A IMPORTÂNCIA DA MÃE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E AS IMPLICAÇÕES QUE ISSO TRAZ NA HOSPITALIZAÇÃO DO PACIENTE PEDIÁTRICO



FACULDADE ASSIS GURGACZ

ELAINE DE OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA MÃE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E AS IMPLICAÇÕES QUE ISSO TRAZ NA HOSPITALIZAÇÃO DO PACIENTE PEDIÁTRICO

Trabalho acadêmico apresentado como requisito para a avaliaçãoda disciplina de TCCI, do Curso de Enfermagem FAG.

Professora: Bernadethe Braz

CASCAVEL

Tema da pesquisa:

Humanização na hospitalização infantil

Delimitação do tema:

A importância do apego mãe e filho como base para o cuidado de enfermagem pediátrica e neonatal.

Definição do problema:

Porque é importante a presença da mãe juntamente com a equipe de enfermagem na hospitalização infantil?

Justificativa:

O vinculo afetivo entre mãe e filho pode refletir de forma significativa no desenvolvimento social e emocional da criança hospitalizada. Para tal se faz necessária essa assimilação por parte da enfermagem a fim de propiciar a participação da figura materna na hospitalização da criança, momento em que esse vínculo é rompido evidenciando as conseqüências negativas tanto para o desenvolvimento bio-psico-social da criança quanto para a sua recuperação enquanto paciente. Frente a isso este estudo tem o intuito ressaltar as vantagens da presença da mãe na recuperação do paciente pediátrico bem como apontar os parâmetros para que seja desenvolvida essa assistência.

Objetivos da pesquisa:

Objetivo geral:

Avaliar a importância do vínculo afetivo entre mãe e filho como base para o cuidado de enfermagem pediátrica e neonatal a fim de minimizar os danos causados pelo rompimento desta ligação.

Objetivos específicos:

- Salientar o papel da mãe no desenvolvimento infantil, bem como as conseqüências dessa privação.

- Estabelecer bases para a atuação da enfermagem juntamente com a mãe do paciente pediátrico.

Hipóteses:

-A presença da mãe na hospitalização infantil juntamente com a equipe de enfermagem em uma assistência humanizada muito contribui para a evolução do quadro clinico deste paciente.

Definição dos termos:

Apego, Humanização, Hospitalização

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Histórico: bases para o estudo da privação materna

Uma das conseqüências da II Guerra Mundial foi a devastação de muitas cidades da Europa, surgindo então a necessidade de um esforço generalizado de reorganização de produção e reconstrução das cidades destruídas pelo conflito. Creches foram criadas para que as mulheres pudessem ter seus filhos e a mesmo tempo ficassem livres para trabalhar na reconstrução da Europa. Entretanto entre os médicos e universitários havia o temor em relação ás conseqüências desastrosas que a separação da mãe poderia acarretar ao desenvolvimento da personalidade da criança. Diante desse debate político- cientifico, a Organização Mundial da Saúde, interveio através de um estudo feito pelo psicanalista inglês John Bowbly, que é até hoje um dos mais conhecidos teóricos da área. Este trabalho, publicado em 1951, enfatizou os efeitos desastrosos da separação e o desenvolvimento infantil nas creches instituições e hospitais.

A partir desses dados Bowbly constatou que para desenvolver-se naturalmente a criança necessita nos primeiros anos de vida, de uma relação contínua e íntima com sua mãe ou mãe substituta permanente. Porém a ênfase se da na continuidade desta relação com uma pessoa, sugerindo que deveria ser evitado o cuidado materno partilhado ou múltiplo para crianças menores de três anos.

Segundo o artigo sobre apego mãe e filho da revista Latino-americana de enfermagem de (outubro 1998), várias formas de neuroses e desordens de caráter, sobretudo psicopatias, podem ser atribuídas, seja a privação do cuidado materno, seja a descontinuidade na relação da criança com a figura materna durante os primeiros anos de vida.

Esses foram os estudos base a cerca deste assunto, hoje há muitas pesquisas que apontam tanto para alterações fisiológicas (respostas hormonais etc.) quanto para as psicológicas, quando a criança sofre privação materna, consistindo na maioria dos casos em experiências traumáticas para a criança e que acarretam em prejuízos no seu desenvolvimento bio-psico-social.

