma maneira de falar ou agir do professor, diante de livros e conteúdos de ensino que não correspondem à sua vida cotidiana de trabalho, pobreza e sofrimento.(Santiago, 1998, p.64)

Objetivos da Prática Pedagógica na Direção da Transformação Social e

Construção de uma Escola Cidadã

O objetivo da prática pedagógica democrática é formar cidadãos competentes à adaptação de novas situações e imprevistos, pois com a tecnologia e globalização a quantidade de informações e mudanças rápidas faz com que cheguem até nós em grande escala.

Nesse sentido, a UNESCO propõe como uma das funções da educação:"transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro." (Unesco, 1998, p.89) E a partir dessa visão estabelece Quatro Pilares fundamentais para a Educação do Séc.XXI definindo os objetivos a serem alcançados por todos os países entre os quais se destacam:

- formar cidadãos criativos, críticos, com inteligência interpessoal e intrapessoal para trabalhar em equipe. Com iniciativas, formando assim, líderes com habilidades cognitivas para solucionar conflitos, melhorando as relações de sua equipe e sempre propondo soluções e encarando com habilidade / inteligência as inovações constantes;

- formar cidadãos sem preconceitos, que saibam respeitar as diferenças, já que vivemos em um país multicultural. Que não sejam individualistas (como o sistema capitalista deseja e forma). Cidadãos que através das diversidades e diferenças busquem objetivos em comum. Que tenham conhecimento de toda e qualquer diversidade para saber respeitá-las fazendo sempre a auto-avaliação para que possa se conhecer também.

- proporcionar uma educação integral voltada para o desenvolvimento dos aspectos cultural, social, espiritual, físico, mental/intelectual.

- formar cidadão com oralidade desenvolvida, para que possam sempre expressar seus pensamentos e sentimentos,com iniciativas que sejam criativas e eficazes para solucionar os problemas / conflitos sociais. Intervir em seu meio utilizando de imaginações criadoras e revolucionárias.

- formar cidadãos que possam traçar sua trajetória de vida, com autonomia e responsabilidade pessoal e social sempre com criatividade, respeito e senso crítico.

- Desenvolver nos educandos, memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas e aptidão para comunicar-se.

Educação alienadora x Educação Libertadora

Existe um confronto dentro das escolas: confronto de lutas ideológicas. A classe dominante/burguesa reproduz suas ideologias no âmbito escolar para alcançar seus objetivos e interesses. A escola/educadores deve formar intelectuais principalmente nas escolas onde concentram a classe dos explorada / menos favorecidos.

As instituições são espaços heterogêneos no qual existem diferenças ideológicas, culturais, sociais e políticas que devem ser analisadas com olhar crítico. São forças se debatendo e se tivermos essa consciência saberemos nos impor e posicionar nossa concepção e não nos deixaremos levar por ideologias dominantes.

A educação pode ser Libertadora ou alienadora. A educação Libertadora tem seu papel de libertação quando prepara o educando para ser um cidadão crítico, reflexivo, com valores próprios, ativos nas resoluções dos seus problemas sociais, políticos e econômicos. Nesta educação o educando reflete, pensa, critica, transforma ao mesmo tempo sua prática e a prática social.

A proposta pedagógica libertadora de acordo com a concepção de SANTIAGO (1998) se faz a partir "dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano, de modo a ter uma prática transformadora da realidade que o cerca, isto é, aprender a ler as desigualdades do capitalismo, colocando com eixo central da relação: educação – política." (p.66)

Falar da educação como fator de conscientização é falar de um educador consciente que a educação promove a valorização humana, ou seja, o educando se torna capaz de transcender a ideologia dominante vigente, ter uma visão crítica do sistema social, um cidadão consciente de seus direitos e lutando por eles.

A educação pode ser um fator de alienação, por exemplo, quando os profissionais da educação seguem o conteúdo politicamente passado, ele é um condutor da ideologia dominante, não há mudanças, nem construção do saber, ou seja, não constrói um indivíduo crítico, consciente, capaz de criar seus próprios símbolos, ele se adapta ao meio, sem transformá-lo. Um indivíduo adestrado, sem visão de futuro seguindo apenas os padrões que o sistema dominante impõe e encara como seus deveres perante a sociedade

Na educação Alienadora a escola segue um projeto imposto pelo seu governo, sem levar em consideração a sua realidade, seu meio ou suas necessidades e esse fator é uma das formas de alienar seus educandos.

