RELAÇÃO SOLO / COBERTURA VEGETAL NATIVA NA BACIA DO RIBEIRÃO SANTO ANTÔNIO MUNICIPIO DE IPORÁ



Com base em informações físicas sobre a área da sub-bacia hidrográfica do ribeirão Santo Antônio foi feita uma correlação entre tipos de solos identificados na bacia com as remanescentes de vegetação nativa da área, com a finalidade de avaliar melhor como isso acontece na bacia. Os levantamentos de solos e vegetação foram baseados em estudo pré-existentes realizados por Sousa (2006) e adaptados para este estudo, uma vez que o autor fez o mapeamento da bacia de forma integral, e neste estudo trabalhou-se apenas com o recorte da bacia que compreende o município de Iporá. Depois de feito os devidos ajustamentos cartográficos foram realizados os levantamentos bibliográficos pertinentes, bem como o cruzamento das informações de solos e vegetação nativa para verificar se os solos de mesma categoria desenvolvem as mesmas fitofisionomias vegetais, com a realização de um mapa síntese. A identificação das diferentes fisionomias da vegetação foi baseada em aspectos de morfologia conforme descrições bibliográficas e não em aspectos taxionômicos, onde se baseou nas descrições realizadas por Magnago et al (1983). A descrição dos solos foi feita com base no mapa de solos 1:250.000 do IBGE e levantamento exploratórios em campo e classificados segundo a classificação da Embrapa (1999). PALAVRAS CHAVES: Fitofisionomia; solos; subbacia; correlação.

APRESENTAÇÃO

Para atuar sobre o meio natural é preciso conhecer a sua gênese e a relação entre os elementos que a compõe, pois a natureza sempre responde de forma diferenciada e equilibrada aos processos climáticos, geológicos, geomorfológicos e pedológicos, o que pode ser visualizado através das diferentes Biomas terrestres e brasileiros, e entre eles o Cerrado.

No caso do Brasil, dentro dos seus limites territoriais (8.557.404 km²), há uma diversidade de paisagens, compostas pelas interações entre os diversos biomas que o compõem. Dentro dessa variedade de paisagem, há que considerar que o Bioma Cerrado por possuir uma diversidade de características, pois neste Bioma se podem encontrar diversas feições geomorfólogicas e litológicas, que somadas às condições climáticas condicionam as variadas classes de solos e conseqüentemente de vegetação. Assim, o objetivo deste estudo foi observar como se dá a relação solo – cobertura vegetal nativa e em que condições elas se manifestam

O Estado de Goiás encontra-se totalmente inserido neste domínio, sendo considerado área core do cerrado brasileiro, e dentro deste, o município de Iporá, objeto deste estudo, encontra-se situado na meso-região denominada centro-goiano e na microrregião de Iporá, situado entre os paralelos 16º18 e 16º38 de latitude sul e a 50º30 e 51º28 de longitude oeste. Ocupa uma área de 1.033 km² e é drenado pelos rios Claro e Caiapó, Ribeirão Santa Marta e Santo Antônio, sendo este último, o curso de água que dá nome a área de estudo.

O presente estudo se justifica por apresentar aspectos que favorecem ao planejamento do uso dos recursos naturais, uma vez que o meio ambiente é um sistema aberto onde os seus elementos estão intimamente relacionados.

MATERIAIS E MÉTODOS

O desenvolvimento do trabalho contou em primeiro momento com um levantamento teórico e cartográfico sobre a área e sobre tópicos pertinentes ao assunto a ser abordado.

A base cartográfica do estudo teve como referência o mapeamento realizado por Sousa (2006) para a bacia hidrográfica do Ribeirão Santo Antônio, onde foram analisados principalmente os mapas de solos e de uso e ocupação, este último, por conter o mapeamento dos tipos de vegetação da área.

Estes mapeamentos foram realizados pelo autor em toda a bacia, que apresenta uma área total de 630 km2 e abrange três municípios. Entretanto para este estudo, foi feito recorte da área, para se trabalhar apenas com a bacia nos limites do município de Iporá. Este recorte foi elaborado com o auxilio do software Spring 5.0, que também serviu para fazer a sobreposição dos mapas de solo e uso da terra.