2 Desenvolvimento infantil, papel materno e o apego mãe e filho

Após o nascimento as relações mais íntimas da mãe com seu bebê são as atividades de cuidados, como a alimentação da criança através do aleitamento materno, banho momento em que a criança revive o período intra-uterino, visto que permaneceu os nove meses imerso em meio líquido. Esse é um momento em que a criança pode ser acariciada, tomar conhecimento do próprio corpo e sentir-se segura e pertencente a alguém.

Além desses cuidados, ações como, afagar, cantar ou falar com o bebê estabelecem uma relação íntima entre mãe e filho. Desta forma o recém nascido precisa de sensações semelhantes às do período gestacional para que aos poucos possa se adaptar ao novo meio.

Por isso a mãe é um suporte físico e emocional para o bebê, pois os estímulos visuais, tácteis e auditivos, fornecidos durante o cuidado, desempenham um importante papel no desenvolvimento da cognição na criança.

Dessa forma a presença da mãe ou alguém que a substitua, durante a infância é imprescindível levando em consideração que fornece segurança e confiança ao bebê. Essa confiança básica desenvolve-se com a percepção da criança de que suas necessidades urgentes são atendidas regularmente. A tensão gerada pela fome, desconforto ou dor, é dissipada em função dos cuidados da mãe ou responsável, isso faz com que a criança crie uma estabilidade emocional através do sentimento de segurança e proteção.

"A capacidade da criança de usar o genitor como uma base segura para exploração depende da qualidade da ligação. Esta pode ser avaliada solicitando-se que os pais deixem a criança em uma sala de brinquedos desconhecida, a " situação estranha". Quando os pais saem, a maioria das crianças para de brincar, chora e tenta seguir. Entretanto, o resultado mais interessante é a resposta da criança ao retorno dos pais. Crianças com ligações seguras instantaneamente correm para os pais a fim de serem seguras no colo, confortadas e, então, voltam a brincar. As crianças com ligações ambivalentes vão para seus pais, mas então podem resistir ao conforto e bater neles com raiva. As crianças classificadas como afastadas podem protestar quando os pais saem e podem evitar o genitor quando este retorna. Padrões inseguros de resposta podem ser estratégias que os lactentes desenvolvem para se adaptar a estilos de criação punitivos ou irresponsivos e podem ser sinal de problemas cognitivose emocionais posteriores. Persiste a controvérsia sobre como o comportamento do lactente e a experiência previa de separação poderiam afetar a interpretação dos resultados da situação estranha". (BERHRMAN, 2002)

A tensão gerada pela espera, ameaça a estabilidade do organismo do bebê, que ainda não tem maturidade nervosa suficiente para esperar. Por isso nos primeiros meses o bebê não deve sofrer restrições, evitando uma exagerada tensão que pode resultar em perturbações do comportamento.

"Quanto mais forem atendidas as necessidades básicas da criança, tanto mais positivo será o ego e sua emotividade. Não basta cuidar, fazer coisas; é preciso falar, tocar acaricia, estimular". (SCHMITZ,2005).

Após esse período que compreende os primeiros meses de vida, por volta dos 2 a 6 meses, a criança passa a manifestar sorrisos voluntários, isso promove a satisfação dos pais que sentem uma retribuição do carinho e amor.

Conforme relata BEHRMAM et al (2002), lactentes de 4 meses são descritos como "Desabrochando socialmente", interessando-se por um mundo maior. O lactente apresenta uma mudança qualitativa em seu desenvolvimento, passando a ser mais observador em relação ao meio externo.

A partir desta fase passa a haver maior entrosamento entre mãe e filho, quando a mesma percebe que pode ser observada e de certo modo compreendida pelo bebê.

Neste contexto pode-se constatar que através dos cuidados que a mãe oferece ao bebê, e conseqüentemente a gratidão que isso lhe trás em função das demonstrações de afeto da criança para com ela e seu conforto e bem estar, surge o apego mãe e filho.

Segundo Bowlbyapud Motta et al (2002) o sistema de apego, do ponto de vista evolucionista, aumenta as chances do bebê sobreviver, permitindo ao cérebro imaturo usar o funcionamento maduro dos pais para atender suas necessidades vitais. O vínculo materno adequado é crucial para o desenvolvimento do sistema de apego seguro, ao mesmo tempo em que, para ocorrer desta maneira, esse vínculo deverá ser alimentado pelo comportamento responsivo do bebê. O apego seguro do bebê com sua mãe ou cuidador(a) promove um bem-estar no bebê, tanto dele com ele mesmo quanto em relação à confiança básica nos adultos, enquanto o apego inseguro está relacionado a um aumento de ansiedade.

