Folclore em Mato Grosso



Recentemente estive numa fazenda situada entre Poconé e Cáceres nas imediações do Pantanal. Com meu espírito curioso que tenho, descobri uma coisa importante, não só para mim como também para muita gente.

A viagem se deu num sábado. Chegamos quando a tarde morria. A noite choveu torrencialmente, porém mesmo assim fomos ao baile a três quilômetros desta fazenda. Conheci que realmente estávamos num pantanal, pois nunca vi tanta lagoa assim. Não foi uma nem duas vezes que o carro atolou.

Buscamos várias moças para juntos fazermos a folia no sertão, longe do barulho da cidade.

De longe escutei o barulho na casinha de sapé. Não tinha baile nenhum. Era uma dança velha para eles e nova para mim. Era o cururu e o siriri nas entranhas do sertão mato-grossense. Fiquei maravilhado com tanto som e alegria no sertão.

Dividindo-se o povo em dois grupos: um dentro da casa – o cururu – e o outro fora da casa – o siriri. No cururu o grupo de homens tomava conta. Seus instrumentos eram coisas estranhas: dois pratos, duas violas de cocho, um tamborzinho e outro instrumento que nem sei o nome. Da dança destacava-se em sapateados, misturados com a desafinante voz dos homens. A pinga não faltava neste momento, aliás ela se chama "birita". Não vi nenhuma mulher dançando, apenas homens – a maioria velho.

No siriri tinham outros instrumentos. Duas moças sentadas, cada uma com dois macetes batiam constantemente num grande instrumento feito de couro. O ritmo misturava-se com o estridente som de voz daquelas duas meninas e retumbava-se por todo o sertão. Creio que a dois quilômetros de distância, aquela festa ainda se fazia ouvir. As meninas cantavam uma música muito bonita destacando-se aí o sentimentalismo do povo regional. Não me esqueci que no final sempre se repetia: OÕ morenão! Oô Morenão!

A dança era alegre e divertida, geralmente de dois em dois que se viravam de um lado e outro batendo palmas e acompanhando o ritmo. Depois saía um e o outro que ficava na roda escolhida e outra e continuavam dançando.

Não quis encostar perto, pois na certa eu seria um escolhido e eu nunca tinha visto aquela dança. Não saberia dançar. Mesmo assim me convidaram dizendo: é fácil, é só prestar atenção nos movimentos e não perder o ritmo. Quando eu estava prestes a entrar na roda, a chuva veio e carregou a alegria do siriri.

Entretanto na casa o cururu também foi ao brejo, pois encheu demais a casa. Passei o tempo todo observando a festa, o povo simples daquele sertão. Ali ninguém falava de ninguém, o assunto era somente sobre a festa. Uma alegria inconfundível sobressaía nos sertanejos.

Saímos dali ás quarto horas da manhã e fomos para casa. O carro ainda atolou diversas vezes, mas chegamos com a paz de Deus.

No outro dia já tinham matado um boi e o assado já estava quase pronto. Trouxeram também duas caixas de cervejas e a festa mais se animou.

Chegaram vários carros de Cuiabá trazendo funcionários importantes da capital mato-grossense. A festa foi aquela festa e foi mais festa quando fui montar num cavalo. Falavam que ele era mancinho, manchinho, mas era um cavalo bravo. Enganaram por sacanagem. Ele me jogou diretamente ao chão.

A tarde voltamos para Cuiabá, mas eu trouxe comigo a imagem da fazenda Água Vermelha, cheia de sertanejos simples, mas que sabem levar uma sincera paz e alegria a todas as pessoas que lá comparecem.


Autor: Henrique Araújo


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