As características físicas da bacia como a geologia, geomorfologia, foram extraídas de informações de Sousa (2006) que teve como base mapeamentos da antiga agência de mineração de Goiás (Metago, 1970) para o caso da geologia, o do projeto Radambrasil (1983) para a geomorfologia, e de informações hipsométricas da carta topográfica SE-22-V-B-IV (Iporá) para o caso do relevo, além de informações com base em imagens de satélites Landsat 7 TM, (RGB) e fotografias aéreas pancromáticas da força Aérea dos Estados Unidos (USAF, 1965) em escala 1:60.000.

Com base nos mapa de solo e de uso da terra foi feito o cruzamento das informações vegetação nativa/solo, gerando um mapa de integração entre as duas informações, já que a idéia central do trabalho era a de verificar a relação tipo de vegetação com o tipo de solo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A bacia do ribeirão Santo Antônio no município de Iporá apresenta uma topografia média ondulada com topos aguçados nos alinhamentos de Serra, e convexos nas zonas de relevo mais dissecados, entretanto é possível encontrar topos aplainados quando associados à coberturas sedimentares das Formações Furnas e Ponta Grossa, que afloram na área.

De maneira geral o relevo apresenta uma forte dissecação, com vales em "V" abertos e vertentes com declividades variáveis, classificados através dos seguintes intervalos por Sousa (2006): 0-3%; 3-8%; 8-13%; 13-20%; 20-45% e maior que 45%, sendo que os intervalos de 0 a 8% sãoresponsáveis por cerca de 40% da área. Todavia o índice de dissecação fraciona o relevo, impedindo a presença de relevo de topo plano contínuo, que facilitaria o uso da terra por agricultura temporária.

A morfologia do relevo, a constituição geológica e os aspectos climáticos combinados resultaram numa paisagem que favorece a presença de pastagem como principal uso da terra na bacia. Não que a área não seja compatível para outros usos econômicos, como destacou Sousa (2006), mas porque não houve até hoje um planejamento de uso com base na caracterização física da área e no seu potencial de uso.

A área da bacia apresenta um uso por pastagem da ordem de 75%, enquanto a vegetação nativa está bastante alterada. O quadro 1 mostra a o tipode uso e a porcentagem dos mesmos na bacia.

Quadro 1. Relação uso/área absoluta/proporção à área da Bacia.

TIPO DE USO

ÁREA ABSOLUTA

(HA X 1000)

(%) EM RELAÇÃO À ÁREA DA BACIA

Cerrado Típico

2,00

4.87

Floresta Estacional

2,,860

6,97

Mata Ciliar

4,54

11,07

Área urbana

0,850

2,08

Pastagem

30,75

75,01

Total

41,00

100

Fonte: banco de dados SPRING.

A Figura 1 mostra a distribuição dos diversos tipos de uso da terra na bacia.

É possível perceber no mapa acima a maior presença de pastagem, como principal tipo de uso da terra na bacia.

O mapa abaixo (Figura 3), mostra a sobreposição entre solo e vegetação. A bacia por apresentar uma paisagem complexa com variações litológicas que altera as feições do relevo (Sousa 2006), possui uma variedade de solos que vão desde solos desenvolvidos como Latossolos e Argissolos, a solos menos desenvolvidos como Neossolos Litólicos.

Os solos denominados Latossolos (LVd) compreendem uma significativa faixa que vai do noroeste até a região central da bacia, apresentando também em uma pequena porção na região sudeste da área. Estão situados em relevo bastante dissecado de topo convexo na região noroeste. Pelo fato da ocupação antrópica na área com o cultivo de pastagens, a vegetação nativa existente sobre esse tipo de solo se restringe somente às Matas Ciliares.