Porém muitas mães apresentam sentimento maternal pequeno até que seus filhos amadureçam ao ponto de poder interagir com elas por meio de respostas vocais e faciais. As reações da criança (a sucção, dependência, procura, choro, sorriso etc.) estimulam as relações mãe e filho e contribuem para tornar específicos e pessoais sentimentos gerais de afeição.

3 Conseqüências da privação materna

Segundo Motta et al.(2005) Apud Bowbly (1995), privação materna é a situação na qual uma criança não encontra uma relação calorosa, íntima e continua com a mãe natural ou mãe substituta. Os efeitos perniciosos da privação variam de acordo com o grau da mesma, por isso quanto mais cedo ocorrer esta privação seja ela total ou parcial, maior será a probabilidade de danos irreparáveis na criança.

Dessaforma, Schmitz (2005) apud Lebovici (1963), a criança que sofreu privação materna precoce pode ser acometida por transtornos do ego como profundo masoquismo, dependência excessiva e caráter delitivo e estado depressivos do adulto. Além disso, pode apresentar forte tendência á relações sexuais promíscuas e furtos.

Sendo assim, a privação parcial traz consigo a angústia, uma exagerada necessidade de amor, fortes sentimentos de vingança e, em conseqüência, culpa e depressão, resultando em distúrbios nervosos e numa personalidade instável. Por outro lado a privação total tem efeitos maiores sobre o desenvolvimento da personalidade e pode mutilar totalmente a capacidade de estabelecer relações com outras pessoas. Pode-se observar como efeitos negativos desta privação, o retardo mental, atraso no desenvolvimento da linguagem, incapacidade de relacionamento adotando um caráter anti-social além de distúrbios regressivos e delinqüência.

Também constatou-se que as crianças que sofrem privação materna na primeira infância apresentam um atraso na construção da personalidade agindo com comportamento impulsivo e descontrolado, sendo incapazes de terem objetivos a longo prazo, porque são vítimas de caprichos momentâneos sem possibilidade de aprenderem. Essa impossibilidade é decorrente da dificuldade de desenvolverem o raciocínio abstrato, resultando em imaturidade provocando uma atitude hostil, manifestada através de birras, isso seria uma forma da criança liberar sua raiva e violência diante de tal situação, gerando graves conflitos íntimos, angústia, depressão e um obstáculo à sua aprendizagem social futura. As ligações são calorosas mas, superficiais com qualquer adulto que se aproxime, havendo uma excessiva solicitação da mãe, intensa possessividade, insistência em ter as coisas à sua maneira, ciúmes extremo, acessos de raiva. Pode apresentar reação hostil à mãe ao reunir-se novamente a ela, que por vezes toma a forma de recusa em reconhecê-la, na maioria das vezes após essa experiência de privação, a criança reluta em entregar novamente seus sentimentos a alguém, para evitar ser novamente ferida.

Por isso durante a infância, principalmente entre 3 a 6 meses, é necessário que o bebê veja sua mãe e ouça sua voz a freqüentemente, para ter a sensação de proteção e para não se sentir abandonado. Essa necessidade de ter a presença da mãe diminui por volta dos seis meses, momento em que a criança adquire certo grau de independência, realizando movimentos corporais como: estender os braços, agarrar, sentar e colocar a mão na boca entre outros; desta forma tolera breves períodos de ausência da mãe. O autor Motta et al.(2005) descreve as experiências relatadas por Bowbly (1951) onde constatou-se que os bebês que sofrem privação materna prolongada podem deixar de sorrir para um rosto humano ou de reagir quando são estimulados, ficando inapententes ou, apesar de serem bem nutridos, não há ganho de peso. Apresentam uma má qualidade do sono e, além disso, estão mais susceptíveis á infecções. No caso de uma criança que durante um ou dois anos teve uma relação com a mãe e depois sofreu privação, é comum que capacidades já adquiridas sejam perdidas.