A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres "vazios" a quem o mundo "encha" de conteúdos; não pode basear-se numa consciência especializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como "corpos conscientes" e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo. (Freire, 1987, p. 67)

Quando a educação tem um caráter de apenas transmitir o conteúdo, sem incentivar o aluno a pensar, refletir, opinar, discutir, ela está alienando-o.

Alienação é quando se aceita o que os outros lhe dizem ou impõem, quando se vive em cima de valores que não são seus, quando se aceita os conteúdos sem transformá-los para a realidade dos educandos. Para Marx,de acordo com os estudos de SANTIAGO (1998, pg. 62) a liberdade é a superação da alienação, logo requer uma transformação do mundo e não apenas uma idéia disso.

A educação predominante em nosso país é o modelo de alienação, pois o processo educacional no país está condicionado a interesses da classe dominante, que tem como base reproduzir a mão-de-obra e não sujeitos pensadores, questionadores e críticos, porque o homem estagnado a uma só idéia é manipulável.

A ruptura se dará quando os intelectuais críticos e os trabalhadores forem capazes de, rejeitando a imposição ideológica dos dominadores, conquistarem numa luta que abrange toda a sociedade, o espaço-escola para a contra–hegemonia dos trabalhadores. (Rossi, 1981, p.125)

Sem a educação, a ética e a cidadania praticamente não ocorrem. É necessário que exista a educação Libertadora para ser um cidadão que exerce seu papel na sociedade.

A educação deve se dar por meio das relações sociais, e nesse sistema de divisão de classes é necessário que evidencie os problemas sociais de sua realidade para alcançar a transformação.

Todavia, toda educação se dá em meio a relações sociais. Numa sociedade em que essas relações se dão entre grupos sociais antagônicos, com diferentes interesses, em relações de exploração de uns sobre os outros, a educação só pode ser crítica, pois a humanização plena implica a transformação dessas relações. Isso significa que a pedagogia lida com o fenômeno educativo como expressão de interesses sociais e conflitos na sociedade em que vivemos.(Pimenta, 2002, p.66)

Nesta perspectiva, a prática pedagógica deve ser vista como uma ação política, pois dentro do âmbito educacional encontra-se a luta ideológica. Para Gramsci, toda relação de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica. Assim, ROSSI (1981) considera "a luta dentro da escola e dentro de outros meios de hegemonia ideológica se torna essencial ao questionamento da dominação de classes. A ação pedagógica é, nesse contexto, uma ação política". (p. 79)

Sendo a escola pública a instituição que atende a maioria da população todas as disciplinas ministradas têm o dever de educar com o pensamento crítico, citamos como exemplo a disciplina de História. Sempre valorizamos e aprendemos na escola os atos de heróis individualmente. Em uma concepção transformadora devemos ter um olhar crítico para repassar as informações levando em consideração o trabalho coletivo. Somos nós trabalhadores braçais que construímos a história.

a super valorização dos "heróis" e das ações individuais, como decisivas na História, ignorando todo o esforço das massas trabalhadoras que cavaram a terra, abriram canais, levantaram templos, teceram, navegaram, etc... no entanto, a história que geralmente ensinamos para supor que a fabulosa transformação da terra operada pelos homens através dos séculos teria sido obra de reis e generais vitoriosos." (Nidelcoff, 1978, p.37)

A burguesia e o sistema capitalista nos impõem suas concepções também no espaço de educação informal que conforme LIBÂNEO (2003) significa: "A educação informal, também chamada de não intencional, refere-se às influências do meio humano, social, ecológico, físico e cultural às quais o homem está exposto." (p. 170)

Utilizando de instrumentos, as revistas, mídia, moda, a classe dos opressores nos fazem acreditar e submeter a uma cultura que nem sempre é a de nossa realidade. Assim, perdemos nossa identidade e nossa cultura e somos induzidos a submissão as culturas impostas por essa classe dominadora.