Os Argissolos na área caracterizam-se em duas categorias (Sousa 2006), Argissolos-Vermelho distrófico (PVd) concentrado em maior parte na região oeste da bacia, associado a um relevo suave ondulado constitui textura predominante cascalhenta quando sobrepostos a rochas graníticas e arenosas quando sobrepostos aos arenitos da Formação Ponta Grossa. Os Argissolos-Vermelho-Amarelo distrófico (PVAd) estão situado em pequenas faixas a noroeste e norte da área associados a relevo forte ondulado com textura indiscriminada cascalhenta. Relacionando a vegetação com este tipo de solo observa-se que onde predomina os Argissolo-Vermelho distrófico (PVd) encontram-se algumas manchas de mata ciliares. Já o Argissolo-Vermelho-Amarelo distrófico (PVAd) situados em áreas mais elevadas encontra-se faixas de Floresta Estacional e Cerrado Strictu-Sensu.

Os Neossolos, são constituídos por material mineral, rasos e poucos desenvolvidos, aparecem na bacia na região noroeste, nordeste e em menor quantidade na região oeste. Estes solos estão quase sempre associados a estruturas de topos e divisores de água como interflúvios com declividades superiores a 13%. Exemplo é sua localização na região noroeste, onde está localizada a Serra do Santo Antônio. A vegetação nativa predominante sobre este tipo de solo na área éo Cerrado strictu sensu.

Os Cambissolos são constituídos por material mineral, com horizonte B incipiente apresentam-se na área sobrepostos a litologias variadas. Na bacia pode ser observado na região sul e em pequena faixa no noroeste. Sobre este tipo de solos é possível se encontrar Floresta Estacional em alguns pontos

O Quadro abaixo mostra a relação entre a cobertura vegetal e o tipo de solo. Cabe justificar que neste quadro não aparece a mata ciliar, e isto se deve ao fato de que a mata ciliar acompanha os fundos de vale úmidos, indistintamente do tipo de solos, sendo o fator limitante na distribuição, a presença de água no solo, o que ocorre mais frequentemente no fundo de vale, devido à presença do lençol freático, ou devido à água de infiltração causada pelo próprio curso de água (influente) ali presente.

Quadro 2. Relação Cobertura do solo/classe de solo.

VEGETAÇÃO

LATOSSOLOS (%)

ARGISSOLOS

(%)

CAMBISSOLOS (%)

NEOSSOLOS LITÓLICOS

(%)

CERRADO

2,82

6,45

20,04

70,69

FLORESTA EST.

15,9

59,15

16,79

8,11

Fonte: Cruzamento estatístico dos dados.

Sobre as características da vegetação da área, há que enfatizar quea açãoantrópica na bacia condicionou um alto grau de alteração nas remanescentes, exercida tanto pela exploração de madeira ou pelo uso da terra por pastagens. E por fim, que o maior ou menor porte da vegetação depende proporcionalmente das condições de desenvolvimento dos solos, com se vê no quadro acima.

BIBLIOGRÁFIA UTILIZADA

AB'SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial. 2003.

BARBOSA, A. S. Sistema Biogeográfico do Cerrado. Goiânia: UCG. 1996.

GOODLAND, Robert J. A. Historia dos trabalhos no cerrado até 1968. In GOODLAND. R. J. A.;FERRI, M. G. Ecologia do Cerrado. São Paulo. Edusp, 1979.

REATTO. Adriana; CORREIA, João Roberto; SPERA, Silvio Túlio. Solos do Bioma Cerrado. Planaltina: EMBRAPA/CPAC, 1998.

RIZZINI, C. T.Tratado de fitogeografia: aspectos ecológicos. São Paulo. Hucitec, 1979.

SOUSA, F. A. Uso e Ocupação na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Santo Antônio em Iporá-GO como Subsídio ao Planejamento. 2006.82 f. Dissertação (Mestrado em geografia), Programa de Pesquisa e pós Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais-IESA, Universidade Federal de Goiás, Goiânia 2006.

MAGNAGO, H., SILVA, M. T. M. da, FONZAR, B. C. – Vegetação: as regiões fitoecológicas, sua natureza e seus recursos econômicos. Projeto Radambrasil (Folha SE.22 – Goiânia). Rio de janeiro, 1983. (Levantamento de Recursos Naturais, 31).


Autor: Flávio Sousa


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