Segundo Motta, et al (2005) em um estudo foram avaliadascrianças que viveram em orfanatos na Romênia durante a maior parte de suas vidas, tendo sido extremamente negligenciadas nesse período. As conseqüências mais freqüentes dessa privação eram mutismo, face sem expressão, retraimento social e movimentos estereotipados bizarros. Essas crianças, com idades entre de 2 e 9 meses, foram separadas em dois grupos: um controle e um que recebeu estímulo físico e psicológico por 1 ano e 3 meses. Os resultados demonstraram que as crianças que haviam recebido estimulação apresentaram crescimento físico e desenvolvimento mental e motor (escala de Bayley) significativamente acelerado quando comparado ao grupo controle. No entanto, após 5-6 meses de término do programa, elas não tinham nenhum desses índices superiores aos do grupo controle.

Essa separação no decorrer do segundo e terceiro anos de vida, apresenta reação emocional igualmente séria e, além disso, as mães substitutas podem ser completamente rejeitadas, ficando a criança inconsolável por vários dias, num estado de desespero e agitação. Recusa tanto o alimento como a ajuda; apenas a exaustão a leva ao sono. Depois de alguns dias, a criança fica mais quieta e pode cair em apatia. A privação, após a idade de três ou quatro anos, ou seja, na terceira infância não tem os mesmos efeitos destrutivos sobre o desenvolvimento.

4 Hospitalização infantil, dificuldades encontradas de acordo com as características evolutivas da criança

A hospitalização na infância consiste de certa forma em uma experiência traumática, visto que afasta a criança do seu meio familiar, fazendo com que a mesma tenha que suportar a dor, limitações e principalmente medo do desconhecido. É um processo de despersonificação, pois a criança precisa se adequar a rotina do hospital, sendo que essas mudanças associadas ao afastamento da mãe e a dificuldade de interação afetiva entre enfermeiros e a criança, pela necessidade do rodízio das pessoas que compõem a equipe que a assistem, ou ainda a falta de preparo técnico, afetivo e psicossocialda equipe de saúde das unidades pediátricas, levam a criança á um estagio de depressão.

Em recém nascidos esse processo pode interromper os estágios do desenvolvimento do apego entre mãe e filho, comprometendo a relação saudável entre os dois.

Neste contexto deve-se levar em consideração que cada etapa do desenvolvimento infantil implica em cuidados especiais para minimizar os danos da hospitalização, para isso deve-se ater ás principais necessidades que a criança apresenta em cada fase a fim de oferecer uma assistência mais humana e singular.

4.1 Recém nato:

Nos primeiros meses de vida, os recém nascidos e lactentes manifestam suas emoções pelo choro, grito (no caso de desprazer) enquanto a satisfação e o bem estar são expressos pelo sono tranqüilo e a expressão plácida. Nesta fase estão bem desenvolvidos a sucção o sentido sinestésico e a sensibilidade para o som. Desta forma, durante a hospitalização geralmente em unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), os ruídos fortes são assustadores; movimentos pouco firmes; gestos bruscos; privação ou diminuição da sucção e do contato corporal causam sensações de desprazer, irritabilidade e carência afetiva. Pode serevidenciado hábitos de sugar em demasia, freqüentemente se alimentam em excesso e, como conseqüência natural, apresentam distúrbios digestivos.

Além disso, o longo período de internação dos bebês e a privação do ambiente aumentam o estresse da mãe e família, o que pode prejudicar o estabelecimento do vínculo e apego. A criança necessita da mãe, portanto as habilidades e/ou dificuldades dessa (ou de quem assume o cuidado da criança) tornam-se integrantes na assistência à saúde.

Outros sentimentos que os pais experimentam em função dessa separação pela internação do neonato são tristeza, medo e estresse, pois encontram-se fragilizados e inseguros quanto à vida de seu bebê. Apresentam sentimentos contraditórios, como culpa por se sentirem responsáveis pelo sofrimento do filho e, no mesmo momento, manifestam esperança e resignação.

O choque pela hospitalização de um bebê prematuro pode ser compreendido quando observamos os pais serem confrontados com um ambiente estressante e confuso, impotentes para assumirem os cuidados com seu filho que apresenta risco de vida. Esses sentimentos podem ser atenuados ou reforçados de acordo com a oportunidade da mãe participar dos cuidados de seu filho. O fato de não poder pegar o recém-nascido no colo aconchegá-lo e embalá-lo é bastante frustrante para a mãe mesmo quando já é possível tocá-lo dentro da incubadora, muitas mães se amedrontam diante dessa situação.