A mentalidade, os costumes, valores, em suma, a cultura das classes populares está permanentemente bombardeada pela cultura burguesa, através de todos os meios de comunicação de massa: a televisão, revistas, rádios e através da escola. (Nidelcoff, 1978, p. 39)

Numa sociedade de classes como a nossa, a classe dominante difundi e impõe seus critérios culturais que passam a ser, por esse motivo, o correto. Precisamos levar nossos educandos a liberação das forças que os oprimem, e assim iniciar a produção de uma cultura autêntica. Se não ocorrer essa prática educativa, eles serão capazes apenas de imitar condutas ou adotar comportamentos alienadores induzidos pelas condições de vida aos quais são submetidos pelas classes dominantes.

As Políticas Públicas e seus Interesses na Prática Educativa

A escola é vista como uma organização política, ideológica e cultural como tão bem nos mostra RODRIGUES (2002) ao afirmar:"Hoje a educação que recebemos tem por objetivo nos enquadrar às expectativas de meio social em que vivemos – nossa classe, nossa profissão, nosso meio moral." (p. 35)

Se voltarmos nossa atenção para a origem da escola pública no Brasil verificamos que teve seu início no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Época na qual ocorria o princípio do processo de industrialização em nosso país. Assim, percebemos que desde a Revolução Industrial a educação vem sendo mínima, apenas para formar pessoas que sirvam de mão-de-obra á custos mínimos e que atendam as necessidades das indústrias e do sistema capitalista. Dessa forma, como analisa LIBÂNEO (2003) "As diretrizes do processo de escolarização centravam-se no atendimento às indústrias, que requeriam trabalhadores instrumentalizados na leitura, na escrita e nos cálculos." (p. 168).

Atualmente a necessidade de formação se transformou e não bastam apenas esses conhecimentos, é necessária também, a informatização, pois a indústria atual precisa que seus trabalhadores tenham esse conhecimento para realizar os seus trabalhos e assim, produzir mais. As políticas educacionais já trataram de cobrar esse conhecimento das escolas.

Para compreender a situação do cenário educacional brasileiro apresentaremos a seguir uma análise do quadro atual buscando as bases legais e também ilustrando com dados estatísticos.

Segundo o Artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB –Lei Nº. 9394/1996, a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Hoje percebe – se que em muitos casos, a família atribui a função de educar exclusivamente à escola, muito embora se saiba que o processo educativo é continuo e requer a participação ativa da família.

               Atualmente 59% dos brasileiros concluem o ensino fundamental - de cada grupo de 100 alunos que ingressam na primeira série do ensino fundamental 59 conseguem terminar a oitava série desse nível de escolarização e os outros 41 param de estudar no meio do caminho. Para aqueles que entraram no ensino médio, a expectativa de conclusão é maior: 74% conseguem terminá-lo. Os estudantes que concluem, sem interrupção, essas etapas educacionais levam, em média, de 10,2 anos para completar as oito séries do ensino fundamental e 3,7 anos para passar pelas três séries do ensino médio. Se concluir o ensino fundamental e médio, separadamente, demonstra ser difícil, o caminho da primeira série do fundamental à terceira série do médio é ainda mais árduo. Do total de alunos que entram no nível educacional obrigatório, apenas 40% concluem o ensino médio, precisando para isso, em média, 13,9 anos. Os dados estão na publicação "Geografia da Educação Brasileira 2001", produzida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), do Ministério da Educação e Cultura, com a finalidade de reunir e divulgar os mais atualizados indicadores deste setor. Para o presidente do INEP, Otaviano Helene, os dados são alarmantes e evidenciam o atraso escolar brasileiro em todos os níveis. "A situação é incompatível com as possibilidades econômicas que o Brasil tem, poisjá poderíamos ter um sistema educacional muito melhor do que o de hoje", afirma. A expectativa de conclusão da educação básica tem uma significativa diferença entre as regiões. Enquanto no Norte, dos estudantes que ingressam no ensino fundamental, apenas 27% terminam o nível médio, levando, em média, 15,1 anos para concluí-lo, no Sudeste esse índice é de 49%, e os alunos precisam de menos tempo: 12,7 anos.Essa desigualdade acaba por inviabilizar e criar dificuldades enormes para o País no futuro, pois a realidade escolar de hoje irá se repetir na força de trabalho nas próximas décadas, considero preocupante as diferenças regionais, entre escolas públicas e privadas, e entre alunos pobres e ricos.