4.2 Pré-escolar:

Consiste numa fase na qual a criança depende muito do ambiente e das relações familiares estáveis e contínuas. Apresenta limitações na comunicação, controle corporal e mental, isso faz com que a relação com a mãe seja muito intensa.

Além dessas, outra limitação é a incapacidade de situar-se no tempo, por isso não conseguem permanecer um pequeno espaço de tempo sem a mãe ou alguém que desempenhe este papel. Essa ausência pode ser interpretada pela criança como perda definitiva.

Desta forma, nessa fase do desenvolvimento é imprescindível a presença da mãe em período integral, bem como os demais familiares para que possa se sentir segura e amparada tornando o ambiente o mais familiar possível. Segundo Schmitz(2005) apudLeão (1984), situações de mudanças sucessivas, técnicas, ruídos altos impedindo a tranqüilidade da criança, abandono, internações, separações bruscas, fazem com que a criança passe a reagir ao invés de agir. Isso como forma de defesa do ego, ficando bloqueado todo o desenvolvimento emocional.

4.3 Escolar:

Etapa do desenvolvimento em que a criança precisa de espaço físico para que possa brincar, correr, pular, prosseguir, fugir.

Essa é uma limitação grave que o hospital impõe privando-a dessas atividades que contribuem para o seu desenvolvimento. Como forma de amenizar a falta de estímulos (importante em todas as etapas do desenvolvimento) do ambiente hospitalar a equipe que presta cuidados direto com esse paciente bem como a mãe, familiares e amigos devem estimulá-lo através de brincadeiras, e expressões físicas de carinho visitas de familiares e amigos, visto que o pré-escolar tem medo de sofrer rejeição por parte dessas pessoas.

5 Como a enfermagem pode atuar para minimizar os danos causados pela hospitalização infantil

A realidade da hospitalização infantil até recentemente, não constitui-se em uma assistência adequada e humanizada. Durante a hospitalização as crianças eram separadas das suas mães e logo após o nascimento, permaneciam em berçários.

No entanto, diante do contexto no qual refere os danos causados pela privação materna, houve a preocupação com o bem-estar da criança internada em instituições hospitalares e levou pais e profissionais a discutirem e analisarem o processo de hospitalização, procurando alternativas para "humanizar" esta experiência. "A humanização deve incluir competência sem dispensar cortesia e carinho". SILVA (2004)

Sendo assim, no Brasil, a preocupação com a permanência dos pais no hospital passou a se tornar mais efetiva após a promulgação da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que regulamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu Artigo 12, Resolução 41/95, o ECA dispõe que "os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente".

Desta forma, encontra-se ainda mais no plano das idéias do que das ações, um sistema de alojamento conjunto pediátrico (termo usado como sinônimo de mãe acompanhante, internação conjunta mãe-filho e mãe participante) em que a mãe ou responsável pode acompanhar a criança durante os episódios de hospitalização. É uma estratégia que possibilita a redução do estresse emocional, tanto da criança como da família, reduz a incidência de infecção cruzada e diminui o tempo de internação, favorecendo conseqüentemente a rotatividade e disponibilidade de leitos infantis.

Portanto se faz necessário que os enfermeiros pediatras e neonatais reconheçam que no cenário da hospitalização a criança é afastada do seu ambiente familiar sendo muito importante esse vínculo afetivo para o desenvolvimento e recuperação da criança. Elas são responsáveis por amenizar o sofrimento das crianças, quando as mesmas encontrarem-se hospitalizadas, também nesta situação, assumem muitas vezes o papel de mãe substituta ou mesmo dividem a tarefa com a mãe, orientando e assistindo o cuidado com o bebê, a fim de proporcionar uma relação segura e adequada entre ambos. Muitas vezes a enfermagem auxilia também no desenvolvimento do laço afetivo entre mãe e filho, no caso de neonatos internados em unidade de terapia intensiva, a(o) enfermeira(o) pode estimular o contato visual, olho-no-olho, sempre que possível retirando o protetor ocular.

Essa é uma forma eficiente de promover a cura e manter o bem estar psicológico da criança não expondo-a a situação de desamparo, mas para isso é necessário alterações que envolvem a dinâmica do trabalho de uma forma geral.

Para que ocorram essas mudanças com o intuito de humanizar a hospitalização infantil, é preciso que ocorra a negociação do cuidado entre a enfermagem e a mãe da criança hospitalizada, visto que a unidade pediátrica hospitalar é um lugar que reúne uma diversidade de agentes, com diferentes formações, posições hierárquicas e localizações na divisão do trabalho.

Como primeiro passo para essa assistência humanizada o enfermeiro deve construir um vínculo com a criança. Uma recepção adequada é especialmente importante nesse processo. A enfermeira pode dar as boas vindas para a criança e tranqüilizá-la sobre o ambiente em que encontra-se. Ou quando a criança já encontra-se na UTIN, a enfermeira pode acompanhar os pais na visita à UTIN, procurando apoiá-los e informando-os sobre os equipamentos que cercam o recém-nascido, incentivando o contato pele-a-pele, toque e fala, ficando ao seu lado durante a visita; o pediatra informa a condição clínica do neonato, bem como fornece explicações sobre as alterações clínicas e equipamentos utilizados na assistência neonatal de alta complexidade.

Nesse serviço, observamos que é cada vez mais forte a tendência dos profissionais estarem atentos à introdução de condutas dirigidas ao estabelecimento do contato e interação entre mãe e filho. Desta forma, a enfermagem deve incentivar as mães a tocarem e pegarem seus filhos no colo; mesmo no cuidado intensivo, quando o bebê ainda está entubado, a enfermeira propicia o contato pele-a-pele entre mãe-filho, semelhante ao cuidado canguru, posicionando o bebê entre as mamas da mãe. Inicialmente as mães podem apresentarem-se apreensivas e medo de prejudicar o tratamento do bebê, mas com o apoio da enfermeira, elas vão se tranqüilizando e expressando satisfação podendo até chorarem pela emoção.

Além disso, as mães podem ser incentivadas pela enfermagem a assumir os cuidados básicos higiênicos e alimentares, dependendo da condição clínica do recém-nascido. Essas oportunidades dadas às mãe de prestar cuidados ao seu filho pode atenuar o choque pela hospitalização de um bebê prematuro ou de baixo peso, evidenciado pelo confronto desta mãe com o ambiente estressante da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).

É possível também, para tornar o ambiente mais aconchegante e familiar, que a equipe de enfermagem solicite aos pais para que tragam um brinquedo plástico lavável para ser colocado no berço ou incubadora, bem como roupas, luvas, toucas e sapatinhos para uso do bebê, quando sua condição o permitir, e há a identificação do leito com o nome da criança, escolhido pelos pais, o que personaliza a unidade da criança e torna os pais mais próximos do filho. A decoração da unidade deve ter motivos infantis, cores alegres, com supervisão e prevenção de acidentes. A enfermeira desempenha papel importante, visto ser ela o profissional que passa a maior parte do tempo em sua companhia, sendo a responsável pelos cuidados prestados, cabendo-lhe também empenhar-se ao máximo para reduzir os riscos de perturbações à criança, decorrentes da hospitalização.

Esses são detalhes simples mas, que auxiliam na adaptação,conforto do paciente bem como a sensação de sentir-se lembrado e amado. Porém a medicina clínica, através do diagnóstico e terapêutico, responde prioritariamente às necessidades do corpo biológico e pouco valoriza, neste processo, as outras necessidades de um ser em fase de crescimento e desenvolvimento, que também quer brincar, ter autonomia, estabelecer vínculos, ser respeitado, receber e dar afeto, mesmo quando doente.

Entretanto para que seja efetivada essa forma de assistência humanizada, se faz necessário uma organização das unidades pediátricas como um todo. Essas não são simples alterações no projeto e na caracterização da unidade ou no tipo de facilidades dadas à família, mas também nas atitudes dos profissionais de saúde quanto ao envolvimento dos pais no cuidado à criança hospitalizada, na relação que esses estabelecem com os pais, na qualidade da assistência, a fim de propiciar o compartilhamento desse cuidado já que ambos (enfermagem e pais) possuem um objetivo em comum, o restabelecimento da saúde da criança.

6 ANEXO 1

Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados


Autor: Elaine Oliveira Rebolo


Artigos Relacionados


Para O Dia Das MÃes - Ser MÃe

Criança Tem Que Estudar,brincar E Também Trabalhar!

As Dificuldades De Leitura E Escrita Nas Séries Iniciais

A Função Da Escola E Da Educação

O Papel Do Professor De Educação Infantil

Anemia Falciforme X Triagem Neonatal

É Soma Ou Divide?