O tempo que os estudantes brasileiros ficam na escola seria suficiente para a conclusão das oito séries do ensino fundamental e das três do médio. Eles passam, em media, 8,5 anos no primeiro nível e 3,2 no segundo. Mas como as taxas de repetência e evasão ainda são significativas, o tempo de permanência não corresponde à quantidade de anos de estudo. No fundamental, os alunos concluem, em média, 6,6 séries e, no médio, 2,6.

De acordo com o presidente do INEP, o cenário registrado na Geografia da Educação Brasileira é conseqüência da má qualidade do ensino, provocada pelo baixo gasto público, professores mal remunerados e sem preparação adequada e escolas mal equipadas.

A constituição de 1988 aprovada pelo Congresso Nacional prevaleceu o reconhecimento da necessidade de elevação do percentual de verbas para a educação. "União aplicará, anualmente, nunca menos de 18%, e os Estados, o Distrito Federal e os municípios, 25%, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino" (Jacques Velloso, Guiomar Namo de Mello e outros, 1992, p. 133)

Fica assegurada (artigo 213) a aplicação desses recursos também em escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que "comprovem finalidade não-lucrativa". O problema é que o repasse não se dá de forma honesta, havendo desvios de verbas ou má distribuição ou aplicação da mesma não havendo fiscalizações e nem cobranças de prestações de contas do governo por parte da massa trabalhadora. Do ano de 1988 quando a constituição foi aprovada para o ano atual de 2008, vinte anos se passaram e a economia brasileira já apresentou grandes aumentos, com essa consideração, com certeza, o repasse dessa verba deveria ser repensado.

Esses dados do atual cenário da educação brasileira, confirmam a importância de construir uma escola cidadã que se desafia em representar os anseios populares com vistas à superação, por um lado, das imensas desigualdades econômicas e sociais existentes no País e, por outro, a construção de uma nova relação político-pedagógica baseada na participação,solidariedade e amorosidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre a educação e cidadania procuramos argumentar nesteartigo com base em teóricos da área de educação que o indivíduo sem cultura, conhecimento, visão histórico – crítico, não se torna consciente dos seus direitos, não participa ativamente da vida em sociedade e não a transforma.

Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à igualdade perante a lei, em suma, ter direitos civis. È participar no destino da sociedade, votar e ser votado conscientemente sem ser pressionado, ter direitos políticos, direito à educação de qualidade e igualitária, ao trabalho e salários justos de acordo com sua produção, à saúde de qualidade e uma velhice tranquila e prazerosa.

Se fizermos uma análise histórica da transformação educacional no Brasil, iremos perceber que as mudanças ocorreram em todo o período histórico e a visão crítica se desenvolveu desde os anos 20 até atualmente.O que nos possibilita criar expectativas em relação a possibilidade de mudanças ao contexto de hoje se nós educadores e profissionais da área, nos comprometermos com um ensino libertador, baseado nas concepções socialistas e revolucionárias, promovendo transformações nos aspectos pedagógicos, tecnológicos, metodológicos, culturais e desenvolvendo uma concepção de educação igualitária de qualidade com percepções críticas e renovadoras fazendo assim uma educação popular na escola pública.

Em suma,a concepção de escola cidadã voltada pra a transformação e como espaço democrático deve ter uma ação educativa que garanta a todos o acesso a um ensino de qualidade que favoreça a permanência do aluno na escola, seja gratuita, laica e pluralista, voltada para o trabalho com as classes populares e quepropicie práticas coletivas de discussão garantindo a participação de toda a comunidade escolar, descentralização do poder referindo-se às definições do seu projeto escolar, contribua e articule com outras organizações da comunidade para a construção de uma sociedade diferente na justiça social, na igualdade e democracia.Com esta visão acreditamos ser possível favorecer o acesso ao conhecimento, sua construção e recriação permanente envolvendo a realidade dos alunos, suas experiências, saberes e cultura, estabelecendo a relação entre teoria e prática, que forneça espaços de formação continuada aos educadores, com perspectivas de construir sujeitos críticos e de permanente investigação da realidade social alcançando o objetivo de qualificação da ação pedagógica e o resgate de sua cidadania buscando superar todos os tipos de opressões, discriminações, explorações de valores éticos de liberdade, respeito à diferença e a pessoa humana, solidariedade e preservação do ambiente natural.

Na defesa dessa perspectiva devemos disponibilizar ao educando recursos para um trabalho dinâmico divertido, instigador, utilizando de tarefas lúdicas, com o intuito de trazê-los para a realidade de que o conhecimento é interminável, capacitar o educando em busca de aproveitar os estudos para uma preparação universitária e assim poder competir no mercado de trabalho com educandos pertencentes à classe burguesa, levá-lo a conscientização que o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo, sendo assim, quem tem mais estudo é quem terá mais chance de conquistar seu espaço na sociedade. Instigar o aluno para despertar seu talento evitando o problema da evasão escolar, como também conscientizar os funcionários de que o processo educativo se faz não só pelo corpo docente, mas por todos que participam desse processo independente da função que ocupa.

Para alcançar a transformação social o educador deve ser revolucionário, um intelectual orgânico. À medida que ele compreende as injustiças vai mudando a postura de educar. Isto está de acordo com a concepção de GRAMSCI apud ROSSI (1981) pela qual se atribui aos intelectuais à missão de:

Organizar a cultura e de tornar possível o acesso das massas a essa vontade coletiva – consciência de classe – que é fundamental como instrumento da ação realmente voltada para a transformação social. Na realidade, esta seria a função dos intelectuais revolucionários.(p. 80)

O que procuramos demonstrar neste artigo é o nosso desejo e convicção de uma prática profissional voltada para o interesse da maioria, ou seja, a classe dominada, pois estaprecisa ter acesso a uma educação transformadora e para isso é necessário produzir sujeitos políticos conscientes e organizados, capazes decapacitar os setores marginalizados que é uma tarefa a longo prazo.

Acreditamos como Gramsci que "todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens desempenham, na sociedade, a função de intelectuais" (Rossi, 1981, p. 80)

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2007.

GADOTT, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. São Paulo: Editora Ática, 2005.

GIBSON, Robert Leone, 1922. Orientação para escolha profissional / tradução de Wilma Millan Alves Penteado. São Paulo: EPU, 1975.

Jacques Velloso, Guiomar Namo de Mello, Lilian Wachowicz e outros. Estado e Educação. Campinas, SP: Papirus: Cedes; São Paulo: Ande: Anped, 1992.

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: texto aprovado na comissão de Educação, Cultura e Desporto da CD / Com. Comentários de Dermeval Saviani – São Paulo: Cortez. ANDE, 1990.

LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J.F de; TOSCHI, M. S. (org.). A estrutura do sistema de ensino: federal, estadual e municipal. In: Educação escolar: políticas, estruturas e organização.São Paulo: Cortez, 2003. Coleção Docência em Formação.

NIDELCOFF, Maria Teresa. Uma escola para o povo. São Paulo: Brasiliense, 1978.

PIMENTA, Selma Garrido. Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002.

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro. DP&A, 2002.

ROSSI, Wagner Gonçalves. Pedagogia do Trabalho: Caminhos da Educação Socialista. V.2. São Paulo: Moraes, 1981.

SANTIAGO, Gabriel Lomba. As utopias Latino – Americanas em busca de uma educação Libertadora. Campinas, SP: Editora Alínea, 1998.

SAVIANI, Dermeval. Política e Educação no Brasil: o papel do Congresso Nacional na legislação do ensino. São Paulo: Cortez, 1987.

UNESCO. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: MEC; 1998.

www.abt-br.org.br – acesso dia 24/04/2008 às 16h20m

www. BR – acesso dia 24/04/2008 às 17h15m


[1] Graduanda do curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia-MG.2008/1.


Autor: Naara Maritza


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